Âmbar, insetos e algas no Cretáceo

28 11 2008

 

 

Foi no início deste ano que cientistas franceses conseguiram identificar mais de 350 fósseis de minúsculos animais que viveram nos tempos dos dinossauros, utilizando uma técnica que permitiu observar com detalhes, pela primeira vez, pedaços de âmbar completamente opacos.

 

O âmbar como se sabe é uma resina fóssil das árvores (principalmente pinheiros).  Esta resina tem a função de proteção à planta.  É uma espécie de arma contra a ação de  microorganismos e insetos predatórios ao seu ciclo de vida.  A produção da resina acontece por qualquer lesão, mesmo um simples ataque de insetos é suficiente para sua formação. A resina protege a árvore atuando como cicatrizante.  Tem propriedades anti-sépticas que também ambar2407protegem a árvore de doenças. O âmbar é a resina fóssil de árvores que viveram há milhões de anos em regiões de clima temperado. E que com o tempo transformaram-se  nesta massa, frequentemente denominada de pedra semi-preciosa, porque é usado como uma pedra preciosa, para fazer jóias ou objetos ornamentais, por exemplo, mas não é um mineral. 

Como insetos, de modo geral, são indicadores precisos de variações climáticas e ambientais, grande atenção tem sido dada ao estudo de insetos no período Cretáceo para melhor entendermos a ecologia da era.  O Cretácio foi o período muito importante para a evolução das plantas que dão flores.  Foi nesta época que elas cresceram e se multiplicaram muito.  E aí também que elas passam a depender de insetos polinizadores: abelhas, vespas, borboletas, mariposas e moscas.   Na verdade, 2/3 de todas as plantas que dão flores dependem de insetos para sua polinização.  Vale lembrar que insetos formam o grupo de animais mais numeroso da Terra. 

A análise de dois quilos de material retirado da região de Charentes, no cretaceous-insectsudoeste da França, revelou a presença de insetos, ácaros, aranhas e crustáceos que viveram há cerca de 100 milhões de anos, no período Cretáceo, que vem depois do período Jurássico da era Mesozóica e conhecido como o fim da “Era dos Dinossauros“.  Os primeiros fósseis de grande parte de pássaros, insetos e mamíferos são encontrados no Cretáceo.  Pequenos animais, minúsculos como eram estes encontrados na França, foram as grandes vítimas do âmbar, porque uma vez presos na resina, não teriam forças para se libertarem daquela consistência pegajosa.  Insetos maiores também era capturados mas acredita-se que pudessem sair da pasta melosa da resina com mais facilidade.

A pesquisa na França envolveu cientistas do Museu de História Natural de Paris e da Instalação Européia de Radiação por Síncrotron (ESRF, sigla em inglês) e foi feita por raios-X intensos: a única maneira pela qual se pode visualizar e estudar insetos tão pequeninos no âmbar.  Considerada uma pesquisa particularmente importante, os achados parecem dar apoio a uma  nova teoria sobre a causa da extinção dos dinossauros.  Uma teoria que sugere que os insetos possam ter tido um papel importante na extinção dos grandes répteis pré-históricos.

 

inseto-cretaceo-australia

Inseto Cretáceo, Austrália

 

Inicialmente, essa mudança teria dificultado a vida dos dinossauros vegetarianos e posteriormente, dos seus predadores.  Os vegetarianos morrendo, seus predadores teriam o mesmo fim por fome.

 

George e Roberta Poinar, sugerem que os dinossauros não foram extintos de maneira abrupta, mas que o seu fim foi gradual e teria levado milhões de anos.  Não estamos dizendo que os insetos tenham sido a única causa da extinção dos dinossauros; acreditamos, no entanto, que eles tenham tido papel importante, explica George Poinar.

 

 Fazendo uma reconstrução do ambiente hostil pré-histórico habitado por enxames de insetos encontrados na resina fossilizada do período Cretáceo em depósitos no Líbano, Canadá e Mianmar estes cientistas encontraram vermes intestinais e protozoários em excrementos fossilizados de dinossauros.  Análises mostraram então como insetos infectados com doenças como a malária, (Leishmania ) e outros parasitas intestinais poderiam ter provocado uma devastação lenta dos dinossauros.   Além disso, os insetos poderiam ter destruído a vegetação em geral, espalhando doenças na flora.

 

Em julho deste ano, cientistas do Instituto Geológico e de Mineração  da Espanha descobriram um depósito de âmbar contendo insetos do período Cretáceo, até agora desconhecidos e em “excelente” estado de conservação.  Estes exemplos foram coletados  nos arredores da caverna de El Soplao, na região da cidade de Rábago na Espanha.   

 

Os insetos foram aprisionados no âmbar há 110 milhões de anos, quando a região espanhola de Cantábria, no norte do país, estava inundada pelo mar e era repleta de lagoas cercadas por florestas de pinheiros.  Estas coníferas produziram a resina que ios capturou.  Descrita como uma das reservas de âmbar mais importantes da Europa, ou talvez do mundo os  responsáveis pelo achado – María Najarro, Enrique Peñalver e Idoia Rosales, explicaram que o local reúne um acúmulo “excepcional” de massas de âmbar.

 

 Além de pequenas vespas, moscas, aranhas, baratas e mosquitos, o âmbar de El Soplao preserva ainda uma teia de aranha diferente da encontrada em outra peça de âmbar, descoberta em Teruel e que atraiu grande interesse científico.  

 

Tudo indicava este ano já teríamos tido todas as mais interessantes novidades sobre

Libelula, Cretáceo Inferior, Brasil

Libelula, Cretáceo Inferior, Brasil

o Cretáceo com os estudos mencionados acima tanto na França quanto na Espanha.  Deixa que este mês mais uma descoberta, do Cretáceo e de seus pequeníssimos animais presos no âmbar fossilizado, foi revelada de novo na França em Charente.  Uma descoberta que puxa para trás por 20 milhões de anos o período em que um organismo, uma alga formada por uma única célula, aparece no planeta.   Os cientistas estão surpresos de terem encontrado, presa no âmbar estes micro organismos marinhos.   Como que eles foram parar lá, no meio das árvores?  

 

 

 

 De acordo com uma publicação do Proceedings of the National Academy of Sciences, nos EUA, este achado indicaria, de acordo com um os autores do artigo, Jean-Paul Saint Martin, um cientista do Museu de História Natural de Paris,  não só que esta floresta deveria estar muito próxima do oceano, assim como fortes ventos ou por enchentes durante uma tempestade, deveriam ter levado estes microscópicos seres para terra firme.

 

Este artigo foi parcialmente baseado na revista COSMOS.