Orlando Teruz, arte brasileira, nossa homenagem à Copa do Mundo

14 06 2010

Futebol, 1983

Orlando Teruz ( Brasil 1902-1984)

Óleo sobre madeira, 80 x 100 cm

Coleção Particular





As luvas, texto da Revista O ESPELHO de 4 de setembro de 1859

14 06 2010

Muito cedo, 1853

James Tissot ( França 1836-1902)

óleo sobre tela

The Guildhall Art Gallery,  Londres, Inglaterra

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As luvas

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                                                                           M. de Azevedo

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Não há moça de mão delicada, nem rapaz do tom, que deixe de trazer a sua luva de pelica. 

É possível em um baile encontrar-se alguma moça com os braços descobertos, com o cabelo sem enfeite, com o colo despido, com um vestido simples, porém com as mãos nuas, sem luvas, isso não, é coisa que não se vê, nem em qualquer casa, em que haja uma simples contradança. 

A luva pois é tão necessária para quem vai ao baile, como é preciso o lenço para quem tem defluxo. 

Na verdade, a mão mimosa e peqienina, como a de uma boneca, coberta com uma luva de pelica, que fique justa aos dedos, parecendo constituir uma nova pele formada pela arte, adquire tanta graça, tanto feitiço, que obriga, às vezes, a meia dúxia de namorados a andar de beiço caído e de cabeça tonta.

Ah! que bela invenção não foi a luva!

Antigamente usavam-se luvas de couro, depois começaram a aparecer as de algodão; hoje as que estão mais em moda são as de Jouvin, que é um Monsieur, que sabe fazer luvas melhor do que ninguém.

No Baile, 1875

Berthe Morisot ( França, 1841-1895)

óleo sobre tela

Em França as luvas começaram a ter voga no reinado de Henrique III, porque uma fidalga que tinha influência nessa corte, principiou a usar desse enfeite, e então todos quiseram imitar a favorita do rei!

E é assim que quase todas as modas têm aparecido.

Uma dama de Henrique IV foi a uma caçada, o ginete atirou a cavaleira no chão, com a queda foi-se o penteado da dama; então um fidalgo deu à duquesa algumas fitas para ela atar o seu cabelo; e desde então ficou sendo moda trazer fitas ao cabelo!

Outrora quando qualquer valentão queria fazer algum desafio, arremeçava a sua luva ao chão, e aquele que a apanhava dava a entender que queria brigar, que aceitava o duelo.

Na Inglaterra fazem-se luvas de goma elástica, com as quais se pode lidar sem perigo com ácidos, alcalis, e sais, que mais vivamente atacam a pele.

Assim como a cabeleira esconde, à vezes, uma calva carunchosa e feia, assim as luvas ocultam também a mão grossa e rude como um pé de boi!

Senhora com luva, 1870

Adolphe William Bouguerreau ( França, 1825-1905)

óleo sobre tela

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—  Tem luvas de lã de senhora?  disse um moço entrando em uma loja.

— Dessa lã não tenho, respondeu o caixeiro.

Quando algum vestido lhes fica justo, e assenta no corpo, dizem logo:

— Está que é uma luva.

Quando se quer obter uma casa em alguma rua importante, para se alcançar a chave, é preciso dar uma boa quantia, a que se chama — luvas.

A luva é um enfeite precioso; no baile torna bela e macia a mão da moça, e oculta muitas vezes a cartinha de namoro.

É um enfeite, que a etiqueta não dispensa; fazer uma visita de cerimônia sem levar luvas, é o mesmo, que sair se casaca sem gravata ao pescoço.

Vivam, pois, as luvas, quer as de Jouvin, quer as de outro qualquer Monsieur, que houver por aí.

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Em: O Espelho: revista semanal de literatura, modas, indústria e artes, Rio Janeiro, 4 de setembro de 1859, vol. I, nº 1.