A Resistência na França na Segunda Guerra Mundial

23 06 2023

Mulher no terraço, 1907

Henri Matisse (França, 1869-19954)

óleo sobre tela, 65 x 800 cm

Museu do Estado da Nova Arte Ocidental, Moscou

 

 

“A maioria das pessoas que dizem ter pertencido à Resistência são contadoras de histórias, na melhor das hipóteses. Na pior, são simplesmente mentirosas. A Resistência foi um movimento assustadoramente pequeno, sigiloso, secreto, e o preço de ser descoberto era gigantesco. Depois da guerra, todo mundo queria acreditar que apoiou a Resistência. É uma fantasia nacional coletiva da França.”

 

Em: O hotel na Place Vendôme, Tilar J. Mazzeo, tradução de Anfré Gordirro, Rio de Janeiro, Intrínseca: 2016, minha edição: Kindle





Carlos III, rei da Inglaterra: a coroação

1 06 2023

Retrato de Charles III por Alastair Barford.

No dia 6 de maio, Charles III da Inglaterra foi coroado.  Diferente da coroação de sua mãe, desta vez o mundo inteiro participou da cerimônia em tempo real.  Pela televisão observamos pessoas na abadia, seus gestos e roupas, sorrisos e reações.  Vimos participantes devidamente agalanados, emotivos, discretos em ricas roupagens. Uma pletora de detalhes registrada para sempre nos anais da história mundial. Detalhes dessa ocasião poderão  ser trazidos ao público, a qualquer momento, quando futuras gerações poderão também observar toda a cerimônia.

Charles III é o primeiro rei a ter toda sua vida exposta ao mundo; não só a seus súditos. Nunca tanta informação sobre um futuro monarca foi divulgada, por tanto tempo, a conta gotas, com fotos, através dos anos, através de mais de sete décadas.  Nunca tanta especulação sobre quem ele iria escolher para esposa foi assunto de multidões, súditos ou não.  Mesmo que, ao contrário de eras passadas, qualquer casamento que fizesse não fosse adicionar terras, condados, ducados, uma união de nobres que não iria levar a guerras.

Feita a escolha, com a curiosidade mundial dobrada, não faltaram fotografias na imprensa mundial sobre detalhes do relacionamento.  Nunca antes se observou os hábitos da monarquia com tanto interesse.  A cerimônia de seu primeiro casamento tomou conta do mundo atingindo a uma população muito maior do que a própria Commonwealth.  Calcula-se em setecentos e cinquenta milhões de pessoas acompanhando o casamento em tempo real. Isso antes da cobertura de eventos pela internet e redes sociais, só por transmissão televisiva. 

Da vida pessoal de Charles III soube-se de tudo:  amores, infidelidades, conversas telefônicas.  Conhecemos filhos e netos. E também seus defeitos, manias, impaciência. Percebemos que Charles, apesar de nobre, representa sua geração: baby-boomer.  Mal ou bem ele reflete os valores da geração pós-guerra.  Amou, casou e como grande parte de seus contemporâneos, também se divorciou.  Tratou os filhos com menos restrições do que foi tratado.  Interessou-se por urbanismo, quem não se lembra de seus planos para Londres?  Defensor do  meio  ambiente é  proprietário de uma fazenda de produção orgânica. na Inglaterra.  Suas preferências musicais e passatempos como a pintura de aquarelas estão acessíveis em jornais e sítios da  internet a qualquer pessoa com telefone celular.  

Tamanha exposição levou milhares de pessoas a especular sobre o futuro da monarquia inglesa.  A família real, que dizem ser tão conservadora, tão fora de seu tempo, foi, na verdade, se transformando, deixando o mundo exterior invadir sua privacidade,  mas não tão rápido quanto as redes sociais o desejavam.  A família real se rendeu ao momento na velocidade que considerou própria para sua sobrevivência. A modernização expôs a casa de Windsor ao público mundial.  Com isso, muitos se acharam no direito de opinar sobre Charles III: deveria ou não ser coroado?  Deveria ou não abdicar?  Foi a familiaridade  com essa nobreza que deu a todos a errônea percepção de que poderíamos afetar o desenrolar da sucessão real.  E a família real faria isso por que?   A família real vive de ser família real, não vai se auto consumir.

Fotografia oficial de Charles III, anterior ao dia da coroação.

