“Cavalhadas”, texto de Eduardo Frieiro

2 02 2016

 

 

Cavalhada, Antonio Poteiro, 1980. Acrílica sobre tela, 90 x 140 cmCavalhada, 1980

Antônio Poteiro (Brasil, 1925)

acrílica sobre tela, 990 x 140 cm

 

 

Cavalhadas

 

Eduardo Frieiro

 

 

“Chegara o dia dezesseis de julho. Nesse dia realizavam-se no Carmo grandes festividades religiosas e profanas em honra da padroeira da Vila. Salvas de arcabusaria e roqueiras anunciaram o alvorecer. Às nove horas, missa oficiada a dois coros de música. Depois, procissão. Logo era esperar pelo melhor da festa: as cavalhadas, em que se imitavam torneios entre Cristãos e Mouros, com o sabor das histórias de Carlos Magno e os doze pares da Princesa Floripes.

Numa larga praia do ribeirão, construíra-se a praça para as cavalhadas, rodeada de palanques de pau roliço, enfeitados de colchas, bandeirolas e folhagens. Às duas da tarde já todos os lugares estavam tomados pelos moradores da vila e pela muita gente que viera dos arredores convidada pela fama dos festejos. O Governador, que presidia à justas figurando o Imperador Carlos Magno, com seus doze pares de França, ocupava o palanque principal, ornamentado com especial aparato, como convinha à pessoa de tão grande senhor. No lado oposto, erguia-se o palácio do Almirante Balão, encarnado na pessoa de José Gomes Vilarinho. Violante era a bela Floripes, destinada a ser raptada por um paladino cristão.

. . . . . . . . . . . . . . . . . . . .

As cavalhadas começavam pelo jogo das canas, exercício cavalheiresco em que se usavam adargas e lanças sem ponta, de pau frágil, que nos embates se partiam facilmente. Dezesseis cavaleiros, entre Cristãos e Mouros, vestidos os primeiros de azul e os outros de vermelhos, formavam as quadrilhas que participavam do combate simulado. Entravam às duas de cada vez, a um sinal de lenço dos padrinhos. Depois de correrem em parelhas encontradas, os cavaleiros divertiam-se a brandir as espadas, caracoleando e fazendo caprichosas evoluções com suas montarias vistosamente ajaezadas.  Agrupados depois em dois bandos, um em cada metade da praça, frente a frente, tomavam as canas e disparavam a galope, tomavam as canas e disparavam a galope atirando-as ao ar um para o outro. Faziam a volta da arena e retomavam seus lugares. Ao passar o bando que galopava pelo outro, este carregava a rédea solta e atirava as canas, que se deviam esquivar sempre com a adarga.

. . . . . . . . . . . . . . . . . . . .

Dava remate às cavalhadas o rapto da Princesa Floripes. Simulado um breve recontro entre os soldados do Almirante Balão e os paladinos de Carlos Magno, invadiam estes o alcácer do infiel e traziam de lá a peregrina donzela que achara graça aos olhos dum bravo par de França.”

 

 

Em: O mameluco Boaventura, de Eduardo Frieiro, São Paulo, Edições Saraiva, s/d, Coleção Saraiva, volume 166, 3ª edição, páginas 98- 102.

 

 





A lenda do algodão, folclore brasileiro

26 12 2014

 

Candido Portinari, Colheita do Algodão, Guache sobre PapelColheita do algodão, 1937

Cândido Portinari (Brasil, 1903-1962)

guache sobre papel, 37 x 26 cm

Acervo do Palácio Capanema, Rio de Janeiro

 

 

A lenda do algodão

 

Há umas centenas de anos, os índios viviam sem cultivar a terra; tampouco domesticavam os animais. Não fiavam, nem teciam. Era um tempo quando ainda não construíam as malocas que tanto associamos a eles. Moravam em cavernas ou nas copas das árvores mais altas e frondosas, junto aos pássaros e longe dos animais selvagens que não subiam tantos metros acima da terra.

Nessa época havia um pajé, chefe da tribo, chamado Sacaibu. Ele era muito sábio e, vendo que o local onde estavam não oferecia alimentos em abundância, resolveu levar seu povo para outras terras, numa região montanhosa, onde havia muita caça, água fresca das nascentes dos rios próximos e grande variedade de árvores frutíferas que dariam ao seu povo uma alimentação mais rica e equilibrada. Acabaram por se estabelecer numa área verde, a mais plana da região, próxima a um despenhadeiro, que formava um abismo, tão íngreme que a tribo não conseguia descer.

