O aquecimento global e os animais ameaçados no Brasil

18 03 2009

animais-na-arca

Entrando na Arca de Noé, cerca 1590

Kaspar Memberger, o velho [Austria, ca 1555 –1618? ]

óleo sobre tela 124,4 x 162,9 cm,

Museu da História da Arte de Viena, Áustria

 

 

 

 

 

O jornal O GLOBO de hoje [página 25], num artigo de 2/3 de página, lista os animais no mundo mais ameaçados com o aquecimento global.  O artigo se baseia no alerta dado pelo relatório Mudanças Climáticas e Espécies da WWF — World Wildlife Federation. A lista é grande e aqui vou me dedicar principalmente a quatro animais cujas vidas dependem de um esforço brasileiro ainda maior do que outros, pois são animais cuja sobrevivência depende de ações imediatas do Brasil, não só do governo brasileiro, mas também das ações individuais de brasileiros, como todos nós.

 

 

 

RECIFES DE CORAIS

 

 

 

 corais

 

 

 

 

A extinção dos recifes de coral se acelera.  Acredita-se que em 50 anos, 80% de todos os corais do mundo hajam morrido.  De 1998 até hoje,  uma década, pode-se dizer, 16% dos corais no planeta desapareceram.  

 

Recifes de coral ameaçados podem ter a ajuda de reservas marinhas, que protegem a vida no mar da pesca comercial e das mudanças climáticas.  Nas Bahamas, na maior reserva marinha do Caribe, com 442 quilômetros quadrados, o número de corais jovens dobrou em áreas onde os peixes nativos foram protegidos da pesca. Os corais jovens são necessários para substituir os mais velhos que foram mortos por tempestades, doenças e outros problemas.

 

O efeito do aquecimento global nos corais é o resultado de um desequilíbrio na temperatura dos mares.  Para se reproduzir os recifes de corais – equivalentes às florestas tropicais debaixo d’água – precisam retirar minerais da água.  Com aquecimento das águas, menos minerais estão disponíveis, pois o mar fica mais ácido com um desequilíbrio do gás carbônico encontrado no mar.

Assim, as florestas de corais, morrem de fome. 

 

 

 

O ALBATROZ

 

 

 

albatroz 

 

 

 

 

Os albatrozes – esses magníficos pássaros marinhos, estão diminuindo em número, assustadoramente.  Seus habitats para acasalamento estão desaparecendo e as constantes mudanças climáticas que causam tormentas, furacões, tornados e demais exageros climáticos estão destruindo ninhos e ninhadas inteiras de uma só vez.  

 

Albatrozes sofrem também, e muito com embarcações de pesca industrial.  Muitas delas capturam  além dos peixes, um grande número de aves pelos anzóis do espinhel, inclusive albatrozes.  Nessas situações, os albatrozes mordem as iscas e são arrastados para baixo d’água, morrendo afogados.

 

 

BALEIA JUBARTE

 

 

 

 

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Um dos maiores perigos para a sobrevivência das baleias jubartes, outra baleias e golfinhos também é a fome.  Com o degelo total no mar da Antártica em 30 anos, ou seja, cerca de 2040, não haverá nenhuma fonte de alimentos para estas espécies.  A acidez dos oceanos mais frios, reduzirá substancialmente a fonte de alimento para estas baleias.  

 

Além disso, todos os anos as baleias jubartes visitam a costa brasileira, especialmente a costa da Bahia para reprodução. As baleias buscam as águas mornas de regiões tropicais para acasalar e dar a luz aos seus filhotes. Como a gestação da baleia jubarte é de aproximadamente entre onze e doze meses, as fêmeas que engravidaram na temporada passada retornam no ano seguinte para parir seus filhotes.  A exploração das reservas de óleo e gás localizadas no entorno do Parque Nacional Marinho dos Abrolhos, no sul da Bahia é uma ameaça direta à biodiversidade marinha da região e uma das principais causas do aquecimento global.

