Boas novas sobre este Blog vindas com o Ano Novo!

2 01 2011
Amadeu usa o computador, ilustração de Walt Disney.

Comecei este ano com uma surpresa gratificante, um email do portal WordPress mandando congratulações pelo desempenho deste blog no ano de 2010.  Segue abaixo o primeiro parágrafo do email, em verde:

O ano de 2010 no seu blog

Feliz Ano Novo do WordPress.com! Para começar o ano em beleza, gostaríamos de partilhar alguns dados sobre o desempenho do seu blog. Aqui está um resumo de alto nível da saúde do seu blog:

Blog-Health-o-Meter Uau

Blog-Health-o-Meter™

Achamos que foi fantástico!

Números apetitosos

Imagem de destaque

O Museu do Louvre é visitado por 8,5 milhões de pessoas todos os anos. Este blog foi visitado cerca de 1,100,000 vezes em 2010, o que quer dizer que se fosse uma exposição no Louvre, eram precisos 47 dias para que as mesmas pessoas a vissem.

Em 2010, escreveu 375 novos artigos, aumentando o arquivo total do seu blog para 1377 artigos. Fez upload de 795 imagens, ocupando um total de 201mb. Isso equivale a cerca de 2 imagens por dia.

O seu dia mais activo do ano foi 21 de setembro. O artigo mais popular desse dia foi Primavera, poema infantil de Olavo Bilac.

……………………………………………………………………….

E assim segue o email, com mais números e informações.  Fica registrada aqui, então, a minha percepção sobre o que faço com este blog.

Foram 323.272 visitas à minha página principal.  A postagem mais vista, por incrível que pareça, devo-a a Olavo Bilac, com seu poema A Primavera, que recebeu 8 comentários.  A entrada com o maior número de comentários, não é a mais popular… é o poema de Cecília Meireles  A Bailarina, onde, no momento,  mostra ter 109 comentários.   O dia mais visitado — 21 de setembro de 2010 — trouxe mais de 6.500 pessoas ao blog.

Além dos poemas para serem usados nas escolas, artigos sobre ciências e sobre o meio ambiente, com ilustrações e material sólido, que possam ser usados na sala de aula foram os itens de maior visibilidade.

Desde o início da Peregrina Cultural tenho notado a presença regular de professores de todos os níveis, principalmente aqueles que preparam seus alunos no nível médio.   A maior parte deles visita este blog regularmente e vêm do interior de outros estados:  Rio Grande do Sul, Goiás e São Paulo são os estados de onde recebo a maior parte das visitas.

O que estes números mostram junto ao restante das estatísticas é aquilo que comecei a perceber nos primeiros meses de postagens: há uma necessidade imensa nas escolas brasileiras de fontes de apoio ao ensino.  Fontes de textos que possam ser usados paralelamente ao  que é dado em classe, quer de literatura quer de ciências.  As minhas postagens sobre os ornitorrincos e os équidnas  estão entre os textos mais populares do blog, com pedidos de alunos e de professores, através do email da peregrina:  peregrinacultural@hotmail.com  quase todas as semanas para que outros textos semelhantes sejam postados.

A entrada sobre o jequitibá:   Você conhece o jequitibá?  — está há meses entre os mais visitados do blog, o que me surpreende muito.  Uma revelação!  Tenho que agradecer a meu pai, professor de física e químico industrial,  pelo interesse que fomentou em nós, seus filhos, pela natureza e pelo meio ambiente, numa época em que não se falava nisso.   As minhas postagens sobre história têm seus fãs.  Em menor número do que aqueles que procuram poemas para serem usados nas escolas.  E a razão é simples: quem as lê são principalmente os professores, que escolhem a seleção colocada aqui, uma seleção baseada nas descobertas feitas pelo mundo, como fonte de iniciar um assunto ou lembrar a seus alunos de alguma faceta interessante sobre o que está sendo ensinado na sala de aula.