Lá chegando Sacaibu plantou a semente, de uma planta que ele desconhecia, mas que lhe havia sido dada por Tupã, o trovão, o mensageiro que transmitia todas ordens de Deus. Sacaibu ficou feliz ao ver que a semente em pouco tempo germinou e passado algum tempo se transformou em um arbusto frondoso. Para surpresa de todos, ele dava uma flores diferentes: tufos brancos.

Curiosos com a aparência dessas flores, os índios colheram os tufos e começaram a imaginar o que poderia ser feito com eles.

Eventualmente aprenderam a desfiar, tecer, trançar e descobriram que com essas flores podiam fazer corda, cordas fortes, que prendiam ou levantavam muito peso. Com as cordas eles desceram ao longo do abismo e lá embaixo encontraram outro povo, muito adiantado que logo lhes ensinou a cultivar a terra.





A visita à escola, texto de Mário Sette

25 03 2013

Escola em 1879, Morgan Weistling, ost,100x150cm

Escola em 1879, s/d

Morgan Weistling (EUA, contemporânea)

óleo sobre tela, 100 x 150 cm

www.morganweistling.com

O pano de fundo da semana que passou foi a inépcia do ENEM e de todos os nossos dirigentes quanto ao estado desastroso da educação no país.  Não fugindo a um dos objetivos desse blog (auxiliar a quem se dispõe a melhorar o ensino no Brasil) hoje posto um texto, talvez folclórico, talvez não, escrito por um escritor brasileiro que também se preocupava com a educação.  Além de ser um bom texto escolar, ele lembra aos nossos governantes que um pouco de humildade e de consideração para com o povo brasileiro estão entre as menores das requisições que ainda fazemos deles.  Que visitem as suas escolas e que se lembrem da confiança que depositamos em suas mãos quando os elegemos. A melhoria da nossa educação não é para o futuro, nem para hoje.  É para ontem…

A visita à escola

Mário Sette

Era uma escola humilde de arrabalde: sala ligeiramente caiada, movéis toscos, um desbotado mapa na parede, um crucifixo sobre a banca do professor.

As crianças, filhas de gente humilde, algumas descalças haviam chegado,tomando seus lugares, abrindo os livros, dispondo os cadernos e as canetas.

A manhã nascera ensolarada e bonita.

Pouco depois, o mestre, um senhor esguio, de maneiras calmas, batera palmas como sinal do início dos trabalhos escolares.

Um menino veio dar sua lição de leitura. Outros faziam contas nas pedras.

E, como sempre, o tempo ia passando naquela suave tarefa de aprender, no doce silêncio do arrabalde, raro a raro quebrado pelo pregão de um vendedor de frutas, pelo tropel de um cavalo.

Inesperadamente um carro parou à porta da escola. Aberta a portinhola, desceu primeiro um velho de fardão, e em seguida um homem de sobrecasaca  e cartola, de barba loura, com ares muito simples.

O professor, que o vira pela janela, ergueu-se surpreso, exclamando:

— É Sua Majestade o Imperador!

Sabia, como toda gente, ser Pedro II hóspede de Pernambuco, havia dias; não ignorava que o monarca andava visitando os estabelecimentos de ensino, sempre interessado pelo estudo.  Mas supor que fosse a modesta escola que regia também honrada com aquela visita, isso nunca supusera. Um recanto de subúrbio, tão longe da cidade, tão pobre!

O Imperador, de chapéu na mão, seguido pelo  ministro, entrara na sala, cumprimentara  ao mestre e fizera questão de se sentar ao seu lado, como simples inspetor, a fim de assistir a um pouco da aula.

Mostrava-se atento a tudo e balançava a cabeça, risonho, quando os alunos se saíam bem.

Depois, ele próprio, chamou o menino, perguntou-lhe:

— Qual o rio maior do Brasil?

E a outro:

— Faça-me esta conta de dividir.

Ainda a outro:

— Quais são os mandamento da lei de Deus?

Obtidas respostas certas, o monarca, passeando entre as bancas, examinara os cadernos de exercícios, corrigira uma letra, gabara um cursivo, acarinhara as cabeças das crianças que o olhavam cheias de espanto.

