
A primavera no Rio de Janeiro anda fria, enquanto o inverno, de inverno só teve mesmo o nome. Mas, novembro está bem mais frio do que o normal. Em Curitiba o tempo também anda estranho. Por todo Brasil parece que as estações decidiram mudar de estilo e até de temperatura e região. Hoje na última semana de novembro nevou na Austrália. Nevou muito. E a Austrália assim como o Brasil está a um mês de o que deveria ser um quente verão.
Todas estas notícias me lembraram Mark Lynas, autor do livro Seis graus, [Jorge Zahar: 2008] que se você ainda não leu, deve fazê-lo o quanto antes. À medida que o efeito de estufa aumenta ano após ano, os cientistas alertam: a temperatura global pode aumentar 6 ° Celsius ao longo do próximo século. Isso causaria mudanças radicais no nosso planeta. Seis graus é um livro alarmante, que modificará a maneira como você vê e faz as coisas no seu dia a dia. Lyman tenta responder a perguntas que ocorrem a todos nós que pensamos sobre o meio ambiente, mas que não levamos os nossos estudos ao ponto que o autor leva: o que irá acontecer, à medida que o mundo for aquecendo? O que sucederá às nossas costas, às nossas cidades, às nossas florestas, aos nossos rios, aos nossos campos de cultivo e às nossas montanhas?
Mesmo que a emissão de gases que provocam o efeito de estufa parasse imediatamente, as concentrações que já estão na atmosfera provocariam uma subida global de 0,5 ou mesmo 1º C.
Mas e se a temperatura global aumentasse mais 1ºC? Tudo indica que essas mudanças não seriam graduais. Os glaciares da Groenlândia e muitas das pequenas ilhas mais a sul desapareceriam.
Se a temperatura subisse 3º C, o Ártico deixaria de ter gelo no verão. A floresta tropical da Amazônia secaria e condições atmosféricas extremas seriam uma norma.
Com uma subida de 4ºC, o nível dos oceanos aumentaria drasticamente. Seguido de mudanças climáticas desastrosas se a temperatura global subisse mais um grau: regiões que conhecemos som clima temperado seriam inabitáveis.
O sexto grau traz um cenário de juízo final, com oceanos devastados e desertos crescendo em área.
Lynas é um autor britânico, jornalista e ativista ambiental que se interessa pelas mudanças climáticas. É licenciado em História e Política pela Universidade de Edimburgo. Nasceu em 1973 e mora em Oxford, na Inglaterra. Ele foi o vencedor do principal prêmio para livros de ciência, da Royal Society de Londres. sugere seis estratégias para conter o aquecimento global.

Em julho deste ano a revista Época publicou uma entrevista com o autor, sob o título Deixe de voar de avião, que reproduzo em parte aqui onde sugere seis estratégias para conter o aquecimento global, que você, eu, qualquer um pode começar a fazer hoje.
O que acontecerá no Brasil se a temperatura subir em média 10° centígrados?
Lynas: Uma coisa que já ocorreu foi o surgimento de ciclones extratropicais. O primeiro foi o furacão Catarina, que atingiu o sul do Brasil em 2004. Mas a principal questão para vocês é o futuro da Amazônia. Se a temperatura subir 20°c, é provável que a floresta desapareça, destruindo o maior reservatório de biodiversidade do planeta. Projeções sugerem que o centro do Brasil se tornará uma savana seca ou até um deserto, com temperaturas muito altas e pouca chuva. As conseqüências serão globais. A Amazônia funciona como uma bomba d’água gigante e influencia o clima de todo o planeta. Na eventualidade de um aquecimento extremo, o que é hoje o centro da bacia amazônica será engolido pelas águas do atlântico, assim como uma língua de terra que vai do sul do Brasil até o pantanal.
O que, qualquer pessoa deve fazer para combater as mudanças climáticas?
Lynas: A primeira é deixar de voar nas férias, por causa da enorme contribuição da aviação civil aos gases do efeito estufa. Eu já deixei de fazer isso há dez anos. [Lymas investigou e constatou que nos últimos 13 anos os aviões dobraram a emissão de gases com efeito de estufa.]
A segunda medida é, em viagens de negócios, sempre que possível ir de trem ou de ônibus.
A terceira medida é abandonar o carro e andar ou usar o transporte público.
A quarta, nos países frios, é reduzir o aquecimento das casas.
A quinta atitude: só usar eletricidade produzida por fontes renováveis, como a hidrelétrica, a solar e a dos ventos.
A sexta e última medida é convencer os membros de sua comunidade a fazer o mesmo e eleger políticos que defendam essas políticas. É a medida mais importante de todas.
Seis graus é um relato de um possível futuro da nossa civilização se o atual ritmo do aquecimento global persistir. Não é uma obra de ficção científica nem sensacionalista. Os seis graus do título referem-se à possibilidade assustadora de as temperaturas médias subirem cerca de seis graus nos próximos cem anos. Os contrastes ambientais serão desmedidos: haverá, por um lado, rios dez vezes maiores que o Amazonas, mas, por outro, mais de metade da população mundial sofrerá os efeitos da seca.
No entanto, apesar de uma visão quase apocalíptica, Lynas termina com a apresentação de diversas estratégias que permitem contornar o problema do aquecimento global. Com: 1) um pouco de antevisão 2) alguma estratégia e 3) sorte poderemos pelos menos deter o rumo catastrófico pelo qual nos temos deixado levar. Mas esta é a hora de agir.
Para um resumo em inglês: THE GUARDIAN