Luxo na Roma antiga: calor no símbolo do poder

27 10 2025
Mosaico romano e casal reclinado na cama. cópia de obra grega. 

 

Quando vemos as ruínas das casas romanas, raramente nos damos conta de que abaixo dos complexos mosaicos, se as casas eram de pessoas de posses ou de influência, poderia haver um sistema de aquecimento do chão, principalmente em comunidades romanas localizadas em território de longos invernos.

Os romanos foram os grandes engenheiros do mundo ocidental, não há como negar.  Muito do que inventaram e construíram ainda é usado nos dias de hoje, com adaptações e ajustes, é claro.  O sistema de aquecimento do piso das casas luxuosas do império, leva o nome de hipocausto romano.  Era baseado no ar quente que circulava por dutos.  Esse ar quente vinha de fornalhas, mantidas em constante lume através de escravos: homens aprisionados, de qualquer lugar do planeta mas terras incorporadas ao império depois de guerras. 

 

 

 

O hipocausto apareceu primeiro como um serviço à população, fazendo possível o aquecimento da água quente para os populares banhos públicos.  Mais tarde o mesmo sistema foi transposto para as casas dos muito abastados, assim como hoje vemos casas de pessoas com posses que usufruem de cinemas em casa, de academia de exercícios em casa e outros luxos privados. 

O primeiro hipocausto de que se tem notícia é do século I AC, construído por arquitetos que serviam a Marcus Agrippa, genro do imperador Augustus.  O sistema foi implantado nos banhos públicos não só em Roma, como em suas províncias. Mas a técnica se espalhou rapidamente e foi adotada tanto para o consumo público como para as casas particulares. Já no século II da nossa era, sob o reinado de Adriano e de Antoninus Pius o aquecimento dos pisos das casas ricas do império era bastante comum.  E o aquecimento do lar se transformou num símbolo de luxo e riqueza.

 

 

Ruínas mostrando o sistema de aquecimento de um banho romano em Chester, Inglaterra.





Esses belos frascos têm 2.000 anos de idade!

8 05 2024
Frascos e garrafas encontrados na França, em Nîmes, do primeiro século da nossa era.

 

 

Uma escavação para a construção de um bairro residencial em um subúrbio da cidade de Nîmes na França descobriu esses belíssimos exemplos de frascos e garrafas de vidro romano datando do século I, DC.  Eles estavam no local das piras funerárias para cremação de corpos em um cemitério romano da antiga capital regional, Nemausus, que deu o nome a Nîmes atual.  Com população estimada em 60.000 pessoas essa cidade antes de ser dominada pelos romanos no século I AC, era habitada pela tribo Gaulesa Volcar Arecomici, desde a Idade do Ferro. 

Nîmes tem uma longa história romana e por isso é conhecida como a mais romana cidade fora da Itália ou a Roma Francesa.  Os romanos dominaram  a região desde o século I AC ao século V DC. Na época em que esses artefatos foram criados a vida na cidade girava em torno da praça principal e do templo chamado Maison Carrée.

 

 

 

 

Maison Carrée, Nîmes, antigo templo, construído entre 16 e 19 AC, durante o reino do imperados romano Augusto. 

 

 





Um carpete? Um tapete? Não! É o super mosaico!

27 01 2024
Mosaico de aproximadamente 900 m², o maior mosaico conhecido da Antiguidade está na Turquia.

 

 

Em 2019 o maior mosaico conhecido, da Antiguidade foi aberto ao público.  Não o conheço.  Mas lembrei-me dele porque hoje recebi notícias de amigos que visitam a Turquia.  Não vão ver esse mosaico.  Talvez o interesse em mosaicos da antiguidade não seja tão popular quanto imaginei.   Claro que me lembrei desse belíssimo exemplar.  Ele cobre aproximadamente 900 m² contínuos e estava localizado na cidade de Antióquia, capital do Império Selêucida, que compreendia vasta região dominada anteriormente por Alexandre o Grande. 

Lembro, para os que não trabalham com história que Alexandre, o Grande, morreu sem deixar um sucessor para as terras por ele conquistadas.  Assim, a grande extensão de seu domínio se subdividiu e os generais de seu exército dividiram o colossal domínio, em numerosos territórios, criando fronteiras, abocanhando terras férteis ou de influência geográfica estratégica.  É impressionante como a humanidade é a mesma, apesar de milênios os separarem. 

 

 

 

Antioquia, hoje conhecida como Antaquia na Turquia, era a capital do Império, fundada nos finais do século IV a.C. por Seleuco I Nicátor.  Foi conquistada pelos romanos no ano 63 AC.  Logo se tornou a terceira maior cidade do Império Romano depois de Roma e Alexandria. Estima-se que tenha tido próximo a meio milhão de habitantes.  Para os romanos ela era a porta para o Oriente.

