Rio de Janeiro
Ismael Nery ( Brasil, 1900-1934)
aquarela sobre papel, 20 x 25 cm
Coleção Particular
Rio de Janeiro
Ismael Nery ( Brasil, 1900-1934)
aquarela sobre papel, 20 x 25 cm
Coleção Particular
Julien Jacques LeClerc (França, 1885-1972)
ilustração para La Vie Parisiènne, década de 1920
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Hoje visitei o centro do Rio de Janeiro e voltei um pouco à minha infância. Quando eu era criança meu dentista ficava na rua do Ouvidor, no Centro do Rio de Janeiro, a uns poucos metros da Confeitaria Manon. O prêmio de ir ao dentista era um sorvete nessa confeitaria, depois do “sacrifício”. Nem sei quantas vezes fui a esse templo do Alto Art Deco do Rio de Janeiro. Naquela época minha única apreciação era o delicioso sorvete que serviam no local.
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Eu não sabia, então, que se tratava de um verdadeiro templo da arquitetura e decoração da década de 40 do século passado. Hoje, com conhecimentos de história da arte e de história da arquitetura, fico felicíssima cada vez que entro nessa confeitaria, que comemora este ano 70 anos de existência. Fico feliz porque ainda estão lá as paredes arredondadas, preferidas na época, assim como a iluminação indireta dando um tom sensual e dourado ao ambiente. Os tetos ecoam as linhas sinuosas das paredes e o corte circular, com rebaixamento à sua volta, enfatiza a modernidade do estilo.
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As colunas de sustentação foram sabiamente incorporadas ao estilo arquitetônico dando ainda maior requinte ao ambiente. É um verdadeiro templo do Art Deco brasileiro, um local que — em outra cidade, digamos Miami, nos Estados Unidos — seria considerado visita obrigatória para turistas locais ou estrageiros. Até mesmo as cadeiras da Manon completam o estilo, vejam na foto abaixo.
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Às vezes eu me pergunto: o que os brasileiros veem tanto na arquitetura Art Deco de Miami, quando temos aqui no Rio de Janeiro e certamente em São Paulo, exemplos espetaculares como esse que mostro hoje? É só porque os americanos valorizam o que têm e nós não? Pois passemos a valorizar… Eu garanto que há poucos lugares nas grandes cidades do mundo com esse encanto, com essa pureza de estilo.
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Dinheiro não faltou na construção original da Confeitaria Manon. O detalhe como o chão de mármore de diversas cores, fazendo desenho quadriculado, não é barato hoje, nem foi barato na época. Essa atenção aos pormenores dá requinte ao ambiente e mesmo hoje, tendo já perdido algo de sua glória, porque o centro da cidade precisa de maior investimento e de renovação, ainda temos, ao entrar no local, a sensação de elegância que o material rico e o bom acabamento sempre trazem.
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De particular interesse, para mim, foi o painel pintado com uma cena tropical — arbustos e arara de encontro ao céu azul — que me lembrou imediatamente de filmes americanos da mesma década, quando retratavam o Rio de Janeiro. Parece, de fato, algo que apareceria desde Flying down to Rio, [década de 30], aos filmes estrelados por Carmen Miranda.
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Hoje a Confeitaria Manon tornou-se um estabelecimento de comida a quilo — um sinal decisivo do empobrecimento do centro da cidade — e as toalhas de linho sobrepostas a outras adamascadas se foram. Ainda temos toalhas — agradeçamos a Deus pelos pequenos milagres! — mas há uma cobertura muito limpa, muito bem cortada de plástico branco sobre as mesas. Os garçons também perderam a elegância no servir e o lustro dos uniformes, particularidades que me lembro serem notadas anos atrás. Mas a confeitaria sobrevive, com seu estilo de anos 40, impecável.
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Na sala da frente, aquela que dá diretamente para a rua, a Confeitaria Manon comemora os seus 70 anos, mostrando com orgulho — como deveria ter mesmo — a data de abertura — 1942 — em mesas de mosaico. Este sempre foi o local para um café, para um salgadinho, para algo rápido a ser consumido ali mesmo, sem grande fanfarra, e também o local para se comprar doces, salgados, um, dez, vinte, cinquenta para levar para casa.
A minha esperança é que com toda a renovação do centro da cidade, com os eventos que teremos a partir do próximo mês com a Rio + 20, com a modernização que está chegando ao Rio de Janeiro, que lugares como este possam ainda voltar a seduzir pelo requinte como um dia o fizeram. Não é impossível. Conheço exemplos semelhantes em outras cidades Nova York, Londres e Madri vêm à mente, onde alguns antigos cafés ou confeitarias voltaram a ter o charme e a boa clientela que merecem. Que a gente saiba fazer o mesmo aqui no Rio de Janeiro.
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SERVIÇO:
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http://www.confeitariamanon.com.br/
Rua do Ouvidor, 187, Centro, Rio de Janeiro – RJ
(21) 2221-0245
Seg a Sex, das 7h às 20h30m; Sáb, das 7h às 15horas
O livro secreto, 1924
Paul-Émile Félix Raissiguier
França, (1851-1932)
Gravura
Paul-Émile Félix Raissiguier nasceu em Oran, na Argélia, quando a Argélia ainda contribuía para o território francês com três estados, também chamados de a dispensa de França. Pintor versátil de paisagens, pertencendo à última geração do século XIX / XX de pintores orientalistas. Também se dedicou a outros meios de expressão inclusive a gravura Art Déco como a que ilustramos acima.