Um rei era assim tão bom e tão amigo dos pobres?! Faziam uma idéia diferente da realeza!

Afinal, o Imperador despediu-se, elogiando o professor,  prometendo-lhe melhoramentos para sua escola.

Ao sair, o professor quis beijar a mão do soberano, em sinal de respeito, mas o Imperador, com ar de bondade, dispensou-o daquela homenagem dizendo-lhe:

— Os mestres é que precisam de que os alunos lhe beijem as mãos.

Em: Encantos Literários: antologia, organizado pela Professora  Deomira Stefani,  São Paulo, Ática: s/d

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Mário Rodrigues Sette (Recife, PE 1886 — 1950) professor, jornalista, contista, cronista e romancista.  Veja: www.mariosette.com.br

Obras:

Ao clarão dos obuses, contos, 1914
Rosas e espinhos, contos, 1918
Senhora de engenho, romance, 1921
A filha de Dona Sinhá, romance, 1923
O vigia da casa grande, romance, 1924
O palanquim dourado,  romance, 1921
Instrução Moral e Cívica, didático, 1926
Sombra de baraúnas, contos,  1927
Contas do Terço, romance, 1928,
A mulher do meu amigo, novela, 1933
João Inácio, novela, 1928
Seu Candinho da farmácia, romance, 1933
Terra pernambucana, didático, 1925
Brasil, minha terra! , didático, 1928)
Velhos azulejos, parábolas escolares, 1924
Os Azevedos do Poço,romance, 1938
A moça do sítio de Yoyô Coelho, contos, s/d
Maxambombas e maracatus, crônicas, 1935
Arruar, crônicas, 1948
Anquinhas de Bernardas, 1940
Barcas de vapor, 1945
Onde os avós passaram, s/d
Memórias íntimas,s/d





Conto acumulativo folclórico: O Macaco perdeu a banana

7 05 2012

Macaco no balanço com banana, ilustração H.A. Rey.

O Macaco perdeu a banana

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O macaco estava comendo uma banana num galho de pau quando a fruta lhe escorregou da mão e caiu num oco de árvore.  O macaco desceu e pediu que o pau lhe desse a banana:

— Pau me dá a banana!

O pé de pau nem-como-cousa.  O macaco foi ter com o ferreiro e pediu que viesse com o machado cortar o pau.

— Ferreiro, traga o machado para cortar o pau que ficou com a banana!

O ferreiro nem se importou.  O macaco procurou o soldado a quem pediu que prendesse o ferreiro.  O soldado não quis.  O macaco foi ao rei para mandar o soldado prender o ferreiro para este ir com o machado cortar o pau que tinha a banana.  O rei não prestou atenção. O macaco apelou para a rainha.  A rainha não o ouviu. O macaco foi ao rato para roer a roupa da rainha. O rato recusou. O macaco recorreu ao gato para comer o rato. O rato nem ligou. O macaco foi ao cachorro para morder o gato. O cachorro recusou. O macaco procurou a onça para comer o cachorro. A onça não esteve pelos autos. O macaco foi ao caçador para matar a onça. O caçador se negou. O macaco foi até a Morte.

A Morte ficou com pena do macaco e ameaçou o caçador, este procurou a onça, que perseguiu o cachorro, que seguiu o gato, que correu o rato, que quis roer a roupa da rainha, que mandou o rei, que ordenou ao soldado que quis prender o ferreiro, que cortou com o machado o pau onde o macaco tirou a banana e comeu.

 

Recolhido por Benvenuta de Araújo, em Natal no Rio Grande do Norte.

Em: Contos tradicionais do Brasil (folclore) de Luís da Câmara Cascudo, Rio de Janeiro, Edições de Ouro:1967.

 

Como o autor exemplifica nesse livro os contos acumulativos são muito comuns nas Américas.  E Câmara Cascudo  relaciona alguns contos semelhantes a este, em que a Morte é chamada no final e todos correm a fazer o que a morte pede, por medo do que possa acontecer.  O mais semelhante ao nosso é de origem espanhola.





