Um pequeno festival de filmes da Índia

8 11 2008

 

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Comecará na próxima semana, na terça-feira, dia 11, no Centro Cultural do Banco do Brasil no Rio de Janeiro, uma pequena mostra de filmes da Índia, chamada:  Nouvelle Vague Indiana.  Serão 20 filmes selecionados especificamente para esta mostra que incluem grandes diretores como Mrinal Sen, Mani Kaul, Meghe Daka Tara e o clássico Satyajit Ray.

Vale a pena checar.





Propriedade de Ingmar Bergman na ilha de Faro à venda!

3 11 2008
Dean C. K. Cox, The New York Times

Ilha Faro, Suécia. Foto: Dean C. K. Cox, The New York Times

 

Um ano depois da morte do cineasta Ingmar Bergman seus herdeiros decidem vender sua famosa propriedade na Ilha de Faro, no Báltico na costa da Suécia, depois da aparente indiferença do governo sueco de manter viva a memória do cineasta.  

 

Quando o filho de Bergman, Daniel, anunciou em julho que até o final de 2009 os herdeiros já teriam vendido a propriedade em Faro, ninguém na Suécia acreditou que o governo não fosse se interessar por manter a propriedade.  Não é apenas uma pequena casa, mas uma propriedade magnífica bem construída à beira do Báltico.  É verdade que para se chegar lá não é uma coisa fácil.  Depois de chegar ao aeroporto de Gotland, importante centro histórico dos vikings, é necessário que se alugue um carro e rodar até o ponto mais ao norte da ilha, pegar uma barcaça e chegar então ao cais de Faro.    Daí por diante há a necessidade de se pegar uma pequena estrada, evitando por todo lado os carneiros cinzentos com patas negras que peregrinam pelos campos até se chegar a uma porteira que fecha a estrada.  Aí então começa a propriedade dos Bergman.

 

Faro serviu de cenário para filmes de Bergman, como A Paixão de Ana, Vergonha, Cenas de um Casamento e Através do Espelho, além de dois documentários sobre a própria ilha.  Frequentemente considerada uma ilha com uma ar de contos de fadas,  Faro tem muitas florestas de pinheiros e  « o chão é coberto por um musgo que lembra um carpete. E é fácil ver cogumelos do tamanho de pratos, formigueiros de 2 metros de altura e muitos morangos silvestres. »  

 

Bergman foi conhecido na Suécia, onde nasceu, por sua posição favorável à direita num país mantido por um sistema monárquico mas socialista: uma combinação um pouco difícil de entender para esta pobre brasileira — mas que parece ser o pivô central da falta de coordenação efetiva do governo para tomar decisões que mantenham a propriedade do cineasta em mãos suecas.  Pequenos ciúmes, pequenas revanches têm atrasado discussões.  Mentes pequenas de partidos pequenos já se desinteressaram do cineasta que colocou a Suécia no mundo do cinema e que a fez existir na imaginação de uma geração inteira – dos baby boomers —  num mundo que começava a se globalizar.  A visão curta de uns e a falta de coragem de outros está deixando a casa de Bergman sem cuidado e provavelmente virar tudo o que o cineasta não merecia nem quereria: uma atração turística de massa.  Há alguma coisa estranha entre esses que conseguem não se esquecer das tendências políticas de uma figura maior que eles mesmos e continuam a curtir dissabores do século XX, tentando mantê-los vivos através do século XXI.  

 

De vez em quando é bom lembrarmos que falta de visão não é só uma característica nossa.  Outros países, outros políticos de lugares considerados até mais civilizados que o nosso podem agir com tanta mesquinhez quanto vemos por aqui.   Não que o comportamento deles justifique o nosso. Este tipo de comparação na verdade só denigre a nossa imagem.  Que tenhamos o poder do bom senso quando uma decisão semelhante vier ao nosso encontro.  Por ora: que vergonha para a Suécia paralisada num conflito político mais mesquinho do que tenho certeza o povo daquele país merece.  

 

 

Este artigo foi em parte baseado no ensaio sobre o assunto publicado no jornal Le Figaro de 20/10/2008.





Roberto Saviano: Salman Rushdie do século XXI

1 11 2008
Irmãos Metralha lendo.  Ilustração Walt Disney.

Irmãos Metralha lendo. Ilustração Walt Disney.

 

Máfia amaldiçoa escritor:  Roberto Saviano

 

O escritor italiano Roberto Saviano nasceu no lugar onde há mais assassínatos em toda a Europa. O seu livro Gomorra  — ainda não lançado no Brasil —  descreve os negócios ilícitos do crime organizado. Por causa disso Roberto Saviano  vive como um prisioneiro e tem a cabeça a prêmio.    

 

O livro publicado em 2006 foi um sucesso de vendas atingindo mais de dois milhões de volumes vendidos na Itália e já foi traduzido para 42 línguas. O filme, do mesmo nome,  Gomorra, dirigido por Matteo Garrone — baseado neste livro — recebeu o Prêmio do Júri do Festival de Cannes e estará representando a Itália na concorrência ao Oscar de Melhor Filme Estrangeiro.