Mas foi esta mesma exposição ao mundo, que nos presenteou no início do mês com a cerimônia da coroação de Charles III.  Presenteados.  Porque tivemos a oportunidade de observar em tempo real, sem edição e sem cortes, um momento histórico monumental.  Pudemos até refletir sobre história, sistemas políticos, liturgia e simbologia do poder, enquanto examinávamos o processo da coroação. 

Testemunhar o momento, observar o ritual que eu desconhecia, me emocionou. Não esperava.  Naquele sábado, acordei cedo.  Tomei café com torradas assistindo desde o início a cobertura. Pulei canais, dos brasileiros aos americanos, mas preferi no  final a transmissão da BBC e,  boquiaberta, vi se desenrolarem aos meus olhos algumas cenas que só conhecia de descrições históricas, de pinturas; dos manuscritos iluminados às grandes telas celebratórias dessas ocasiões.  Para mim, a mais rica em detalhes que certamente não são realistas é a tela da coroação de Maria de Médici de Pieter Paul Rubens, que pertence à série de pinturas monumentais em sala própria do Museu do Louvre.

Coroação de Maria de Médici, 1622-25

[Ciclo da vida de  Maria de Médici]

Peter Paul Rubens (Antuérpia 1577-1640)

óleo sobre tela, 20 das 24 telas medem 394 x 295 cm

Museu do Louvre

 

Pinturas de coroações tinham a intenção  de mostrar a autoridade do novo rei, sua proteção pelo poder divino e o direito de ser rei que lhe era confiado nesta ocasião.  Não  temos pinturas de coroações até o século XV.  E assim mesmo, o que nos resta, é uma cena fabricada pela imaginação fértil de um retratista –pintor contratado para oferecer uma obra que engrandeça o monarca ou a corte que o contratou.  Então, tudo é especulativo e a grandeza do evento provavelmente bastante aumentada.  Quase o mesmo acontece com o que sabemos por texto, ainda que neste caso haja sempre um ou outro escritor que não tenha sido pago para descrever a ocasião.

O que me emocionou ao ver a coroação de Charles III foi a conexão com o passado; o cuidado de manterem tradições centenárias, milenares, como a esfera na mão dele, culminada pela cruz, que dividida em três representa os três continentes conhecidos na Idade Média, quando este símbolo foi introduzido: Europa, África e Ásia. O robe de cor púrpura, usado por baixo do manto dourado: púrpura, a cor da monarquia desde os tempos romanos, favorecido principalmente no império bizantino.  A leitura de textos específicos do Velho Testamento, que através dos séculos foram lidos nessas ocasiões.  Essa continuidade da forma, essa linha imaginária do tempo se desenrolando aos nossos olhos, como se pudéssemos voltar atrás por segundos;  esse resgate é emocionante.  O elo com o passado, ainda vivo, que une toda cultura ocidental, foi quase palpável e para muitos que, como eu, se perdem no estudo da história comovente.  Graças ao desenvolvimento das comunicações tivemos um privilégio: o levantar de um véu que encobre o passado, nos deram as ferramentas para imaginar como teriam sido as coroações do reis, nas grandes cortes, não só a inglesa, em diversas épocas da história ocidental.

Não importa se somos ou não a favor da monarquia, na Inglaterra, no Japão, ou em qualquer outro lugar.  A decisão do tipo de governo que os países têm pertence unicamente aos cidadãos daquele lugar.  Não é para nós decidirmos.  Mas que nos foi oferecida a visão, mesmo que apenas uma nesga do passado, isso foi.  E por isso fiquei agradecida.





A mais antiga sentença completa escrita em um pente!

18 04 2023
Pente encontrado em 2016 na antiga cidade cananita de Lachish

 

 

Arqueólogos de Israel trouxeram a público uma descoberta que leva para o passado mais longínquo a escrita cananita.  Trata-se de um pente, com alguns dentes quebrados.  Ele é de osso e data de 3.700 anos atrás. Diversos artefatos cananitas já foram encontrados com inscrições parciais, desenhos de letras, mas neste caso, apesar dos entalhes estarem desgastados pelo tempo, conseguiram identificar nos últimos seis anos a primeira sentença completa a inscrição, a primeira frase toda em caracteres cananitas: “Que esta presa consiga livrar cabelo e barba de piolhos.”