Este grande mosaico foi descoberto em 2010, durante a construção de um hotel. O desenho decorativo é geométrico em círculos decorados em rítmicos desenhos sem repetições.  Foi provavelmente colocado no pavimento térreo de uma construção para uso público. Surpreendente foi a extensão desse pavimento assim como a complexidade dos desenhos abstratos que o compunham.

 

 

 

O mosaico deve ter sido construído em meados do século V, no período romano tardio.  Sofreu ajustes no terreno e destruição em alguns lugares com os terremotos dos anos 526 e 528 DC.  O hotel que estava sendo construído, trocou seus planos arquitetônicos para incluir o mosaico, como ponto turístico.  Hoje o mosaico pode ser visto no Antakya Museum Hotel [Hotel Museu Antakya].





Oportunidade rara

3 06 2023

Busto de Marco Aurélio, imperador romano, ano 161-180

Ouro

33 x 29 cm

Musée romains d’Avenches e Musée cantonal d’archéologie et d’histoire, Etat de Vaud

Suíça

O museu americano Getty, localizado na Califórnia, abriu no dia 31 de maio deste ano exposição de arte romana cuja peça central é o busto de Marco Aurélio descoberto na Suíça na antiga cidade romana de Aventicum que foi construída nas ruínas de um acampamento celta. A exposição ficará aberta até dia 29 de janeiro de 2024, portanto dá tempo de você se programar para essa bela experiência.

Achar este busto de Marco Aurélio foi uma das mais espetaculares descobertas do século XX. Se anteriormente poderíamos duvidar do poder e da riqueza do Império Romano no norte da Europa, esta descoberta junto com outros objetos complementaram com sucesso o conhecimento que temos do poder dos romanos no segundo século da era comum.

O busto pesa um quilo e seiscentos gramas de ouro. Foi feito de uma única folha de ouro, martelada. É oca. Foi descoberto em 1939, no sítio arqueológico de Aventicum, na Suíça, onde se explorava uma construção de uso religioso. O busto foi encontrado intacto, em excelente condição, tendo sido escondido no sistema de esgoto do local, provavelmente para evitar roubo pelas frequentes invasões de tribos germânicas.

A exposição tem também outros objetos encontrados no local, mas o centro da exposição é o busto do imperador romano.

Marco Aurélio, além de imperador, foi um filósofo estoico, cuja obra Meditações, se encontra até hoje entre as leituras necessárias para um boa educação. Além disso, foi general de grande sucesso que lutou contra as tribos germânicas nas fronteiras do norte do território romano.

As peças que compõem a exposição fazem parte de museus suíços e estão em empréstimo ao museu Getty Villa Museum.





Tesouro italiano em Como

19 02 2019

 

 

 

 

befunky_collage300 moedas de ouro encontradas dentro de ânfora na Itália (Foto: Mibac)

 

 

A internet tem dessas coisas.  Hoje eu procurava informações sobre uma cidade na Itália e de repente me vejo com essa notícia de um tesouro da época romana, encontrado no norte do país na cidade de Como, na Lombardia.  [Nota: esta é a mesma cidade que dá nome ao conhecido noturno, Le Lac de Come, Nocturno No.6, Op.24. publicado em 1871, da compositora Giselle Galos, de origem desconhecida [italiana ou francesa], que se assinava C. Galos.  Quem como a Peregrina já passou por anos de aprendizado de piano, deve certamente conhecer duas de suas composições, esta e Le chant du Berger (Noturno No.3, Op.17, publicado em 1861].

 

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Conhecimentos musicais à parte, é excitante sabermos que a construção de um complexo de apartamentos de luxo no lugar do conhecido Teatro Cressoni, na cidade de Como, que funcionou desde 1870 a 1997,  levaria à descoberta de 300 moedas de ouro do período final do império romano.

Escondidas em uma ânfora de pedra, usada para armazenar líquidos como vinho e azeite, as moedas podem ter sido colocadas em algum esconderijo de um muro de uma das residências privadas dos nobres romanos, construídas nesta região, para evitar saque.

 

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Estudiosos suspeitam que as moedas, encontradas no nível do porão do prédio demolido, possam ter sido escondidas durante as invasões dos Vândalos, no século V, especificamente nos quarenta anos entre 410-455 E. C.  As moedas encontradas, em excelente condição de preservação, foram cunhadas nas eras dos imperadores Honório (393-423), Valentiniano III (424-455) e Líbio Severo (461-465).  A região da cidade onde foram encontradas era próxima à antiga cidade romana: Novum Comum. Arqueólogos, agora, estudam essas descobertas, feitas em setembro de 2018, em um laboratório em Milão.

 





Cuidado, quebra!

18 01 2018

 

 

34016da5cd59349bbe46ab31ea946dbaJarra com aplique de bacante, anos 50 a 75 E. C.