Véspera de Reis — texto escolar de Theobaldo Miranda Santos

5 01 2012

Bumba-meu-boi, 1969

Enrico Bianco (Itállia/Brasil, 1918)

óleo sobre cartão colado em madeira, 59 x 95 cm

Coleção Particular

Véspera de Reis

Theobaldo Miranda Santos

Chamam-se reisados as festas populares que se realizam na véspera de Reis.  Tiveram início na Bahia, passando-se, depois, para outros estados do Brasil, inclusive São Paulo.  Essas festividades tradicionais tomaram aspectos diferentes nas diversas regiões do nosso país.

Assim, em certos lugares, os reisados assumem a forma de ternos, isto é, de grupos de pessoas, fantasiadas de pastores, acompanhadas de tocadores de flautas, violões e pandeiros.  Depois de visitarem o presépio da igreja local, dirigem-se às casas previamente avisadas, que se conservam inteiramente fechadas. Chegando a essas casas, cantam:

Vinde abrir a vossa porta,

Se quereis ouvir cantar;

Acordai, se estais dormindo,

Que nó viemos festejar!

Os três reis de longes terras

Vieram ver o Messias,

Desejado há tanto tempo

De todas as profecias.

Abrem-se as portas e janelas.  O cortejo entre na casa e começa a adoração do Deus Menino no presépio armado na sala.  Cada pessoa prosta-se, reverente, diante do presépio e entoa uma quadrinha.

Em todos os lugares, o reisado tem a forma de rancho da burrinha ou de rancho do boi, também chamado bumba-meu-boi.  No rancho da burrinha, um dos membros do cortejo ata à cintura uma armação com cara de burro, simulando estar montado.

No bumba-meu-boi, mais usado entre os sertanejos paulistas, a figura central do cortejo é um boi, grosseiramente imitado, na pele do qual se oculta um rapaz, que executa uma dança característica. Em certas localidades de São Paulo, os reisados se compõem apenas de grupos de músicos e cantores que visitam as casas onde há presépios armados e onde são recebidos com doces e bebidas.

Em: Terra Bandeirante, 4º ano — pequena antologia sobre a terra, o homem e a cultura do estado de São Paulo, Theobaldo Miranda Santos, Rio de Janeiro, Agir:1954





O Rei mandou me chamar — poesia infantil, folclore brasileiro, anônima

18 02 2011
Rei de Ouros, Baralho Espanhol.

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O  Rei mandou me chamar

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                                 Anônimo

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O Rei mandou me chamar,

pra casar com sua filha.

Só de dote ele me dava,

Europa, França e Bahia.

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Me lembrei do meu ranchinho,

da roça, do meu feijão.

O Rei mandou me chamar.

Ó seu Rei, não quero não.

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Folclore brasileiro, canto negro do Recôncavo Baiano.

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Vejam o vídeo  do  Iº Encontro de Coros Camargo Guarnieri – Coral Juvenil EMMSP – Teatro Municipal de São Paulo Maestrina: Mara Campos.

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Uma versão musical belíssima de uma antiga cantiga folclórica brasileira

6 01 2011

Anjo com coração, de Claudia Quioda.

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Se essa rua, se essa rua fosse minha

Canção folclórica brasileira

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Se essa rua, se essa rua fosse minha,

eu mandava, eu mandava ladrilhar,

com pedrinhas, com pedrinhas de brilhantes,

para o meu, para o meu amor passar.

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Nessa rua, nessa rua tem um bosque,

que se chama, que se chama solidão,

dentro dele, dentro dele mora um anjo,

que roubou, que roubou meu coração.

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Se eu roubei, se eu roubei teu coração,

tu roubaste, tu roubaste o meu também.

Se eu roubei, se eu roubei teu coração,

foi porque, só porque te quero bem.

AGORA OUÇA:

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Histórias do Saci — poema infantil de Marieta Leite

27 02 2009

saci

Ilustração de Maurício de Sousa

HISTÓRIAS  DO SACI

 

                                              Marieta Leite

 

 

A criançada foi dormir

pensando nas histórias

do saci-pererê.

 

 

Lá fora,

fria, farfalha a floresta densa

e o vento zune

nos túneis estreitos das montanhas

imensas

  paradas 

vestidas da luz assombrada

que esguicha a lua fantasma.

 

 

E o saci-pererê

  pererê …  pererê! …

balança o corpinho negro

enrodilhado no cipós.

