Almoço de época no Rio de Janeiro: Confeitaria Manon

28 04 2012

Confeitaria Manon, na Rua do Ouvidor, no Rio de Janeiro.

Hoje visitei o centro do Rio de Janeiro e voltei um pouco à minha infância.  Quando eu era criança meu dentista ficava na rua do Ouvidor, no Centro do Rio de Janeiro, a uns poucos metros da Confeitaria Manon.  O prêmio de ir ao dentista era um sorvete nessa confeitaria, depois do “sacrifício”.  Nem sei quantas vezes fui a esse templo do Alto Art Deco do Rio de Janeiro.   Naquela época minha única apreciação era o delicioso sorvete que serviam no local.

Salão ao fundo da Confeitaria Manon.

Eu não sabia, então, que se tratava de um verdadeiro templo da arquitetura e decoração da década de 40 do século passado.  Hoje, com conhecimentos de história da arte e de história da arquitetura, fico felicíssima cada vez que entro nessa confeitaria, que comemora este ano 70 anos de existência.  Fico feliz porque ainda estão lá as paredes arredondadas, preferidas na época, assim como a iluminação indireta dando um tom sensual e dourado ao ambiente.  Os tetos ecoam as linhas sinuosas das paredes e o corte circular, com rebaixamento à sua volta, enfatiza a modernidade do estilo.

Detalhe do teto do salão da Confeitaria Manon.

As colunas de sustentação foram sabiamente incorporadas ao estilo arquitetônico dando ainda maior requinte ao ambiente.  É um verdadeiro templo do Art Deco brasileiro, um local que — em outra cidade, digamos Miami, nos Estados Unidos  — seria considerado visita obrigatória para turistas locais ou estrageiros.  Até mesmo as cadeiras da Manon completam o estilo, vejam na foto abaixo.

Cadeira da Confeitaria Manon.

Às vezes eu me pergunto: o que os brasileiros veem tanto na arquitetura Art Deco de Miami, quando temos aqui no Rio de Janeiro e certamente em São Paulo, exemplos espetaculares como esse que mostro hoje?  É só porque os americanos valorizam o que têm e nós não?  Pois passemos a valorizar… Eu garanto que há poucos lugares nas grandes cidades do mundo com esse encanto, com essa pureza de estilo.

Chão de mármore na Confeitaria Manon.

Dinheiro não faltou na construção original da Confeitaria Manon.  O detalhe como o chão de mármore de diversas cores, fazendo desenho quadriculado, não é barato hoje, nem foi barato na época.  Essa atenção aos pormenores dá requinte ao ambiente e mesmo hoje, tendo já perdido algo de sua glória, porque o centro da cidade precisa de maior investimento e de renovação, ainda temos, ao entrar no local, a sensação de elegância que o material rico e o bom acabamento sempre trazem.

Painel pintado ao fundo do salão na Confeitaria Manon.

De particular interesse, para mim, foi  o painel pintado com uma cena tropical — arbustos e arara  de encontro ao céu azul — que me lembrou imediatamente de filmes americanos da mesma década, quando retratavam o Rio de Janeiro.  Parece, de fato, algo que apareceria desde Flying down to Rio, [década de 30], aos  filmes estrelados por Carmen Miranda.

Confeitaria Manon.

Hoje a Confeitaria Manon tornou-se um estabelecimento de comida a quilo — um sinal decisivo do empobrecimento do centro da cidade — e as toalhas de linho sobrepostas a outras adamascadas se foram.  Ainda temos toalhas — agradeçamos a Deus pelos pequenos milagres! — mas há uma cobertura muito limpa, muito bem cortada de plástico branco sobre as mesas.  Os garçons também perderam a elegância no servir  e o lustro dos uniformes, particularidades que me lembro serem notadas anos atrás.  Mas a confeitaria sobrevive, com seu estilo de anos 40, impecável.

Mesa de mosaico na sala da frente da Confeitaria Manon.

Na sala da frente, aquela que dá diretamente para a rua, a Confeitaria Manon comemora os seus 70 anos, mostrando com orgulho — como deveria ter mesmo — a data de abertura — 1942 — em mesas de mosaico.  Este sempre foi o local para um café, para um salgadinho, para algo rápido a ser consumido ali mesmo, sem grande fanfarra, e também o local para se comprar doces, salgados, um, dez, vinte, cinquenta para levar para casa.

A minha esperança é que com toda a renovação do centro da cidade, com os eventos que teremos a partir do próximo mês com a Rio + 20,  com a modernização que está chegando ao Rio de Janeiro, que lugares como este possam ainda voltar a  seduzir pelo requinte como um dia o fizeram.  Não é impossível.  Conheço exemplos semelhantes em outras cidades  Nova York, Londres e Madri vêm à mente, onde alguns antigos cafés ou confeitarias voltaram a ter o charme e  a boa clientela que merecem.  Que a gente saiba fazer o mesmo aqui no Rio de Janeiro.

