Américo Vespúcio, 1848
Robert Walter Weir (EUA, 1803-1889)
óleo sobre tela, 50 x 40 cm
“Por iniciativa do jovem cosmógrafo Martin Waldessemüller [sic], o Ginásio Vosgense decidiu ‘revisar e ampliar’ a obra de Ptolomeu, tendo como base as ‘descobertas’ feitas por Vespúcio. E assim, em um texto que se tornaria profético, Waldessemüller [sic] escreveu: “Agora que uma outra parte do mundo, a quarta, foi descoberta por Americum Vesputium, de nada sei que nos possa impedir de denominá-la, de direito, Amerigem, ou América, isto é, a terra de Americus, em honra de seu descobridor, um homem sagaz, já que tanto a Ásia como a Europa receberam nomes de mulheres.”
Em um dos mapas que fez para acompanhar o livreto de 52 páginas, Waldesemüller [sic] usou pela primeira vez a palavra ‘América’, colocando-a sobre o território que representa o Brasil, na mesma latitude em que se localiza Porto Seguro. O novo continente estava batizado.
Cristóvão Colombo morrera quase que exatamente um ano antes, em 20 de maio de 1506, amargurado e na miséria. Os eruditos de Saint-Dié não ignoravam suas descobertas. Mas, até pelo menos 1514, muitos geógrafos – Waldessemüller entre eles – acreditavam que as ilhas achadas por Colombo em outubro de 1492 de fato eram os limites ocidentais da Ásia, enquanto que a América do Sul (supostamente descoberta por Vespúcio na viagem de 1497 e de fato explorada por ele próprio entre 1501 e 1504) seria um continente autônomo, totalmente separado delas ou, quando muito, interligado ao arquipélago por um istmo. Foi só depois da descoberta do oceano Pacífico, feita por Vasco Nuñes de Balboa, em setembro de 1513, que os cartógrafos do século XVI passaram a ter uma ideia um pouco mais próxima da realidade. E somente após o descobrimento do estreito de Magalhães, em 1519, o quadro geográfico iria adquirir molduras mais definidas.
O Mapa de Waldseemüller, ou Universalis Cosmographia
Em fins de 1513, cedendo às pressões da Coroa castelhana, Martim Waldesemüller[sic] retirou sua proposta de batismo. Chegou a sugerir que o Novo Mundo fosse chamadode Colômbia. Mas era tarde demais: as múltiplas ressonâncias da palavra América caíram no gosto popular. Em 1516, até o genial Leonardo da Vinci passaria a utilizas esse nome, colocando-o em um mapa que preparou a pedido da poderosa família Médici.
Vinte anos mais tarde, quando ficou claro que Vespúcio — ou alguém agindo em seu nome, com ou sem conhecimento dele – havia forjado a viagem em 1497, o nome ‘América’ começava a se popularizar na Europa, tendo sido adotado até por cartógrafos portugueses e, embora com muita relutância, aceito até pelos espanhóis. Desta forma, a ‘quarta parte do mundo’ acabou sendo batizada com o nome de um homem que não fora o seu descobridor. De acordo com um texto escrito em 1900 pelo historiador brasileiro Capistrano de Abreu, a ‘falsidade e a galanteria’ foram ‘pavoneadas pela imprensa e, por força delas, temos hoje o nome de americanos’.”
Nota — Martin Waldseemüller – no texto aparece com 2 grafias ambas diferem da grafia padrão.
Em: Náufragos, traficantes e degredados: as primeiras expedições ao Brasil, Eduardo Bueno, Rio de Janeiro, Objetiva: 1998, p. 61-63.