Imagem de leitura — Aaron Shikler

17 10 2016

 

 

aaron-shikler-eua-1922-2005-leitora-1992-ostLeitora, 1992

Aaron Shikler (EUA, 1922-2005)

técnica mista

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Nossas cidades: Natal, RN

17 10 2016

 

 

maurenice-lopes-rua-chile-2006-guap-5-anos-natal-rnRua Chile, Natal, 2006

Maurenice Lopes (Brasil, contemporânea)

 





Da minha mesa de trabalho

17 10 2016

 

dsc01523Nesta semana gérberas cor de rosa. Apesar de bonitas, uma escolha fraca para as altas temperaturas da cidade.

 

 

Neste fim de semana passei os olhos no livro A Elegância do Ouriço de Muriel Barbery e me lembrei que nunca mais ouvi falar do conceito de civilização, sobretudo depois da introdução do relativismo político correto que nivelou padrões e confundiu os menos educados. Muriel Barbery, escritora francesa de origem marroquina não tem esse problema e lembra na obra que “A civilização é a violência dominada, a vitória sempre inacabada contra a agressividade do primata. Pois primatas nós fomos, e primatas permanecemos, uma camélia sobre o musgo que aprendíamos a desfrutar. Aí está toda a função da educação. Que é educar? É propor incansavelmente camélias sobre o musgo, como derivativos à pulsão da espécie, que jamais para e ameaça continuamente o frágil equilíbrio da sobrevivência.” [114]

Nas últimas semanas, na política, tanto nos Estados Unidos na campanha presidencial, quanto no Rio de Janeiro, na campanha para a prefeitura, o instinto primata venceu sobre a civilização. Os supostos debates não passam de fortes ataques pessoais e revelam o perigo do que pressentimos: o declínio do ato civilizatório. Como Marcelo, personagem de Hamlet, suspeitamos do futuro. “Há algo de podre no reino da Dinamarca”, ele alerta o príncipe que segue o fantasma de seu pai. Visões fantasmagóricas na época eram vistas como mau presságio. Não temos fantasmas óbvios, mas também pressentimos, pelos erros de julgamento, falta bom senso e de conhecimento da história, que nas mãos desses políticos, o perigo se aproxima.

No Rio de Janeiro, como se já não tivéssemos problemas a resolver, adicionou-se nessa campanha eleitoral o fantasma da intolerância religiosa. De um lado, Marcelo Crivella bispo evangélico que chama a religião católica de doutrina demoníaca e mete no mesmo cesto, espiritismo, hinduísmo e as religiões de raízes africanas. Marcelo Freixo, seu concorrente, pertence a um partido antissemita, que fez uma estapafúrdia declaração, mostrando grande desconhecimento da história contemporânea, ao chamar Shimon Peres genocida e alegar, erroneamente, que palestinos festejavam o falecimento do líder israelita.

Nenhum dos candidatos se desculpou convincentemente: Crivella pelas posturas do passado; Freixo pela posição partidária do PSOL, partido que representa. As desculpas, de ambos, foram fracas, impotentes. Ambos foram inábeis, incapazes e ineptos ao se dirigirem ao cidadão carioca.

O Rio de Janeiro descobriu a máquina do tempo. E não sabíamos. Voltamos à Idade Média. Voltamos aos moldes da Inquisição. Época em que judeus eram queimados vivos, assim como qualquer pessoa que agisse diferente do padrão imposto pela Igreja. Lá, há centenas de anos, a Igreja agia contra todos que imaginavam o cristianismo de maneira diferente daquele estabelecido pelo Papa; a mesma Igreja que permitia a conversão de judeus e muçulmanos em massa, nos grandes “batismos” em praça pública. Era isso ou fogueira. Tortura em muitos casos. Julgamentos fraudados. Lembram-se dos autos da fé? Tenho certeza que estudaram na escola. E agora? O que nos resta?

Nós, cidadãos cariocas, iremos nos queimar na fogueira da intolerância de um jeito ou de outro. Até parece que temos uma escolha a fazer. Mas no fundo os candidatos são iguais. Eles se espelham. São iguais na bitola que usam. Ambos têm mentes fechadas. São ignorantes da história e da civilização. Nenhum deles demonstra ter os valores humanistas necessários ao bom desempenho na governança de um município plural, multi-racial, composto por diversos credos, crenças e predileções. Desconhecem os princípios da boa convivência. Estão cegos pela estreiteza de suas crenças.

Diferente de Hamlet, o fantasma que nos guia é o da ignorância. Nenhum dos dois políticos serve. Pobres de nós. O processo civilizatório não criou raízes nesta cidade. A civilização, que freia o animal em nós, foi-se. Perdeu-se. E você ainda pergunta por que temos tanta violência? Pense. Perdemos os freios da civilização. Freixo e Crivella, que escolhemos, por voto, refletem quem somos, mesmo assim, duas fontes de grande intolerância.

 

 

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LIVROS  SOBRE A MESA À ESPERA DE RESENHAS — A garota no trem, Paula Hawkins; Meu nome é Lucy Barton,Elizabeth Strout; A última palavra de Hanif Kureish; Balzac e a costureirinha chinesa, Dai Sijie e Guerra de Gueixas de Nagai Kafu.

 

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