As noivas de branco…Desde quando?

12 06 2015

 

 

Casamento russo 3Casamento na Rússia, década de 1960. Ignoro a autoria dessa ilustração.

 

“Até meados do século XVII, as noivas usavam vestidos coloridos, com pedrarias e bordados. Tons vermelhos e dourados  eram os mais comuns. Foi a rainha Vitória, da Inglaterra, que inaugurou o visual da noiva mais usado até hoje — ao se casar de branco com seu primo, o príncipe Albert. Ela também acrescentou ao seu traje nupcial um véu — detalhe, na época era proibido para rainhas que, para provarem sua identidade e soberania, nunca deveriam cobrir o rosto. O mais curioso é que ela o pediu em casamento, pois não se permitia fazer esse pedido diretamente à rainha. Com a chegada da burguesia, o vestido branco ganhou outro significado: o da virgindade.”

 

Em: Sempre, às vezes, nunca – etiqueta e comportamento, Fábio Arruda, São Paulo, Arx: 2003, 8ª edição, p: 44.





Camille Paglia e o ensino dos clássicos

3 04 2015

 

 

 

Raffaello,_concilio_degli_dei_02O conselho dos deuses, 1518

Rafael Sanzio (Urbino, 1483-1583)

Afresco

Villa Farnesina, Roma

 

 

 

Sean Salai, S. J. — Na sua opinião como classicista, o que os antigos gregos e romanos nos ensinam como seres humanos?

Camille Paglia — Sigo os passos de meu herói cultural, Oscar Wilde, não concordo com a implícita suposição moralista que a literatura ou a arte “ensinam” algo para nós. Elas simplesmente abrem a nossa visão para um mundo maior, ou nos permitem ver o mundo através de uma lente diferente. A cultura greco-romana que está se afastando rapidamente da educação universitária americana, é uma das duas tradições fundamentais da civilização ocidental; a outra é a judaico-cristã. Essas tradições se entrelaçaram e se influenciaram mutuamente ao longo dos séculos, produzindo uma complexidade titânica do ocidente, tanto para o bem quanto para o mal. Ignorar ou minimizar o passado greco-romano é colocar antolhos intelectuais, mas é isso que vem exatamente acontecendo à medida que as faculdades abandonam gradualmente, a grande, cronológica, visão panorâmica da antiguidade clássica, em cursos de dois semestres, que fora enfatizada no passado. A trajetória, agora, está no “presentismo”, uma concentração míope na sociedade desde a Renascença – por falar nisso, um termo humanístico nobre, que está sendo descartado implacavelmente e substituído pela amorfa entidade marxista, “Proto-Modernidade”.

 

 

Em: “The Catholic Pagan:10 questions for Camille Paglia“, America: the national catholic review, 25 de fevereiro de 2015.

[Tradução é minha]

LINK





Encontrado tesouro do reinado de Etelredo II da Inglaterra enterrado 900 anos atrás

3 01 2015

 

Eteredo,o despreparadoEtelredo II, o Despreparado, c. 1220

(Reinado: c. 968-1016)

Iluminura no manuscrito:

Crônicas de Abindon,  MS Cott. Claude B.VI folio 87, verso, The British Library

 

 

Um caçador de tesouros amador descobriu um grande tesouro de moedas anglo-saxãs, durante um evento anual de fim de ano. Esse evento era exclusivo para os membros de um clube de caçadores de tesouros amador. Em um local com raízes históricas na Idade Média, foi encontrado um dos maiores tesouros da Grã-Bretanha. Seu valor se aproxima a 1 milhão de libras. Acompanhado por  seu filho e um amigo, Paul Coleman, tomou parte na escavação de um terreno em Lenborough, Buckinghamshire, pouco antes do Natal.

Não pensaram em encontrar uma coleção intocada de mais de 5.000 moedas de prata feitas nos reinados de Etelredo, o Despreparado (978-1016) e Canuto II (1016-1035). É possível que essa descoberta esteja ligada a uma “casa da moeda” estabelecida por Ethelred em Buckingham. Este local de cunhagem de moedas permaneceu ativo durante o tempo do rei Canuto II.

