Cuidado, quebra!

31 03 2025

Medalhão de majólica [faiança] italiana, c. 1500

Provavelmente Pesaro ou Deruta

26,6 cm diâmetro

 

 

Medalhão circular com borda decorada no padrão escamas de peixe, quadrados vermelho e verde e desenhos florais alternando com padrão treliça com fundo cor de pêssego.  No centro um unicórnio laranja, sobre fundo verde com árvores azuis e nuvens cor de laranja,

 

 





Esmerado: Carruagem em prata e prata dourada, c. 1900

30 03 2025

Carruagem de prata e prata dourada, na forma de barril, c. 1900

Provavelmente Austro-húngara

comprimento: 40,6 cm;  peso total, 4.087 gramas

 

Carruagem em formato de barril sobre quatro rodas, puxada por dois cavalos que portam selas em esmalte vermelho.  O corpo da carruagem é decorado com folhas de parreira em esmalte verde e grandes cachos de uvas formados por pérolas, corais e contas coloridas. O condutor está à frente do veículo, com dois anjinhos (putti) no topo.  Os cestos pendurados dos dois lados são removíveis.  Atrás há uma torneira encimada por um puto. O conjunto está sobre uma base retangular cinzelada no desenho de treliça e folhagem em volutas nos pés de bronze. 

 

 





Imagem de leitura: Pierre-Auguste Renoir

30 03 2025

A lição de escrita, c. 1905

Pierre-Auguste Renoir (França, 1841-1919)

óleo sobre tela, 46 x 55 cm

A ser leiloado em 9-4-2025, Christie’s de Paris

um dos quadros do colecionador: Henri Cannone

 

 





Grande coleção de obras raras vai a leilão em Nova York, em Maio de 2025

5 03 2025

Natureza morta com rosas, tulipas, um girassol, lírios, uma flor de lis, papoulas, madressilva e outras flores em vaso de vidro com dois pássaros, um gafanhoto e um caracol, c. 1674, obra de Jan Davidszoon de Heem (Holanda, 1606-1684).

 

 

Homem escrevendo, em um ateliê de artista, 1631-32, obra de Gerrit Dou (Holanda, 1613-1685).

 

 

 

Vista de Olinda com ruínas de Igreja Jesuíta, sem data, obra de Frans Post (Holanda, 1612-1680)

 

 

 

Natureza morta com couve-flor, cesto com ovos, alhos-porós, e peixe e outros utensílios de cozinha, década de 1760, obra de Luis Meléndez (Itália-Espanha, 1716-1780).

 

 

 

Morangos selvagens em Cumbuca Kraak Wan-Li , 1704, obra de Adriaen Coorte (Holanda, 1665-1707).

 

 

 

 

Par de retratos: Menino tocando violino e Menina cantando, década de 1620, obra de Frans Hals (Holanda,1580-1666).

 

Todas as obras, e são sessenta, da coleção particular do banqueiro Thomas Saunders e sua esposa.  Uma coleção composta por muitos anos de dedicação, de estudo, persistência e conselhos de um conhecedor das artes, George Wachter.

Espera-se que a coleção traga por volta de cento e vinte milhões de dólares.  O Frans Post pode ser de interesse para colecionadores brasileiros, particulares ou museus.  A expectativa é que a  venda fique entre seis a oito milhões de dólares. 

 

Fotografias, cortesia da Sotheby’s.





Caixas de concha

17 11 2024
Caixa da época vitoriana [Século XIX], em madeira, decorada com conchas variadas.  Origem provavelmente inglesa.

 

 

Conchas foram sempre de grande fascinação para o ser humano.  Elas eram facilmente encontradas em praias.  Aqui mesmo no Rio de Janeiro, na minha infância e adolescência as praias da Zona Sul tinham muitas conchas dos mais diversos moluscos, que machucavam nossos pés se as pisássemos, mas que ao mesmo tempo nos fascinavam.  Não era fora do comum trazermos para casa uma concha mais bonita, com um formato diferente ou aquela que tinha listrinhas coloridas de diversos tons de ocre, amarelo, bege e pérola, numa verdadeira comunhão com a natureza admirando aqueles desenhos perfeitos.

