Poema de finados, Manuel Bandeira

1 11 2014

 

 

 

 

George_Edmund_Butler_-_A_roadside_cemetery_near_Neuve_EgliseCemitério de estrada, próximo a Neuve Église

George Edmund Butler (Inglaterra, 1872 – 1936)

aquarela

 

 

Poema de finados

 

Manuel Bandeira

 

Amanhã que é dia dos mortos

Vai ao cemitério. Vai

E procura entre as sepulturas

A sepultura de meu pai.

 

Leva três rosas bem bonitas.

Ajoelha e reza uma oração.

Não pelo pai, mas pelo filho:

O filho tem mais precisão.

 

O que resta de mim na vida

É a amargura do que sofri.

Pois nada quero, nada espero.

E em verdade estou morto aqui.

 

Em: Antologia Poética, Manuel Bandeira, Rio de Janeiro, José Olympio: 1978, 10ª edição,pp: 88-89.





Belo belo, poema de Manuel Bandeira

19 08 2014

 

ARTHUR TIMÓTHEO DA COSTA - (1882 - 1923) Ziza no atellier - ost - 65 x 54 - cie - 1919Ziza no ateliê, 1919

Arthur Timótheo da Costa (Brasil, 1882-1923)

óleo sobre tela, 65 x 54 cm

 

Belo Belo

 

Manuel Bandeira

 

Belo belo minha bela

Tenho tudo que não quero

Não tenho nada que quero

Não quero óculos nem tosse

Nem obrigação de voto

Quero quero

Quero a solidão dos píncaros

A água da fonte escondida

A rosa que floresceu

Sobre a escarpa inaccessível

A luz da primeira estrela

Piscando no lusco-fusco

Quero quero

Quero dar volta ao mundo

Só num navio de vela

Quero rever Pernambuco

Quero ver Bagdá e Cusco

Quero quero

Quero o moreno da Estela

Quero a brancura da Elisa

Quero a saliva da Bela

Quero as sardas da Adalgisa

Quero quero tanta coisa

Belo belo

Mas basta de lero-lero

Vida noves fora zero.

 

Petrópolis, fevereiro de 1947.

 

Em: Antologia Poética, Manuel Bandeira, Rio de Janeiro, José Olympio: 1978, 10ª edição,pp: 135-136.

 

 





Rondó do capitão, poesia de Manuel Bandeira

19 11 2012

Soldadinho de chumbo, s/d

Marysia Portinari ( Brasil, 1937)

óleo sobre tela, 30 x 20 cm

Rondó do capitão

Manuel Bandeira

Bão balalão,

Senhor capitão.

Tirai este peso

Do meu coração.

Não é de tristeza,

Não é de aflição:

É só de esperança,

Senhor capitão!

A leve esperança,

A aérea esperança…

Aérea, pois não!

Peso mais pesado

Não existe não.

Ah, livrai-me dele,

Senhor capitão!

8 de outubro de 1940

Em: Manuel Bandeira Antologia Poética, Rio de Janeiro, Livraria José Olympio:1978, 10ª edição





Vou me embora para o passado — Jessier Quirino, para continuar o proveito dessas férias!

31 07 2011




Este é um vídeo para a diversão de final de férias.  Voltamos com postagens regulares, a partir de amanhã.





Canto de Natal — poema de Manuel Bandeira

7 12 2009

Nascimento de Jesus

Arte folclórica dos Estados Unidos, anônimo

 

Canto de Natal

 

                                                                          Manuel Bandeira

——–

O nosso menino

Nasceu em Belém

Nasceu tão-somente

Para querer bem.

———-

———

Nasceu sobre as palhas

O nosso menino.

Mas a mãe sabia

Que ele era divino.

——-

——-

Vem para sofrer

A morte na cruz,

O nosso menino.

Seu nome é Jesus.

———

———

Por nós ele aceita

O humano destino:

Louvemos a glória

De Jesus menino.

—–

—–

Em: Bandeira, antologia poética, Rio de Janeiro, José Olympio:1978, 10ª edição.

—–

 

Manuel Carneiro de Sousa Bandeira Filho (Recife, 19 de abril de 1886 — Rio de Janeiro, 13 de outubro de 1968)  poeta, crítico literário e de arte, professor de literatura e tradutor brasileiro.

