Ainda bem que só falamos o Português!

8 12 2011

Construção da Torre de Babel, 1260

Iluminura da Bíblia Morgan

[também conhecida como Bíblia Maciejowski]

Pierpoint Morgan Library, Nova York

Pouco damos valor a uma das coisas que mais nos distingue: somos um país de dimensões continentais, que fala uma única língua.  Só um outro país de dimensões continentais tem essa vantagem: os Estados Unidos.  Nem o Canadá, nem a Rússia, nem a China, nem a Índia…. Talvez essa tenha sido uma das melhores e maiores heranças que os portugueses nos deixaram.  Falamos a 6ª língua mais falada do mundo.  O português é uma língua romana, bem estruturada, complexa como todas as línguas romanas, uma língua falada em quatro cantos do mundo.  A vantagem que não percebemos no nosso dia a dia é que nos comunicamos de norte a sul,  sem qualquer problema, com variações regionais mínimas, e que essa herança cultural é uma das partes mais importantes que nos une.   As línguas formam a maneira como pensamos.  Elas refletem as nossas prioridades e os nossos valores.

Esse assunto me veio à mente, hoje, quando li sobre o desenlace da guerra das línguas, na Bélgica, que deixou aquele país por 535 dias (quase dois anos!) sem governo, para finalmente eleger um primeiro-ministro francófono [que fala francês], o primeiro líder francófono em 30 anos.

Aí é que começamos a pensar na nossa sorte, porque a Bélgica tem só 30.528 km2 quadrados e 3 línguas!  Imaginemos, uma área um pouco maior do que o estado de Alagoas, mas menor do que o estado do Espírito Santo, com uma população de 10.7 milhões de habitantes [menos gente que a cidade de São Paulo].  Todos têm a mesma nacionalidade, são obrigados a obedecer às mesmas leis, cantam o mesmo hino nacional, lutam nas guerras lado a lado, mas não se entendem,  não se unem, por causa da barreira linguística [economia, religião e geografia também entram na lista das barreiras].  Mas consideremos só as línguas, — que é a maneira como eles definem o problema — são três delas: francês, flamengo e alemão.  Para ilustrar as dificuldades dessa barreira, vamos usar o exemplo do primeiro-ministro eleito, empossado anteontem pelo rei da Bélgica, Alberto II.  Elio Di Rupo, cuja língua materna é o francês, fala fluentemente o italiano e o inglês, mas comete muitos erros — que ferem os ouvidos de seus outros conterrâneos  — quando se esforça para falar o flamengo.  Pelo menos os erros gramaticais dos nossos políticos não são um reflexo de divisões culturais no país.  Eles só refletem o que os políticos não andam fazendo pela educação.


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