Papa-livros: Guia de discussão para o livro Um dia, de David Nicholls, leitura terminada em 18/10/ 2011

16 11 2011

Conversa Fiada, 1908

Rupert Bunny (Austrália, 1864-1947)

óleo sobre tela

A boa recepção, a popularidade imediata, que este livro teve tanto na Inglaterra, sua terra natal, onde foi publicado em 2009, assim como nos Estados Unidos – um país avesso às publicações estrangeiras – assim como a imediata filmagem do romance, numa produção para ser lançada em circuito aberto, aqui no Brasil em breve, fez com que muitos achassem tratar-se simplesmente de uma obra comercial, sem qualquer outro valor que valesse uma discussão mais aprofundada.  No entanto, é inescapável a realização de que a obra de David Nicholls [veja resenha nesse blog] falou a muitos, a uma geração inteira, nascida por volta de 1970 e a tantos outros que mantêm seus espíritos abertos a novas e interessantes aventuras.   O livro retrata dois personagens de  1998 a 2007, a cada capítulo um ano se passou.  Com detalhes pontuais de cada época, percebe-se a mudança de tempo e de atitudes não só dos dois protagonistas, como da sociedade à volta.

Sugestão de perguntas: 

1 – Logo no início, quase na apresentação dos personagens, tanto Emma quanto Dexter fazem uma resenha de como cada um imagina o outro, no futuro.  Você considera isso um prenúncio do que virá?  São visões que se realizam? 

2 — Dexter e Emma seguem seus diferentes caminhos, quase como lados opostos de uma mesma geração, de um mesmo grupo de pessoas.  Em que eles se opõem?  O que eles têm em comum, apesar de vidas aparentemente opostas? 

3 – A vida que Emma segue, seus diferentes “empreguinhos” são consistentes com o que ela diz querer da vida?   E Dexter?  Segue um caminho consistente com seus valores?  Quais são esses valores?

 4 – Dexter acha que Emma tem baixa auto-estima, que ela não se valoriza.  Você concorda?  Por que ele estaria notando isso sobre a amiga?

 5 – Dexter tem um comportamento auto-destruidor.  Auto-destruição está com frequência ligada à baixa auto-estima.  Por que ele sofreria dessa percepção de si mesmo, já que era atraente, sedutor e tinha uma carreira de sucesso? 

6 – A medida que eles se aproximam dos 30 anos há uma diferença de atitudes nas suas vidas.  Cada um dá uma guinada.  Emma se acha velha, e tem um caso amoroso que jamais teria pensado possível.  Dexter por outro lado também se encontra envolvido com Sylvie.  A reação de cada um deles com a aproximação dos 30 anos é condizente com suas vidas?  O que elas demonstram?  

7 –  Ambos vão separadamente a um casamento.  Este é um momento pivô no romance.  O que cada um descobre a respeito de si mesmo nessa ocasião?

8 —  O que muda no relacionamento deles depois que Emma tem sucesso como escritora e Dexter está num caminho oposto, tendo que lidar com sua falência profissional?

9 —  Como esse romance difere de e o que tem em comum com outros romances em que um envolvimento romântico entre um homem e uma mulher acontece?  

10 – David Nicholls por vezes parece se ater a pequenos incidentes na narrativa, coisas que não parecem importantes.  Até mesmo alguns personagens, que mais tarde se tornam importantes, têm sua estréia no romance como se fossem coadjuvantes de muito menor valia.  O que esta maneira de narrar traz dá ao leitor?  Por que ela foi usada?

11 – A narrativa de uma vez por ano exige que o leitor preencha em muitos parênteses em aberto sobre a vida de cada um dos personagens principais, sobretudo quando no dia 15 de julho de um determinado ano, nada de grandioso ou importante parece ter acontecido.  Essa ferramenta de narrativa é eficaz?  O que ela tem como objetivo? 

12 – Você acredita que esse romance conseguiu fazer um retrato convincente da geração que descreve?