No século XIX, caixas como a mostrada acima, foram populares.  Mas elas caem, para mim, naquela área do gosto estranho, duvidoso, da era vitoriana, que abusava dos excessos e acabava com objetos como essa caixa, que não sei porque me lembra mais de rito funerário do que de um lugar aprazível para colocar um joia ou preciosidade.

Em 2022, uma rara coleção de caixas de concha foi à venda na loja de leilões Christie’s em Londres. As caixas, não muitas, pertenciam à coleção particular de Anthony e Marietta Coleridge. Seria de se esperar, que suas caixas de concha fossem verdadeiras joias, já que Anthony Coleridge foi CEO e mais tarde presidente da casa de leilão Christie’s em South Kensington.

Essas são duas caixas de conchas, com montagem em ouro. A caixa à direita conhecida como Caixa de Turritella foi transformada por volta de 1765.  Turritella é o nome latino para um caracol marinho, em forma de cone alongado com diversas rotações.  Turritella em latim e em italiano significa pequena torre,  Esta concha tem cerca de 10 cm de comprimento.  Os adornos de acabamento e dobradiça de ouro mostram desenho rococó com volutas e flores e há uma faixa em esmalte branco com os dizeres ‘NUL PLAISIR SANS VOUS VOIR’ [não há prazer sem lhe ver, que bela mensagem de alguém enamorado!]. A concha cancerallia, que acompanha nesta foto a Turritella,tem a tampa forrada por dentro em ouro, cinzelado para simular a textura natural da concha e mede 9 cm no comprimento.

Outras quatro caixas, todas para rapé, da mesma coleção, variam em forma. Uma é do período de George III, claramente assinada pelo ourives William Scott, de Dundee, datando de 1780. Duas outras,  uma tem acabamento em prata e outra espessurada à prata [também conhecido com banho de prata] datam respectivamente do final do século XVII e início do XIX.  Medem: 9,2 cm; 9 cm e 10,2 cm;

 

A caixa russa com tampa parcialmente em concha e montagem espessurada à prata, mostra assinatura na montagem.  Tem cobertura gravada com pássaros sobre flores; uma com cobertura espessurada a ouro  com relevos e gravações de dois pássaros rodeados por volutas com dois passarinhos rodeados por flores.

Quando vemos esses exemplos extraordinários de pequenas caixas de conchas, deixamos de lado a ideia das não tão elegantes caixas com adornos de conchas populares na era vitoriana.  Um dos meus professores de história da arte, na Universidade de Maryland, que era também um dos curadores da National Gallery em Washington DC repetia para nós alunos, sempre que podia.  Olhe e observe sempre o melhor que há na arte, Vá aos museus.  Examine coleções.  Aos poucos de tanto ver, mas de tanto ver coisas boas e coisas não tão boas, seu olhar vai saber em fração de segundos se algo merece ou não sua atenção.  Ele queria que apurássemos os olhos.

Muitos anos mais tarde, lendo o livro Blink, de Malcolm Gladwell percebi que esse professor estava certo.  É a teoria das 10.000 horas de trabalho.  De tanto ver, observar, examinar objetos da sua época de interesse, ou melhor da sua área de especialização, mais precisa é a avaliação sobre o que você vê.





Par de vasos chineses …

5 04 2024
Par de vasos chineses, vendido em leilão

 

 

 

Há algo romântico, que não consigo resistir, e portanto passo para vocês, em notícias como esta que me chegou, hoje, através de um email da Artnet. Este par de vasos, na fotografia acima, foi encontrado em uma residência na Inglaterra.  O dono, um homem nos seus trinta e tantos anos, limpava a casa de sua mãe em Portsmouth.

Esses vasos não são imponentes; têm um pouco menos de 25 cm de altura.  São,  como vemos, arredondados (por isso chamados de “moon flasks” [frascos de lua]. São em porcelana e têm decoração em azul com representações de morcegos e pêssegos.  Por que?  Porque esse animal e essa fruta têm importante simbologia na cultura chinesa.  Morcegos representam fortuna, virtude, saúde, felicidade e uma morte tranquila.  Pêssegos, se referem à longevidade, associados  ao deus da vida longa, Shoulin, na religião Taoista. Pêssegos também representam saúde e felicidade e são um símbolo popular da primavera.