Ao todos foram 5.251 moedas encontradas de uma só vez, guardadas em um recipiente forrado por chumbo e enterrado a 60 cm do chão.  O evento e a escavação foram acompanhados por um arqueólogo para garantir que o processo de escavação fosse correto. Apenas algumas dessas moedas foram limpas, mas todas provaram estar em excelente condição. Essa coleção remonta a um período extraordinário da história, durante o qual os vikings assumiram o controle da Inglaterra.

 

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Há moedas do reinado de Etelredo II, o Despreparado, que se tornou rei da Inglaterra aos sete anos, depois que seu meio-irmão Edward II foi assassinado em 978. Há também moedas do rei Canuto II, o Grande, rei da Dinamarca, Noruega, Escócia e Inglaterra que reinou de 1018 a 1035.

As moedas descobertas nesta semana, são de um momento pioneiro na produção de moedas cunhadas em prata sólida, em massa. A prata havia substituído o ouro romano que por seu turno havia substituído o cobre Anglo Saxão no século VIII.

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Quando Etelredo II assumiu o trono, havia mais de 70 “casas da moeda” na Inglaterra, em diversos locais como Londres, Winchester, Lincoln, e York. As moedas de um centavo foram as primeiras a ter a efígie desses primeiros monarcas, pioneiros em seu tempo. Trabalhadores reais especializados podiam carimbar mais de 2.000 moedas em branco por dia.

À medida a tecnologia foi se desenvolvendo as moedas se tornaram mais uniformes e muitas das tradições que existem até hoje foram estabelecidas nessa época, como a posição da cabeça de um monarca.

Espera-se agora a compra das moedas por algum museu inglês, provavelmente da região. O resultado da venda será dividido entre o escavador e o dono do terreno onde foi encontrado como regem as leis locais.





Esmerado: par de fivelas do século VI

12 11 2014

 

 

 

Visigothic_-_Pair_of_Eagle_Fibula_-_Walters_54421,_54422_-_GroupVisigothic - Pair of Eagle Fibula - Walters 54421, 54422 - GroupPar de fivelas [fíbulas] no formato de águias, século VI

ouro sobre bronze com pedras preciosas, 14 x 7 x 3 cm

The Walters Art Museum, Baltimore, Md, EUA

 

Encontradas na Tierra de Barros, próximo a Badajoz, no sudoeste espanhol, essas fivelas de origem visigóticas são feitas de bronze banhado a ouro, decoradas com granadas, ametistas e vidro colorido. Usadas também como pendentes pendurados por argolas. A águia uma ave favorita dos romanos, usada na insígnia imperial, foi um dos motivos favoritos dos Godos que invadiram a península ibérica depois da queda do império romano.  Provavelmente usadas para segurar a vestimenta junto ao ombro.

 

Mais





O papel das mulheres no século XII

2 09 2014

 

 

CodexManesse-1305-40-ManinBasket -- a medieval illumination from the Codex Manness, c. 1304- c 1340Mulher elevando o namorado na cesta até seus aposentos, Codex Manness, c. 1304- c 1340

 

 

Na sala de aula é comum vermos a imaginação das jovens se incendiar quando imagens de belas senhoras ou senhoritas, vestidas como princesas são projetadas na tela para esclarecimento de pontos históricos em um programa de iluminuras medievais.  Realmente há ocasiões em que as roupas parecem maravilhosas, e as festas na cortes coloridas, não se desbotam mesmo passados mais de cinco, seis, sete, séculos.  No entanto a cabeça de quem vive no século XXI tem dificuldade de entender tudo o que era esperado de uma mulher… além é claro de tudo que lhe era proibido na idade média.   Para entender esse período precisamos ler muito. A pesquisa sobre o comportamento social das “pessoas invisíveis” durante a idade média só foi levada a sério na segunda metade do século XX.  Pessoas invisíveis são todas aquelas que não lideraram um território geográfico, que não foram nobreza nem clero de importância, que não foram pensadores.  São as pessoas comuns, mercadores, comerciantes, trabalhadores, homens e mulheres.  Essas últimas só mesmo as mais importantes tiveram ocasião de serem lembradas. Assim, a pesquisa sobre o comportamento desses invisíveis requer muito lida em documentos de difícil acesso  e de difícil leitura.  Mas historiadores europeus, principalmente franceses, deram um grande empurrão nesses conhecimentos.  Hoje sabemos muito mais da textura social na idade média.  O parágrafo que segue é ilustrativo do que era esperado do comportamento de uma mulher na corte, desde a adolescência até viuvez.

