Sobre advogados…

13 04 2024

Escritório de advogados, 1545

Marinus van Reymerswaele (Flandres, 1490-1546)

óleo sobre madeira, 102 x 124 cm

 

 

 

Quantas coisas aprendi no exercício da minha função! Vi um pai morrer num celeiro, sem um tostão, abandonado por duas filhas a quem havia doado quarenta mil libras de renda! Vi testamentos serem queimados; vi mães despojarem seus filhos, maridos roubarem suas mulheres, mulheres matarem seus maridos valendo-se do amor que lhes inspiravam para torná-los loucos ou imbecis, a fim de viver em paz com um amante. Vi mulheres darem ao filho de um primeiro leito gotas que acarretariam sua morte, a fim de enriquecer o filho do amor. Não posso lhe contar tudo o que vi, porque vi crimes contra os quais a Justiça é impotente. Enfim, todos os horrores que os romancistas creem inventar ficam sempre aquém da verdade. O senhor vai conhecer todas essas belas coisas, deixo-as ao senhor; quanto a mim, vou viver no campo com minha mulher, Paris me horroriza.

 

 

(Trecho, que se refere à novela de Honoré de Balzac, titulada Coronel Chabert)

 

 

 

Em: Os enamoramentos, Javier Marías, Rio de Janeiro, Cia das Letras: 2012