Mas nada disso, explica o que acho romântico sobre esses vasos.  O homem que os encontrou pensou que eram bonitos, mas nunca imaginou que fossem ser motivo de uma guerra de lances no leilão para onde ele havia mandado alguns pertences de sua mãe.  Não pensou também que ele poderia fazer a reforma na casa, de que precisava, e no mesmo ano sair de férias, graças a esses vasos chineses porque suas economias não davam para tanto exagero.

Inicialmente o herdeiro dos vasos levou-os a um antiquário.  Este, na dúvida, consultou o leiloeiro regional Nesbit que aceitou os vasos para venda como reproduções  contemporâneas de vasos do século XVIII, mesmo apresentando marcas de Qianlong, 5º imperador manchu da dinastia Qing.  Isso porque há no mercado tão boas cópias com as mesmas marcas,feitas pelos próprios chineses de obras que eles mesmos produziram em séculos passados que provar que algo é antigo às vezes se torna extremamente difícil. Os vasos foram a leilão com o lance inicial de £100 (cem libras) [R$640].  E como todo bom leiloeiro dos dias de hoje, o catálogo com as fotos foi para a web.

No momento que as fotos atingiram o mercado um interesse fora do comum sobre esses vasos fez-se sentir, antes do leilão. O leiloeiro chamou um especialista que verificou que os vasos seriam, de fato, do século XVIII.  Quando o leilão aconteceu, em vinte minutos, um comprador chinês, levou os vasos pela quantia de £327.000 [2.093.856,21, hoje].  Um vendedor muito feliz, tenho certeza, poderá fazer a reforma na casa e ainda tirar as férias que planejava. 

 

 

Marca nos vasos da dinastia Qing




Esmerado: caixa de escrita, Dinastia Ming, século XV

13 05 2014

 

 

cinabarCaixa de escrita, em laca vermelha, Dinastia Ming, século XV

 

Caixa retangular lembrando um qin, com a tampa esculpida, com incisões atravessando diversas camadas de laca vermelha até o fundo ocre, mostrando dois pássaros com longas caudas que voam por entre flores de peônias de encontro folhagem profusa com botões de flores, e plumas dos pássaros delicadamente incisos com estrias. Os lados esculpidos com folhagem ruyi que parecem semelhantes aos lados da caixa. A caixa esconde pedra de tinta na forma de um qin, almofada de tinta com inscrição de um poema imperial e dois pincéis em seus receptáculos de bambu. O interior da caixa em laca negra. 33 cm. Coleção particular japonesa, à venda na Casa de leilão Southeby’s em outubro de 2012.





Um livro por 30 milhões de dólares?

18 04 2013

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Um livro de salmos publicado em 1640 poderá ser vendido por uma quantia entre 15 a 30 milhões de dólares no leilão do dia  26 de Novembro de 2013, que acontecerá na casa de leilões Sotheby’s em Nova York.   Responsáveis pelo leilão acreditam que este será o livro mais caro já vendido.  Com o nome de Bay Psalm Book, este foi o primeiro livro impresso em território americano.  Pertence à Igreja Old South em Boston e é um de dois volumes na coleção de livros raros da igreja que chega a 2.000 volumes.  A igreja manterá um dos volumes do mesmo livro de salmos, que tem em sua coleção.  Permanecerá na coleção da igreja o  volume que lhe foi doado pelo quinto ministro dessa igreja, Reverendo Thomas Prince.

Livros que custam milhões de dólares não são muitos, mas existem. A própria casa de leilões já teve vendas que alcançaram a soma de USD$ 11.000.000,00 – onze milhões de  dólares, por um volume.   Mas a casa acredita que este livro de salmos possa chegar aos USD$30.000.000 — trinta milhões de dólares.  O último Bay Psalm Book a ir a leilão foi em 1947, quando foi comprado pela Universidade de Yale por USD$ 151.000,00 – cento e cinqüenta mil dólares.  Esta é uma das grandes raridades no mundo dos livros.

