Imagem de leitura — Kikugawa Eizan

7 01 2013

Kikugawa Eizan (1787-1867), Reclining couple reading a love letter, ca. 1804-1818. Color woodblock print, Princeton EDU

Casal recostado lendo uma carta de amor, c. 1804-1818

Kikugawa Eizan ( Japão, 1787-1867)

Xilogravura policromada,

Universidade de Princeton, NJ

Kikugawa Eizan [Kikugawa é o nome de família deste artista japonês] nasceu em 1787. Estudou inicialmente com seu pai, Kikugawa Eiji, pintor no estilo Kano e mestre de leques.  Mais tarde desenvolveu suas técnicas sob a orientação de Suzuki Nanrei, artista no estilo Shijo, e com Totoya Hokkei que estudava Hokusai.  Aos poucos desenvolveu seu próprio estilo figurativo, concentrando-se primeiramente nas belas mulheres, bijin-ga, incorporando aspectos líricos e delicados ao seu trabalho que tipifica o estilo Utamaro. Mas, recusou explorar aspectos realistas, dando ênfase em seu lugar a sensualidade. Mostra sua afinidade com o furyo, na elegância de suas figuras, dando a muitas de suas obras esse título. Além das Bin-ga [mulheres belas] Eizan também se dedicou ao retrato de atores, a paisagens, animais e crianças.  Faleceu em 1867.





Palavras para lembrar — Henry David Thoreau

3 04 2012

Mulher lendo, s/d

Clifford Harper ( Inglaterra, 1947)

xilogravura

“Um bom livro me ensina mais do que ler.  Tenho que logo colocá-lo de lado, e começar a viver de acordo com sua sugestão…  O que começou como leitura, acaba em ação”.

Henry David Thoreau





Biblioteca, poema de P. Carlos de Araújo

18 03 2012

Mulher lendo, s/d

Mary Azarian (EUA, contemporânea)

xilogravura policromada

Biblioteca

P. Carlos de Araújo

Desconfio da biblioteca organizada

os livros encadernados

arrumados competentemente

enfileirados como soldados em ordem-unida

vestindo uniforme de gala

de belas letras douradas

ou alto-relevo.

Meus livros são caprichosos

e também ciumentos.

Gostam de brincar

de esconde-esconde

dentro das estantes.

Meus livros são bagunçados.

Me ajudam quando os procuro;

mas, às vezes, se escondem

em meio aos papéis

no fundo das gavetas

no recesso dos armários,

desaparecem sem deixar vestígio

e assim ficam dias e dias

até que se cansam da brincadeira

e me procuram alegremente

dando-me todas as informações.

Em: O inimigo oculto, P. Carlos de Araújo, Rio de Janeiro, Ed. Gávea: 1988.





O lobisomem, texto de Gustavo Barroso

9 03 2012

O lobisomem

Gustavo Barroso

Uma das crenças mais corriqueiras dos nossos sertões é, certamente, a dos lobisomens. Raro é o homem do nosso campo, maximé nas regiões do Nordeste, que piamente não acredita nas façanhas dos lobisomens.

Na sua opinião, todos os homens muito pálidos, opilados, que eles chamam de “amarelos”, “empambados” ou “comelonges”, transformam-se em lobisomens nas noites de quinta para sexta-feira.  Para esse efeito, viram a roupa às avessas, espojam-se sobre o estrume de qualquer cavalo ou no lugar em que este espojou.  Crescem-lhe logo as orelhas, que caem sobre os ombros e se agitam como asas de morcegos. A cara torna-se horrível, meia de lobo, meia de gente. E os infelizes saem correndo pelas estradas, loucamente, a rosnar, cumprindo o seu fado.

Contam no sertão cearense que uma mulher era casada com um homem “amarelão” e ia uma feita de viagem com ele, a pé, por um lugar deserto. Era noite de quinta para sexta-feira e fazia luar. Estavam hospedados debaixo de uma árvore, onde tinham pendurado as redes. Alta noite, ela, acordando, viu o esposo levantar-se e entrar no mato. Pensou que ele fosse a qualquer necessidade e não ligou importância ao fato. Tornou a adormecer. Acordou com o barulho que em torno fazia uma fera e viu, horrorizada, o monstro meio lobo, meio gente, que avançou para ela e lhe dilacerou furiosamente o xale de lã vermelha com que se cobria. Gritou, apavorada, pelo marido, que custou muito a aparecer.  O tal monstro, felizmente, fugiu ao seu primeiro grito.