 

“No século XII, padres e guerreiros esperavam da dama que, depois de ter sido filha dócil, esposa clemente, mãe fecunda, ela fornecesse em sua velhice, pelo fervor de sua piedade e pelo rigor de suas renúncias, algum bafio de santidade à casa que a acolhera. Era o dom último que ela oferecia a esse homem que a deflorara bem jovem, que se abrandara em seus braços, cuja piedade se reavivara com a sua e que depositara numerosas vezes em seu seio o germe dos rapazes que mais tarde, na viuvez, o apoiaram e que ela ajudaria com seus conselhos a conduzirem-se melhor. Dominada, por certo. Entretanto, que se tranquilizavam clamando bem alto sua superioridade nativa, que a julgavam contudo capaz de curar os corpos, de salvar as almas, e que se entregavam nas mãos das mulheres para que seus despojos carnais depois de seu ultimo suspiro fossem convenientemente preparados e sua memória fielmente conservada pelos século dos séculos”. 

 

Em: As damas do século XII, Georges Duby, São Paulo, Companhia das Letras: 2013, p. 248.





Esmerado: Código Áureo de São Emeram

10 06 2014

 

 

462px-Codex_Aureus_Sankt_Emmeram

 

Capa do famoso Evangelho Carolíngeo, Codex Aureus de S. Emeram, datando de circa 870 no Palácio do Sacro Imperador Romano Carlos,o Calvo que o doou a Arnulfo de Caríntia que por sua vez o doou à abadia de S. Emmeram. Ouro, pérolas e pedras preciosas incrustadas compõem a capa desse evangelho iluminado, produto dos artesãos da oficina “Escola do Palácio”. Hoje na Biblioteca Estadual da Baviera em Munique.

 

Esta postagem vai em especial para o pessoal de Música & Fantasia





1200 anos atrás já se sabia da necessidade de uma boa educação!

13 01 2014

learning-to-readAprendendo a ler, s/d

Iluminura.

Desconheço a identificação do manuscrito.

Carlos Magno, também chamado de “O Pai da Europa”, unificou grande parte do território da Europa Ocidental, que estava subdividida em pequenos domínios desde a queda do império romano.  Além de ser um grande guerreiro e administrador, Carlos Magno acreditava na boa educação.  Durante o seu reinado fomentou a melhoria da educação e patrocínio nas artes, literatura, e arquitetura, o que levou seu reinado a ser mais tarde denominado de Renascimento Carolíngio. [final do século VIII ao século IX].  Em suas diversas campanhas entrou em contato com a cultura e observou a qualidade do ensino em outros lugares, na Espanha visigótica, na Inglaterra anglo-saxã, e na Itália lombarda. Vendo o progresso do ensino em outras culturas fez questão de aumentar a oferta de escolas e de scriptorias monásticas, lugar dedicado às cópias de livros, nos rincões do seu reino. Sua contribuição para a cultura ocidental não foi pequena já que a maioria das obras sobreviventes hoje do latim clássico foram copiadas e preservadas por estudiosos no reino carolíngio.

