Alguns dos meus muitos, dezenas mesmo, de livros de viagem começados pelo interesse na Rota da Seda. Livros retratados: The Desert Road to Turkestan de Owen Lattimore, The Great Game de Peter Hopkirk, My Life as an Explorer de Sven Hedin, The Roads to Sata:a 2000 miles walk through Japan de Alan Booth e Looking for the Lost: Journeys through a Vanishing Japan, Alan Booth.
Ontem li um artigo da BBC History Magazinesobre o que era comercializado na Rota da Seda. A Rota da Seda foi uma das minhas grandes paixões (acho que ainda é), que gerou leituras extravagantes sobre os caminhos do comércio da Antiguidade em diante. Essa curiosidade sobre esse caminho conhecido muito antes de Cristo foi, provavelmente, o ponto de partida para que um de meus hobbies seja ler sobre o comércio desde a antiguidade, por distração. Para mim é romântico imaginar os quilômetros aos milhares, a que comerciantes atravessando desertos e terras inóspitas, se submetiam para que bens de um lado chegassem ao outro lado da terra até então conhecida.
Estabelecida pelos chineses, da Dinastia Han, a Rota da Seda funcionou muito bem até o século XV. Não tinha o nome de Rota da Seda, Esse é recente. Batismo feito pelo geógrafo alemão, grande viajante e cientista Ferdinand von Richthofen, em 1877.
Muito mais do que seda era comercializado neste longo caminho da Ásia ao Mar Mediterrâneo. Especiarias, metais preciosos, artesanatos, peles, armas e cavalos estavam entra os principais produtos comercializados neste caminho. Seres humanos também eram vendidos como escravos nessa rota. A seda acabou sendo a escolhida por von Richthofen por ser um produto conhecido e fabricado unicamente pelos chineses, ou seja o produto único do ponto de partida ou de chegada daqueles que viajavam por essas terras. Sim, a seda era importante para a Europa, era um item de luxo e vastamente comercializada. Não havia conhecimento de como se fazia seda no mundo ocidental.
Nem todos os itens eram transportados do início ao fim da rota. Havia itens de interesse mais local. Assim como nem todos os comerciantes iam de um extremo ao outro da Rota da Seda. Nada disso. Iam até certo ponto onde comercializavam seus bens com um certo lucro, voltando para o lugar de onde partiram. Ideias também foram aos poucos sendo trocadas de uma ponta do mundo a outra. Acredito que ainda não tenhamos, apesar de todos os estudos já feitos, ideia da dimensão, da importância desse comércio por muitas culturas e nações que até já não existem mais. Hábitos, costumes e até religiões se espalharam pelo mundo graças ao comércio contínuo por mais de quinze séculos entres culturas atravessadas pela Rota da Seda. Vale a pena você conhecer mais sobre esse caminho que levou bens e ideias de um mundo ao outro da Antiguidade à Renascença.
E você já leu sobre a Rota da Seda? Gosta de livros de viagem?
Essa taça com pé de vidro transparente soprado, que seria o novo cristal, feito na ilha de Murano no início do século XVI, tem decoração em esmalte policromado e ouro. Trata-se do brasão de um dos papas da família Medici, mas não podemos precisar se pertenceu a Leão X (papa de 1513-1521) ou Clemente VII (papa de 1523-1534).
Pela decoração, esse objeto se aproxima de um grupo que engloba umas vinte peças, principalmente de pratos, pratos em pedestal e jarros que se encontram em coleções públicas e particulares famosas (Louvre, Museu Britânico, Museu Metropolitan) Não eram destinados ao uso alimentar, mas provavelmente destinados à decoração de bufês em banquetes de prestígio. Este serviço, hoje espalhado pelo mundo, demonstra o aalto grau de respeito e reconhecimento desde aquela época, ao talento e às descobertas dos vidreiros venezianos.
Traduzido do portal do Museu de Artes Decorativas, por mim.
Mosaico de aproximadamente 900 m², o maior mosaico conhecido da Antiguidade está na Turquia.
Em 2019 o maior mosaico conhecido, da Antiguidade foi aberto ao público. Não o conheço. Mas lembrei-me dele porque hoje recebi notícias de amigos que visitam a Turquia. Não vão ver esse mosaico. Talvez o interesse em mosaicos da antiguidade não seja tão popular quanto imaginei. Claro que me lembrei desse belíssimo exemplar. Ele cobre aproximadamente 900 m² contínuos e estava localizado na cidade de Antióquia, capital do Império Selêucida, que compreendia vasta região dominada anteriormente por Alexandre o Grande.