A edição inicial do Bay Psalm Book foi de 1.700 volumes.  Poucos sobreviveram.  Foram usados pelos puritanos até que o desgaste natural por uso contínuo deixassem os livros em condições tão precárias que eram impossíveis de ler.

O comprador desse livro deve ser uma universidade ou instituição semelhante.  Mas há colecionadores particulares que gostariam de ter esse volume em mãos.  Só há uma certeza, no entanto, para os especialistas da casa de leilões: o livro permanecerá nos Estados Unidos, indo para um comprador americano, porque sua importância, como documento, está unicamente relacionada à história americana.   Este foi o primeiro livro produzido nos Estados Unidos, pelos puritanos que viviam em condições extremamente precárias.  É o primeiro livro por americanos, publicado nos Estados Unidos.

A Igreja planeja usar os fundos para fazer reparos no prédio da igreja. Mas continuará a manter sua coleção de mais de 2.000 de manuscritos e livros raros.

FONTE: ABC NEWS





Um tesouro, a biblioteca Valmadona, ainda errante e sem destino final

13 05 2011

Dois intelectuais judeus lendo as notícias, 1998

Maher Morcos (Egito, 1952)

Em dezembro de 2010 o patrimônio da Biblioteca Valmadona foi a leilão na Southeby´s de Nova York.  O arrematante, anônimo, pagou bem mais do que os USD $25.000.000,00 – vinte e cinco milhões de dólares de reserva — para adquirir uma das mais espetaculares bibliotecas judaicas.  Intelectuais do mundo inteiro e principalmente aqueles cujas especialidades requerem o conhecimento de textos judaicos incomuns sofreram até hoje por não saber onde foi parar essa coleção assombrosa que havia  tomado as estantes – montadas para este evento – nas paredes dos salões de 220m² da exposição pré-venda da casa de leilões.  Nessas estantes estavam alinhados aproximadamente 13.000 livros e manuscritos colecionados por um só homem: Jack V. Lunzer.  Nascido na Antuérpia em 1924, Lunzer, que hoje vive em Londres, enriqueceu no comércio dos diamantes industriais.  Mas ao longo dos anos foi também colecionando textos escritos e impressos em hebraico.

A coleção que leva o nome de Valmadona – em homenagem à cidade na Itália dos antepassados de Lunzer – é considerada uma mais completas coleções do mundo de textos em hebraico.  Dentre suas curiosidades estão uma Bíblia Hebraica, escrita à mão do ano de 1189 – o único texto inglês em hebraico de antes de 1290, quando o rei Eduardo I expulsou os judeus.  Cabe lembrar que em 1190 os judeus da cidade de York foram massacrados, e seus pertences – entre eles muitos livros, manuscritos – foram roubados e vendidos fora da Inglaterra, onde este texto foi encontrado pelo colecionador.

Exposição pré-venda da Biblioteca Valmadona, Foto: The New York Times.

Outra curiosidade não só pelo volume, mas também pela história de sua aquisição é  uma edição do Talmude da Babilônia, datando de 1519-1523, impresso em Veneza, pelo editor cristão Daniel Bomberg.   O primeiro contato de Lunzer com este volume, foi na Abadia de Westminster, em Londres, onde o achou cheio de poeira, de alguns séculos provavelmente.  Eventualmente veio a adquiri-lo por uma permuta com a abadia, oferecendo em troca uma velha cópia do Registro Original da abadia , um documento com mais de 900 anos de idade.

Surpresas parecem estar escondidas em muitos desses livros.  Quem poderia acreditar, por exemplo, que máximas tais como:  Faça dos seus livros seus companheiros, ou Deixe sua estante de livros ser o seu jardim, já eram conselhos pertinentes no século XII, como está gravado no manuscrito judeu-espanhol do estudioso Judah Ibn Tibbon, em um volume dessa coleção?

