Cabeça de E.O.W., 1959-60
Frank Auerbach (Inglaterra, 1931)
Carvão sobre papel
TATE, Londres
Abre agora, dia nove de fevereiro e permanece até o final de maio uma exposição dos grandes desenhos a carvão de Frank Auerbach no Courtauld Institute em Londres (melhor reservar suas entradas agora). Esta é uma exposição que vale a pena ver, já que seus desenhos a carvão, expressionistas, por falta de melhor descrição, são verdadeiramente poderosos.
Cabeça de Helen Gillespie II, 1962
Frank Auerbach (Inglaterra, 1931)
Carvão e giz sobre papel
Coleção Particular
Os desenhos expostos foram produzidos nas décadas de 1950 e 60. Essa era outra Inglaterra. O país tentava se recuperar da Segunda Guerra Mundial. Hoje quando visitamos Londres, por exemplo, é fácil esquecer que nesse período os ingleses estavam ainda em recuperação. Havia falta de tudo até mesmo de comida.
Autorretrato, 1958
Frank Auerbach (Inglaterra, 1931)
Carvão e giz sobre papel, 77 x 56 cm
Apesar da Segunda Grande Guerra ter acabado, soldados britânicos ainda estavam sendo mandados para as trincheiras, desta vez na Coreia em apoio às tropas americanas. Ao viajar pela Londres de hoje podemos ser levados ao engano de que tudo são flores, de que o país sempre viveu assim, com abundância e segurança. Mas é necessário lembrar que até 1954, por exemplo, havia racionamento de alimentos, e que carne foi o último item a ser liberado para a população.
Retrato de Leon Kossoff, 1957
Frank Auerbach (Inglaterra, 1931)
carvão e giz sobre papel, 65 x 52 cm
O que faz esses desenhos a carvão tão excepcionais? A profundidade das camadas. Auerbach trabalhava com camada em cima de camada de carvão e giz, apagava e voltava a trabalhar de novo. E mais uma vez. E ainda mais uma. Apagou em alguns casos tantas vezes, que chegou a furar o papel e ser forçado a remendar por trás.
Retrato de Gerda Boehm, 1961
Frank Auerbach (Inglaterra, 1931)
carvão e giz sobre papel
Coleção Particular
O produto final mostra a intensidade dos traços, a procura pela imagem que traria a energia de quem é retratado. À maneira do expressionismo de pós-guerra, aquele que dá mais espaço para o gesto do artista, Auerbach impregna o papel com o fervor da criação, a pujança do traço. Estes desenhos, estes retratos são chamados “As Cabeças de Carvão”, um título apropriado, porque ultrapassam as limitações das duas dimensões do papel, eles trazem o ser humano complexo sentado frente ao artista. Nesses papéis estão cravadas a profundidade emotiva, a intensidade das personalidades. Vislumbra-se também a paixão de Auerbach por sua arte, no traço, nos rabiscos, na dúvida do apagar, nas manchas borradas, nas formas geométricas super-impostas. São cabeças, só faltam nos dizer no que pensam; não são retratos.