A falta de alfabetização latina na Europa Ocidental do século VIII causou problemas para os governantes carolíngios, limitando severamente o número de pessoas capazes de servir como escribas da corte em sociedades onde o latim era valorizado. Ainda mais preocupante para alguns governantes foi o fato de nem todos os párocos possuírem a habilidade de ler a Bíblia Vulgata. Um problema adicional é que o latim vulgar do Império Romano do Ocidente  tardio começou a divergir abrindo portas para os dialetos regionais, os precursores das línguas latinas de hoje, e estavam se tornando mutuamente ininteligíveis, prevenindo estudiosos de uma parte da Europa se comunicarem  com pessoas de outra parte da Europa.

Carlos Magno ordenou a criação de escolas no documento chamado Carta de Pensamento Moderno, emitido em 787.  Seu programa de reforma tinha como objetivo atrair muitos dos principais estudiosos cristãos para sua corte.  Chamou primeiro os italianos: Pedro de Pisa, Paulino de Aquileia e Paulo, o Diácono. Mais tarde chamou o espanhol Teodolfo de Orléans, Alcuíno de York e Joseph Scottus, irlandês.  Entre os esforços principais do reino carolíngio está a organização de um currículo padronizado para uso nas escolas recém-criadas; o desenvolvimento da minúscula carolíngia, um “livro de mão” [cartilha] que introduziu uso de letras minúsculas. A versão padronizada do latim também foi desenvolvida, permitindo a cunhagem de novas palavras ao mesmo tempo que mantinha as regras gramaticais do latim clássico. Este latim medieval tornou-se uma linguagem comum de bolsa de estudos e administradores,  permitindo que viajantes pudessem se fazer entender em várias regiões da Europa. Carlos Magno tornou o sistema educacional um pouco mais acessível, ainda que não abrangesse a sociedade inteira. As escolas carolíngias foram organizadas de acordo com o princípio de sete artes liberais, com os estudos divididos em dois níveis: o Trivium (gramática, retórica e lógica) e o Quadrivium (aritmética, astronomia, geometria e música).

Carlos Magno criou bolsas de estudos, incentivou as artes liberais na corte, providenciou para que seus filhos e netos fossem educados com esmero. Seguindo a tradição de igualdade entre os sexos, comum nas culturas germânicas, Carlos Magno tratou com o mesmo cuidado da educação das mulheres de sua família (3 filhos e 5 filhas). Já rei, dedicou-se à sua própria educação, tendo como tutor Pedro de Pisa, com quem aprendeu gramática; Alcuíno, com quem estudou retórica, dialética (lógica) e astronomia (era muito curioso sobre o movimento das estrelas), e Einhard, que o ajudou em seus estudos de aritmética.





Diferentes padrões na Wikipedia corfirmam a nossa ignorância

2 01 2014

Alfred Lambart - Juliet, Daughter of Richard H....Juliet, filha de Richard H. Fox de Surrey, 1931

Alfred Lambart (Inglaterra, 1902- 1970)

óleo sobre tela, 137 x 137cm

Laing Art Gallery, Newcastle-upon-Tyne, GB

O terceiro-mundismo das ideias no Brasil é aparente nas entradas da Wikipedia em português.  Muitas das definições e explicações na Wikipedia de assuntos internacionais, de história, literatura, arte, cultura em geral – exceto é claro a cultura televisiva e cinemática, em português, são pobres, falham nos detalhes, na significância do que se está procurando.  Os ensaios traduzidos são cortados e não dão detalhes já existentes em inglês ou em francês, ou em qualquer outra língua.

Não conheço a razão para essa diferença entre os textos em português e os de outras línguas. Mas vou dar o meu palpite.  Como exemplo mostro o que finalmente me irritou o suficiente para alavancar essa postagem:

Imperador Romano Marco Aurélio.

Em português temos aproximadamente uns 10 parágrafos sem qualquer referência às suas famosas Meditações. Na verdade elas não são nem mencionadas no parágrafo sobre influências desse imperador. Em inglês temos acima de 70 (parei de contar em 70) parágrafos, com extensa explicação sobre seu governo, sua contribuição literária, histórica, filosófica. Lendo a enciclopédia em português temos a impressão de que esse imperador não teve grande importância no desenvolvimento do império que tanto defendeu.