Paisagem, sem data

Levino Fanzeres ( Brasil, 1884-1956)

Óleo sobre tela colado sobre madeira

8 x 11cm

Sempre escrevi.  Tenho textos que só aos pouquinhos venho colocando no blog.  Em sua grande maioria são meditações, reflexões, apreciações de viagem.  Os meus textos não são assim tão populares, talvez porque a descrição, a reflexão, a meditação não sejam formas populares na nossa cultura.  Dos meus textos há dois lidos e repassados para outros blogs que se mostram os mais populares: o poema favorito é  O flamboyant da casa ao lado; e  em prosa a popularidade está com o contoAdaptações sem limites, que faz parte de uma série de contos, baseados em memórias dos meus anos de menina, a que dei o título provisório de “Nossa vida com papai”,  textos não publicados, mas já lidos e relidos pelos familiares mais próximos.  Mas a visita a estes textos pessoais é modesta o suficiente para adormecer qualquer ambição que eu pudesse vir a ter no âmbito da publicação.

O meu orgulho pessoal está nas minhas resenhas de livros: muitas delas foram colocadas nos sites dos autores dos livros sobre os quais fiz minha apreciação.  Mesmo sendo autores estrangeiros, minhas resenhas foram escolhidas para postagens e duas delas foram selecionadas também pelos sites das editoras dos livros.  É verdade que já fiz resenhas de livros para o jornal, antes de ter voltado ao Brasil.  Essa experiência há de ter ajudado.  Mas, por outro lado, cada livro é um livro, um novo mundo a ser descoberto.

As minhas Imagens de leitura continuam populares, assim como Filhotes Fofos.  São divertidas maneiras de nos lembrarmos da natureza e da importância da leitura.  E continuarei colocando o maior número possível de ilustrações.  Sou uma pessoa que pensa com imagens.  Talvez mesmo pela minha própria formação – historiadora da arte.  E continuarei a dar ênfase à arte brasileira, que tão mal conhecemos.

As listas de sugestões de livros para adolescentes [ são quatro postagens através de dois anos] continuarão a aparecer no blog.  Em julho e no mês de dezembro essas postagens tiveram um número enorme de visitantes.

Finalmente, aos meus leitores obrigada pelo apoio; espero poder fazer juz à confiança que me depositam, de novo neste ano que se inicia.  Mais uma vez:

Muito obrigada!





Este lago sereno — poesia de Ladyce West

5 04 2010

 

Fantasia tropical —  Foto: Ladyce West, Jardim Botânico,  Rio de Janeiro.

Este lago sereno

 

                                                                                        Ladyce West 

Este lago sereno exerce uma atração,

Uma obsessão misteriosa,

Alucinante em mim.

Um desejo de mergulhar na sua profundeza,

De me perder em seu mistério,

De desaparecer na paisagem tranqüila,

Pintada em suas águas sombrias,

Sossegadas, calmas e imóveis.  

Seu silêncio me hipnotiza e seduz.

Este lago manso me mesmeriza

No tratar invertido da natureza:

A dupla imagem, a ambigüidade.

Céu e água. Água e céu.

O reflexo do vôo de um pássaro no ar…

Um  peixe fugidio a nadar?

Verso e reverso.  Corpo e alma.

Inferno e paraíso.

Meu mundo unido num só horizonte.

 —

© Ladyce West, 2006, Rio de Janeiro — Em: À meia voz.





A volta do mercado, poema de Carlos Chiacchio

3 01 2010

mercado flutuante2

A volta do mercado

                                  Carlos Chiacchio

Desce a canoa de fio

Pela corrente do rio.

Vem arisca, vem frecheira,

Carregada até a beira.

Fruta, ou peixe, da vazante

Ouve-se o búzio distante.

E o povo corre ao mercado.

Na praia, o remo cravado,

Começa a voz das barganhas.

E, logo, em pilha as piranhas.

Vivos, saltando, ao punhados,

Curimatans e dourados.

Matrinchans, madins, a rodo.

Pocomons, frescos, do lodo.

Numa algazarra de festa

Joga-se n’água o que resta.

Volta a canoa de fio

Contra a corrente do rio.

Volta leve, vai suave,

Peneirando como uma ave.

É uma diaba a canoa…

Pulando de popa a proa.