Papa-livros, leitura para setembro: Traduzindo Hannah, de Ronaldo Wrobel

8 09 2011

Evasão, 2008

Abderrahmane Chaouane (Argélia, 1958)

óleo sobre tela

Leitura para SETEMBRO, discussão nesse blog a partir do dia 20

Traduzindo Hannah, de Ronaldo Wrobel

SINOPSE

O sapateiro judeu Max Kutner é convocado para trabalhar na censura postal do regime Vargas, traduzindo cartas do iídiche para o português em busca de subversivos. Enquanto lida com o peso na consciência, Max se apaixona por uma desconhecida através de suas cartas e, determinado a encontrá-la, descobre mais do que pretendia – inclusive sobre si mesmo.

EDITORA: Record

Ano: 2010

Número de páginas:  272

A arte de Abderrahmane Chaouane






Papa-livros: Guia de discussão do livro Cada Segredo, de Laura Lippman, leitura terminada em 08/2011

28 08 2011

Chá no jardim, 1917

Fernand Blondin (Suíça, 1887-1967)

óleo sobre tela, 84 x 102cm

Mark Murray Fine Paintings

Este é um livro de suspense.  Laura Lippman é uma escritora bastante conhecida e detentora de diversos prêmios na categoria de mistério e suspense.  A maior parte de suas obras é situada na cidade de Baltimore, no estado de Maryland,  nos Estados Unidos.  Baltimore é uma das poucas cidades americanas que tem maioria negra, próximo a 65% da população.   Mas é uma cidade com grande pluralidade de americanos de outras origens.  Os descendentes de irlandeses e de italianos formam uma grande percentagem da população.  Há também muitos descendentes de poloneses e outros imigrantes de ascendência européia.  Levando em conta esse panorama, o romance Cada Segredo, explora os preconceitos de origem e de cor da pele que determinam o comportamento de diversos personagens na trama.   Este é o ponto em comum de todos os personagens.

1) Como e que personagens mostram comportamento preconceituoso?

2) Além do preconceito de cor da pele, há também preconceitos de origem, de classe social e de religião.  Como eles são retratados?

3) Você acredita que a maneira de representar esses preconceitos é essencial ao desenvolvimento da trama?

4) A autora preencheu muitos detalhes sobre a vida de cada personagem dando informações sobre o passado de cada um e sobre sentimentos complexos que os fazem agir dessa ou daquela maneira.    Você acha que todos esses detalhes foram necessários?  Eles enriqueceram a sua experiência na leitura ou eles desviaram a sua atenção da solução do crime?

5) Alguns personagens tentam influenciar a ação da polícia.  De que maneira eles fazem isso?  São bem sucedidos?  Por que eles não conseguem deixar a polícia resolver o crime por si própria?  Qual é o interesse de “guiar” a mão da polícia?

6) A solução do crime cometido foi satisfatória?

7) Duas meninas de 10-11 anos vão para a cadeia, pagar pela morte de um bebê.  Elas saem da cadeia aos 18 anos.  A filha de um juiz tenta exercer sua influência para que elas sejam julgadas como adultas.  Que diferença faria isso?

8 ) Quais as diferenças entre a sociedade americana e a brasileira quando o crime de assassinato é perpetrado por uma criança de 10-11 anos?

9) Nos Estados Unidos o crime de assassinato não prescreve.  Ou seja, o processo de procura de um assassino está sempre em aberto, nunca é arquivado, até que o crime seja resolvido, mesmo que décadas tenham se passado.  Compare essa estipulação da lei americana com as leis brasileiras.  O que você endorsa?

10) A literatura de mistério e de suspense no Brasil ainda engatinha.  Temos bons autores, mas se comparada com a produção americana estamos bem aquém.  Quais seriam as razões dessa diferença, já que há milhares de leitores desse gênero no Brasil?

Para participar desse debate, sugiro que você leia o livro.  Coloque suas opiniões aqui.  Como fiel da balança a Peregrina irá monitorar as respostas a essa postagem e editar caso seja necessário cada uma das respostas.  Obrigada por pedirem o debate,  que ele seja proveitoso.