Mas, pior ainda, sua influência no destino do pensamento ocidental não é mencionado em português. Sua influência nas artes — no verbete em português — resume-se à estátua no Capitólio que influenciou estátuas equestres na Renascença. Além disso, aprendemos sobre sua influência no cinema. Não sobre sua influência filosófica na arte cinematográfica, mas sua “presença” na indústria, como no  filme de 1964 A queda do Império Romano; no filme Gladiador de 2000 – “ o papel de Marco Aurélio sendo desempenhado por Richard Harris”, e também aprendemos que Marco Aurélio é citado pelo personagem Hannibal Lecter em O Silêncio dos Inocentes, de 1991. A pessoa que escreveu esse verbete da Wikipedia não teve nem a curiosidade de se perguntar o motivo de Hannibal Lecter citar Marco Aurélio.  Se o fizesse talvez tivesse aprendido sobre a obra literária do imperador romano. No entanto, em nenhum momento na descrição da importância de Marco Aurélio fala-se da obra Meditações. A versão em português de suas Meditações que são até hoje estudadas por serem um dos grandes livros sobre liderança, uma obra marcante no desenvolvimento da cultura ocidental tem outro nome.  Meditações de Marco Aurélio, agora são conhecidas em português como O Guia do Imperador, tradução direta do inglês The Emperor’s Handbook.  Mas, espera aí, do inglês? Importante notar que a tradução publicada — nas livrarias no momento —  foi feita do inglês e não do latim.  O latim é uma  língua muito mais próxima à nossa (outro mistério que mostra a nossa pobreza intelectual).  Então temos uma tradução de uma tradução.  Por si só isso  já representa um desvio do original de uma obra considerada excepcional.  Ela constitui a expressão máxima do estoicismo, doutrina grega, trazida para os países do império romano (onde devo lembrar se encontram as raízes culturais brasileiras) pelos historiadores romanos.  Dentre os pensadores estóicos além de Marco Aurélio temos Sêneca, Cleanto, “o estóico”.

Essa diferença de tratamento em verbetes tais como esse limita o horizonte do estudante brasileiro;  a compreensão do cidadão curioso sobre história; dá um tiro no pé na cultura nacional.  Se alguém quisesse, por exemplo, checar a razão do personagem Hannibal Lecter do filme O Silêncio dos Inocentes citar Marco Aurélio,  encontraria a resposta?  Esse desleixo com a informação que chega ao grande público é a expressão clara do preconceito social reinante na nossa terra, retrato da crença de que o “brasileiro que se interessa por isso lê em outra língua”.  Por que?  Por que ser obrigado a ler em outra língua?  É a antiga separação de classes entre os letrados e o iletrados, entre os doutores e o público, os estudantes, os não-iniciados; que educação é coisa para a elite. É essa atitude que mantém até hoje milhões de brasileiros na docilidade da ignorância.  É o retrato preciso da vergonha nacional.





Mulheres da história: Matilda de Canossa (1046-1115)

30 11 2013

Matilda_of_TuscanyMatilda da Toscana

Michelangelo Buonarroti  acreditava ser descendente da heroína medieval Condessa de Canossa.  Essa era uma tradição oral da família do escultor renascentista que nunca conseguiu ser provada.  Não importa.  Não faz diferença quando julgamos o valor do legado deixado pelo artista.  Mas foi importante para ele e para sua família acreditar que seriam descendentes dessa mulher, uma das poucas que se distinguiram na Idade Média e passar para a história com nome, sobrenome e até retratos.  No século XI, época em que viveu, a distinção de identidade individualizada era rara até mesmo para rainhas.  Mulheres nessa época se autoapagavam, submetendo qualquer ato de individualismo ao anonimato social, trabalhando na maior parte das vezes como eminências pardas na política local.