Para se ter noção de quão abrangente é a coleção da Biblioteca de Valmadona, talvez valha lembrar, que apesar de a prensa móvel ter sido inventada na Alemanha por Gutenberg, por volta de 1439, e de sua primeira publicação ter sido a Bíblia – hoje chamada a Bíblia de Gutenberg — , judeus  no século XV não podiam ser membros das guildas de imprensa, na Alemanha.  Por causa disso, os livros publicados em hebreu através da prensa móvel apareceram primeiro na Itália, a começar por Roma em 1470.  Depois disso, diversas outras cidades italianas deram licenças para a impressão de livros em hebreu.  Mas essas permissões eram dadas e retiradas com grande facilidade, ao bel-prazer dos dirigentes locais.  Um exemplo disso vem da cidade de Cremona, onde a permissão para a impressão de textos durou só 10 anos, de 1550 a 1560.  Pois cada um dos livros publicados nesse período em hebreu está presente na coleção arrebanhada por Lunzer.

Foto: The New York Times.

Quando se fala dessa coleção espetacular temos também que lembrar das vicissitudes que circundaram os textos hebraicos.  No artigo do The New York Times, A Lifetime’s Collection of Texts in Hebrew, at Sotheby’s Edward Rothstein, nota que só o Talmude, por exemplo, foi objeto de grandes perseguições; esses textos legais, foram confiscados em Paris em 1240, na Alemanha em 1509, e queimados por decreto papal na Itália em 1553.  Que ainda haja cópias intactas e que uma pertença a uma coleção de judaica é uma demonstração não só da persistência que Lunzer demonstrou ao coletar esses textos, mas também da raridade de alguns exemplares da produção intelectual de um povo.

Lunzer  não se interessou nunca pelas publicações em hebreu das Américas.  Sua atenção estava voltada para a documentação das várias comunidades judias no mundo, efêmeras, publicações de séculos passados, de comunidades que produziram textos em hebraico. Como ele mesmo lembra, no artigo mencionado acima, cada um desses volumes só foi impresso quando alguém deu  permissão para ser impresso.  “Cada um deles chora sua própria história.”  Mas hoje, aos 86 anos, Lunzer quer ter certeza de que sua busca, compra e a arrecadação desses textos, servirá para futuras gerações de estudiosos.  Esse será um de seus legados.

Foto: The New York Times.

Grande ansiedade tomou conta dos estudiosos  desde a conclusão do leilão da Biblioteca Valmadona, pela Southeby’s em dezembro de 2010.  O que todos se perguntavam até recentemente era: onde foram parar esses livros, esses documentos da nossa herança cultural?  O arrematante continuava anônimo e uma grande dúvida pairava no ar, até que neste início de maio, através de um artigo de Paul Berger, no The Jewish Daily Forward, Treasured Judaica Library, Feared Lost, Is Back On the Market, ficou-se sabendo que a compra não foi efetuada.  Na verdade, a coleção inteira, todos os seus 13.000 volumes, ainda estão na casa de leilões em Nova York.  Aparentemente o comprador não conseguiu provar para satisfação da Fundação da Biblioteca Valmadona, que as condições de compra iriam ser cumpridas.

E quais são essas condições?

A coleção precisa ser mantida junta, sem venda de qualquer texto, por mais insignificante que pudesse ser considerado.  Essas condições foram claramente enunciadas antes do leilão, e foi justamente para proteger esse patrimônio que a Fundação da Biblioteca Valmadona foi criada. No entanto, após o leilão, o comprador se viu forçado a retirar seu lance, uma vez que não pode demonstrar satisfatoriamente para os interessados que tinha interesse, poder e o compromisso de manter as condições estipuladas pré-venda.

Jack V. Lunzer, foto: The New York Times.