Em: Poesia Brasileira para a Infância,  Cassiano Nunes e Maria da Silva Brito,  São Paulo, Saraiva:1968, pp 8-9

—-

 Carlos Chiacchio

Carlos Chiacchio ( Januária, MG, 4 de julho de 1884 – Salvador, BA, 1947)  jornalista, orador, poeta, cronista, crítico literário, membro do IGH-BA, Academia de Letras da Bahia. Nasceu na antiga cidade de Januária, situada entre a Serra da Tapiraçaba e o Rio São Francisco, em Minas Gerais. Filho de Jacome Chiacchio e de D. Patrícia de M. Chiacchio. Estudou como interno  no colégio Spencer em Salvador, quando mostrou ter vocação literária.  Em Salvador, cidade onde mais tarde também se formou em medicina, fez parte da Nova Cruzada, associação cultural fundada em 1901 e extinta em 1916. Foi proprietário de farmácia, funcionário da Estrada de Ferro, e médico de bordo. Por fim, fixou-se mesmo em Salvador, onde ficou até o fim de sua vida. Foi o chefe e animador do grupo modernista na Bahia, em 1928, em torno da revista Arco & Flecha (1928-1929). Foi um dos mais típicos e valorosos intelectuais de província, e muito trabalhou para a difusão da cultura na Bahia, algumas vezes até sacrificando seus interesses pessoais. Sua produção extensa, dela salientando-se, contudo, um livro de poemas Infância e Biocrítica.

 

Obras: 

A Dor, 1910  

A Margem de uma polêmica, 1914  

Biocrítica, 1941  

Canto de marcha, 1942  

Cronologia de Rui, 1949  

Euclides da Cunha, 1940  

Infância, poesia, 1938  

Modernistas e Ultramodernistas, 1951  

Os grifos, 1923  

Paginário de Roberto Correia, 1945  

Presciliano Silva, 1927  

Primavera, 1910, 1941

 





Minha árvore, poema de Natal de Diógenes Pereira de Araújo

17 12 2009

 

Cartão de Natal da Polônia, década de 1950.
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MINHA ÁRVORE

 

                                                                          Diógenes Pereira de Araújo

 —–

 

Vou armar uma árvore, escondida

no coração, recôndito de mim.

Será planta odorífera: alecrim,

por faces de pessoas preenchida

 —–

Tais faces vou colhê-las no jardim

dos amigos de sempre cuja vida

fazem a minha vida colorida

e perfumada: há rosas e jasmins

 —–

Amigos do passado eu ponho ao centro

amigos do presente mais à mão

para incluir a todos na oração:

 —–

“Senhor, – que trago aqui também por dentro –,

meu coração, com carga especial

transplanta para o teu neste Natal.”

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Diógenes Pereira de Araújo ( SP, 1935).  Advogdo, escritor e poeta.  Blog:  http://diogenespereiradearaujo.blogspot.com

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Nhá Carola, poesia Ricardo Gonçalves para uso escolar

24 11 2009

Daniel Penna ( SP, 1951) Fundo%20Quintal, osmFundo de quintal, 2009

Daniel Penna ( Brasil, 1951)

óleo sobre tela/ sobre madeira

18 cm x 24 cm

www.pennart.com.br

 

 

Nhá Carola

                                                            A .D. Olga

                                                          Ricardo Gonçalves

Arrepanhando o vestido

De chita azul, nhá Carola,

Põe feijão na caçarola

Para o almoço do marido.

Dorme um cachorro estendido

À porta da casinhola;

Gritam galinhas de Angola

No terreiro bem varrido.

Enquanto chia a panela,

A moça vai à janela,

A ver se o marido vem.

Mas entra logo zangada

Porque na volta da estrada

Não aparece ninguém.

Em: Poesia Brasileira para a Infância,  Cassiano Nunes e Maria da Silva Brito,  São Paulo, Saraiva:1968

 —

ricardo gonçalves

 

Ricardo Mendes Gonçalves  (SP, SP 1893 – SP, SP 1916) pseudônimos: Ricardo Gonçalves, Bruno de Cadiz, D. Ricardito.  Poeta, tradutor, jornalista, diplomado em Direito (1908), político, membro grupo Minarete.  Trabalhou para diversos jornais entre eles o Comércio de São Paulo e Estadinho. Foi também repórter do jornal O Correio Paulistano.

Obras:

 Ipês, 1922





Poesia infantil de Afonso Schmidt: Alegria de menina que gosta de leite de cabra

12 11 2009

# 16 Cheng Minsheng  Pastorinha de CabrasPastorinha de cabras

Cheng Minsheng ( QinDu, China, 1943)

Aquarela, tinta, sobre papel.