Este é o primeiro uso do alfabeto cananita, inventado cerca de 1800 aEC, em uma frase completa.  O alfabeto canaanita foi  a semente de todos os outros alfabetos  como o hebreu, árabe, grego, latino e cirílico.

Cananitas falavam um língua semita muito antiga relacionada ou hebreu moderno, ao árabe e aramaico.  Tudo indica que eles foram o povo que desenvolveu o primeiro sistema descrita usando um alfabeto.   Um frase inteira como esta recém descoberta mostra que o uso da escrita já estava bastante desenvolvido.  Mostra que não só sentenças e pensamentos inteiros podiam ser expressados pela escrita, mas que seu uso era padronizado bastante para que muitos entendessem a complexidade do que estava assinalado.

Esse tópico da vida cotidiana da região de Tel Lachish,  ao sul de Israel, é dado significante.  O pente de marfim, encontrado dentro do palácio da cidade, no distrito do templo, pode indicar que só os homens abastados eram capazes de ler e escrever.  Além disso percebemos que piolhos existiam e eram de difícil controle.  Os arqueólogos  encontraram também evidências microscópicas de piolhos neste pente.

Especialistas dataram essa frase em 1700 aEC, quando a compararam com o alfabeto cananita arcaico, encontrado anteriormente no deserto Sinai no Egito datado de1900a 1700 aEC.  Mas o pente de Tel Lachish foi encontrado num período mais recente, e infelizmente não se conseguiu data mais precisa com método do carbono.





Refeição de Páscoa na era Medieval

9 04 2023

Jantar medieval, 1300-1320

Iluminura de miniaturista francês [nome desconhecido]

 Manuscrito Ragnault de Montauban, Volume II, Ms. 5073, f. 148

 

 

Grandes ocasiões foram sempre marcadas com banquetes, através dos séculos, independente das culturas que as celebravam.  Mas durante a Baixa Idade Média, esses banquetes foram levados a  extremos.  Nestes séculos, o consumo conspícuo em cerimônias muito elaboradas, tornou-se norma.  Numerosas iluminuras medievais retratam festas, e refeições magníficas celebrando as principais datas religiosas, políticas, casamentos, coroações e outras ocasiões.

 





Esmerado: estatueta de ouro e esmalte, c. 1700

6 04 2023

Estatueta de ouro esmaltada, com base em lápis lazuli, representando Marte, c. 1700

Estúdio do joalheiro, ourives e esmaltador Johann Melchior Dinglinger (1664-1731)

Altura: 12 cm; largura: 4, 3 cm

Dresden

Vendida pela Sotheby’s, Monaco, em 1976

 

 

 

A equipe do ourives Johann Melchior Dinglinger incluía o ourives Georg Christoph (1668-1746) e o esmaltador Georg Friedrich (1666-1720), seus irmãos. Juntos eles dominaram o mercado de joias e de objetos de luxo, joias, pequenas esculturas curiosidades ornamentais, em Dresden, durante o governo de George, O Forte (1670-1733).  Eles haviam sido aprendizes em Ulm, ao sul da Alemanha e também passaram algum tempo em ateliês de Viena.  Em 1692 eles se estabeleceram em Dresden, na época, capital da Saxônia.

Foram responsáveis por belíssimas obras para o príncipe da Saxônia  e rei da Polônia.  Produziram peças para os gabinetes de curiosidades, com adicionando pérolas, marfim, pedras e metais preciosos, porcelana e esmalte.  Os três irmãos e seus seguidores fizeram de Desden o principal centro de ourivesaria da Europa. 

 

 

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Medalha de ouro da Dinamarca mostra início da mitologia nórdica

2 04 2023

Há muito tempo não coloco no blog nenhuma notícia de arqueologia.  Meu interesse nunca se extinguiu.  Fiquei sem tempo.  Mas duas semanas atrás  anunciada a nova data para o culto a Odin, pela leitura da medalha fotografada acima, me trouxe de volta às postagens arqueológicas que tanto agradam os leitores. 

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Arqueólogos descobriram que uma medalha de ouro, que deveria ser usada como pingente, encontrada na Dinamarca em 2020, é o registro mais antigo que se tem de Odin, principal deus nórdico. O objeto é uma medalha ornamental com inscrições rúnicas. Uma das 22 peças descobertas ao acaso por Ole Ginnerup Schytz, um arqueólogo amador usando um detector de metais que acabara de comprar.