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SERVIÇO:

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http://www.confeitariamanon.com.br/

Rua do Ouvidor, 187, Centro, Rio de Janeiro – RJ

(21) 2221-0245

Seg a Sex, das 7h às 20h30m; Sáb, das 7h às 15horas





Quadrinha do circo

14 03 2012

Ilustração, Circo, 1960, de Charles Sjoholm.

O circo está na cidade!

Que alegria!  Quanta gente!

— Ah!… Quem dera que eu pudesse

ser criança novamente!

(Roberto Fernandes)





Quadrinha do lírio

10 03 2012

Lírios brancos

Chris Wilmshurst (Inglaterra, contemp.)

aquarela

www.minigallery.com.uk

Olhai os lírios do campo,

e vede quanta brancura!…

No entanto, suas raízes

mergulham na terra escura!

(Zulmiro Vieira)

 





Palavras para lembrar — Umberto Eco

26 02 2012

A biblioteca de babale, ilustração de Erik Desmazieres, 1997.

“As bibliotecas são fascinantes: às vezes parece-nos estar sob a marquise de uma estação ferroviária e,  consultando livros sobre terras exóticas, tem-se a impressão de viajar a paragens longínquas”.

Umberto Eco





A onça e o bode, fábula brasileira, texto de Luís da Câmara Cascudo

3 02 2012

Ilustração M&V Editores

A onça e o bode

O Bode foi ao mato procurar lugar para fazer uma casa.  Achou um sítio bom.  Roçou-o e foi-se embora.  A Onça que tivera a mesma ideia, chegando ao mato e encontrando o lugar já limpo, ficou radiante.  Cortou as madeiras e deixou-as no ponto.  O Bode, deparando a madeira já pronta, aproveitou-se, erguendo a casinha.  A Onça voltou e tapou-a de taipa.  Foi buscar seus móveis e quando regressou encontrou o Bode instalado.  Verificando que o trabalho tinha sido de ambos, decidiram morar juntos.

Viviam desconfiados, um do outro.  Cada um teria sua semana para caçar.  Foi a Onça e trouxe um cabrito, enchendo o Bode de pavor.  Quando chegou a vez deste, viu uma onça abatida por uns caçadores e a carregou até a casa, deixando-a no terreiro.  A Onça vendo a companheira morta, ficou espantada:

— Amigo Bode, como foi que você matou essa onça?

— Ora, ora… Matando!… Respondeu o Bode cheio de empáfia.  Porém, insistindo sempre a Onça em perguntar-lhe como havia matado a companheira, disse o Bode:

— Eu enfiei este anel de contas no dedo, apontei-lhe o dedo e ela caiu morta.

A Onça ficou toda arrepiada, olhando o Bode pelo canto do olho.  Depois de algum tempo, disse o Bode:

— Amiga Onça, eu lhe aponto o dedo…

A Onça pulou para o meio da sala gritando:

— Amigo Bode, deixe de brinquedo…

Tornou o Bode a dizer que lhe apontava o dedo, pulando a Onça para o meio do terreiro.  Repetiu o Bode a ameaça e a onça desembandeirou pelo mato a dentro, numa carreira danada, enquanto ouviu a voz do Bode:

— Amiga Onça, eu lhe aponto o dedo…

Nunca mais a Onça voltou.  O Bode ficou, então, sozinho na sua casa, vivendo de papo para o ar, bem descansado.

Em: Contos tradicionais do Brasil (folclore), Luís da Câmara Cascudo, Rio de Janeiro, Edições de Ouro: 1967

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Este conto foi arrebanhado por Câmara Cascudo do volume de J da Silva Campos, Contos e fábulas populares da Bahia, em Folk-Lore no Brasil, Ed. Basílio de Magalhães, Rio de Janeiro, 1928.

Câmara Cascudo lembra que esta variante do conto, [popular no Brasil inteiro, com versões também de origem indígena], “tem reminescência africana, resquício religioso dos negros do Congo Zambese“, da região Bantu.