25 cm x 25 cm

Coleção particular.

Alegria de menina que gosta de leite de cabra

                                                  Afonso Schmidt

Quando acorda a corruíra do pessegueiro,

eu acordo também;

é a hora dourada em que passa o cabreiro

com suas cabrinhas tão bonitinhas…

São cerca de quarenta mas, contando bem,

talvez não passem de trinta…

A pintada, aquela que vai correndo na frente

e que não tem medo de gente

é a que leva o guizo alegre que tilinta.

As outras vão correndo atrás,

vão pulando,

vão chifrando,

vão berrando

                    bé, bé, bé…

Eu pego no copo e vou para o portão

chamar o cabreiro:

— Seu cabreiro, me tire este copo de leite,

mas quero daquela cabrinha malhada

que leva na boca uma folha dourada.

E o cabreiro chama a cabrinha:

                    bit, bit, bit…

Põe-se a tirar o leite:

puxa que puxa,

espicha que espicha,

escorrupicha…

Mamãe , que me espia sob o pé de brincos-de-princesa,

me fala:

— Menina que gosta de leite de cabra vira cabrita!

(mas isso é bobagem, ninguém acredita).

Depois o cabreiro e suas cabrinhas vão

pelas ruas do bairro, encharcadas de sol.

Em: Poesia Brasileira para a Infância,  Cassiano Nunes e Maria da Silva Brito,  São Paulo, Saraiva:1968.

 afonso schmidt

Afonso Schmidt (Cubatão, SP 1890 – SP, SP 1964) poeta, romancista, contista, biógrafo, jornalista.  Como jornalista trabalhou para  A Voz do Povo, em 1920, no Rio de Janeiro.  Para Folha da Noite,  Diário de Santos e A Tribuna, em Santos. Em São Paulo trabalhou na Folha da Noite e O Estado de S.Paulo.  Neste último trabalhou de 1924 até 1963.  Recebeu o prêmio da  revista O Cruzeiro em 1950 pelo romance Menino Felipe.   A União Brasileira de Escritores lhe premiou com o Juca Pato – Intelectual do Ano em 1963.  Foi sócio fundador do Sindicato dos Jornalistas do Estado de S. Paulo, membro da Academia Paulista de Letras e do Instituto Histórico e Geográfico de São Paulo.

Obras: 

A Árvore das lágrimas – 1942  

A Datilógrafa    

A Marcha -1941  

A Nova conflagração -1931  

A Primeira viagem – 1947  

A Revolução brasileira – 1930  

A Sombra de Júlio Frank – 1936  

A Vida de Paulo Eiró – 1940  

Ao relento -1922  

As Levianas    

Aventuras de Indalécio    

Bom tempo -1956  

Brutalidade  – 1922  

Carantonhas – 1952  

Carne para canhão – 1934  

Colônia Cecília – 1942  

Curiango – 1935  

Evangelho dos livres -1919  

Garoa – 1931  

Janelas abertas – 1911  

Lembrança    

Lírios roxos – 1904  

Lua nova    

Lusitânia – 1918  

Menino Felipe -1950  

Miniaturas – 1905  

Mirita e o ladrão – 1960  

Mistérios de São Paulo – 1955  

Mocidade – 1921  

O Assalto – 1945  

O Canudo – 1963  

O Desconhecido    

O Dragão e as virgens – 1926  

O Enigma de João Ramalho – 1963  

O Passarinho verde    

O Que era proibido dizer – 1932  

O Reino do céu – 1942  

O Tesouro de Cananéia – 1942  

Os Boêmios    

Os Impunes – 1923  

Os Impunes – 1924  

Os Melhores contos de Afonso Schmidt – 1946  

Pirapora -1934  

Poesia – 1945  

Poesias -1933  

Retrato de Valentina – 1948   

Saltimbancos – 1950  

São Paulo dos meus amores -1954  

Somos todos irmãos – 1949  

Tempos das águas – 1962  

Zamir    

Zanzalás – 1938





Valsa da Vassoura, Dilan Camargo, poesia infantil

31 10 2009

bruxa com gato

Valsa da vassoura

Dilan Camargo

Senhora Dona Vassoura

Elegante Dama Loura

ao vê-la assim tão linda

minha tristeza se finda.

