Borboleta multicor
tu me lembras, ao passar,
um bilhetinho de amor
dobrado em dois, a voar…
(J. G. de Araújo Jorge)
Borboleta multicor
tu me lembras, ao passar,
um bilhetinho de amor
dobrado em dois, a voar…
(J. G. de Araújo Jorge)

O DNA antigo pode ser uma ótima ferramenta para o estudo da evolução, da diversidade e de outros assuntos, mas sua obtenção pode ser complicada. Quando os antigos organismos são insetos pequenos, a retirada de um pouco de DNA pode significar a destruição total ou parcial deles. Agora, uma equipe de cientistas mostrou que é possível extrair DNA de um espécime de inseto de quase 200 anos, sem destruí-lo. Eles colocam os insetos de molho.
Eske Willerslev e Philip Francis Thomsen, do Centro de Genética e Ambientes Antigos, do Museu de História Natural da Universidade de Copenhage, e colegas usaram uma solução chamada tampão de digestão, cuja receita havia sido previamente desenvolvida. O processo de obtenção do DNA teve sucesso não só com macrofossils siberianos de até 26.000 anos de idade, como também com besouros secos, exemplares de acervo de museus, espécimes de até 188 anos. Isto revela que o método tem um grande potencial para a investigação do DNA. Vinte espécimes de besouro de museus, os mais antigos datados de 1820, foram imersos na solução por 16 horas e então retirados e secados, com seus exoesqueletos e outras características intactos. Os ácidos nucléicos na solução restante foram separados.
Apesar da enorme diversidade demonstrada entre os insetos, este grupo é, em geral, quase sempre negligenciado nos estudos de DNA. Estes tendem a se concentrar principalmente em vertebrados e plantas. Menos estudados ainda são os micróbios. Este processo se anuncia então como uma excelente e poderosa ferramenta que poderá vir a testar muitas hipóteses em biologia, pelo estudo mais detalhado do DNA destes seres até hoje relegados a um segundo plano.
Até então, uma das maiores limitações para o estudo do DNA de antigos espécimes de insetos era a destruição dos elementos morfológicos da amostra, quando o antigo processo se fazia inevitável. Obviamente, este é um problema relacionado com o DNA de muitas fontes, mas é de particular preocupação com as pequenas amostras, tais como insetos. Até hoje, a maioria dos antigos estudos genéticos sobre insetos foi vítima desses métodos de amostragem destrutivos. Os resultados obtidos com o método não-destrutivo na amostragem deste estudo sugerem que a destruição de espécimes já não se fará necessária. A utilização de modelos históricos encontrados em museus tem importantes aplicações em estudos genéticos da população, onde espécimes poderão revelar antigas estruturas genéticas até agora indetectáveis. Enquanto que o estudo dos macro fosseis poderão trazer dados de potencial valor para melhor compreensão de ecossistemas e mudanças climáticas.

Em um artigo no periódico online de acesso livre PLoS ONE, os pesquisadores relatam que todos os 20 espécimes produziram seqüências de DNA mitocondrial utilizáveis. Acredita-se que o tampão de digestão penetre nos exoesqueletos através da boca, dos orifícios respiratórios e de outras características anatômicas, e através dos orifícios feitos quando os espécimes são fixados para exibições.
A técnica teve menos êxito com restos de besouros mais antigos – congelados no permafrost por dezenas de milhares de anos. Apenas três das 14 amostras produziram DNA utilizável. Mas os pesquisadores tiveram mais sucesso com sedimentos não-congelados e menos antigos de uma caverna – com cerca de 1,8 a 3 mil anos de idade. Eles obtiveram seqüências de DNA de um besouro e uma mariposa ou borboleta.
Outras entradas neste blog que tratam de insetos:
NOVAS DESCOBERTAS: Nova Guiné
PALEONTOLOGIA: Monstro, Insetos no Cretáceo
TEXTO LITERÁRIO: Coelho Neto
POESIA, Manoel de Barros- um cachorro vira-lata; Olavo Bilac — As formigas
Foi no início deste ano que cientistas franceses conseguiram identificar mais de 350 fósseis de minúsculos animais que viveram nos tempos dos dinossauros, utilizando uma técnica que permitiu observar com detalhes, pela primeira vez, pedaços de âmbar completamente opacos.