Papa-livros, leitura para agosto: Cada segredo, Laura Lippman

17 08 2011

Retrato da atriz T S Lyubatovitch, s/d

Konstantin A. Korovin ( Rússia, 1863-1939)

óleo sobre tela

Leitura para AGOSTO, discussão nesse blog a partir do dia 22

Cada segredo,  de Laura Lippman

SINOPSE

Depois de uma desagradável experiência em uma festa de aniversário, Ronnie e Alice voltam para casa sozinhas e desoladas. No caminho, elas encontram um carrinho abandonado com um bebê dentro. O que acontece em seguida é terrivelmente chocante. Sete anos depois, as jovens, então com 18 anos, voltam para suas casas depois de um período de reclusão. Mas os segredos passado ainda assombram a todos. Então outra criança desaparece sob as mesmas estranhas circunstâncias. Cabe a detetive Nancy Porter encontrar o bebê e descobrir a pista que, anos atrás, deixou escapar.

EDITORA: Record

Ano: 2011

Número de páginas: 406





Resenha: “Brooklyn”, de Colm Tóibín, uma história inesquecível!

20 06 2011

Prospect Park, Brooklyn, s/d

William Merrit Chase ( EUA, 1849-1916

óleo sobre tela

Há um nicho literário que cobre as experiências de deslocamento social de imigrantes.  Países do Novo Mundo como os Estados Unidos e o Brasil têm tido regularmente em sua literatura adições significativas da experiência do imigrante.  No Brasil, esta experiência pode ser delineada mais recentemente, nas obras de Milton Hatoum, Nélida Piñon, Salim Miguel, Francisco Azevedo, para nomear alguns.  Essa tradição ainda é mais vigorosa nos EUA que, assim como o Brasil, receberam levas e levas de imigrantes do mundo inteiro, Michael Chabon, Amy Tan, Jhumpa Lahiri, Bernard Malamud estão entre dezenas de escritores americanos que desde o século XIX, se dedicaram aos desassossegos funcionais e emocionais causados pela imigração.

O deslocamento cultural tem sido também objeto de estudo do escritor  Amin Maalouf, cujo fantástico In the Name of Identity: Violence and the Need to Belong, [Penguin: 2003] –  demonstra as falhas de requerermos que um indivíduo faça uma única escolha de identidade, quando somos de fato a comunhão dos fatores que nos formam.  Maalouf está hoje entre os mais influentes pensadores contemporâneos no assunto.  Talvez porque eu tenha vivido a maior parte da minha vida adulta fora da minha identidade de nascença, este assunto há algumas décadas me fascina e sensibiliza.

Em Brooklyn [Cia das Letras: 2011] Colm Tóibín se dedica ao assunto retratando a imigração de Eiliss Lacey, uma jovem irlandesa que vai para os Estados Unidos na década de 1950.  O romance é simultaneamente um romance em que a protagonista principal cresce e aprende, na tradição literária do Bildungsroman [romance de educação] e um retrato da impotência feminina diante do papel que lhe é reservado nas relações familiares da época.

Eiliss Lacey é a filha mais moça de uma família irlandesa.  Introvertida e tímida, depois de um curso técnico em contabilidade não consegue encontrar um emprego satisfatório na pequena cidade onde mora.  Seus irmãos já saíram de lá à procura de melhores oportunidades.  Sua irmã mais velha, calorosa, cheia de vida, ainda está em Enniscorthy.  Eiliss sobrevive dentro dos parâmetros de uma vidinha limitada e medíocre, até que é surpreendida pela família que arranja de emigrá-la – através de um contato com um padre irlandês nos EUA – para o outro lado do Atlântico.  Sua opinião não é requisitada.  E Eiliss embarca, com seus muitos receios abafados, na estarrecedora viagem transatlântica.

Colm Tóibín

Com a chegada a Nova York o mundo de Eiliss se amplia.  Diferente de muitos imigrantes ela não precisa lidar com dificuldades por causa da língua.  De fato, seu mundo tem muitas similaridades com o que deixou para trás, como se os elementos que o compõem fossem os mesmos, só que arranjados de maneira diversa.  Esses ecos servem para contrastar, ao final da leitura, os dois mundos em que vive a jovem: são dois rapazes com quem se envolve; são duas chefes de trabalho difíceis; são duas matronas irlandesas que dispõem a bel-prazer da vida de Eiliss; são dois grupos de amigas irlandesas, são dois salões de dança.  A distância que os separa também os une e encontram terreno fértil nas emoções da moça.