O esposo disse não acreditar na história e que tudo não passara de um sonho. Entretanto, ao outro dia, chegando em casa, o homem dormia a sesta. Ela olhou-o uma vez, ao passar junto da sua rede.  Estava de boca aberta e entre os dentes havia fiapos de lã vermelha do seu xale. Fora ele o lobisomem.

Em: Criança Brasileira: admissão e 5ª série, Theobaldo Miranda Santos, Rio de Janeiro, Agir: 1949.

Vocabulário:

Corriqueiras – comuns; habituais

Maximé – principalmente

Piamente – ingenuamente

Espojam-se – lançam-se; rebolam-se

Estrume – esterco, dejeções

Feita – ocasião, vez

Gustavo Dodt Barroso (Fortaleza, CE, 1888 — Rio de Janeiro, RJ, 1959) Advogado, professor, político, contista, folclorista, cronista, ensaísta e romancista. Membro da Acadêmia Brasileira de Letras.





O Natal à moda brasileira

18 12 2011





Para fazer um soneto — de Carlos Pena Filho

30 09 2011

A carta, s/d

Frans Wesselman (Holanda, contemporâneo)

gravura em metal e xilogravura, 30 x 30cm

Para fazer um soneto

Carlos Pena Filho

Tome um pouco de azul, se a tarde é clara,

E espere pelo instante ocasional.

Nesse curto intervalo Deus prepara

e lhe oferta a palavra inicial.

Aí, adote uma atitude avara:

se você preferir a cor local,

não use mais que o sol de sua cara

e um pedaço de fundo de quintal.

Se não, procure a cinza e essa vagueza

das lembranças da infância , e não se apresse,

antes, deixe levá-lo a correnteza.

Mas ao chegar ao ponto em que se tece

dentro da escuridão a vã certeza,

ponha tudo de lado e então comece.

Em: Melhores poemas, Carlos Pena Filho, Sel. Edilberto Coutinho, Editora Global:2000, 4ª edição.

Carlos Pena Filho  nasceu no Recife, em 1929.  Formado em Direito, pela Faculdade de Direito do Recife, foi poeta, letrista, jornalista, ensaísta para o Jornal do Comércio. Morreu num acidente automobilístico em 1960.

Obras:

O tempo da busca, 1952

Memórias do boi Serapião, 1955

A vertigem lúcida, 1958

Livro geral (obra reunida), 1959

Melhores poemas (póstuma) seleção de Edilberto Coutinho, 1983





A coruja e a águia — fábula, texto de Monteiro Lobato

12 04 2011
A águia e a coruja, ilustração de J. J. Grandville.

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A coruja e a águia

                                                      Monteiro Lobato

Coruja e águia , depois de muita briga resolveram fazer as pazes.

— Basta de guerra — disse a coruja.  —  O mundo é  grande, e tolice maior que o mundo é andarmos a comer os filhotes uma da outra.

— Perfeitamente — respondeu a águia. — Também eu não quero outra coisa.

— Nesse caso combinemos isso:  de ora em diante não comerás nunca os meus filhotes.

— Muito bem.  Mas como posso distinguir os teus filhotes? 

— Coisa fácil.  Sempre que encontrares uns borrachos lindos, bem feitinhos de corpo, alegres, cheios de uma graça especial, que não existe em filhote de nenhuma outra ave, já sabes, são os meus.

— Está feito! — concluiu a águia.

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Ilustração francesa.

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Dias depois, andando à caça, a águia encontrou um ninho com três monstrengos dentro, que piavam de bico muito aberto.

— Horríveis bichos! — disse ela.  — Vê-se logo que não são os filhos da coruja.

E comeu-os.

Mas eram os filhos da coruja.  Ao regressar à toca a triste mãe chorou amargamente o desastre e foi justar contas com a rainha das aves.

— Quê?  — disse esta admirda.  — Eram teus filhos aqueles monstrenguinhos?  Pois, olha não se pareciam nada com o retrato que deles me fizeste…

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Para retrato de filho ninguém acredite em pintor pai.  Lá diz o ditado: quem o feio ama, bonito lhe parece.

Em:  Fábulas, Monteiro Lobato, São Paulo, Brasiliense, s/d, 20ª edição.

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Esta fábula de Monteiro Lobato é uma das dezenas de varições feitas através dos séculos da fábulas de Esopo, escritor grego, que viveu no século VI AC.  Suas fábulas foram reunidas e atribuídas a ele, por Demétrius em 325 AC.  Desde então tornaram-se clássicos da cultura ocidental e muitos escritores como Monteiro Lobato, re-escreveram e ficaram famosos por recriarem estas histórias, o que mostra a universalidade dos textos, das emoções descritas e da moral neles exemplificada.  Entre os mais famosos escritores que recriaram as Fábulas de Esopo estão Fedro e La Fontaine.