 

O problema é que Roberto Saviano descreve a máfia italiana com muita clareza na sua total brutalidade.  Descreve também seus negócios.   E isto o fez ameaçado por ela mesma, pelos chefes mafiosos.  Apesar deste livro tê-lo lançado internacionalmente e ter trazido para o autor um sucesso que poucos chegam a ter, este jovem de 29 anos, não pode desfrutar de seu sucesso vivendo numa verdadeira prisão, locomovendo-se em carros blindados com proteção policial.  

 

Num recente desabafo, Roberto Saviano, numa entrevista ao jornal La Repubblica disse:Quero uma vida, uma casa, apaixonar-me, rir, tomar uma cerveja em público. Poder ir ver a minha mãe sem a assustar.

 

Mas recentemente a polícia italiana descobriu um plano do clã dos Casalesi (máfia napolitana) de um atentado contra o escritor a ser executado no Natal que se aproxima.  Saviano agora quer sair da Itália.  Mas os italianos pedem que fique.  

 

Há no momento um abaixo-assinado pedindo ao governo italiano que proteja o autor e combata a máfia.  Este abaixo-assinado tem mais de 150.000 assinaturas de todos os lugares do mundo entre elas a de seis vencedores do Prêmio Nobel.

 

Este caso nos lembra das tentativas feitas no século passado contra o escritor Salman Rushdie, que também teve que viver com cuidado e segurança o tempo todo graças às persiguições do governo do Irã que não concordava com as opiniões sobre aspectos do extremismo muçulmano publicadas pelo autor em seus livros de ficção, lançados na Inglaterra.

Está cada vez mais perigoso ser escritor!





Vingança, o filme de Paulo Pons no Festival do Rio

7 10 2008

 

Não tenho podido assistir aos filmes do Festival do Rio de Janeiro com a freqüência costumeira. Mas na quinta-feira passada, para minha satisfação, pude ver o filme Vingança cujas críticas desde o Festival de Gramado haviam despertado a minha curiosidade: era uma filme de qualidade, feito com um orçamento casto;  era um filme com um roteiro que escapava aos clichês brasileiros de favelas e pobreza;  tinha uma excelente fotografia e fundo musical. 

                     Paulo Pons, diretor de Vingança, na apresentação.

De fato o filme é tudo aquilo de que se falava.  A história é intrigante, bem desenvolvida.  Paulo Pons assina o roteiro assim como a direção.   A trilha sonora para qual dou todas as cinco estrelas possíveis do julgamento é de Dado Villa-Lobos.  Excelente fotografia de Thiago Lima e Silva e um desempenho dramático surpreendente de Erom Cordeiro, que consegue dizer muito com um simples olhar.

Erom Cordeiro

O enredo do filme centralizado no estupro de uma jovem, filha de um fazendeiro gaúcho, é sedutor e envolvente.  À procura do malfeitor, o noivo da moça chega ao Rio de Janeiro onde faz contato com a irmã do estrupador.  Há um final surpreendente. 

Não conheço o primeiro filme do gaúcho Paulo Pons, O Dono do Jogo.  Sei simplesmente que este é seu segundo longa, com o qual fiquei encantada.  Acredito que os outros quatro projetos do diretor, alguns em estado avançado de desenvolvimento, já mostrem maturação de idéias e projetos.

Não sou uma crítica de cinema.  Sou uma pessoa que vê filmes com gosto.  Com este ponto de  vista acredito que meus senões ao filme são poucos: 116 minutos hoje em dia fazem um filme parecer mais longo do que o normal, já que as platéias estão mais acostumadas aos 90 minutos (isto é valido para o cinema assim como para o teatro, no teatro até algumas companhias já eliminaram qualquer intervalo);  a beleza das cenas e dos ângulos das cenas filmadas não precisava ser feita na sua maioria de close-ups, a não ser que a intenção fosse sufocar o espectador.  Neste filme acredito que se a editoração pudesse ser um pouco mais concisa, a história ainda teria maior impacto.  A fotografia é extraoriordinarimente bela, e o Rio de Janeiro — onde o filme é passado — é uma cidade que se presta à exploração das belezas, mas me pareceu que a editoração poderia ter sido menos indulgente: se perdesse alguns belos enfoques, ganharia em mais poder na missão de transmitir emoções.  Mas estas são observações de uma mera espectadora.

De qualquer maneira, este filme deveria ter sua chance no circuito comercial.  Mostra uma outra estética, uma nova realidade brasileira que é muito bem-vinda para espectadores como eu que já estão cansados com a temática brasileira de sempre, favorita dos cursinhos de cinema, que com frequência se entregam mais aos estudos sociológicos do que ao entretenimento — mesmo que sério — de quem paga para ir ao cinema.

Paulo Pons e sua Pax Filmes estão de parabéns.  Espero com ansiedade suas próximas produções.