Lembro, para os que não trabalham com história que Alexandre, o Grande, morreu sem deixar um sucessor para as terras por ele conquistadas. Assim, a grande extensão de seu domínio se subdividiu e os generais de seu exército dividiram o colossal domínio, em numerosos territórios, criando fronteiras, abocanhando terras férteis ou de influência geográfica estratégica. É impressionante como a humanidade é a mesma, apesar de milênios os separarem.
Antioquia, hoje conhecida como Antaquia na Turquia, era a capital do Império, fundada nos finais do século IV a.C. por Seleuco I Nicátor. Foi conquistada pelos romanos no ano 63 AC. Logo se tornou a terceira maior cidade do Império Romano depois de Roma e Alexandria. Estima-se que tenha tido próximo a meio milhão de habitantes. Para os romanos ela era a porta para o Oriente.
Este grande mosaico foi descoberto em 2010, durante a construção de um hotel. O desenho decorativo é geométrico em círculos decorados em rítmicos desenhos sem repetições. Foi provavelmente colocado no pavimento térreo de uma construção para uso público. Surpreendente foi a extensão desse pavimento assim como a complexidade dos desenhos abstratos que o compunham.
O mosaico deve ter sido construído em meados do século V, no período romano tardio. Sofreu ajustes no terreno e destruição em alguns lugares com os terremotos dos anos 526 e 528 DC. O hotel que estava sendo construído, trocou seus planos arquitetônicos para incluir o mosaico, como ponto turístico. Hoje o mosaico pode ser visto no Antakya Museum Hotel [Hotel Museu Antakya].
As fotografias de Lalla Essaydi andam falando comigo. São fotos cuidadas, abordando de maneira delicada, artística, dentro de tradições tanto da cultura ocidental como da região do Magreb, a condição feminina. Elas têm me perseguido como fantasmas poderosos de vidas passadas.
Comecei com a foto acima, porque ela para mim representa uma completa junção de referências. Primeiro veio a imagem da Grande Odalisca, de Ingres, que vemos abaixo. A tela, da coleção do Museu do Louvre, foi pintada em 1814, para a irmã mais nova de Napoleão Bonaparte, Caroline Bonaparte, Rainha Consorte de Nápoles.
A grande odalisca, 1814
Jean-Auguste-Dominique Ingres (França, 1780-1967)
óleo sobre tela, 91 x 162 cm
LOUVRE
Há aceno óbvio à obra de Ingres que representa justamente a influência francesa na região do Magreb, iniciada no final do século XVIII como parte da Grand Tour das classes mais abastadas da Europa e acentuadas depois das façanhas napoleônicas nas primeiras décadas do século XIX, assim como local para descobertas do exótico tão finamente cultivado pelas sociedades europeias da época.
Ainda que A grande odalisca de Ingres não seja uma obra abertamente sexual, a ideia de uma mulher em um harém, disponível, mesmo com o olhar frio e distante como nesta tela, atiçava a imaginação dos observadores do século XIX, aumentando a curiosidade sensual sobre as possibilidades aventurescas facultativas no Norte da África. A mulher nua, em uma alcova, rodeada por cortinas de seda bordadas, joias de ouro no braço, lenço bordado a ouro no turbã, cabelos adornados por cabuchon de pérolas e pedra preciosa, com o exótico abano de plumas de pavão e cabo de marfim, narguilé em laca vermelha, anunciando o uso do tabaco ou ópio, apoiado em caixa de joias e ainda o cinto com grande fivela coberta de pérolas e pedras preciosas, displicentemente largado por sobre lençóis de linho, tudo isso, esse luxo e a sugestão de encontros fáceis se insinuavam marcando os discretos prazeres de um harém, exploravam a aventura sensorial do observador, desabrochando numa sedutora expectativa de deleite.
Quando comparamos a obra de Lalla Essaydi com a de Ingres, lado a lado, temos finalmente a certeza inabalável da citação visual feita pela fotógrafa marroquina.
Basta olharmos para as posições das cabeças, os turbãs, deixando aparecer, com descuido, um pouco dos cabelos na testa e frontes; os braços, os de apoio à esquerda assim como os que delineiam languidamente as linhas do corpo da mulher no harém, são igualmente paralelos. Os pés nas mesmas posições traem as culturas que representam. Enquanto a obra de Ingres mostra uma mulher com pele lisa, branca sem manchas, como porcelana, até mesmo nos pés, a fotografia de Essaydi exibe os pés com solas cobertas por henna como é de uso típico das mulheres no Magreb, para proteção e bençãos. Ambas as obras também sugerem o aprisionamento inescapável deste lugar, dessa alcova, onde não há espaço para fuga; onde ambas mulheres. colocadas do lado oposto ao espectador, se acham na vitrine, digamos assim, de encontro a uma parede fechada, sem abertura, sem ar para respirar. Na obra de Ingres há um fundo escuro, com algumas nuances tonais. Será madeira, será azulejo, lajota, pedra? Não sabemos. No horizonte da mulher do harém de Essaydi temos um desenho na parede cega. Parecem tijolos, chapisco ou papelão corrugado. De qualquer maneira, ela assim como sua companheira francesa de mais de um século de idade, tampouco tem escapatória.