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José Bento Monteiro Lobato, (Taubaté, SP, 1882 – 1948).  Escritor, contista, dedicou-se à literatura infantil. Foi um dos fundadores da Companhia Editora Nacional. Chamava-se José Renato Monteiro Lobato e alterou o nome posteriormente para José Bento.

Obras:

A Barca de Gleyre, 1944  

A Caçada da Onça, 1924  

A ceia dos acusados, 1936  

A Chave do Tamanho, 1942  

A Correspondência entre Monteiro Lobato e Lima Barreto, 1955  

A Epopéia Americana, 1940  

A Menina do Narizinho Arrebitado, 1924  

Alice no País do Espelho, 1933  

América, 1932  

Aritmética da Emília, 1935  

As caçadas de Pedrinho, 1933  

Aventuras de Hans Staden, 1927  

Caçada da Onça, 1925  

Cidades Mortas, 1919  

Contos Leves, 1935  

Contos Pesados, 1940  

Conversa entre Amigos, 1986  

D. Quixote das crianças, 1936  

Emília no País da Gramática, 1934  

Escândalo do Petróleo, 1936  

Fábulas, 1922  

Fábulas de Narizinho, 1923  

Ferro, 1931  

Filosofia da vida, 1937  

Formação da mentalidade, 1940  

Geografia de Dona Benta, 1935  

História da civilização, 1946  

História da filosofia, 1935  

História da literatura mundial, 1941  

História das Invenções, 1935  

História do Mundo para crianças, 1933  

Histórias de Tia Nastácia, 1937  

How Henry Ford is Regarded in Brazil, 1926  

Idéias de Jeca Tatu, 1919  

Jeca-Tatuzinho, 1925  

Lucia, ou a Menina de Narizinho Arrebitado, 1921  

Memórias de Emília, 1936  

Mister Slang e o Brasil, 1927  

Mundo da Lua, 1923  

Na Antevéspera, 1933  

Narizinho Arrebitado, 1923  

Negrinha, 1920  

Novas Reinações de Narizinho, 1933  

O Choque das Raças ou O Presidente Negro, 1926  

O Garimpeiro do Rio das Garças, 1930  

O livro da jangal, 1941  

O Macaco que Se Fez Homem, 1923  

O Marquês de Rabicó, 1922  

O Minotauro, 1939  

O pequeno César, 1935  

O Picapau Amarelo, 1939  

O pó de pirlimpimpim, 1931  

O Poço do Visconde, 1937  

O presidente negro, 1926  

O Saci, 1918  

Onda Verde, 1923  

Os Doze Trabalhos de Hércules,  1944  

Os grandes pensadores, 1939  

Os Negros, 1924  

Prefácios e Entrevistas, 1946  

Problema Vital, 1918  

Reforma da Natureza, 1941  

Reinações de Narizinho, 1931  

Serões de Dona Benta,  1937  

Urupês, 1918  

Viagem ao Céu, 1932

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 Jean Ignace Isidore Gérard (França, 1803 — 1847), conhecido pelo pseudonimo J. J. Grandville, foi um grande ilustrador e caricaturista francês.





Ângelo Rodrigues, arte brasileira, nossa homenagem à Copa do Mundo

18 06 2010

 

O prazer de jogar, Mané Garrincha

Ângelo Rodrigues

Xilogravura, 7,2 x 12 cm





Imagem de leitura — Keisai Eisen

11 01 2010

Senhora oriental lendo à luz do luar

Keisai Eisen (Japão, 1790-1848)

xilogravura policromada

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 Keisai Eisen – ( Edo [Tokyo]1790-1848)  Nascido na família Ikeda, filho de um calígrafo e poeta, que aparentemente aprendeu com seu pai a maneira de usar o pincel.  Já bem jovem foi instruído seu pai demonstrou grande confiança num futuro brilhante para o filho colocando-o para estudar o estilo Kano com o pintor Hakkerisai.   Logo depois da morte de seu pai, Eisen procurou um padrinho no pintor Kikugawa Eizan, que era exemplar na pintura das belezas bijin, e com quem Eisen treinou nno estilo ukiyo-e.    Em 1820, já se manifesta com estilo próprio.   Com Kunisada e Kuiyoshi, Eisen é considerado um dos maiores artistas do estilo ukiyo-e  do período “decadente”.