Entre as peças desta  coleção de medalhões e joias, que pesavam  mais de um quilo de ouro, uma foi estudada por especialistas na língua rúnica por todo esse tempo.  Mas a forma arcaica das inscrições retardaram a verdadeira novidade deste achado na Jutlândia, arquipélago que conta com territórios da Dinamarca e  Alemanha.  A cidade de Jelling , local da descoberta é  conhecida como o berço dos grandes reis vikings que reinaram em grande parte do norte da Europa do século X ao XII. Mas relativamente pouco se sabe sobre o período anterior a eles.

 

A peça cujo significado em rúnico foi desvendado é  uma medalha de ouro, que deveria ser usada como um pingente e que estima-se ter sido  cunhada no Século V, cerca de 150 anos antes do registro mais antigo conhecido do deus nórdico Odin.  Desde encontrado, esse objeto vem sendo examinado — e, agora, finalmente os pesquisadores conseguiram decifrar as inscrições rúnicas contidas no disco de ouro. Na peça, está escrito: “Ele é o homem de Odin” junto com a imagem de algum governante desconhecido, que era chamado de Jaga ou Jagaz.

 A inscrição foi a mais difícil de interpretar em todos os anos em que trabalho no Museu Nacional da Dinamarca. É uma descoberta  absolutamente incrível;  a primeira evidência sólida do culto a Odin no século V.  “Este tipo de inscrição também é raro, ainda não encontrado anteriormente. Podemos ter sorte em encontrar um a cada 50 anos” disse  Lisbeth Imer, especialista em escrita rúnica.

Alfabeto runo gravado em pequenas peças de cerâmica.

Odin era um dos pricipais deuses da mitologia nórdica, frequentemente associado à guerra e à poesia. Possuía habilidades de vidência, segundo as tradições. Com o poder de enxergar passado e futuro podia mudar o destino da humanidade.  Por isso mesmo recebia muitos pedidos e oferendas. Acredita-se que o tesouro onde a medalha foi encontrada possa ter sido enterrado em honra aos deuses.

Os povos nórdicos eram politeístas.  Descobriu-se mais sobre os deuses dessa religião pagã, central para a sociedade viking à medida artefatos históricos foram encontrados.  Deste modo arqueólogos aprenderam  mais sobre adoração, características e atributos de cada divindade.

Até agora, o registro mais antigo de Odin era um broche datado da segunda metade do século VI. (550-600 EC), encontrado em Nordendorf, região no sul da Alemanha.

A medalha é uma espécie de moeda de ouro usada como ornamento na Europa Setentrional, na Idade do Ferro germânica (400-800 E.C.), especialmente durante as migrações bárbaras.  E faz parte da coleção de medalhões  decorados com símbolos mágicos e runas, uma das primeiras formas de escrita. As mulheres os teriam usado para proteção, já que as pessoas na época acreditavam que o ouro vinha do sol, segundo os especialistas.

O grande medalhão mostra o deus Odin, que parece ter sido inspirado em joias romanas semelhantes celebrando  imperadores como deuses.  Há também outra medalha com a efígie  do imperador romano Constantino, do século IV, famoso por disseminar o cristianismo. Os especialistas acreditam que o tesouro tenha sido enterrado há 1.500 anos.


Ladyce West é historiadora da arte e escritora. Seu primeiro livro de poesias À meia voz, foi publicado em  novembro de 2020, pela Autografia. Encontra-se à venda em todas as livrarias e em ebook na Amazon.

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Cuidado, quebra: bule de porcelana chinesa, 1522-66

10 03 2023

Bule em porcelana azul e branca, 1522-1566

Peça com brasão de armas europeu e acabamento em prata

Porcelana

Largura 23 cm; altura 33 cm; diâmetros: 12,7 e 2,5 cm

China

Victoria & Albert Museum

Este bule é um dos mais antigos exemplos de  porcelana chinesa com brasão de armas europeu.  Este é provavelmente da família Peixoto, de Portugal, possivelmente de Antônio Peixoto, filho de Lopo Peixoto que havia recebido o brasão em 1511. Antônio Peixoto, navegador e comerciante, embarcou em missão comercial para a China com os sócios Antônio da Mota e Francisco Zeimoto.  Com seu navio cheio de peles de animais e outros produtos, não puderam atracar em Cantão em 1542.   Continuaram a viagem e conseguiram fazer comércio ao sul da China.   Bom lembrar que havia uma proibição do Imperador da China contra o comércio com estrangeiros.  Essa proibição durou de 1522 a 1577.