Mas Matilda de Canossa  foi diferente.  Conhecida também como Matilda da Toscana por causa das terras que herdou aos 8 anos de idade.  Filha de Bonifácio III, duque de Toscana, assassinado em 1052, que até então havia sido o mais poderoso príncipe de sua época, natural da Lombardia e  Conde de Brescia, Canossa, Ferrara, Florença, Luca, Mântua, Modena, Pisa, Pistóia, Parma, Reggio, e Verona a partir de 1007 e nomeado Marquês da Toscana  de 1027 até sua morte.  Seu poder se enraizava principalmente na província região de Emília, nordeste da Itália de hoje.  A mãe de Matilda de Canossa foi Beatrix de Lorraine, filha de Frederico II Duque da Alta Lorraine.  O castelo residência da família era o Castelo de Canossa, uma verdadeira fortificação, não só pela construção mas sobretudo por sua localização, no topo de um penhasco.

Hugo-v-cluny_heinrich-iv_mathilde-v-tuszien_cod-vat-lat-4922_1115adHenrique IV pede a Matilde e a Hugo de Cluny intercessão junto do Papa.

Matilda é lembrada até hoje por sua coragem e firmeza no poder.  Também é considerada por sua habilidade de estrategista militar que colocou à disposição dos Papa Gregório VII. Uma rara habilidade administrativa  ajudou-a  a manter-se  no poder até a morte aos 69 anos.  Seu maior inimigo foi o rei germânico Henrique IV e a luta entre eles é o tema principal da peça de Luigi Pirandello chamada Henrique IV.  Matilda de Canossa também foi a personagem principal do livro The Book of Love de Katheleen McGowan publicado nos Estados Unidos em 2009.

Matilda de Canossa foi uma das três mulheres enterradas na Basílica de São Pedro no Vaticano, onde há uma bela escultura de Bernini representando a heroína medieval.





A difícil arte da matemática na Grécia antiga, texto de Leonard Mlodinow

13 08 2013

Domenico-Fetti_Archimedes_1620Arquimedes pensativo, 1620

Domenico Fetti (Itália, 1588-1623)

óleo sobre tela, 98 x 73 cm

Galeria de Obras dos Velhos Mestres [Gemaldegalerie Alte Meisters] Dresden

Você reclama das aulas de matemática?  Pois veja a difícil arte da matemática da Grécia antiga:

“…em Atenas, no século V a. C., no ápice da civilização grega, uma pessoa que quisesse escrever um número usava uma espécie de código alfabético. As primeiras nove das 24 letras do alfabeto grego representavam os números que chamamos de 1 a 9. As seguintes nove letras representavam os números que chamamos 10, 20, 30 e assim por diante. E as seis últimas letras, além de três símbolos adicionais, representavam as primeiras nove centenas (100, 200 e assim por diante, até 900). Se você tem problemas com a artimética hoje em dia, imagine como seria subtrair ΔΓΘ de ΩΨΠ! Para complicar ainda mais as coisas, a ordem na qual as unidades, dezenas e centenas eram escritas não importava: às vezes as centenas vinham em primeiro, às vezes em último e às vezes a ordem era ignorada completamente. Para completar, os gregos não tinham zero.

O conceito de zero chegou à Grécia quando Alexandre invadiu o império Babilônico, em 331 a. C. Mesmo então, embora os alexandrinos tenham começado a usar o zero para denotar a ausência de um número, ele não era empregado como um número por si só. Na matemática moderna, o número 0 possui duas propriedades fundamentais: na adição, é o número que, quando somado a qualquer outro, deixa-o inalterado, e na multiplicação é o número que, quando multiplicado por qualquer outro, mantém-se ele próprio inalterado. Esse conceito não foi introduzido até o século IX, pelo matemático indiano Mahavira.

Mesmo depois do desenvolvimento de um sistema numérico utilizável, passariam-se muitos séculos até que as pessoas reconhecessem adição, subtração, multiplicação e divisão como as operações aritméticas fundamentais — e, lentamente, percebessem que certos símbolos convenientes poderiam facilitar bastante sua manipulação.”

Em: O andar do bêbado: como o acaso determina nossas vidas, Leonard Mlodinow, tradução Diego Alfaro, Rio de Janeiro, Zahar: 2009, p. 44-45