Obras:

3 Conferências sobre Cultura Hispano-americana,  1959  

50 poemas escolhidos pelo autor , 1955  

A Autoria das Cartas Chilenas, 1940  

A Cinza das Horas, 1917  

A Cópula, 1986  

A Leste do Éden, 1958  

A Morte, 1965  

A Versificação em Língua Portuguesa    

Alumbramentos, 1960  

Andorinha, Andorinha  1965  

Antologia de Poetas Brasileiros Bissextos Contemporâneos  1946  

Antologia dos Poetas Brasileiros da Fase Parnasiana  1938  

Antologia dos Poetas Brasileiros da Fase Romântica  1937  

Antologia dos Poetas Brasileiros: fase moderna  1967  

Antologia dos Poetas Brasileiros: Fase Simbolista  1937  

Antologia Poética  1961  

Apresentação da Poesia Brasileira  1944  

Auto Sacramental do Divino Narciso, de Sóror Juana Inés de la Cruz    

Carnaval  1919  

Cartas de Mário de Andrade a Manuel Bandeira  1958  

Colóquio Unilateralmente Sentimental  1968  

Crônicas da Província do Brasil  1937  

De Poetas e de Poesia  1954  

Discurso de Posse de Manuel Bandeira na Academia Brasileira de Letras  1941  

Em Busca do Verso Puro, de Pedro Henríquez Ureña  1946  

Estrela da Manhã  1936  

Estrela da Tarde  1960  

Estrela da Vida Inteira  1966  

Flauta de Papel  1957  

Francisco Mignone  1956  

Glória de Antero  1943  

Gonçalves Dias  1952  

Guia de Ouro Preto  1938  

Itinerário de Pasárgada  1954  

Itinerários  1974  

Libertinagem  1930  

Literatura Hispano-americana  1949  

Macbeth, de Shakespeare  1958  

Mafuá do Malungo  1948  

Maria Stuart, de Schiller  1955  

Mário de Andrade: animador da cultura musical brasileira  1954  

Meus Poemas Preferidos  1967  

Noções de História das Literaturas  1940  

Noturno do Morro do Encanto  1955  

O Melhor Soneto de Manuel Bandeira  1955  

Obras Poéticas  1956  

Obras Poéticas de Gonçalves Dias  1944  

Obras-primas da Lírica Brasileira  1943  

Opus 10  1952  

Oração de Paraninfo  1946  

Os Reis Vagabundos  1966  

Panorama das Literaturas das Américas  1958  

Pasárgada  1960  

Poemas Traduzidos  1945  

Poemas-gráficos: 3 ensaios tipográficos no centenário do poeta  1986  

Poesia do Brasil  1963  

Poesia e prosa  1958  

Poesia e Vida de Gonçalves Dias  1962  

Poesias  1924  

Poesias completas  1940  

Poesias Escolhidas  1937  

Poesias, de Alphonsus de Guimaraens  1938  

Portinari  1939  

Recepção do sr. Peregrino Júnior  1947  

Recordações de Manuel Bandeira nos Arquivos Implacáveis de João Condé  1990  

Rimas, de José Albano  1948  

Rio de Janeiro em Prosa & Verso  1965  

Rubaiyat, de Omar Khayyan  1965  

Sonetos Completos e Poemas Escolhidos, de Antero de Quental  1942  

Um Poema de Manuel Bandeira  1956





Dia Nacional da Música Clássica: nascimento de Heitor Villa-Lobos

5 03 2009

candido-portinari-chorinho1942

Chorinho, 1942

Candido Portinari (Brasil 1903 – 1962)

têmpera sobre tela, 225 x 300 cm

Museu de Arte Moderna de Lisboa,

Portugal

 

Foi quando eu fazia parte do Coral do Colégio Pedro II no Rio de Janeiro, que comecei a apreciar, ainda que muito superficialmente, a obra de Villa-Lobos.  Infelizmente devo confessar que sofri do mesmo mal de que muito brasileiros sofrem:  passei a dar mais valor ao compositor brasileiro quando fui fazer a faculdade no exterior.  Naquela época fiquei extremamente surpresa com o conhecimento que as pessoas versadas em música clássica já tinham sobre o compositor brasileiro.  E a medida que os anos se passaram, quando eu ainda estava envolvida nos cursos de mestrado e doutoramento, percebi com prazer que rara era a semana em que não ouvia, na rádio National Public Radio dos EUA uma ou mais obras de Heitor Villa-Lobos, muitas vezes mais tocadas, do que obras de compositores americanos, seus contemporâneos, tais como Aaron Copeland ou John Cage.

