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Biblioteca Pública de Chelsea, 1920
Malcolm Drummond (Grã-Bretanha, 1880-1945)
óleo sobre tela
Bridgeman Art Library
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Um dos livros cuja narrativa me encantou nesse fim de ano foi O aprendizado da srta. Beatrice Hempel, de Sarah Shun-lien Bynum [Rocco:2011]. É o tipo de livro que tem passagens que nos fazem reconhecer atitudes e maneiras de pensar. Enfim, reconhecemo-nos e aos que nos circundam. Hoje coloco aqui um trechinho que mostra a realização de uma professora de história que descobre que o que havia insistido muito para que seus alunos da 7ª série aprendessem e o que estava à beira de ensinar — determinados fatos da história americana — acabava de ser ultrapassado por novas teorias e descobertas.
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“Tendo falado dos índios com tanta aprovação, a srta Hempel ficou consternada ao encontrar, numa tarde de domingo na livraria, uma publicação nova dedicada a contradizê-la. Ficou parada no corredor, com o cenho franzido. De acordo com as últimas descobertas antropológicas, os índios não eram grandes amigos da Natureza; eles arrasavam florestas, caçavam animais quase até a extinção, saboreavam petiscos, como o feto do búfalo, enquanto deixavam a mãe se decompor lentamente ao sol.
O livro estava exposto numa prateleira com uma variedade de outros livros, todos aparentemente com a mesma tendência. A srta Hempel percebeu que uma pequena indústria tinha surgido cujo único objetivo era revelar as mentiras e as mistificações da história americana. Paul Revere não gritou “Os britânicos estão chegando!” Thomas Jefferson seduziu, sim, e engravidou Sally Hemings, sua escrava. Os fundadores da nação não estavam “nem um pouco interessados em igualdade para todos”. E o biruta do John Brown era perfeitamente são. Até mesmo a teoria da ponte entre os continentes estava sob ataque. Parecia que, afinal de contas, os primeiros americanos não tinham chegado perambulando pelo estreito de Bering.
A srta Hempel se sentiu irritada e traída. Tinha levado muito tempo para ler América! América!, e agora cá estava uma prateleira inteira de estudos acadêmicos lançando dúvida sobre tudo o que ela estava prestes a ensinar.
No entanto, ela admitia que esses livros realmente pareciam necessários; sua existência fazia sentido para ela. Era tão difícil contar a história com fidelidade. Não se podia confiar que uma pessoa conseguisse relatar o seu próprio passado com fidelidade, muito menos a história de um país inteiro.”
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