Este bule chinês provavelmente recebeu a montagem em prata na Pérsia, durante a viagem de volta a Portugal. As peças de prata são da mesma época da porcelana.





Leituras de 2022: “Golden Age ladies” de Sylvia Barbara Soberton, resenha

2 10 2022

Emerentia, mãe de Santa Ana, avó de Jesus Cristo, sd,final do século XV,

DETALHE  [Altar da árvore genealógica da Virgem Maria]

Jan Provost (Bélgica 1465-1529)

óleo sobre madeira

Raramente faço resenhas de livros em língua estrangeira, ainda que os leia, todos os dias. Conversando com amigos cheguei à conclusão de que para livros que não têm tradução no Brasil, não há jeito, temos que passar adiante a informação.  E hoje, quem não lê em inglês?  Este livro, não muito grande, li na versão eletrônica.  É um apanhado sobre as mulheres que faziam parte das cortes de Henrique VIII e Francisco I, primos e reis que estavam em perpétua competição entre si.  Francisco I também competia com Carlos V da Espanha.  Essa época, início do século XVI, é complicada para estudar, batalhas entre esses três monarcas fazem parte importante da história do mundo ocidental, por ajudarem a moldar o que hoje entendemos como Europa.  Em termos de literatura é interessante lembrar que a competição entre esses líderes é frequentemente mencionada.  Por exemplo, a disputa entre Francisco I da França e Carlos V da Espanha é mencionada nas primeiras linhas de, No caminho  de Swann, primeiro volume de Em busca do tempo perdido de Marcel Proust. Este é só um exemplo de como as referências históricas podem ser importantes mesmo para leituras modernas.

Golden Age Ladies: women who shaped the courts of Henry VIII and Francis I, de Sylvia Barbara Soberton foca precisamente nas ações, no poder das mulheres que contribuíram para os governos, para as cortes desses reis.  Trabalhando muitas vezes no aconselhamento, mas também nos tratados de paz entre eles.  Essa visão histórica pelo lado feminino nem sempre foi abordada, e no entanto elas tinham poder, justamente por seus casamentos não serem feitos por sentimentos mas pelas fortunas que traziam para as cortes onde seriam esposas de reis e mães de futuros monarcas se tivessem sorte de produzirem herdeiros.

 

Este livro não trará novidades para o historiador,para o pesquisador, para quem pretende fazer um mestrado em história.  Não é esse o seu objetivo.  Bem pesquisado, com notas de rodapé (aqui no final do livro) que ajudam, caso o leitor queira pesquisar mais a fundo, este livro traz de forma compreensiva, direta, aspectos da vida no início do século XVI e a importância das mulheres nas cortes retratadas,para o leitor comum.

Não é um romance. Não é um livro de aventuras. Mas é um excelente apanhado sobre essa época, e as mulheres que dela fizeram parte.  Acabamos nos familiarizando com Louise of Savoy, Marguerite d’Angoulême, Claude de France, Eleonora de Portugal, Françoise de Foix, Anne de Pisseleu, Catarina dei’Medici, Diane de Poitiers, estas todas da corte francesa.  Assim como Maria Tudor, Catarina de Aragão, Ana Bolena, Jane Seymour, Ana de Clèves, Catherine Howrd, Catherine Parr e Bessie Blount (Elizabeth), da corte de Henrique VIII.

 

Sylvia Soberton

 

Se você já tem bastante conhecimento do período, se é um historiador especializado, talvez esse não seja um livro para você.  Mas se gosta da época e quer entendê-la mais, sugiro que leia essa obra.  Ela traz claridade sobre as ligações desses nobres, como se tivéssemos um mapa dos relacionamentos ou lista de quem é quem…  Como  gosto do período e sei da importância que teve para o desenvolvimento da Inglaterra e da França, achei esse livro muito bom.  A meu ver cumpriu com o que prometeu.

 

NOTA: este blog não está associado a qualquer editora ou livraria, não recebe livros nem incentivos para a promoção de livros.