O âmbar como se sabe é uma resina fóssil das árvores (principalmente pinheiros). Esta resina tem a função de proteção à planta. É uma espécie de arma contra a ação de microorganismos e insetos predatórios ao seu ciclo de vida. A produção da resina acontece por qualquer lesão, mesmo um simples ataque de insetos é suficiente para sua formação. A resina protege a árvore atuando como cicatrizante. Tem propriedades anti-sépticas que também
protegem a árvore de doenças. O âmbar é a resina fóssil de árvores que viveram há milhões de anos em regiões de clima temperado. E que com o tempo transformaram-se nesta massa, frequentemente denominada de pedra semi-preciosa, porque é usado como uma pedra preciosa, para fazer jóias ou objetos ornamentais, por exemplo, mas não é um mineral.
Como insetos, de modo geral, são indicadores precisos de variações climáticas e ambientais, grande atenção tem sido dada ao estudo de insetos no período Cretáceo para melhor entendermos a ecologia da era. O Cretácio foi o período muito importante para a evolução das plantas que dão flores. Foi nesta época que elas cresceram e se multiplicaram muito. E aí também que elas passam a depender de insetos polinizadores: abelhas, vespas, borboletas, mariposas e moscas. Na verdade, 2/3 de todas as plantas que dão flores dependem de insetos para sua polinização. Vale lembrar que insetos formam o grupo de animais mais numeroso da Terra.
A análise de dois quilos de material retirado da região de Charentes, no
sudoeste da França, revelou a presença de insetos, ácaros, aranhas e crustáceos que viveram há cerca de 100 milhões de anos, no período Cretáceo, que vem depois do período Jurássico da era Mesozóica e conhecido como o fim da “Era dos Dinossauros“. Os primeiros fósseis de grande parte de pássaros, insetos e mamíferos são encontrados no Cretáceo. Pequenos animais, minúsculos como eram estes encontrados na França, foram as grandes vítimas do âmbar, porque uma vez presos na resina, não teriam forças para se libertarem daquela consistência pegajosa. Insetos maiores também era capturados mas acredita-se que pudessem sair da pasta melosa da resina com mais facilidade.
A pesquisa na França envolveu cientistas do Museu de História Natural de Paris e da Instalação Européia de Radiação por Síncrotron (ESRF, sigla em inglês) e foi feita por raios-X intensos: a única maneira pela qual se pode visualizar e estudar insetos tão pequeninos no âmbar. Considerada uma pesquisa particularmente importante, os achados parecem dar apoio a uma nova teoria sobre a causa da extinção dos dinossauros. Uma teoria que sugere que os insetos possam ter tido um papel importante na extinção dos grandes répteis pré-históricos.
Inicialmente, essa mudança teria dificultado a vida dos dinossauros vegetarianos e posteriormente, dos seus predadores. Os vegetarianos morrendo, seus predadores teriam o mesmo fim por fome.
George e Roberta Poinar, sugerem que os dinossauros não foram extintos de maneira abrupta, mas que o seu fim foi gradual e teria levado milhões de anos. Não estamos dizendo que os insetos tenham sido a única causa da extinção dos dinossauros; acreditamos, no entanto, que eles tenham tido papel importante, explica George Poinar.
Fazendo uma reconstrução do ambiente hostil pré-histórico habitado por enxames de insetos encontrados na resina fossilizada do período Cretáceo em depósitos no Líbano, Canadá e Mianmar estes cientistas encontraram vermes intestinais e protozoários em excrementos fossilizados de dinossauros. Análises mostraram então como insetos infectados com doenças como a malária, (Leishmania ) e outros parasitas intestinais poderiam ter provocado uma devastação lenta dos dinossauros. Além disso, os insetos poderiam ter destruído a vegetação em geral, espalhando doenças na flora.
Em julho deste ano, cientistas do Instituto Geológico e de Mineração da Espanha descobriram um depósito de âmbar contendo insetos do período Cretáceo, até agora desconhecidos e em “excelente” estado de conservação. Estes exemplos foram coletados nos arredores da caverna de El Soplao, na região da cidade de Rábago na Espanha.