Enquanto a Grande Odalisca trabalha na imaginação sensual do espectador, a jovem no harém marroquino não apresenta qualquer traço de sedução, de prazer carnal. Muito pelo contrário, ela olha, quase com desconfiança, para quem a observa e seu corpo se mescla com os lençóis, coberto por palavras que poderia usar e com elas distinguir sua existência. Em escrita cursiva as mensagens, o próprio discurso feminino, ultrapassam os limites das cobertas. Elas tomam conta do corpo da mulher, espalhando-se como os males liberados por Pandora, sem esperança de contenção. Elas transformam as costas, os braços, o rosto da odalisca moderna na mesma substância da coberta, insinuando que este corpo é mais um dos objetos presentes no harém.
Mas as associações culturais não param por aí. O corpo da mulher na obra marroquina lembrou-me também do documentário que Ayaan Hirsi Ali e seu sócio o cineasta Theo Van Gogh produziram que levou ao assassinato de Theo e à perseguição de Ayaan Hirsi Ali, escritora do livro Infiel. Neste documentário (que pode ser visto no YouTube) os corpos filmados, também aparecem cobertos de dizeres, que refletem em tudo aquilo que as mulheres pensam e calam, por não terem permissão de se manifestar. São submetidas à vida que levam sem o direito a objetarem.
Fotos do documentário mencionado acima.
Portanto, é natural que a belíssima obra de Essaydi tenha me movido e a todos que tiveram oportunidade de observá-la. Não é só uma obra de grande finesse no tratamento da fotografia e uma de revolta quieta, de denúncia, como só uma mulher que cresceu, viveu ou recebeu essa cultura de herança poderia fazer. Vale a pena considerar a obra de Lalla Essaydi. Procure por ela na internet. Você ficará encantado com a beleza e a força de suas imagens.
NOTA:
Este texto é um trabalho em andamento…. parte de futura publicação — Notas da história da arte: observações aleatórias das salas de aula
Ladyce West é uma historiadora da arte. Em sua vida acadêmica, antes de abrir uma galeria de arte e antiquário, dedicou-se ao estudo do surrealismo belga. Seu livro: Humor, Wit and Irony in the Works of Belgian Surrealists, baseado em tese da Universidade de Maryland, está em processo de tradução para o português.
É considerada uma das mais belas obras representando a ourivesaria do período gótico. Este não é um retrato realista do imperador francês, mas uma representação idealizada do rei. O busto está encimado por uma coroa, doada à catedral por Ricardo da Cornualha, (Inglaterra) em 1262, “pela eternidade”. a coroa é enriquecida por um grande número de pedras preciosas.
Cabelos e barba levaram banho do ouro mas rosto, pescoço e colo foram mantidos na cor natural da prata em repoussé. A roupa mostra um grande faixa de ouro sobre a qual, em forma de colar, repleta de pedras preciosas, algumas delas datando da antiguidade.
O busto repousa em pedestal octogonal decorado com esmaltagem no padrão de flor-de-lis, símbolo da França. Duas partes dessa base se abrem, ao centro, para revelar o restos mortais de Carlos Magno.
Página de Frontispício de Milton, Um Poema, por William Blake, c. 1818
Pena que a maioria dos poetas ou escritores não conheçam a influência de seu legado. John Milton (1608-1674), poeta, intelectual inglês, estaria satisfeito em saber que suas ideias serviriam de fundamento para nossa vida diária, hoje, no século XXI. Milton é mais conhecido por seu poema em verso livre Paraíso Perdido. Mas foram suas ideias publicadas, no auge da Guerra Civil na Inglaterra, em Areopagítica, 1644, que fazem parte do nosso dia a dia. Areopagítica, um discurso a favor da liberdade de expressão, foi a pedra fundamental para a primeira emenda da Constituição dos Estados Unidos, escrita em 1787 e em uso desde 1789 que garante a liberdade de expressão, hoje considerada um direito essencial nos países livres de governos autoritários.
“Foi o melhor dos tempos, foi o pior dos tempos. Foi a idade da sabedoria, foi a idade da tolice. Foi a época da fé, foi a época da incredulidade. Foi a estação da luz, foi a estação das trevas. Foi a primavera da esperança, foi o inverno do desespero. Tínhamos tudo diante de nós, não havia nada antes de nós. Todos íamos direto para o céu, todos íamos direto para o outro lado.”