 

 

A TARTARUGA-DE-PENTE

 

 

 

 

 tartaruga-de-pente

 

 

A tartaruga-de-pente se alimenta quase que exclusivamente de invertebrados, principalmente esponjas.  Ambos, esponjas e invertrebados,  estarão também diminuindo em número pelo aumento da acidez na água do mar.    Uma fonte alimentar alternativa para as tartarugas-de-pente em locais onde há poucas esponjas pode ser o coral babão, como foi visto ser usado pelas tartarugas do Parque Estadual Marinho da Laje de Santos, onde as esponjas são pouco abundantes.   Mas, como vimos no primeiro item desta lista, os recifes de corais também estão em perigo.  

 

 

PRECISAMOS passar da  “muita falação e pouca ação” como resumiu Leandra Gonçalves, coordenadora da campanha de oceanos do Greenpeace Brasil, para mais ação de verdade.   A solução está em nossas mãos.

 

 





Novas descobertas em tumba egípcia

17 03 2009

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O egiptólogo espanhol José Manuel Galán descobriu uma câmara funerária pintada de 3,5 mil anos em Luxor, sul do Egito, anunciou o Conselho Superior de Pesquisas Científicas (CSIC).

 

A câmara, que faz parte do cemitério de Dra Abu El-Naga, tem as paredes e o teto completamente pintados com desenhos e hieróglifos do Livro dos Mortos e seria de Djehuty, uma autoridade da época.  Djehuty viveu na região por volta do ano 1.475 a.C. e recebeu um túmulo “muito especial” porque foi servente de uma das poucas mulheres que atuou como faraó na história do Egito, a famosa Hatshepsut, exercendo os cargos de chefe do Tesouro da rainha e também chefe dos artistas.  Hatshepsut  era filha de Tutmosis I (dinastia XVIII), cujo reinado aconteceu entre 1.479 e 1.457 a.C.

 

 

 

 

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Há sete anos que a equipe chefiada por Galán trabalha nas escavações ao redor das entradas de cemitérios na colina de Dra Abu el-Naga, em Luxor, Egito.  A equipe de arqueólogos espanhóis que penetrou na tumba do alto dignatário Djehuty, servente há cerca de 3,5 mil anos da rainha Hatshepsut, já foi responsável por um grande número de descobertas sem precedentes, inclusive a do primeiro retrato conhecido de um faraó visto de frente – provavelmente Tutmés III ou sua mãe, Hatshepsut — e não de perfil.  .  Em 2007, esta descoberta trouxe bastante interesse na comunidade de egiptólogos porque fora um achado é incomum porque os egípcios sempre se retratavam de perfil. Os únicos retratos frontais eram os de estrangeiros, de demônios e do deus anão Bes, que seria uma importação cultural.

 

 

 

 

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—-

 

 

 

Agora novas riquezas se fazem conhecidas.  A câmara encontrada e devidamente anunciada hoje é nada mais nada menos do que uma sala quadrada de 3,5 metros de largura e 1,5 metro de altura.  O que a torna fora do  comum é a decoração total, incluindo todas as paredes e o teto com pinturas da época.





ONG recupera árvores nativas da Mata Atlântica

14 03 2009

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Paisagem, s/d

Francisco Rebollo Gonsales (Brasil 1903-1980)

Óleo sobre duratex  46x 33 cm

Vi na televisão na semana passada um pequeno vídeo sobre a recuperação de um terreno que havia sido um pasto, na região da cidade de Itu.  A recuperação da Mata Atlântica neste lugar  começa com o plantio de 120 mudas de árvores.  Este plantio deve surtir bons resultados já que acontece com apoio da Fundação SOS Mata Atlântica, que tem grande experiência em atividades de restauração florestal no Bioma Mata Atlântica, que

está com uma ampla programação de plantios de mudas nativas sendo concretizada neste início de ano.

