
Não tenho podido assistir aos filmes do Festival do Rio de Janeiro com a freqüência costumeira. Mas na quinta-feira passada, para minha satisfação, pude ver o filme Vingança cujas críticas desde o Festival de Gramado haviam despertado a minha curiosidade: era uma filme de qualidade, feito com um orçamento casto; era um filme com um roteiro que escapava aos clichês brasileiros de favelas e pobreza; tinha uma excelente fotografia e fundo musical.

Paulo Pons, diretor de Vingança, na apresentação.
De fato o filme é tudo aquilo de que se falava. A história é intrigante, bem desenvolvida. Paulo Pons assina o roteiro assim como a direção. A trilha sonora para qual dou todas as cinco estrelas possíveis do julgamento é de Dado Villa-Lobos. Excelente fotografia de Thiago Lima e Silva e um desempenho dramático surpreendente de Erom Cordeiro, que consegue dizer muito com um simples olhar.

Erom Cordeiro
O enredo do filme centralizado no estupro de uma jovem, filha de um fazendeiro gaúcho, é sedutor e envolvente. À procura do malfeitor, o noivo da moça chega ao Rio de Janeiro onde faz contato com a irmã do estrupador. Há um final surpreendente.
Não conheço o primeiro filme do gaúcho Paulo Pons, O Dono do Jogo. Sei simplesmente que este é seu segundo longa, com o qual fiquei encantada. Acredito que os outros quatro projetos do diretor, alguns em estado avançado de desenvolvimento, já mostrem maturação de idéias e projetos.
Não sou uma crítica de cinema. Sou uma pessoa que vê filmes com gosto. Com este ponto de vista acredito que meus senões ao filme são poucos: 116 minutos hoje em dia fazem um filme parecer mais longo do que o normal, já que as platéias estão mais acostumadas aos 90 minutos (isto é valido para o cinema assim como para o teatro, no teatro até algumas companhias já eliminaram qualquer intervalo); a beleza das cenas e dos ângulos das cenas filmadas não precisava ser feita na sua maioria de close-ups, a não ser que a intenção fosse sufocar o espectador. Neste filme acredito que se a editoração pudesse ser um pouco mais concisa, a história ainda teria maior impacto. A fotografia é extraoriordinarimente bela, e o Rio de Janeiro — onde o filme é passado — é uma cidade que se presta à exploração das belezas, mas me pareceu que a editoração poderia ter sido menos indulgente: se perdesse alguns belos enfoques, ganharia em mais poder na missão de transmitir emoções. Mas estas são observações de uma mera espectadora.
De qualquer maneira, este filme deveria ter sua chance no circuito comercial. Mostra uma outra estética, uma nova realidade brasileira que é muito bem-vinda para espectadores como eu que já estão cansados com a temática brasileira de sempre, favorita dos cursinhos de cinema, que com frequência se entregam mais aos estudos sociológicos do que ao entretenimento — mesmo que sério — de quem paga para ir ao cinema.
Paulo Pons e sua Pax Filmes estão de parabéns. Espero com ansiedade suas próximas produções.