Quadrado da Urca com vista para o Pão de Açúcar, 1938
Yoshiya Takaoka (Japão-Brasil, 1909-1978)
aquarela sobre papel, 45 x 56 cm
Quadrado da Urca com vista para o Pão de Açúcar, 1938
Yoshiya Takaoka (Japão-Brasil, 1909-1978)
aquarela sobre papel, 45 x 56 cm
No início deste ano tive uma amiga visitando o Rio de Janeiro, vinda de Goiás. Nem preciso dizer que a cidade a encantou. Faz parte da visita, o encantamento. Mas uma das coisas que ela mencionou especificamente, fora os lugares tradicionais, foram as ruas substancialmente arborizadas. E ainda posso lembrar de seu tom de voz ao dizer com espanto: E vocês ainda põem orquídeas nas árvores de rua!
Nem sempre foi assim. Não posso dizer quando esse hábito começou. Nem onde. Cresci no Rio de Janeiro, na zona sul da cidade e garanto que quando era criança, não fazíamos isso. Já ouvi relatos que foi iniciativa de uma associação de comerciantes de Ipanema que, para embelezar a cidade, e chamar atenção para o bairro, começaram a amarrar orquídeas nas árvores que dão sombra às ruas, árvores plantadas pela prefeitura. Não estamos falando de árvores nos jardins de condomínios. Aliás esses também têm.
Por volta dos anos 90 do século passado era evidente que os próprios cariocas haviam abraçado a ideia de orquídeas penduradas nas árvores das calçadas. Isso, também surpreendeu meu marido, americano, que como a goiana, percebeu a profusão de orquídeas nas ruas como um sinal de que estava num ambiente tropical, algo que soava a seus ouvidos, como um lugar perto do paraíso. Coitado! Anos depois veio morar no Rio de Janeiro e percebeu a realidade! Mas sempre se admirava com as orquídeas em ruas públicas.
Não sei se essa moda causou os supermercados a venderem orquídeas ou se foi o contrário, eles começaram a vender as orquídeas e a moda seguiu a oferta das plantas. Velha questão essa, da galinha e do ovo. Hoje praticamente todos os mercados vendem orquídeas, as mais comuns, e o carioca leva orquídeas à casa de alguém que ele visita, ou presenteia em qualquer ocasião.
Mas orquídeas não são das plantas, as mais fáceis de lidar. Requerem certa quantidade de sombra e alguns fiapos de sol. Precisam de pouca água e gostam de ficar à beira de algum lugar, mais ou menos em situação periclitante, como peitoris de janelas do décimo segundo andar. Essas necessidades são amplamente providas pelas árvores. Então o carioca recebe a orquídea de presente, se satisfaz com ela pelo período de floração e depois dependura numa árvore de rua. Tudo que se precisa é ter um porteiro, ou um empregado do prédio em que você mora, que se disponha a amarrar uma orquídea que já perdeu a sua beleza mas ainda está viva, na parte mais alta da árvore próxima à entrada do seu edifício, no lugar que ele alcançar de uma escada. E voilà, na próxima estação, no próximo período de floração, a árvore estará embelezada por uma, duas, três orquídeas, quantas couberem em seu tronco, plantas que continuarão, felizes, a dar flores entra ano, sai ano. E vivemos, então, sob a distinta impressão de estarmos num paraíso tropical.
Um capítulo interessante
Vicente Palmaroli y Gonzáles (Espanha, 1834-1896)
Óleo sobre madeira, 76 x 51 cm
Professores são abelhas
distribuindo, em seu afã,
os polens que são centelhas
das flores de um amanhã!
(João Paulo Ouverney)
Natureza morta
Alberto da Veiga Guignard (Brasil, 1896-1962)
óleo sobre cartão, 64 x 41cm
Composição
Aldo Bonadei (Brasil, 1906-1974)
óleo sobre tela, 65 x 81 cm
Mestre lendo um pergaminho
[DETALHE, veja completo abaixo]
Koto Yoshin (Japão, ativo entre 1830-1850)
Escola Kano, provavelmente cópia de pintura chinesa, como era comum entre os artistas da Escola Kano
Coleção particular
José Jorge Letria
O jovem discípulo de um mestre “chan” confrontava-o, frequentemente, com perguntas de difícil resposta, deixando, ao fazê-las, transparecer a sua juvenil impaciência e o seu desejo de encontrar resposta para as mais intrincadas perguntas.
Ele sabia que o mestre não gostava de grandes abstrações, preferindo a simplicidade da evidência. Porém, um dia perguntou-lhe:
– Mestre, o que é a verdade?
– A verdade – respondeu o mestre, com os olhos postos na linha do horizonte – é a vida de cada dia, nada mais.
Insatisfeito com o caráter demasiado vago da resposta, o discípulo retorquiu:
– Mas a vida de cada dia mais não é do que a soma das coisas que acontecem em cada dia que passa. Olhando para o que acontece, é sempre igual, não se descobre a diferença e muito menos a verdade.
Prontamente o mestre respondeu-lhe:
– Mas é aí que reside a diferença. Uns veem que é assim e outros não. Essa é que é a verdade.”
José Jorge Letria, Contos da Antiga China
Cabeça de menina, c. 1618
Diego Velázquez (Espanha, 1599-1660)
Carvão e giz sobre papel, 15 x 12 cm
Biblioteca Nacional, Madri
Igreja Nossa Senhora da Penha Porto Seguro, 2000
Gláucio Bustamante (Brasil, contemporâneo)
aquarela sobre papel, 29 x 39 cm
O dândi moribundo, 1918
Nils Dardel (Suécia, 1888-1943)
óleo sobre tela, 140 x 180 cm
Honoré de Balzac foi um prolífico escritor francês conhecido pelo conjunto de livros independentes, mas que, no entanto, formam um único retrato da sociedade francesa do século XIX. Deu a ele a denominação: A Comédia Humana. Ao todo são noventa e cinco obras (não contando as obras anteriores a esse conjunto) que no Brasil, quando publicadas ocuparam um mínimo de dezessete volumes. Personagens aparecem aqui e ali, retornam, às vezes, em outros volumes. Ao todo, mais de dois mil e quinhentos personagens participaram da obra.
Balzac se importava com seus personagens. Para ele, eles existiam em três dimensões: na sua imaginação e fora. Portanto, não era raro confundir seus personagens com pessoas do mundo real. Ele viveu tão intensamente a composição desses tipos que esse mundo inventado parecia-lhe enevoado, levando-o a confundir o escritor.
Uma dessas ocasiões, bem conhecida, foi em seus momentos finais. Honoré de Balzac pediu que lhe chamassem o médico Dr. Horace Bianchon, um de seus personagens regulares, que aparece através dos muitos volumes da Comédia Humana, conhecido por ser excelente companhia para seus amigos, homem íntegro e fiel.