Provavelmente, norte da Itália

Vidro, 19 x 10 cm

Corning Museum of Glass

 

Essa jarra mostra embaixo da alça um aplique de máscara de bacante, uma seguidora do deus Baco, deus do vinho. Dois métodos de formação e de adesão de apliques que eram usados na Europa durante e depois da Renascença também foram usados na era romana. No primeiro o vidreiro preenche acima do nível uma forma com vidro fundido,  pressiona a forma de encontro à jarra e esquenta de novo a jarra para retirar o excesso de vidro em volta da decoração.  No segundo método o vidreiro aplica uma bola de vidro fundido à jarra e imprime nela o molde (a forma) do desenho desejado, como se faria com uma estampa. Quanto maior o vidro fundido aplicado, maior a extensão da jarra que será “amaciada” no fogo, e isso muitas vezes conduz a distorções da forma.  Por isso mesmo, grandes apliques grandes aplique são em geral moldados e fundidos à vasilha (neste caso uma jarra) depois que a peça tenha esfriado um bocado.  Mas pequenos apliques são em geral colocados pelo método da estamparia, como descrito acima.





Todos os caminhos levam a Roma

25 04 2017

 

 

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O imperador Augusto (63 a. E.C. —  19 E. C.) era um homem que gostava de dados.  Colocou na cidade de Roma, capital do império, uma pedra com a distância de Roma a todas as cidades mais importantes do domínio imperial.  Mais tarde Constantino iria se referir a esta pedra como o “umbigo de Roma” [Umbilicus Urbis Romae].  Esta é a origem da expressão “todos os caminhos levam a Roma”.   Os romanos construíram 87.000 Km de estradas pavimentadas à volta do Mediterrâneo, no auge do império.

Para dar uma ideia da grandeza do império, estima-se que haja em todo o Brasil 212.798 km de estradas pavimentadas (dados de 2010).





Curiosidade sobre Império Romano

28 03 2017

 

 

 

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Este é o mapa do Império Romano no seu auge. por volta do ano 117.

 

 

Uma das maneiras de medir a grandeza de Roma está em saber que no auge do império romano era possível viajar da Escócia até o Eufrates — coisa de 5.700 Km — falando uma única língua, usando uma única moeda, sob um único sistema legal em toda segurança.

 

 

viagem





Esmerado: Camafeu romano do século I da Era Comum

30 11 2016

 

 

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Entalhe, água-marinha assinada Evodos

Moldura Carolíngea, século IX, rodeada por nove safiras e seis pérolas

Bibliothèque Nationale, Cabinet des Medailles, Paris, França.

 

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Mulheres notáveis: Galla Placídia, texto de Francisco da Silveira Bueno

10 07 2015

 

 

Aelia_Galla_PlacidiaRetrato atribuído a Galla Placídia, séc. III a V

Pintura em miniatura, medalhão de vidro

Museu Cívico Cristão, Bréscia

 

 

Galla Placídia

 

Se do pai tinha sangue espanhol, tinha sangue oriental, pelo lado materno, e dessa mistura saiu tão raro tipo de mulher política, administradora, de grande visão artística e sumamente religiosa. A sua entrada no mundo político de Roma foi, justamente, num momento angustioso da Cidade Eterna: Alarico vencia os romanos, ele que aprendera os segredos da guerra sob as ordens de Teodósio, saqueava e devastava toda a Itália com as suas hordas de visigodos. O momento era trágico e dentre as cinzas e labaredas da destruição de Roma, surge Galla Placídia para vencer, sozinha, esses bárbaros. E de que jeito? Pelo sacrifício de todo o seu orgulho. Ela, filha de Teodósio, o Grande, grega pelo nascimento, aceita casar-se com Ataulfo, cunhado de Alarico, com uma condição, os visigodos iriam para a Espanha a fim de destruir os Vândalos. Era o ano 414. Integrada agora na gente visigótica, acompanha Ataulfo: os Vândalos são batidos, expulsos, jogados da Espanha para o norte da África. Mas na batalha final, no ano 415, morre Ataulfo e Placídia está livre. De volta a Roma, onde seu irmão Honório é o imperador, casa-se com Constâncio, o maior capitão do momento. Nascem-lhe dois filhos: Honória e Valentiniano. Escolhida Ravena para capital do império romano pelo próprio Honório, ei-la que aí sonha o seu sonho maior: colocar no trono o seu próprio filho. Era uma criança, como seria possível? A sua tenacidade, a sua habilidade, jogando contra as próprias ideias do irmão todo poderoso, prepara toda a ascensão de Valentiniano. A morte de Honório vem ajudar os seus projetos: Valentiniano sobre ao trono, mas quem reina, de verdade, é a Galla Placídia e reinará por trinta – cinco anos.

 

Em: Pelas estradas do sol, Francisco da Silveira Bueno, São Paulo, Saraiva: 1967, pp. 108-109.