E espia p’ra o alto

e manda p’ra lua

um assovio fino

que zune mais que o vento

e farfalha mais que o mato

  Pererê …  pererê! …

 

 

Mas quando a madrugada foi chegando,

empurrando

com seus dedos de luz

o capuz de cetim

da noite enluarada,

e a manhã,

trepada na montanha mais alta,

sorriu

seu sorriso de sol

a criançada foi espiar a janela

que tinha amanhecido toda aberta

 escancarada  

Sem que ninguém soubesse como nem por quê.

 

 

Mas …  ah!

O galho fresco de árvore,

lascado de novo,

que em cima dele se achava,

com certeza

tinha servido de chicote

ao saci-pererê.

 

 

Mas só a tia Josefa é que sabia,

que fora o vento,

que cobrira de pétalas o chão.

E que o galho fresco de árvore

lascado de novo,

tinha sido um pedaço de chicote

do filho de Siá Maria

que ela vira,

ao abrir a janela,

madrugadinha ainda,

fustigar, em demanda do pasto,

seu cavalo alazão.

 

 

Em:  Terra Bandeirante de Theobaldo Miranda Santos, para o 3° ano primário,  Rio de Janeiro, Agir: 1954.

 

——

VOCABULÁRIO

 

Farfalha – faz ruído sob a ação do vento

 

Densa  cerrada

 

Lua fantasma – lua que mete medo

 

Túneis – passagens ou caminhos debaixo da terra

 

Escancarada – aberta completamente

 

Fustigar – bater com vara ou com chicote

 

Em demanda – em busca, à procura

 

Alazão  cor de canela

 

———–

 

Questionário:

 

1 – Que foi fazer a criançada?

 

2 – Que fazem, lá fora, a floresta e o vento?

 

3 – E o saci-pererê?

 

4 – Que fez a criançada quando chegou a madrugada?

 

5 – Para que serviu o galho de árvore lascado?

 

6 – Que sabia a tia Josefa?





A pesca das estrelas — Wilson W. Rodrigues

11 07 2008

Céu estrelado, 2007, Douglas Soares ( MG, Brasil)

Céu estrelado, 2007, Douglas Soares ( MG, Brasil)

 

Hoje, arrumando uma prateleira de livros que quase não uso, deparei-me com um volume comprado num sebo, de Wilson W. Rodrigues, poeta brasileiro, sobre quem sei muito pouco.  Não tenho nenhuma de suas poesias, mas além de poeta, Wilson W. Rodrigues foi um folclorista, arrecadando histórias e compilando-as.  Aproveito para repassar aqui um trechinho mínimo encontrado pela manhã.

 

 

 

 

 

 

 

 

A PESCA DAS ESTRELAS

 

            Pai João menino foi à pescaria.  E estava alegre porque os negros diziam que iam pescar estrelas na lagoa onde morrera o Quiçambé.

            Quando chegaram, as águas do lago estavam cheinhas de estrelas.  Tomaram as canoas e jogaram as redes.

            — A pesca vai ser boa.

            O moleque só queria uma estrela ou uma estrelinha.

            Quando puxaram a rede, ela veio cheia, mas todas as estrelas se transformaram em peixes.

 

 

Pai João menino, de Wilson W. Rodrigues, Editora Publicitan (Coleção Mãe Maria, vol.2): s/d, Rio de Janeiro, página 97.  [texto datado, Distrito Federal, 1949]

 

 

Wilson Woodrow Rodrigues, nasceu em 1916 em Salvador, BA.  Foi poeta, folclorista e jornalista.

Obras:

 

A caveirinha do preá,  Arca ed.: s/d, Rio de Janeiro

Desnovelando, Arca ed., s/d, Rio de Janeiro

O galo da campina, Arca ed,: s/d, Rio de Janeiro

O pintainho, Arca ed.: s/d, Rio de Janeiro

Por que a onça ficou pintada, Arca ed:s/d, Rio de Janeiro

A rãzinha, Arca ed:s/d, Rio de Janeiro

Três potes, Arca ed:s/d, Rio de Janeiro

O bicho-folha, Arca ed:s/d, Rio de Janeiro

A carapuça vermelha, Arca ed:s/d, Rio de Janeiro

Bahia flor, 1948 (poesias)

Folclore Coreográfico do Brasil, 1953

Contos, s/d

Contos do Rei-sol, s/d

Contos dos caminhos, s/d

Pai João, 1952