Os insetos foram aprisionados no âmbar há 110 milhões de anos, quando a região espanhola de Cantábria, no norte do país, estava inundada pelo mar e era repleta de lagoas cercadas por florestas de pinheiros. Estas coníferas produziram a resina que ios capturou. Descrita como uma das reservas de âmbar mais importantes da Europa, ou talvez do mundo os responsáveis pelo achado – María Najarro, Enrique Peñalver e Idoia Rosales, explicaram que o local reúne um acúmulo “excepcional” de massas de âmbar.
Além de pequenas vespas, moscas, aranhas, baratas e mosquitos, o âmbar de El Soplao preserva ainda uma teia de aranha diferente da encontrada em outra peça de âmbar, descoberta em Teruel e que atraiu grande interesse científico.
Tudo indicava este ano já teríamos tido todas as mais interessantes novidades sobre
o Cretáceo com os estudos mencionados acima tanto na França quanto na Espanha. Deixa que este mês mais uma descoberta, do Cretáceo e de seus pequeníssimos animais presos no âmbar fossilizado, foi revelada de novo na França em Charente. Uma descoberta que puxa para trás por 20 milhões de anos o período em que um organismo, uma alga formada por uma única célula, aparece no planeta. Os cientistas estão surpresos de terem encontrado, presa no âmbar estes micro organismos marinhos. Como que eles foram parar lá, no meio das árvores?
De acordo com uma publicação do Proceedings of the National Academy of Sciences, nos EUA, este achado indicaria, de acordo com um os autores do artigo, Jean-Paul Saint Martin, um cientista do Museu de História Natural de Paris, não só que esta floresta deveria estar muito próxima do oceano, assim como fortes ventos ou por enchentes durante uma tempestade, deveriam ter levado estes microscópicos seres para terra firme.
Este artigo foi parcialmente baseado na revista COSMOS.
A borboleta
Olavo Bilac
Trazendo uma borboleta,
Volta Alfredo para casa.
Como é linda! É toda preta,
Com listas douradas na asa.
Tonta, nas mãos da criança,
Batendo as asas, num susto,
Quer fugir, porfia, cansa,
E treme, e respira a custo.
Contente, o menino grita:
“É a primeira que apanho,
“Mamãe vê como é bonita!
“Que cores e que tamanho!
“Como voava no mato!
“Vou sem demora pregá-la
“Por baixo do meu retrato,
“Numa parede da sala”.
Mas a mamãe, com carinho,
Lhe diz: “Que mal te fazia,
“Meu filho, esse animalzinho,
“Que livre e alegre vivia?
“Solta essa pobre coitada!
“Larga-lhe as asas, Alfredo!
“Vê como treme assustada…
“Vê como treme de medo…
“Para sem pena espetá-la
“Numa parede, menino,
“É necessário matá-la:
“Queres ser um assassino?”
Pensa Alfredo… E, de repente,
Solta a borboleta… E ela
Abre as asas livremente,
E foge pela janela.
“Assim, meu filho! Perdeste
“A borboleta dourada,
“Porém na estima cresceste
“De tua mãe adorada…
“Que cada um cumpra a sorte
“Das mãos de Deus recebida:
“Pois só pode dar a Morte
“Aquele que dá a Vida.”
Em: Poesias Infantis, Olavo Bilac, Livraria Francisco Alves: 1949, Rio de Janeiro, 17ª edição, pp. 21-23
Olavo Brás Martins dos Guimarães Bilac (RJ 1865 — RJ 1918 ) Príncipe dos Poetas Brasileiros – Jornalista, cronista, poeta parnasiano, contista, conferencista, autor de livros didáticos. Escreveu também tanto na época do império como nos primeiros anos da República, textos humorísticos, satíricos que em muito já representavam a visão irreverente, carioca, do mundo. Sua colaboração foi assinada sob diversos pseudônimos, entre eles: Fantásio, Puck, Flamínio, Belial, Tartarin-Le Songeur, Otávio Vilar, etc., e muitas vezes sob seu próprio nome. Membro fundador da Academia Brasileira de Letras. Criou a cadeira 15, cujo patrono é Gonçalves Dias. Sem sombra de duvidas, o maior poeta parnasiano brasileiro.