Todo mundo sabe que a coleção Valmadona oferece uma oportunidade sem igual de se adquirir uma das grandes bibliotecas judaicas privadas”, admite Sharon Lieberman Mintz, curadora de arte judaica da Biblioteca Teológica Judaica de Nova York e que também é consultora-sênior de arte judaica da Southeby’s.  A julgar pelo número de visitantes da exposição pré-venda, mais de 4.000 pessoas por dia, formando filas em volta do quarteirão, Sharon Lieberman Mintz  mostra que está certa, o grande público já se conscientizou do valor do trabalho de aquisição a que Lunzer se dedicou nos últimos 50 anos.  E não é por falta de interesse que bibliotecas do mundo inteiro continuam tentando levantar fundos para adquirir este tesouro.  A Biblioteca do Congresso nos Estados Unidos ofereceu, em 2002,  USD 20.000.000 – vinte milhões de dólares, para a biblioteca que estava avaliada na época em USD 30.000.000.  Apesar de negociações dos dois lados, o acordo de compra não foi validado.  Há ainda muitas outras instituições interessadas,. Entre elas conta-se  a Biblioteca Nacional de Israel, os departamentos de Estudos Judaicos tanto da Universidade de Columbia em Nova York assim como seus equivalentes da Universidade de Pensilvânia, Universidade de Nova York, entre outras.

O custo parece ser até agora o obstáculo mais mencionado. Talvez seja um símbolo dos interesses de nossa época, se levarmos em consideração que ontem, dia 12 de maio de 2011, um único quadro do artista Andy Wharol, LIZ NUMBER 5  [um retrato da artista Elizabeth Taylor] vendeu em leilão na Phillips de Nova York, por USD $ 27.000.000 – vinte e sete milhões de dólares.  É uma pena que uma coleção com 13.000 manuscritos históricos não consiga levantar o mínimo de USD$ 25.000.000 – vinte e cinco milhões de dólares necessários para sua aquisição.

Mas a esperança de que essa coleção ainda vá ser comprada por uma instituição pública não morreu. Desde que a notícia circulou pelos meios intelectuais sobre a venda frustrada, e sobre a volta ao mercado dessa coleção, o interesse na Biblioteca Valmadona parece ter re-acendido.  Seria uma grande aquisição para qualquer biblioteca do mundo, em qualquer lugar.  Porque a história dos judeus está tecida na história do mundo ocidental de maneira inescapável, e uma biblioteca como essa certamente tornará qualquer cidade, em que a coleção se estabeleça, num grande centro de pesquisa internacionalmente aclamado.





Jasper Joffe um artista de seu tempo

3 08 2009

CLOWN FACES, 1999, Jasper Joffe (Inglaterra, 1975), 30x30cm, ost

Caras de Palhaços, 1999

Jasper Joffe ( EUA/Inglaterra, 1975)

óleo sobre tela, 30 x 30 cm

 

Nesta semana, serão leiloados todos os pertences do conhecido artista plástico inglês Jasper Joffe.  Ele nasceu nos EUA, mas foi com 8 anos para a Inglaterra, de onde nunca saiu, teve sua formação artística e sua carreira profissional na Ilha.  Sua arte, assim como sua visão do mundo, tem uma forte identidade britânica.    Uma identidade talvez mais ainda acentuada, quando considerarmos que um dos fortes traços da cultura inglesa é a aceitação e cultivo de excentricidades entre seus habitantes.  Eles são os primeiros a reconhecer que têm uma tendência a pensar e agir “outside the box” ou melhor, fora dos padrões da normalidade.   Essa liberalidade para com o comportamento próprio e para com o do vizinho sempre permitiu que personalidades extravagantes fizessem parte da textura social.   Esta característica é tão marcante que em 2003 fez parte de uma campanha para incentivo do turismo interno da ilha.  Campanha que apregoava entre outros eventos: encantadores de minhocas, corridas de caracóis, brigas de dedões do pé, competição de rolar queijos morro abaixo, festival do alho e trekking com lhamas. 

Seguindo os passos de seus conterrâneos, Jasper Joffe tem explorado o caminho da excentricidade.  Já famoso, tornou seu nome mais corriqueiro ainda quando organizou a Free Art Fair, chamada de “Feira para as vacas magras” [The art fair for the credit crunch] uma paródia da Frieze Art Fair, onde trabalhos de arte renderam alguns milhões de libras, a  Free Art Fair reuniu 50 artistas – conhecidos e não tão conhecidos  —   que apresentaram seus trabalhos para venda por frações mínimas de seus preços no mercado.  

 

Jasper Joffe

O artista plástico Jasper Joffe.