 

Vamos dançar uma valsa?

Pra poder acompanhá-la

este jovem se descalça

com medo de pisá-la.

 

Deixe enlaçar, dançarina

a sua cintura fina.

Deixe tomar, bem sensíveis

os seus braços invisíveis.

 

Ao soar a melodia

surpresa todos verão:

rodopia, rodopia

um belo par no salão.

 

Em: Poesia fora da estante, coord. Vera Aguiar, Simone Assumpção e Sissa Jacoby, Porto Alegre, Editora Projeto:2007

Dilan Deibal D’ Ornellas Camargo — ( Itaqui, RS, 1948) advogado, professor, escritor, poeta, teatrólogo e letrista.

Obra:

Em mãos, poesia, 1976

Na mesma Voz,  poesia, 1981

Sopro nos Poros,  poesia, 1985

O Embrulho do Getúlio, poesia infantil, 1989

Rebanho de Pedras, poesia, 1990

O Vampiro Argemiro, poesia

Eu pessoa, pessoa eu, poesia, 1997

Poesia e Cidade, poesia, 1997

Bamboletras, poesia, 1998

O tempo começa no coração, poesia, 1999

A Fala de Adão, poesia, 2000

Antologia do Sul – Poetas Contemporâneos do RS, poesia, 2001

A Galera Tagarela, poesia, 2003
 
Coletânea da Poesia Gaúcha do RS, poesia, 2005
 
Balaio de Idéias, poesia,  2007
 
BrinCRiar, poesia infantil, 2007
 
A Casa da Suplicação, teatro
 
A Oitava Praga, teatro




A arteira e a arte — poema infantil de Dilan Camargo

29 10 2009
maquiagem 4Ilustração Maurício de Sousa.

 

A arteira e a arte

Dilan Camargo

 

Mamãe me empresta tua bolsa

teu colar e teus sapatos

depois me passa batom

que vou tirar um retrato.

 

Deixa eu me olhar no espelho

deixa só por um instante.

Quero batom mais vermelho

quero um colar mais brilhante.

 

A sala é uma passarela

requebro e faço proeza

sou artista de novela

a rainha da beleza.

 

Será que o sonho termina

quando desço dos sapatos?

Será que baixa a cortina

quando chega o fim do ato?

 

 

Em: Poesia fora da estante, coord. Vera Aguiar, Simone Assumpção e Sissa Jacoby, Porto Alegre, Editora Projeto:2007

Dilan Deibal D’ Ornellas Camargo — (Itaqui, RS, 1948) advogado, professor, escritor, poeta, teatrólogo e letrista.

Obra:

Em mãos, poesia, 1976

Na mesma Voz,  poesia, 1981

Sopro nos Poros,  poesia, 1985

O Embrulho do Getúlio, poesia infantil, 1989

Rebanho de Pedras, poesia, 1990

O Vampiro Argemiro, poesia

Eu pessoa, pessoa eu, poesia, 1997

Poesia e Cidade, poesia, 1997

Bamboletras, poesia, 1998

O tempo começa no coração, poesia, 1999

A Fala de Adão, poesia, 2000

Antologia do Sul – Poetas Contemporâneos do RS, poesia, 2001

A Galera Tagarela, poesia, 2003
 
Coletânea da Poesia Gaúcha do RS, poesia, 2005
 
Balaio de Idéias, poesia,  2007
 
BrinCRiar, poesia infantil, 2007
 
A Casa da Suplicação, teatro
 
A Oitava Praga, teatro




A morte da águia, poema de Luís Guimarães Júnior

26 10 2009

águia, pintura chinesa

Águia em vôo

Aquarela chinesa

 

A postagem de um poema de Vicente Guimarães neste blogue, João Bolinha virou gente, lembrou à leitora Vânia um poema que ela precisou decorar para a escola, chamava-se A morte da águia.  E ela me pediu que se eu o conhecesse que lhe mandasse esse poema, pois  não se lembrava de todas as estrofes. 

De fato, o poema que conheço com este título  é um antigo e belíssimo poema,  bastante longo, de Luís Guimarães.  E aqui está para nós todos nos deliciarmos.   