Paris na Idade Média: O Louvre, A casa da Prefeitura, Notre Dame, eram um pouco diferentes do que conhecemos hoje. @GREZ PRODUCTIONS
O pátio em frente da Notre Dame era bem mais estreito, mesmo assim abrigava festas religiosas, civis e um mercado constantes de feirantes. @GREZ PRODUCTIONS
Em 1550 a Praça de Grève, que hoje é a Praça da Prefeitura, era um porto fluvial importante. Mas também lugar de festas e de execuções. @GREZ PRODUCTIONS.
A Petit Pont, que ainda existe hoje, era coberta, assim como a Grand Pont, de casas de comerciantes, em geral que habitavam em cima de suas lojas. Ela liga a Île de France à Rive Gauche. @GREZ PRODUCTIONS
Bonecas de moda foram usadas, ao que se sabe, desde o século XIV até o final do século XVIII. Ou seja, de um período onde a comunicação ente cidades era difícil à grande popularização de revistas e jornais. Essas bonecas, que levam o nome de Pandora, serviam de modelos para roupas da moda.
Inicialmente eram as famílias reais que recebiam as bonecas com vestimentas modernas para que pudessem escolher os trajes a comprar. Há cartas datando do final dos anos 1300, mostrando famílias nobres francesas mandando bonecas para outras cortes europeias para simultaneamente promover moda e estreitar laços diplomáticos.
Caso bem conhecido é aquele de Maria de Medici, na Itália, recebendo de Henrique IV, da França, antes do casamento deles, algumas pandoras para que ela aprendesse como se vestir para a corte em Paris. Foi justamente o uso dessas bonecas da moda, circulando no mundo aristocrático europeu, que eventualmente estabeleceu a França como centro da moda europeia.
Foi no século XVIII, que sua popularidade se expandiu. Pandoras, que eram feitas de madeira, passaram a ser manufaturadas em maior número e usadas por chapeleiras, alfaiates, costureiras, comerciantes da moda, de tecidos, que mostravam em seus balcões e vitrines a última moda nessas pequenas bonecas vestidas nos mais precisos detalhes acompanhados dos acessórios do momento.
No século XIX, com a popularização das revistas de moda as pandoras foram aos poucos deixando de existir. Deram, no entanto, origem a bonecas como a Barbie que aparece nos século XX, não como uma miniatura adulta como possuidora de uma grande guarda-roupa e todos os acessórios imagináveis.
Há um excelente artigo sobre Pandoras no blog MUSINGS da Universidade de Toronto sobre o assunto: Slow fashion: Pandora Dolls and the History of Fashion Advertising, por Natalie Scuola.
Quem visita Paris hoje, não tem ideia de como a cidade era na Idade Média. A Paris dos séculos passado e deste reflete a grande reforma e destruição dos edifícios medievais trazidos pelo Barão Haussmann, prefeito do Sena, durante os vinte anos do governo de Napoleão III (1853-1873).
O que se sabe, da Paris medieval é em grande parte graças ao trovador Guillot, morador de Paris, que por volta de 1300, compôs a primeira lista de nomes de ruas da cidade na publicação Le Dit de Rues de Paris: um poema com 554 versos, descrevendo as ruas da cidade entre 1280-1300. Nessa obra ele indica a existência de 310 ruas em três bairros.
Mapa de Paris na época de acordo com o Le Dit de Rues de Paris, de Guillot.
As ruas se dividiam em: 80 no Outre-Petit-Pont [Rive Gauche]; 36 na Cité [a ilha propriamente dita]; e 114 no bairro Outre-Grand-Pont [Rive Droite]. Calcula-se que a população em 1292 tenha sido de 216.000 e 275.000 em 1328, portanto uma cidade crescendo rapidamente, um aumento de quase 28% de habitantes em trinta anos.
Nessa época Paris tinha ruas estreitas, em geral cinco metros entre um lado e outro da rua. Grandes ruas tinham no máximo sete metros de largura. Eram ruas escuras, mal cheirosas, e a grande maioria não tinha pavimentação. Casas estreitas, com arquitetura enxaimel, tinham uma ou duas janelas por andar. Além do andar térreo, poderiam ter de três a quatro andares. Só as casas dos nobres e da classe comerciante (burguesa) tinham cozinhas e chaminés. As casas davam aos seus habitantes abrigo, mas mal deixavam a luz do dia entrar.
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Algumas dessas notas sobre Paris, que posto aqui no blog, são fruto de pesquisa para meu futuro livro sobre Watteau, pintor do século XVII. Da séria: Obras Primas da Arte Ocidental. Aguardem. Final de 2024.