 

Agora, Jasper Joffe está colocando sua vida inteira num leilão.  Isso mesmo, todos as suas possessões.  Para dar uma idéia aqui está uma amostra:

• 100 quadros incluindo retrato de Himmler do The Beauty Show, uma versão do mesmo quadro comprado por Charles Saatchi.

• Centenas de pincéis que foram lavados freqüentemente e com carinho

• Camisas da marca Lacoste em dezenas de cores

• 10 ternos, incluindo um Richard James de linho branco usado por Joffe em sua formatura no Royal College

•  Um casacão de couro negro, longo, Armani,  comprado em Roma quando o artista vendeu um quadro a um dentista

• Um par de sapatos feitos a mão por Ducker and Son comprado pelo artista no seu primeiro ano na universidade de Oxford.

 • Uma gravura de Tracey Emin que Joffe comprou depois de passar a noite em claro numa fila na liquidação Absolut, na escola de arte do Royal College.

• Mais de 800 livros, incluindo a coleção do artista de primeiras edições de escritores contemporâneos, livros de arte e outras edições raras.

• Um Mixer da Kitchenaid em aço inoxidável.

 

QUEEN II, jasper-joffe (EUA 1975)

Queen II

Jasper Joffe ( UK 1975)

óleo sobre tela

 

Com o nome de The Sale of a Lifetime (A Liquidação de uma Vida), a venda abre nesta terça-feira na Generation Gallery, ao leste de Londres.  O fator precipitador deste rompante foi uma desilusão amorosa:  Joffe, de 33 anos, foi abandonado pela namorada no último Natal.  A idade, aqui, é um fator importante.  Pois o artista aproveitou a simbologia da idade com que Cristo morreu para “colocar tudo o que possuo em uma exposição e à venda, posso perceber exatamente onde estou já que terei 34 anos de idade na semana que vem“, disse Joffe.  A venda inclui só 33 lotes, custando 3.333 libras cada (cerca de R$ 10.300).  “Estou vendendo minha vida toda por 109 mil libras (cerca de R$ 336 mil). Para os pertences de toda uma vida não é muito“, diz ele.

 

Jasper Joffe não é o primeiro a dar uma guinada em sua própria vida e tentar recomeçar do zero.  Nem é ele o primeiro artista a vender todos os seus pertences com o fim de mudar radicalmente.   Mas graças à sua personalidade esfuziante, e à tendência de conseguir transformar projetos em grandes eventos, neste momento, com a venda de seus  objetos pessoais, com a mudança radical e a certeza de uma trajetória de vida interrompida para ser recomeçada logo adiante, fazem do artista alguém que parece exprimir melhor que qualquer outro artista plástico da hora, o espírito de seu tempo.  Tudo é um evento.  Tudo é para ser testemunhado em público.  A vida, o dia a dia, o momento corriqueiro como parte do reality-show do dia, da cena.  

 

joffe

Jasper Joffe

 

Não é importante se gostamos ou não dos trabalhos de Joffe.  Se teríamos ou não uma de suas telas em nossas paredes.  Não acredito que se eu pudesse, eu comprasse qualquer um de seus quadros.  Acho a maioria do que já vi de uma brutalidade  muito grande, com uma temática que prefiro passar ao largo, freqüentemente unindo sexo e violência.  No entanto, há uma parte de mim, talvez o meu lado mais rebelde, ou até mais teatral, que aprecia este comportamento, essa irreverência para com o que outros e até mesmo seus colecionadores dão valor.  É justamente este espírito de rebeldia, de ir um ou dois passos além da norma, que o mostra colorindo do lado de fora do desenho,  que o faz um verdadeiro excêntrico, e que o distingue dos demais.   Talvez eu gostasse de ter esta coragem, de estar um pouco menos enquadrada no mundo comme il fault – no que é esperado —  e por isso aprecie tanto suas atitudes.  Tenho certeza que depois de todo o circo, depois de toda a venda, Jasper Joffe, saberá se renovar, se encontrar de novo.  Acho que eu e algumas outras pessoas que conheço poderíamos usar de vez em quando desta re-colocação, de um virar proposital de ponta-cabeça de tudo que nos cerca e nos faz quem imaginamos ser.  Stunt de publicidade ou não, deve ser gostoso