 

A morte da águia

 

Luís Guimarães

 

A bordo vinha uma águia.  Era um presente

Que um potentado, — um certo rei do Oriente,

Mandava a outro: — um mimo soberano.

Era uma águia real.  Entre a sombria

Grade da jaula o seu olhar luzia,

Profundo e triste como o olhar humano.

 

Aos balanços do barco ela curvava

Ao níveo colo a fronte que cismava…

E enquanto as ondas túrbidas gemiam,

Ao som do vento – em fúnebres lamentos

Ela pensava nos longínquos ventos

Que do Himalaia os píncaros varriam.

 

Fora uma infame e traiçoeira bala,

Que, do régio fuzil negra vassala,

Invisível – uma asa lhe partira:

Cheia de luz, tranqüila, majestosa,

Dobrando a fronde branca e poderosa,

Aos pés de um rei a águia real caíra.

 

Os bonzos vis, proféticos doutores,

Sondando-lhe a ferida e as cruas dores,

Que um venenoso bálsamo tentava

Apaziguar em vão, — diziam rindo:

“Não há no mundo exemplar mais lindo:

Vale um império!” – E a águia agonizava.

 

Um dia, enfim, o animal valente

Resistindo aos martírios, — largamente

Respirou a amplidão.  A asa possante

Abrir tentou de novo.  Aberta estava

A jaula colossal que o esperava:

Forçoso era partir.  Desde este instante,

 

A águia sombria e muda e pensativa,

Solene mártir, vítima cativa,

Terror dos vis e símbolo dos bravos,

Pediu a morte a Deus, — pediu-a ansiosa

Longe, porém, da corte vergonhosa

Desse covarde e baixo rei de escravos.

 

Pediu a morte a Deus, o cataclismo,

As convulsões elétricas do abismo,

As batalhas finais!  Morrer num grito

Vibrante, imenso, heróico, soberano,

E fremente rolar no azul do Oceano,

Como um titã caído do infinito.

 

Morrer livre, cercada de vitórias,

Com suas asas – pavilhão de glórias –

Inundadas da luz que o Sol espalha:

Ter o fundo do mar por catacumba,

As orações do vento que retumba,

E as cambraias da espuma por mortalha.

 

Entanto, melancólica, tristonha,

Como um gigante mórbido que sonha,

Fitava, às vezes, o revolto oceano,

Com esse olhar nublado e delirante,

Com que saudava a César triunfante

O moribundo gladiador romano.

 

O comandante – urso do mar bondoso —

Disse um dia ao escravo rancoroso,

Ao carcereiro estúpido e inclemente:

“Leve-a ao convés.  Verá que esse desmaio

Basta para apagá-lo um brando raio

Do largo Sol no rúbido oriente.”

 

Subiu então a jaula ao tombadilho:

Do nato dia ao purpurino brilho

Salpicava de luz o céu nevado…

E a águia elevando a pálpebra dormente

Abriu as asas ao clarão nascente

Como as hastes de leque iluminado.

 

O mar gemia, lôbrego e espumante,

Açoitando o navio; — além – distante,

Nas vaporosas bordas do horizonte,

As matutinas névoas que ondulavam,

Em suas várias curvas figuravam

Os largos flancos triunfais de um monte.

 

“Abre-lhe a porta da prisão,” ( ridente

O comandante disse ) “Esta corrente

Para conter-lhe o vôo é mais que forte!

Voar!  pobre infeliz!  causa piedade!

Dê-lhe um momento de ar e liberdade!

Único meio de a salvar da morte.”

 

Quando a porta se abriu, — como uma tromba,

Como o invencível furacão que arromba

Da tempestade as negras barricadas,

A águia lançou por terra o escravo pasmo,

E desprendendo um grito de sarcasmo,

Moveu as longas asas espalmadas.

 

Pairou sobre o navio — imensa e bela –

Como uma branca, uma isolada vela

A demandar um livre e novo mundo;

Crescia o Sol nas nuvens refulgentes,

E como um turbilhão de águias frementes,

Zunia o vento na amplidão,  – profundo.

