Resenha: “Que ninguém nos ouça” de Leila Ferreira e Cris Guerra

1 10 2016

 

 

david-hettinger-in_her_room-ostEm seu quarto

David Hettinger (EUA, 1946)

óleo sobre tela

www.dhettingerstudio.com

 

 

Gosto de sair da minha zona de conforto na leitura. Mesmo assim repito tendências.  Além de ficção literária leio biografias, história, ficção histórica, ensaios, crônicas e contos, crônicas de viagem. Cheguei a Que ninguém nos ouça através da recomendação de um amigo, já que ando à procura de boas obras brasileiras que não exijam um PhD em niilismo para serem apreciadas. Seleciono livros para o projeto Eu também leio, de incentivo à leitura. Por isso, alargo meus horizontes, sobretudo no âmbito nacional.

Desde que passamos a nos comunicar eletronicamente filmes e livros têm refletido essa atividade.  No cinema, Mensagem para você (1998) foi um grande sucesso entre comédias românticas do final do século. Há muitos livros que usaram o mesmo conceito de trocas de emails, como parte da trama. Todos seguem a antiga tradição de romances epistolares entre os quais está As relações perigosas do francês Chordelos de Laclos, tão ao gosto das intrigas de alcova do século XVIII. Essa obra teve um renascimento depois que foi adaptada para o teatro e mais tarde alvo de uma série televisiva. Usando a mesma técnica epistolar, adaptada ao email,  li num passado próximo,  A pesca do salmão no Iêmen, de  Paul Torday, que também se tornou obra cinematográfica e a deliciosa obra de Fal Azevedo, Minúsculos assassinatos e alguns copos de leite, merecedora de mais atenção do que recebeu desde que foi publicada em 2007.

 

 

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Careço entender o sucesso de Que ninguém nos ouça. Situada tanto na tradição epistolar quanto na corrente brasileira de crônicas do cotidiano, essa publicação não chega a satisfazer qualquer dessas categorias. Falta-lhe fundura.  Trata-se de uma coletânea de emails entre duas mulheres desprovida de argúcia ou estilo. Precisava de um bom editor, que se dedicasse à eliminação de repetições, que sugerisse cortes para maior realce a textos de interesse geral.  Leitores citam leveza e simplicidade como qualidades do livro.  Uma obra despretensiosa não precisa ser rasa para ter charme. Magnetismo vem justamente da frase bem aplicada e significativa, sem dar espaço ao lugar comum.  Infelizmente a chamada sabedoria, filosofia de vida, mencionada pelos leitores deste livro não passa de frases para cartões de aniversário, de amizade, de apoio ao amigo em apuros, frases usadas em cartões vendidos em papelarias de bairro. Elas também servem para postagem nas páginas do Facebook, como truísmos ou verdades incontestáveis. A obra é repleta dessas banalidades. As trivialidades são intermitentes.  E as situações cotidianas descritas pelas autoras pintam clichês que não atiçariam a curiosidade do mais dedicado voyeur.

 

 

foto-cris-e-leilaLeila Ferreira e Cris Guerra

 

Entendo que essa publicação não tem objetivo de obra literária, ainda que suas autoras sejam ambas escritoras. Temos maravilhosos mestres da crônica que abordaram assuntos triviais e conseguiram tornar esses pequenos ensaios verdadeiras obras de arte.  Seria bom se ambas as autoras tivessem se inspirado nesses mestres do cotidiano e desenvolvido uma obra de maior peso.

Não recomendo.

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Flores para um sábado perfeito!

1 10 2016

 

 

gilberto-trompowskybrasil-1912-1982-anturiosAntúrios, 1946

Gilberto Trompowski (Brasil, 1912-1982)

óleo sobre tela, 62 x 82 cm





Na boca do povo: escolha de provérbio popular

1 10 2016

 

 

amor-13Chico Bento e Rosinha ao por do sol, © Maurício de Sousa.

 

 

“O amanhã é sempre outro dia.”

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