 

O gosto pela música clássica no Brasil ainda está precário.  Mas hoje, no Dia Nacional da Música Clássica, o dia escolhido por ser a data d nascimento do carioca Heitor Villa-Lobos,  fui surpreendida pelas boas novas, numa pequena demonstração na televisão, sobre um grupo deCrianças pobres de Belo Horizonte que consquistou  o direito de se apresentar num espaço profissional por causa da música. O repertório é de Heitor Villa Lobos, símbolo da cultura nacional.   Um pouco antes, no Carnaval deste ano tivemos Heitor Villa-Lobos sendo homenageado pela escola de samba de Vila Isabel no Rio de Janeiro. 

 

Este ano, 2009, também celebramos no dia 17 de novembro, o cinquentenário da morte do compositor. Para lembrar Heitor Villa-Lobos, coloco aqui as tres letras que pertencem a diversos movimentos de diferentes Bacchianas da série de 9, compostas por Villa-Lobos.

 

 

O Trenzinho do Caipira (bachianas Brasileiras Nº 2)

 

 

Composição:  Heitor Villa-Lobos

Letra:   Ferreira Gullar

 

Lá  vai  o trem  com  o  menino

Lá  vai   a  vida  a  rodar

Lá  vai  ciranda  e destino

Cidade  noite  a  girar

Lá  vai  o  trem  sem  destino

Pro  dia  novo  encontrar

Correndo  vai  pela  terra,  vai  pela  serra,  vai  pelo  mar

Cantando  pela  serra  do  luar

Correndo  entre  as  estrelas  a  voar

No  ar,  no  ar …

 

 

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Paisagem com bananeiras,  1927

Cândido Portinari ( Brasil 1903-1962)

óleo sobre madeira,  22 x 27 cm

Coleção Particular

 

Bachianas Brasileiras, No.5 : Cantilena

 

 

Composição: Heitor Villa Lobos

Letra: Ruth Valadares Corrêa

 

Tarde uma nuvem rósea lenta e transparente.

Sobre o espaço, sonhadora e bela!

Surge no infinito a lua docemente,

Enfeitando a tarde, qual meiga donzela

Que se apresta e a linda sonhadoramente,

Em anseios d’alma para ficar bela

Grita ao céu e a terra toda a natureza!

Cala a passarada aos seus tristes queixumes

E reflete o mar toda a sua riqueza…

Suave a luz da lua desperta agora

A cruel saudade que ri e chora!

Tarde uma nuvem rósea lenta e transparente

Sobre o espaço, sonhadora e bela!

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Menino com Pássaro, 1957

Cândido Portinari ( Brasil 1903-1962)

óleo sobre tela,  65 x 53 cm

Coleção Particular

 

Bachianas Brasileiras, No.5 : Dança do Martelo

 

 

Composição: Heitor Villa Lobos

Letra de Manuel Bandeira

 

 

Irerê meu passarinho do sertão do Cariri,

Irerê meu companheiro,

Cadê viola ? Cadê meu bem ? Cadê Maria ?

Ai triste sorte do violeiro cantadô !

Ah ! Sem a viola em que cantavo o seu amô,

Ah ! Seu assobio é tua flauta de Irerê:

Que tua flauta do sertão quando assobia,

Ah ! Agente sofre sem querê !

Ah ! Teu canto chega lá no fundo do sertão,

Ah ! Como uma brisa amolecendo o coração,

Ah ! Ah !

Irerê, solta o teu canto !

Canta mais ! Canta mais !

Prá alembrá o Cariri !

 

Canta cambaxirra ! Canta juriti !

Canta Irerê ! Canta, canta sofrê

Patativa ! Bem-te-vi !

Maria acorda que é dia

Cantem todos vocês

Passarinhos do sertão !

Bem-te-vi ! Eh ! Sabiá !

La ! liá ! liá ! liá ! liá ! liá !

Eh ! Sabiá da mata cantadô !

Liá ! liá ! liá ! liá !

Lá ! liá ! liá ! liá ! liá ! liá !

Eh ! Sabiá da mata sofredô !

O vosso canto vem do fundo do sertão

Como uma brisa amolecendo o coração

 

Irerê meu passarinho do sertão do Cariri …

 

Ai !

 

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Heitor Villa-Lobos





Canto de Natal — poesia de Manuel Bandeira

18 12 2008

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Natividade, 1746, 1754

Painel de azulejos portugueses

Igreja Basílica do Senhor do Bonfim

São Salvador, Bahia.