Colm Tóibín dá continuação, em Brooklyn, a diversas tendências da literatura inglesa.  Eiliss Lacey, tem parentesco com Elizabeth Bennet, de Orgulho e Preconceito [Jane Austen] apesar de não ter o mesmo senso de humor.  Como ela, no entanto, vive presa pela teia das convenções sociais e dos laços familiares.  Além disso, ele retrata as pequeninas transformações na vida de uma pessoa comum, com a precisão e o colorido de dezenas de outros escritores britânicos, que se superam no retrato rigoroso dos detalhes da vida cotidiana.  Desta maneira, Colm Tóibín consegue extrair do particular, o universal.  Ampliando em muitas vezes a relativa grandiosidade das decisões tomadas por seu personagem.

Com uma narrativa enxuta que não desmerece as minúcias reveladoras que nos auxiliam no entendimento de Eiliss Lacey, e de sua época, Colm Tóibín nos induz a compreender as  dúvidas e a solidão da personagem.  Percebemos também o vazio daqueles à sua volta; a autoridade dos familiares e dos homens com quem se relaciona; as teias sociais que a aprisionam em ambos os lados do Atlântico.   Mas como na vida há surpresas, e algumas tão grandes que mudam a projetada trajetória do destino, assim acontece aqui.  E o que parece ser um final surpreendente torna-se simplesmente um final em aberto, como também são as grandes decisões que tomamos na vida.  Apesar de um início vagaroso, a história ganha um ritmo crescente e de suspense que arrebata o leitor até o último parágrafo, deixando um travo ou uma pergunta.  Este é um livro cuja história continua a ser contada nas nossas imaginações, muito depois da última palavra lida.





Papa-livros, leitura para junho: Brooklyn, Colm Tóibín

25 05 2011

Sem título

Cesare dell Acqua ( Itália, 1821-1904)

Leitura para JUNHO, discussão a partir do dia 20

Brooklyn, de Colm Tóibín

SINOPSE

No início dos anos 1950, a Irlanda não oferece futuro para jovens como Eilis Lacey. Sem encontrar emprego, ela vive na pequena Enniscorthy com a mãe viúva e a irmã Rose. Mas eis que o padre Flood lhe faz uma oferta de trabalho e moradia no Brooklyn, Estados Unidos. De início apavorada com a ideia de sair do ninho familiar, ela acaba partindo rumo à América.
Triste e solitária em seu novo mundo, a tímida Eilis acaba por estabelecer uma rotina de trabalho diurno e estudo noturno na faculdade de contabilidade. No baile semanal da paróquia, conhece um jovem de origem italiana que aos poucos entra em sua vida. Mas quando começa a se sentir mais livre e segura, Eilis é obrigada a voltar, por algumas semanas, para Enniscorthy. E ali ela se vê, mais uma vez, diante de uma escolha muito difícil.
Sem nunca fazer de Eilis uma heroína clássica, Colm Tóibín trama uma delicada teia de sentimentos ocultos, de aceitação do destino e de sonhos abandonados que deixará o leitor preso à história muito tempo depois de terminar o livro.

EDITORA: Cia das Letras

Ano: 2011

Númeor de páginas: 304





O oficial dos casamentos, de Anthony Capella: as muitas formas de sedução

17 05 2011

Ilustração de capa de revista, Coby Whitmore (EUA, 1913-1988)

O oficial dos casamentos, de Anthony Capella [Record: 2011] em primeira leitura parece mais um livro feito para as férias, para ser lido na praia, sob a sombra de uma barraca, maresia salgando a pele e um copo de mate gelado na mão.  Parece leve, cheio de humor, quase inconseqüente.  Sua narrativa é rápida, ritmada e transporta o leitor facilmente pelos aromas da culinária italiana [um perigo ler esse livro se você está de dieta], e também evoca com facilidade a paisagem napolitana, assim como o charme e a beleza das mulheres nativas. Chega perto de poder ser lido, simplesmente assim, sem compromisso.  Afinal, o tema central, parece ser o romance entre a italiana Lívia Pertini e o oficial inglês James Gould.  

A narrativa faz jus à tradição literária inglesa iniciada no século XVIII em que o narrador descreve as observações de um estranho quer na cidade de Londres, quer num país até então desconhecido.  Suas observações do povo local, dos costumes e hábitos que lhes são caros, interpretados pela perspectiva do visitante são fonte de grande entretenimento, humor e surpresa quanto aos costumes locais levados a sério pela população.   Um dos mais radicais exemplos desse gênero literário está exemplificado nas Viagens de Gulliver do irlandês Jonathan Swift, cuja primeira publicação data de 1726.  

