Quando via um grande prêmio de literatura como o Man Booker Prize ser dado a alguém sempre ficava com pena dos escritores que são mencionados como finalistas, mas que não tiveram suas obras agraciadas. Menciono o Man Booker porque eles anunciam com antecedência os escritores finalistas, e então sabemos quem perdeu. Hoje, voltando à página deste prêmio, procurando por uma referência sobre um autor inglês, encontrei uma resposta de A. S. Byatt, vencedora do Man Booker em 1990 com o livro Possessão, Companhia das Letras: 1992, São Paulo, dizendo que ela finalmente iria ter dinheiro suficiente para construir seu sonho de longa data: uma piscina na sua residência na França (Provence).
Diversas coisas passaram pela minha cabeça. Primeiro fiquei desapontada. E me perguntei por quê? Por que desapontada? Estaria eu esperando uma resposta do tipo finalista a Miss Universo? Quero acabar com a fome no mundo! Não, eu mesma afastei aquele pensamento, rapidinho. Depois veio aquele sentimento: acho que não gosto dessa pessoa, deve ser muito voltada para si mesma: do time do eu, eu, eu. Até procurei me lembrar se havia gostado mesmo daquele livro de sua autoria, Possessão. Só me lembro que havia uma correspondência maravilhosa. Esse foi o tempo de muitos livros epistolares no meu horizonte!
Depois de alguns momentos de reflexão fui à cata de prêmios e de valores. E num instante aprendi a não me sentir mal pelos autores que não ganharam o maior prêmio, porque funciona como se eles estivessem concorrendo ao prêmio de Miss Brasil: onde a primeira colocada leva tudo, mas a segunda concorre para Miss Mundo, a terceira para um outro prêmio, ou vice-versa, e ainda tem o prêmio Miss Simpatia, Miss Fotogênica, etc. Bem com os autores finalistas do Booker, há também mais; além do fato de para sempre serem mencionados como: finalista do Man Booker Prize.
Pegando carona no próprio portal do Man Booker, vi que dos 13 livros da longa lista de finalistas deste ano, 11 tiveram um aumento significativo de vendas na semana seguinte à publicação da lista. O livro de Salman Rushdie, The Enchantress of Florence [No Brasil – A Feiticeira de Florença, Cia das Letras: 2008, SP] continuava onde já estava, na liderança de vendas em 7/8/2008, mas teve um aumento de 56.5% nas vendas do momento em que seu nome foi mencionado entre os 13 finalistas. O livro de Linda Grant, The Clothes on Their Backs [ sem publicação no Brasil] teve proporcionalmente o maior aumento nas vendas dos finalistas. Havia até então vendido simplesmente 13 volumes na semana anterior, terminada em 26/7/2008. Na semana seguinte à inclusão do livro entre os finalistas do Booker, este livro vendeu 144 volumes.
Outro aumento de vendas ocorreu com o livro de Tom Rob Smith, Child 44 [No Brasil – Criança 44, Record: 2008, Rio de Janeiro] , aparentemente uma escolha que causou alguma controvérsia entre o público e aumentou as vendas deste livro de suspense por 250% ; isto para um livro que já havia vendido 8.000 volumes antes de ser nomeado para a longa lista de finalistas.
Não tenho os números para a vendagem dos títulos depois que a pequena lista de 6 finalistas foi anunciada. Havia este ano dois escritores estreantes Steve Toltz e Aravind Adiga. Este, o autor de The White Tiger [No Brasil — O tigre branco, Nova Fronteira: 2008, Rio de Janeiro] que ganhou o prêmio, os £50.000 do primeiro lugar e mais os £2.500 que cada um dos 6 finalistas receberam.
Com orgulho, como deve ser feito, os administradores do Man Booker Prize mostram como este prêmio auxilia o reconhecimento do autor e de sua obra. Eles citam que Anne Enright, (vencedora em 2007) com o livro The Gathering, [No Brasil – O Encontro, Alfaguara Brasil: 2008, RJ] fez uma tour mundial para lançamento de seu livro. O mesmo aconteceu com Kiran Desai, (vencedor em 2006) com o livro The Inheritance of Loss [No Brasil – O Legado da Perda, Alfaguara Brasil: 2007, RJ]. Em 2005, o livro vencedor de John Banville, The Sea [No Brasil — O Mar, Nova Fronteira:2007, RJ] vendeu 250.000 volumes depois do prêmio e as vendas, de acordo com seu editor, aumentaram dramaticamente para os antigos títulos do autor. Em 2004 o livro The Line of Beauty, de Alan Hollinghurst [no Brasil – A linha da beleza, Nova Fronteira: 2005, RJ] vencedor do maior prêmio chegou às listas dos mais vendidos, o mesmo acontecendo com os vencedores de 2002, Life of Pi de Yann Martel [ No Brasil, A vida de Pi, Rocco:2004, RJ] e o de 2003, Vernon God Little de DBC Pierre [No Brasil – Vernon God Little, Record: 2004, RJ].
Procurei e não consegui este tipo de informação sobre vendas no Brasil depois que um livro ganha um prêmio respeitável. Informação no Brasil, principalmente levando em conta vendas editoriaís, são segredos guardados a sete chaves. Falta muito para termos o acesso a informação generalizada que acontece principalmente nos países de língua inglesa. Mas duvido que as vendas dos nossos escritores aumentem significativamente depois que eles se descobrem vencedores de prêmios. Primeiro, que não conseguimos ainda determinar qual é o prêmio mais importante no Brasil. Há correntes a favor deste ou daquele. E depois, quem é aqui no Brasil, uma pessoa comum, letrada, lida, que você ouve dizer: leia Fulano de Tal, porque ele foi um dos finalistas do Prêmio X, e esses escritores são sempre muito bons? Esse prêmio tem sempre em mente, não só o valor literário mas também o pulso do gosto do publico leitor? Você conhece alguém que diga isso a respeito do Prêmio Jabuti, Prêmio Portugal Telecom, Prêmio São Paulo de Literatura? Eu não conheço… Será um problema de marketing? Por que eles não estão chegando às pessoas que eu conheço que lêem de 40 a 60 livros por anos? Fica aqui a minha pergunta.
Ah, sim, e para terminar, se um dia eu ganhar um prêmio assim, vocês não precisam se preocupar: ele não vai para uma piscina na França. Garanto que não haverá evasão de divisas. Consigo usar satisfatoriamente o dinheiro por aqui mesmo, onde moro…