 

Outros locais agraciados com programas de recuperação e restauração florestal são Piracicaba e Campinas.

 

 

Se você quiser participar das campanhas de recuperação ambiental e reflorestamento da Mata  Atlântica, faça do SOS Mata Atlântica a sua página inicial no computador, cadastre-se e toda vez que ligá-lo click no CLICKARVORE, uma árvore será plpantada para cada click que você der.  

 

 

 

 

 





Dia Nacional da Música Clássica: nascimento de Heitor Villa-Lobos

5 03 2009

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Chorinho, 1942

Candido Portinari (Brasil 1903 – 1962)

têmpera sobre tela, 225 x 300 cm

Museu de Arte Moderna de Lisboa,

Portugal

 

Foi quando eu fazia parte do Coral do Colégio Pedro II no Rio de Janeiro, que comecei a apreciar, ainda que muito superficialmente, a obra de Villa-Lobos.  Infelizmente devo confessar que sofri do mesmo mal de que muito brasileiros sofrem:  passei a dar mais valor ao compositor brasileiro quando fui fazer a faculdade no exterior.  Naquela época fiquei extremamente surpresa com o conhecimento que as pessoas versadas em música clássica já tinham sobre o compositor brasileiro.  E a medida que os anos se passaram, quando eu ainda estava envolvida nos cursos de mestrado e doutoramento, percebi com prazer que rara era a semana em que não ouvia, na rádio National Public Radio dos EUA uma ou mais obras de Heitor Villa-Lobos, muitas vezes mais tocadas, do que obras de compositores americanos, seus contemporâneos, tais como Aaron Copeland ou John Cage.

 

O gosto pela música clássica no Brasil ainda está precário.  Mas hoje, no Dia Nacional da Música Clássica, o dia escolhido por ser a data d nascimento do carioca Heitor Villa-Lobos,  fui surpreendida pelas boas novas, numa pequena demonstração na televisão, sobre um grupo deCrianças pobres de Belo Horizonte que consquistou  o direito de se apresentar num espaço profissional por causa da música. O repertório é de Heitor Villa Lobos, símbolo da cultura nacional.   Um pouco antes, no Carnaval deste ano tivemos Heitor Villa-Lobos sendo homenageado pela escola de samba de Vila Isabel no Rio de Janeiro. 

 

Este ano, 2009, também celebramos no dia 17 de novembro, o cinquentenário da morte do compositor. Para lembrar Heitor Villa-Lobos, coloco aqui as tres letras que pertencem a diversos movimentos de diferentes Bacchianas da série de 9, compostas por Villa-Lobos.

 

 

O Trenzinho do Caipira (bachianas Brasileiras Nº 2)

 

 

Composição:  Heitor Villa-Lobos

Letra:   Ferreira Gullar

 

Lá  vai  o trem  com  o  menino

Lá  vai   a  vida  a  rodar

Lá  vai  ciranda  e destino

Cidade  noite  a  girar

Lá  vai  o  trem  sem  destino

Pro  dia  novo  encontrar

Correndo  vai  pela  terra,  vai  pela  serra,  vai  pelo  mar

Cantando  pela  serra  do  luar

Correndo  entre  as  estrelas  a  voar

No  ar,  no  ar …

 

 

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Paisagem com bananeiras,  1927

Cândido Portinari ( Brasil 1903-1962)

óleo sobre madeira,  22 x 27 cm

Coleção Particular

 

Bachianas Brasileiras, No.5 : Cantilena

 

 

Composição: Heitor Villa Lobos

Letra: Ruth Valadares Corrêa

 

Tarde uma nuvem rósea lenta e transparente.

Sobre o espaço, sonhadora e bela!

Surge no infinito a lua docemente,

Enfeitando a tarde, qual meiga donzela

Que se apresta e a linda sonhadoramente,

Em anseios d’alma para ficar bela

Grita ao céu e a terra toda a natureza!