 

No texto de Anthony Capella, acompanhamos as observações de James Gould sobre a Itália, a vida em Nápoles, os costumes locais.  Membro das forças inglesas que lutavam com os aliados contra os nazistas no sul da Itália, James Gould se encontra subitamente responsável pelas entrevistas que permitiriam ou não a oficiais ingleses se casarem com italianas.  A necessidade dessa função surge do enorme número de oficiais britânicos que se enamoram das belas italianas e pedem permissão para casar.  Por sua vez, as autoridades inglesas não vêem com bons olhos esses casamentos por acharem que um homem casado não iria lutar com o mesmo empenho que um solteiro. 

Eis que a viúva e maître de cozinha, Lívia Pertini entra em sua vida, como cozinheira de James.  E suas delícias culinárias, os aromas de sua comida, a textura de sua massa, a excentricidade de suas bebidas abrem, para ele, as portas de um mundo novo e inebriante onde todos os sentidos parecem se imiscuir em uma única e plena experiência sensual.  Nessa aventura culinária ecos de outro escritor inglês setecentista, Henry Fielding com seu A História de Tom Jones publicado em 1749 vêm à mente nas cenas em que Lívia ensina James a comer ervilhas ou escargots.

Mas, há uma mudança de tom e uma mudança de atmosfera mais ou menos a três quartos do fim.  Até então tudo parece uma comédia romântica.  De um momento para o outro, como aconteceu na vida real, com a explosão do Vesúvio, o romance dá uma virada, deixa de ser tão bem humorado.  A guerra chega ao primeiro plano e com ela vêm outras seduções.  Talvez melhor descritas como o lado negro, o reverso do que até então se apresentara.  E aparece a sedução pela exploração, a sedução por extorsão, a sedução como arma de guerra.

Anthony Capella

Não é surpresa saber que esse romance já está a caminho de se tornar um filme.  De fato, por ser uma história passada na guerra, por seu alto astral e bom humor, tudo nela lembra os filmes dos anos 40 do século passado – também de guerra – com Katherine Hepburn, Cary Grant e outras estrelas Hollywoodianas das telas em preto e branco, em que romances bem humorados com fox-trot na vitrola, aconteciam inesperadamente.   Há quem possa comparar esse livro a dois outros romances, também ingleses, da década de 90, O bandolim de Corelli, de Louis de Bernières, publicado em 1994  [no Brasil, Record:1998] e de Chocolate, de Joanne Harris, publicado em 1999 [ no Brasil, Record: 2001],  que também viraram filmes.  Mas acho essas comparações superficiais.  Porque nenhum desses dois títulos parece ter o cuidado de um subtexto como o que transparece no romance de Capella.

O Oficial de casamentos examina o tema da sedução de diversos pontos de vista e se torna até mesmo um curioso quebra-cabeças para o leitor atento diferenciar todos os tipos de sedução retratados no romance, tal como nos distraímos quando temos em frente de nós um desenho com a pergunta: quantos triângulos você vê na figura acima?   Este é um bom romance, de fácil leitura.  Bom entretenimento.  E a gente ainda aprende uma ou duas coisas sobre a história da Segunda Guerra na Itália.   Bem documentado.  Para maiores detalhes o autor também colocou documentos na sua página na web. [ www.anthonycapella.com]  Recomendo.





Papa-livros, leitura para maio: O oficial dos casamentos, Anthony Capella

9 05 2011

Leitora reclinada, s/d

Imre Goth ( Hungria, 1893-1982)

óleo sobre tela, 99 x 75 cm

Leitura para MAIO, discussão a partir do dia 16


O oficial dos casamentos, Anthony Capella

SINOPSE

Durante a ocupação da Itália, na Segunda Guerra Mundial, o capitão inglês James Gould é enviado a Nápoles com uma missão curiosa: desencorajar os oficiais britânicos a se casarem com as italianas. O exército teme que os soldados percam a vontade de lutar se tiverem uma linda signorina à espera deles. Assim, Gould, o oficial dos casamentos, chega a uma cidade devastada e caótica, onde as regras são flexíveis demais para seus rígidos valores britânicos, e acaba se tornando um obstáculo aos matrimônios.