Obras:
Poesias (1888 )
Crônicas e novelas (1894)
Crítica e fantasia (1904)
Conferências literárias (1906)
Dicionário de rimas (1913)
Tratado de versificação (1910)
Ironia e piedade, crônicas (1916)
Tarde (1919); Poesia, org. de Alceu Amoroso Lima (1957), e obras didáticas.
A Borboleta Amarela
A borboleta amarela
pousou no beiral da janela.
Abriu suas asas listradas
cansadas de muitas estradas
e dormiu.
Ficou um bom tempo parada
até se sentir renovada.
Limpando as patinhas da frente,
jogou-se pelo muro bem rente
e seguiu.
Lá foi ela pelos ares
saltitando em ziguezagues.
Pousou na flor do caqui,
pulou daqui para ali
e partiu.
Por entre a grade de ferro, passou.
Por trás dos ramos floridos, voou.
Parou no banco da praça,
eis que um gato lhe ameaça…
e fugiu.
© Ladyce West, 2008, Rio de Janeiro
Ladyce West ( RJ – contemporânea)
AS BORBOLETAS
Brancas
Azuis
Amarelas
E pretas
Brincam
Na luz
As belas
Borboletas
Borboletas brancas
São alegres e francas.
Borboletas azuis
Gostam muito de luz.
As amarelinhas
São tão bonitinhas!
E as pretas, então…
Oh, que escuridão!
Vinícius de Moraes
Do livro:
A arca de Noé, Vinícius de Moraes, Livraria José Olympio Editora: 1984; Rio de Janeiro; páginas 58 e 59. 14ª edição.
Marcus VINÍCIUS da Cruz DE Melo e MORAES (RJ 1913-RJ 1980), diplomata, jornalista, poeta e compositor brasileiro.
Livros:
O caminho para a distância (1933)
Forma e exegese (1935)
Ariana, a mulher (1936)
Novos Poemas (1938 )
Cinco elegias (1943)
Poemas, sonetos e baladas (1946)
Pátria minha (1949)
Antologia Poética (1954)
Livro de Sonetos (1957)
Novos Poemas (II) (1959)
Para viver um grande amor (crônicas e poemas) (1962)
A arca de Noé; poemas infantis (1970)
Poesia Completa e Prosa (1998 )
—-
Outros poemas de Vinícius de Moraes neste blog:
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—
JOÃO E MARIA
João e Maria,
todos os dias.
saíam cedo
pelos caminhos.
Maria em busca
de borboletas,
João à procura
de passarinhos.
Porém um dia
João e Maria
atrás dos bichos
tanto correram,
que não souberam
voltar pra casa;
viram, chorando,
que se perderam.
E os dois, rezando
pediram a Deus
que os conduzisse
para seus pais,
que eles juravam
com borboletas
e passarinhos
não mexer mais.
E Deus, ouvindo-os,
mandou que um anjo
a casa os guiasse
pelos caminhos.
E os dois meninos
não mais mexeram
com as borboletas
e os passarinhos.
Martins D’Alvarez ( 1904 – ?)
Poema no livro: Leituras Infantis, Theobaldo Miranda Santos, Agir: 1962, Rio de Janeiro
—
Martins D’Alvarez
Nasceu na cidade de Barbalha, Estado do Ceara, em 14 de setembro de 1904.
Filho de Antonio Martins de Jesus a de Antonia Leite da Cruz Martins. Fez
os estudos primarios na sua cidade natal, os secundários, no Liceu do Ceara.
Formou-se em Odontologia.. Transferiu desde o ano de 1938 a sua residência
para o Rio de Janeiro, onde exerceu, além de atividades na imprensa, atividades
no magistério superior.
Livros publicados:
“A Ronda das horas verdes”, 1930 (versos).
“Quarta-feira de cinzas”, 1932 (novela).
Menção honrosa da Academia Brasileira de Letras.
“Vitral”, 1934 (Poemas).
“0 Norte Canta”, 1941 (poesia popular).