Fethulah Gülen
Este é o primeiro da série de perfis das pessoas votadas como os maiores pensadores do mundo de hoje em pesquisa feita pelas revistas Prospect da Inglaterra e Foreign Policy dos EUA no primeiro semestre deste ano.
O primeiro colocado foi o filósofo e líder religioso Fethullah Gülen.
Fethullah Gülen nasceu na Turquia. É um líder islamita que desde 1999 mora no estado da Pensilvânia, nos EUA, onde sua permanência até meados deste ano poderia ter sido considerada como um asilo político, já que, até então, encontrava-se acusado pelo Tribunal de Segurança da Turquia, por supostamente estabelecer uma organização cujo objetivo seria corromper a estrutura secular do governo e estabelecer uma sólida base corânica no país. Mas, no dia 24 de junho de 2008, a Suprema Corte de Apelações rejeitou a objeção da Procuradoria Geral da Turquia à absolvição do intelectual. Assim, absolvido, Fetullah Gülen poderá voltar à Turquia e ser recepcionado por seus muitos seguidores não só para comemorar a decisão da Suprema Corte, mas também a votação na pesquisa mencionada acima.
Não é de hoje que Gülen se tornou uma das mais influentes mentes muçulmanas no mundo, com milhões de seguidores, não só na sua terra natal, como em todos os países muçulmanos da Ásia Central à Indochina; da Indonésia à África. Suas posições que levaram ao chamado Movimento Gülen, são baseadas em três dogmas: a advocacia da tolerância; a crença no diálogo e a procura sistemática da reconciliação entre os povos. Sua incessante requisição para diálogo, tem-se tornado ainda mais urgente à medida que as comunicações internacionais se ampliam e o mundo torna-se a grande aldeia prevista pelo filósofo canadense Marshall McLuhan. De acordo com Gülen os muçulmanos não podem, nem devem, construir uma identidade baseada em qualquer valor destrutivo, como o conflito e a confrontação. Estes não estariam de acordo com os valores humanos e universais do Islã.
Freqüentemente mal compreendido, este movimento não se considera um movimento político ou ideológico. Trabalha principalmente na ação social, próxima da filosofia sufi, e, como tal, é bastante diferente de todos os outros movimentos islâmicos. Muito moderno, não faz parte de nenhuma ordem religiosa — numa definição, mais restrita, mais histórica da palavra — não é uma fraternidade e nem mesmo uma ordem sufi (uma tarica). É um movimento que demonstra uma capacidade imensa de organização e um dinamismo em geral não associados ao Islã. Estas características já germinaram respostas entusiasmadas no campo cultural e social. Tolerância e relações amistosas entre diferentes comunidades são a demonstração, para muitos, de que o movimento Gülen pode ter sucesso. Pregando a abnegação e o altruísmo, que na visão sufi de Gülen, fazem a essência da religião muçulmana, sua filosofia prega idéias bastante democráticas, considerando que os povos devem escolher seus governantes, ao invés de serem governados por uma autoridade superior. Para Gülen, o indivíduo tem prioridade sobre a comunidade e cada ser humano deve ser livre para escolher seu próprio estilo de vida.
Mas este individualismo não é para ser levado a extremos. O ser humano tem melhor qualidade de vida no seio de uma sociedade e para isto precisa adaptar seus desejos e sua liberdade aos critérios da vida social do grupo a que pertence. Então aquele que quiser reformar o mundo deve primeiramente olhar para si próprio e se reformar, se remodelar. É seu dever mostrar aos outros o caminho para um mundo melhor.
Rodopio Dervixe, de Maria Taurus, Unesco
Gülen diz que um dos problemas de se falar, hoje em dia, em cultura islâmica, vem da associação que muitos fazem do Islã a um sistema político. Quem vê o Islã como um sistema político, é quem precisa admitir que o que o leva a agir é uma raiva pessoal, até social, uma hostilidade, incompatível com o verdadeiro Islã. Porque esta é uma religião que tem o ardor da verdadeira crença, uma forte essência espiritual e valores morais profundamente enraizados. Estas qualidades que dão aos muçulmanos grande retidão de caráter permitem que eles possam absorver a supremacia científica, tecnológica, econômica e militar do ocidente, sem que estas os corrompam. O Islã, ele defende, trata da alma das pessoas, do que é sentida por dentro, como conseqüência, as vantagens materiais desenvolvidas pelo ocidente não poderiam corromper a verdadeira alma muçulmana. Mas, alguns muçulmanos e políticos ao invés de verem o Islã como uma religião, fazem dele uma ideologia política, sociológica e econômica. Esquecendo-se de que o muçulmano é aquele protege os outros contra o mal; de que é o verdadeiro representante da paz e da segurança.
Por mais de 1400 anos o ocidente e os muçulmanos se combatem. Agora, nesta aldeia global, é necessário que estes dois lados se entendam. E que aceitem que o ocidente não conseguirá eliminar o Islã, assim como o Islã não conseguirá dominar o ocidente. Ambos terão que fazer concessões.
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NOTA: O nome de Fethullah Gülen, também pode aparecer com dois “ll” como em Güllen.
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