Criada sob a sombra ameaçadora do Vesúvio, Livia Pertini é uma cozinheira brilhante que encanta o pequeno vilarejo de Fiscinno com seus pratos. Ela se casa com um soldado de Mussolini, mas a guerra a torna viúva. Assediada por um homem a quem despreza e sob o duro racionamento de alimentos, a jovem vai para Nápoles a procura de emprego e, graças à manipulação dos habitantes da cidade, cansados das restrições aos casamentos, acaba na cozinha de Gould. Afinal, para os italianos, um homem bem-alimentado é feliz, e, claro, só pode desejar que os outros também sejam.

Apesar de todos os esforços de James, e do temperamento impetuoso de Livia, aos poucos as resistências de ambos são quebradas e eles se apaixonam. A moça o apresentará a universos até então desconhecidos: a culinária e o amor.

O oficial dos casamentos consegue extrair humor da tragicidade da guerra, contando com os tropeços do idioma e com uma leve malícia para arrancar boas risadas do leitor. A Itália surge com todas as suas cores e sabores em uma leitura de dar água na boca.

EDITORA: Record

Ano: 2011

Número de páginas: 496





Papa-livros, leitura para abril: O último cabalista de Lisboa, de Robert Zimler

23 03 2011

Leitora, 1925

Matthieu Wiegman (Holanda, 1886-1971)

óleo sobre tela

Leitura para ABRIL,  discussão a partir do dia 18

O último cabalista de Lisboa, Richard Zimler

SINOPSE

Lisboa, Páscoa de 1506. A cidade está prestes a passar por um dos momentos mais tristes de sua história. Milhares de judeus, que já haviam sido convertidos à força ao catolicismo, são perseguidos por fanáticos religiosos que os acusam de atrair a seca e a peste que assolam Portugal, prenúncio de uma época de perseguição religiosa instaurada pela Inquisição. Reinava então D. Manuel I, o Venturoso, e os frades incitavam o povo à matança. Dois mil cristãos-novos foram vítimas de um massacre em Lisboa durante as comemorações da Páscoa de Abril de 1506. Os mistérios em torno deste evento verídico são explorados neste extraordinário romance histórico de Richard Zimler, que já recebeu diversos prêmios literários na Europa e nos Estados Unidos.

“Em uma atmosfera densa e rica em detalhes, Zimler relata o pesadelo de ser judeu no tempo da Inquisição.”
The Wall Street Journal

“Best-seller internacional e instigante literatura de mistério, este romance também é uma angustiante descrição da perseguição aos judeus no século XVI, em Portugal, além de uma envolvente introdução à tradição judaica da cabala.”
Independent on Sunday

Editora: Best Seller

Ano: 2010 

Número de páginas: 420





Papa-livros, leitura para março: O Africano, de J. M. G. Le Clézio

28 02 2011

 

Meio-dia, s/d

Adrian Deckbar ( EUA, contemporânea)

Pastel,  100 x 130 cm

www.adriandeckbar.com

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Leitura para MARÇO,  discussão a partir do dia 21.

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SINOPSE

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Neste livro, o escritor françês Le Clézio (1940) tenta capturar a enigmática figura do pai através das lembranças de uma infância ao mesmo tempo cheia de deslumbramentos, libertações e dureza.   Ele nos leva para uma longa viagem à África, de 1928 até muito além do final da Segunda Grande Guerra.  A história é narrada por um homem que, pelas lembranças, refaz o caminho de seu pai durante as mais de duas décadas em que este trabalhou como médico militar nas colônias inglesas do continente africano. O livro também é uma tentativa do narrador de compreender sua infância dividida entre a Europa e a África e o difícil primeiro encontro com o pai aos oito anos de idade. A narrativa que, como outras do autor, mescla traços autobiográficos e ficcionais, une as emoções desse pai e desse filho num curto e profundo relato sobre a herança que invariavelmente nos é transmitida, como afirma o próprio autor na primeira frase do livro: “todo ser humano é resultado de pai e mãe”.

Editora Cosac & Naif

Ano: 2007

ISBN: 8575035894

Páginas – 136

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Nota: o autor recebeu o Prêmio Nobel de literatura em 2008.