 

 

Canto de Natal

 

                                                  Manuel Bandeira

 

 

O nosso menino

Nasceu em Belém.

Nasceu tão-somente

Para querer bem.

 

Nasceu sobre as palhas

O nosso menino.

Mas a mãe sabia

Que ele era divino.

 

Vem para sofrer

A morte na cruz,

O nosso menino.

Seu nome é Jesus.

 

Por nós ele aceita

O humano destino:

Louvemos a glória

De Jesus menino.

 

 

Em: Antologia Poética, Manuel Bandeira, José Olympio: 1978, Rio de Janeiro.

 

Manuel Bandeira (Recife PE, 1884 – Rio de Janeiro RJ, 1968) foi poeta, crítico literário e de arte, professor de literatura e tradutor brasileiro. Teve seu primeiro poema publicado aos 8 anos de idade, um soneto em alexandrinos, na primeira página do Correio da Manhã, em 1902, no Rio de Janeiro. Cursou Arquitetura, na Escola Politécnica, e Desenho de Ornato, no Liceu de Artes e Ofícios, entre 1903 e 1904; precisou abandonar os cursos, no entanto, devido à tuberculose. Nos anos seguintes, passou longos períodos em estações climáticas, no Brasil e na Europa.

 

Obras:

 

 

Poesia

 

 

A cinza das horas, 1917

Carnaval, 1919

O ritmo dissoluto, 1924

Libertinagem, 1930

Estrela da manhã, 1936

Lira dos cinquent’anos, 1940

Belo, belo, 1948

Mafuá do malungo, 1948

Opus 10, 1952

Estrela da tarde, 1960

Estrela da vida inteira, 1966

 

Prosa

 

 

Crônicas da Província do Brasil – Rio de Janeiro, 1936

Guia de Ouro Preto, Rio de Janeiro, 1938

Noções de História das Literaturas – Rio de Janeiro, 1940

Autoria das Cartas Chilenas – Rio de Janeiro, 1940

Apresentação da Poesia Brasileira – Rio de Janeiro, 1946

Literatura Hispano-Americana – Rio de Janeiro, 1949

Gonçalves Dias, Biografia – Rio de Janeiro, 1952

Itinerário de Pasárgada – Jornal de Letras, Rio de Janeiro, 1954

De Poetas e de Poesia – Rio de Janeiro, 1954

A Flauta de Papel – Rio de Janeiro, 1957

Itinerário de Pasárgada – Livraria São José – Rio de Janeiro, 1957

Andorinha, Andorinha – José Olympio – Rio de Janeiro, 1966

Itinerário de Pasárgada – Editora do Autor – Rio de Janeiro, 1966

Colóquio Unilateralmente Sentimental – Editora Record – RJ, 1968

Seleta de Prosa – Nova Fronteira – RJ

Berimbau e Outros Poemas – Nova Fronteira – RJ

 

 

IGREJA DE NOSSO SENHOR DO BONFIM é um dos principais cartões-postais da cidade.  A Igreja Basílica do Senhor Bom Jesus do Bonfim, ou Igreja de Nosso Senhor do Bonfim é um símbolo da religiosidade baiana. Sua construção teve início em 1740 com a chegada na Bahia do Capitão de Mar e Guerra, Theodósio de Faria.  Devoto do Senhor do Bonfim, em Setubal, Portugal,  trouxe de Lisboa uma imagem semelhante aquela,  esculpida em pinho de riga, medindo 1,06m de altura.  Conta-se que o Capitão português trouxe a imagem como agradecimento por haver sobrevivido a uma tempestade em alto-mar, tendo prometido construir uma igreja no ponto mais alto que avistasse, de onde pudesse acompanhar a entrada da Baía de Todos os Santos.

 

Em 1745, a imagem foi guardada na Igreja da Penha de França de Itapagipe, onde permaneceu até a construção do templo de Nosso Senhor do Bonfim. Nesse mesmo ano, foi fundada uma irmandade de devotos leigos que foi denominada “Devoção do Senhor do Bonfim”.   A construção levou vinte-seis anos de 1746 a 1772.  A imagem do santo foi passada para a nova igreja, em 1754, em uma procissão que contou com a presença de grande parte da população da cidade e do então Governador da Bahia. A imagem de Nossa Senhora da Guia, também trazida de Portugal por Theodósio de Faria, foi também colocada na Igreja de Nosso Senhor do Bonfim e passou a ser venerada junto com o santo.