As Parcas, ou Moiras, temidas por todos

24 08 2009

As Parcas, 1587, Jocob Matham, (Holanda,  1571-1631)Gravura em metal, Museu de Arte do Condado de Los Angeles, EUAAs Parcas, 1587

Jacob Matham ( Holanda 1571-1631)

Gravura em metal

Museu de Arte do Condado de Los Angeles, EUA

 

A discussão do livro Um Toque na estrela, de Benoîte Groult,  fica mais interessante quando se sabe quem são as Parcas ou as Moiras.  Assim, antes de postar algumas notas sobre o livro, achei que deveria me lembrar com maior detalhe sobre as Parcas.

As Parcas, [Moiras, em grego], são personagens mitológicas da Grécia antiga.  Mais tarde,  o mito grego foi importado pelos romanos. Na península italiana, elas ficaram conhecidas como Parcae, em português Parcas. 

 

 As Parcas, william-blake, 1795, bico de pena e aquarela sobre papel, Tate Gallery, Londres

As Parcas, 1795

Wlliam Blake (Inglaterra 1757-1827)

Bico de pena e aquarela sobre papel

Tate Gallery, Londres

 

São filhas das Trevas [Érebo] com sua irmã Noite [Nix].   E são três: 

Nona [Clotho] que tece o fio da vida, tecendo os dias,  atua com outros deuses aos nascimentos e partos.

Décima [Lacheisis] cujo nome em grego significa “sortear”, puxa e enrola o fio tecido, calculando seu comprimento, enquanto gira o fuso ou roldana e determina o nosso destino.  É ela a responsável pelo quinhão de atribuições que se ganha em vida.

Morta [Átropos] cujo nome em grego significa “afastar”, corta o fio da vida, determinando o momento de nossa partida. 

 

as parcas, Sampo Kaikkonen (Finlandia) ost

As Parcas, 2008

Sampo Kaikkonem ( Finlândia, contemporâneo)

óleo sobre tela.

 

Nona tem seu nome alinhado aos nove meses de gestação dos humanos.  Nove luas.

Décima tem seu nome alinhado ao nascimento, quando a vida se determina. Dez luas.

Morta tem seu nome alinhado ao momento final da vida terrena.

 

Dizem que até hoje em certas partes da Grécia acredita-se na existência destas entidades. 

As Parcas, 1513, Hans Baldung Green ( Alemanha 1484-1545) xilogravura, Museu de Arte do Condado de Los Angeles, EUA

As Parcas, 1513

Hans Baldung Green ( Alemanha 1484-1545)

Xilogravura

Museu de Arte do Condado de Los Angeles, EUA

 

Nas artes plásticas estas três personagens são em geral identificadas por três mulheres.  Mas há raros casos em que seres sem distinção de sexo também representam as Parcas.  Em geral elas são representadas fiando, medindo e cortando um fio.  Nona tem o fuso na mão.  Às vezes, mas muito raramente ela tem como atributo uma roca de fiar.  Décima tem uma roldana por onde passa o fio e Morta, a a mais terrível de todas, segura uma tesoura.  Há ocasiões em que Nona segura o fuso e Décima mede com um bastão o fio.  Também com freqüência vemos uma cesta no chão repleta de fusos.   Em geral elas aparecem como personagens numa composição alegórica de grandes proporções, próximas à imagem da Morte, um esqueleto com uma foice, que pode ou não estar dirigindo uma carruagem.  [Dictionary of Subjects and Symbols in Art, James Hall)

 John Strudwick, Um fio de ouro,  1885, ost

Um fio de ouro, 1885

John Strudwick ( Inglaterra, 1849-1937)

Óleo sobre tela

 

Observação:

 

Não sou lingüista,  Mas vejo algumas semelhanças lingüísticas que ajudam a memorizarmos os nomes:

Clotho – em grego – para Nona, que tece o fio da vida, deve ser a origem da palavra cloth em inglês, que é significa tecido.

As Parcas também eram conhecidas com Fatas no mundo romano.  Daí certamente:

Fate, em inglês, que quer dizer destino.

Fada em português que é uma entidade que pode influir e transformar o destino da vida humana.

Fado em português que significa destino, sorte.

 

 

 

As Parcas, artista_Ai_Don, caneta

As Parcas, 2008

Ai Don (contemporâneo)

Caneta e “Magic marker” sobre papel.

 

 

As Parcas aparecem freqüentemente na literatura clássica.  A cena da tapeçaria belga, abaixo, representa o 3° tema do poema Os Triunfos, de Petrarca ( Itália 1304-1374), O Triunfo da Morte.

 

as parcas, 1510-1520 tapeçaria belga

As Parcas, 1510-1520

Tapeçaria Belga

Victoria & Albert Museum, Londres

 

Para ler o poema de Petrarca, com tradução de Luís de Camões, continue na sequência.

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