No turno de — poema de Gilberto Mendonça Teles

28 01 2012

Tiradentes, duas igrejas

Oscar Araripe ( Rio de Janeiro, contemporâneo)

86 x 110cm

www.oscarararipe.com.br

No turno de


Para Luiz Carlos Alves

Eu fui a Belo Horizonte
ver as meninas gerais.
Vi montanhas e montanhas,
soube de seus litorais,
conheci Minas por dentro,
gostei de alguns minerais,
visitei as novas praças
e seus antigos currais,
vi a toca das raposas,
ouvi discursos e uais,
vi políticos cursando
colégios eleitorais,
vi contistas e contistas
cada qual contando mais,
vi poetas de vanguarda
desenhando nos jornais,
conheci suas tendências,
seus refrões episcopais,
vi gente de toda parte,
do Piauí, de Goiás
(goiano fazendo cera,
piauiense muito mais),
vi homens pulando cercas,
mulheres com seus plurais,
vi a família mineira
na barra dos tribunais,
e na Rua Carangola
(Ouro Preto no cartaz)
vi uma moça morena
cantando seus madrigais,
fazendo um túnel no tempo
e me fazendo sinais
de que só existe Minas
na forma dos festivais,
quando o barroco já rouco
cochicha pelos beirais,
quando a lua e a serenata
passeiam pelos quintais,
quando há miados de gata
no serenô das gerais.

Em: Plural de nuvens, Gilberto Mendonça Teles, Rio de Janeiro, José Olympio: 1990


Gilberto Mendonça Teles (Bela Vista de Goiás, 30 de junho de 1931) é um poeta e crítico literário brasileiro.


Obras:


Alvorada, 1955.
Estrela-d’Alva, 1958
Fábula de Fogo, 1961
Pássaro de Pedra, 1962
Sonetos do Azul sem Tempo, 1964
Sintaxe Invisível, 1967
La Palabra Perdida (Antología),1967
A Raíz da Fala, 1972
Arte de Armar. Rio de de Janeiro: Imago, 1977
Poemas Reunidos, 1978
Plural de Nuvens, 1984
Sociologia Goiana, 1982
Hora Aberta, 1986
Palavra (Antologia Poética),1990
L ´Animal (Anthologie Poétique), 1990
Nominais, 1993
Os Melhores Poemas de Gilberto Mendonça Teles
Sonetos (Reunião), 1998





Trova do vagalume

15 01 2012

Pirilampo, ilustração Jeniffer Emery, EUA.

Brilhante de asas — o vagalume,

Dentro da noite escura e feia,

Para a beleza do negrume,

Ele a si próprio se incendeia.

(Sabino de Campos)





Quadrinha da colheita de uvas

9 01 2012

A colheita da estação,
junto aos vastos parreirais,
traz a marca e o coração
dos mais nobres ancestrais.

(Amália Marie Gerda Bornhein)





O bailarico das Novais, poema de Luiz Peixoto

8 01 2012

Um sarau musical, 1874

Guglielmo Zocchi (Itália, século XIX)

óleo sobre tela

O bailarico das Novais

Luiz Peixoto

Um sarau

na rua Itapiru,

em casa das Novais.

O calor

está abrasador

e tem gente demais

mas, tome polca!

No sofá

a Dona Jacintinha

faz bolas de papel

e na janela

de papelotes,

a Berenice namorica o furriel.

A reclamar silêncio

surge o seu Fulgêncio,

um rotundo e bom comendador.

Sim, porque nessa altura

chega o padre-cura

com o corregedor.

— Senhorita,

a honra desta dança

acaso quer me dar?

— Cavalheiro,

a honra é toda minha,

porém, já tenho par…

e tome polca!

Dança o Souza,

que vai pisando em ovos

com as botas de verniz,

enquantoa esposa,

de olhos em alvo,

fica torcendo os cabelinhos do nariz.

Por trás de uma cortina

vê-se a Minervina

que é mais preta que um tição,

e diz entre risadas:

— Quebra Dona Alice!

— Quebra seu Beltrão!

— Atenção! — acordes da “Dalila”,

seu Gil vai recitar!

Fazem roda

e o moço encalistrado

começa a gaguejar…

Vem o chá

Biscoitos de polvilho

e outros triviais

— São onze horas, apague o gás!

E assim termina o bailarico das Novais.

Em: Poesia Brasileira para a Infância, Cassiano Nunes e Mário da Silva Brito, São Paulo, Saraiva:1968;  coleção Henriqueta.

Luiz Carlos Peixoto de Castro, ( Niterói, RJ 2/2/1889 – RJ, RJ 14/11/ 1973). Foi poeta, letrista, cenógrafo, teatrólogo, diretor de teatro, pintor, caricaturista e escultor.





7 de janeiro — O Dia do Leitor

7 01 2012

Ilustração Susanne Berner Rotraut.

Bem aqui na Peregrina somos leitores todos os dias.  Todo dia é 7 de janeiro!  Mas essa data vale uma comemoração especial!  Assim, coloquei aqui algumas charges interessantes.  Divirtam-se!

Poderia lhe contar muito mais sobre você, se ao invés de ler a sua palma eu lesse os seu Palm Pilot.

E esse livro é bom?

Leitura extrema.

Essa droga de livro é quentinho, Bob?  É macio e peludo?  Ele ronrona quando você o coloca nos seus grandes e fortes braços?