 

Ela lutou, ansiosa!  Atra agonia

Sufocava-a.  O escravo lhe estendia

Os miseráveis e covardes braços;

Nu o oceano ao longe cintilava

E a rainha do ar, em vão, buscava

Onde pousar os grandes membros lassos. 

 

Sobre o barco pairou ainda, — e alçando,

Alçando mais os vôos,  e afogando

Na luz do Sol a fronte alvinitente,

Ébria de espaço, ébria de liberdade,

Como um astro que cai da imensidade,

Afundou-se nas ondas de repente.

 

 

luisguimaraesjunior

 

Luís Caetano Pereira Guimarães Júnior (RJ 1847 – Lisboa 1898), advogado, jornalista, ministro, diplomata, poeta, romancista, teatrólogo.  Estudou no Colégio Calógeras em Petrópolis e cursou as faculdades de Direito de São Paulo e do Recife.   Colaborador dos periódicos A reforma, A república, O correio paulistano, Imprensa Acadêmica de São Paulo, Gazeta de Notícias. Membro da Academia Brasileira de Letras, membro da Academia de Belas Artes do Chile, membro da Academia do Quiriti em Roma, membro da Arcádia Romana, membro da Sociedade de Geografia Italiana, oficial da Ordem da Rosa, oficial da Ordem de Cristo e da Ordem de São Tiago, cavaleiro da Ordem Romana do Sepulcro e da Ordem de São Gregório Magno.

 

Obra:

 

A Alma do outro mundo,  1913  

A Carlos Gomes, 1870  

A entrada no céu,   1882  

A família Agulha, 1870  

A morte, 1882  

André Vidal, séc. XIX   

As Jóias indiscretas, séc. XIX   

As Quedas fatais, séc. XIX   

Ave Estela, 1865  

Contos sem pretensão,  1872  

Corimbos, 1866  

Ernesto Couto, 1872  

Filigranas,  1872  

Lírica, 1880  

Lírio Branco, 1862  

Mater dolorosa, 1880  

Monte Alverne, séc. XIX   

Noturnos, 1872  

O Caminho mais curto, séc. XIX   

Os Amores que passam, séc. XIX   

Pedro Américo, 1871  

Um Pequeno demônio, séc. XIX   

Uma Cena contemporânea, 1862  

Valentina, séc. XIX





O Corpo Humano, em versos infantis de Walter Nieble de Freitas

10 10 2009

 corpohumano,menino 3Ilustração, Maurício de Sousa, adaptada.

 

O Corpo Humano

                                                     Walter Nieble de Freitas

 

Toda criança estudiosa,

Que deseja passar de ano,

Deve saber que em três partes

Se divide o corpo humano.

 

São: cabeça, tronco e membros

— É bem fácil a lição —

Vejamos parte por parte,

Preste, pois, muita atenção.

 

Na memória, guarde bem,

É importante, não se esqueça!

Somente de crânio e face

Se constitui a cabeça.

 

corpo humano menina 5

Ilustração, Maurício de Sousa, modificada.

 

No crânio, ficam o cérebro

E outros órgãos protegidos;

Estão na face o nariz,

A boca, os olhos e ouvidos.

 

O tronco está dividido

— Veja as Ciências Naturais —

Em tórax e abdome,

Duas partes, nada mais.

 

Localizam-se no tórax

— Não vá fazer confusão —

Dois órgãos muito importantes:

Os pulmões e o coração.

 

corpo-humano-1

 

Fazem parte do abdome:

Estômago, pâncreas e rins

E também os intestinos

Com outros órgãos afins.

 

Em dois planos diferentes

Os membros estão situados:

Superiores e inferiores

São eles asssim chamados.

 

São dos membros superiores

— Aprenda bem a lição —

O ombro, o braço, o antebraço

E também a nossa mão.

 

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Vejamos os inferiores

— Você quer saber, não é? —

São estas as suas partes:

Quadril, coxa, perna e pé.

 

O nosso corpo precisa

Banho com água e sabão,

Bastante exercício, ar puro

E boa alimentação.

 

Mas, ao lado de tudo isto,

Não descuide da instrução,

Porque assim você terá

Mente sã em corpo são.

 

Em: Barquinhos de papel: poesias infantis, Walter Nieble de Freitas, São Paulo, SP, Editora Difusora Cultural:1961.