Ricardo Coração de Leão na Áustria

22 06 2022

Ricardo Coração de Leão

Iluminura, MS Royal 14 C VII f.9

Data do manuscrito !250-1259

Biblioteca Britânica

 

 

 

“…Mas, depois de sua partida, o senhor de Zara enviou um emissário secretamente a seu irmão avisando-lhe que detivesse o rei quando ele chegasse às suas terras. Quando o rei chegou e entrou na cidade onde morava o irmão daquele senhor, este imediatamente convocou um homem em quem tinha toda confiança, Rogério, um normando de Argenton, que estava junto dele havia vinte anos e a quem dera sua sobrinha em casamento; ordenou-lhe que inspecionasse atentamente todas as casas onde houvesse visitantes alojados, e que tentasse identificar o rei por sua maneira de falar ou por qualquer outro detalhe. Prometeu dar-lhe a metade da cidade se conseguisse capturar o rei.

O homem localizou e examinou todas as casas onde havia viajantes; Ricardo ocultou por bastante tempo  sua identidade, depois, vencido pelas súplicas e pelas lágrimas do leal investigador, confessou sua identidade. Imediatamente o outro exortou-o , chorando, a fugir às escondidas, e ofereceu-lhe um cavalo excelente. Pouco depois, voltando para junto de seu senhor, disse que aquilo que se contava  a respeito da chegada do rei não tinha fundamento, mas que se tratava de Balduíno de Béthune e de seus companheiros, voltando da peregrinação. O senhor, furioso, mandou prender todos eles.

O rei deixou a cidade às escondidas com Guilherme de Etang e um jovem servidor que falava o alemão; viajou três dias e três noites sem se alimentar. Depois, compungido pela fome, foi até uma cidade chamada Viena, na Áustria, às margens do Danúbio, onde, por cúmulo de infelicidade, naquele momento  encontrava-se o duque da Áustria. O jovem servidor do rei foi trocar dinheiro; tirou muitos besantes , mostrando-se arrogante e pretensioso. Então os habitantes da cidade apoderaram-se dele imediatamente e lhe perguntaram quem era; respondeu que estava a serviço de um mercador muito rico que chegaria à cidade três dias depois. Foi libertado e voltou discretamente para junto do rei, em seu refúgio, exortando-o a fugir o mais depressa possível e contando-lhe o que acontecera. Mas o rei, ainda sob o efeito da fatiga causada por sua dura navegação, desejava descansar alguns dias naquela cidade. O servidor ia com frequência ao mercado para comprar o necessário, e certa vez, no dia de São Tomé Apóstolo, enfiara inadvertidamente sob seu cinto as luvas do patrão.Vendo-as, os magistrados da cidade voltaram a deter o servidor, maltrataram-no rudemente, infligiram-lhe muitas torturas, feriram-no e ameaçaram arrancar-lhe a língua se não se apressasse em dizer a verdade. O servidor, vencido por um sofrimento insuportável, contou-lhes tudo. E eles informaram o duque imediatamente, cercaram o alojamento do rei e instaram-no a entregar-se voluntariamente.

O rei permaneceu marmóreo em meio ao alarde de todas aquelas pessoas que palravam; deu-se conta de que sua bravura não poderia defendê-lo contra tantos bárbaros, e exigiu a presença do duque, garantindo que só se entregaria a ele. O duque chegou imediatamente e o rei deu alguns passos em sua direção, depois colocou sua espada e sua pessoa  em suas mãos.  O duque,muito satisfeito, levou o rei com ele, com grandes honras. Depois entregou-o à guarda de bravos cavaleiros que, noite e dia, vigiaram-no estreitamente em todos os lugares, de espada na mão.” *

 

* Narrativa baseada em diversos relatos da época de Ricardo I, de Inglaterra, conhecido como Ricardo Coração de Leão. 

 

Em: Ricardo Coração de Leão; história e lenda, Michele Brossard-Dandré e Gisèle Besson, tradução de Monica Stahel, São Paulo, Martins Fontes: 1993, pp: 224-6





Imperadores romanos, como eram? — César Augusto

29 10 2020
Augusto reconstrução facial pelo artista, Haround Binous (Suíça, contemporâneo)

Gaius Iulius Caesar Octavianus Augustus, nasceu em Roma, em 23 de setembro do ano 63 aEC.  Faleceu  em Nuvlana (Região de Nápoles) a 19 de agosto do ano 14 EC.   Fundador do Império Romano e seu primeiro imperador.   Período de governo: 27 aEC até 14 EC, ou seja 31 anos. 

Expansão do Império Romano durante o governo de Augusto.