Cala a passarada aos seus tristes queixumes

E reflete o mar toda a sua riqueza…

Suave a luz da lua desperta agora

A cruel saudade que ri e chora!

Tarde uma nuvem rósea lenta e transparente

Sobre o espaço, sonhadora e bela!

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Menino com Pássaro, 1957

Cândido Portinari ( Brasil 1903-1962)

óleo sobre tela,  65 x 53 cm

Coleção Particular

 

Bachianas Brasileiras, No.5 : Dança do Martelo

 

 

Composição: Heitor Villa Lobos

Letra de Manuel Bandeira

 

 

Irerê meu passarinho do sertão do Cariri,

Irerê meu companheiro,

Cadê viola ? Cadê meu bem ? Cadê Maria ?

Ai triste sorte do violeiro cantadô !

Ah ! Sem a viola em que cantavo o seu amô,

Ah ! Seu assobio é tua flauta de Irerê:

Que tua flauta do sertão quando assobia,

Ah ! Agente sofre sem querê !

Ah ! Teu canto chega lá no fundo do sertão,

Ah ! Como uma brisa amolecendo o coração,

Ah ! Ah !

Irerê, solta o teu canto !

Canta mais ! Canta mais !

Prá alembrá o Cariri !

 

Canta cambaxirra ! Canta juriti !

Canta Irerê ! Canta, canta sofrê

Patativa ! Bem-te-vi !

Maria acorda que é dia

Cantem todos vocês

Passarinhos do sertão !

Bem-te-vi ! Eh ! Sabiá !

La ! liá ! liá ! liá ! liá ! liá !

Eh ! Sabiá da mata cantadô !

Liá ! liá ! liá ! liá !

Lá ! liá ! liá ! liá ! liá ! liá !

Eh ! Sabiá da mata sofredô !

O vosso canto vem do fundo do sertão

Como uma brisa amolecendo o coração

 

Irerê meu passarinho do sertão do Cariri …

 

Ai !

 

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Heitor Villa-Lobos





Instrumentos musicais feitos de gelo?!?

27 02 2009

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Foto: Bjørn Furuseth

 

 

 

 

Apesar de carioca, confesso que não sou muito chegada ao calor.  E depois deste mês de temperaturas bastante altas, sem nenhuma brisa para aliviar o mal-estar, andei sonhando com lugares para visitar no próximo ano.  Eis que do nada me deparo com algo realmente mirabolante: um festival de música no gelo.  Isso mesmo.  Acho que tentarei comprar entradas para a próxima versão deste festival em 2010.  

 

As fotografias do evento deste ano me deixaram com muita vontade de pelo menos conhecer este fenômeno.  Os concertos nesta ocasião são tocados por violões, guitarra, flautas, violinos, harpas, órgãos e outros instrumentos, todos feitos de gelo, isso mesmo, de água congelada!  É difícil de acreditar, mas  é a absoluta verdade. 

 

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Foto: Bjørn Furuseth

 

 

 

 

 

O local é a chamada catedral, um espaço como um gigantesco iglu na glacier Val Senales na região da Itália tirolesa.  Composta de uma cúpula de 12 metros de altura a catedral é completamente feita de gelo.  É uma experiência arquitetônica sem igual, dizem os visitantes, porque há mais de um ambiente, e tanto os palcos, como as poltronas em fila, o bar, tudo é esculpido no gelo.  Ensembles e orquestras tocam suas músicas em instrumentos feitos com gelo.  Dizem que a acústica é perfeita.  O festival começou no dia 27 de janeiro e vai até o inicio de Abril.

 

A estadia precisa ser marcada com antecedência pois  fica por conta das hospedarias de quatro aldeias no vale entre montanhas: Certosa, Monte Catarina, Madonna di Senales e Vernago.   Estas aldeias estão acostumadas a hospedar turistas por na parte superior do vale fica a estação dos carrinhos a cabo de Val Senales, que é uma estação de esqui aberta o ano inteiro.  Na verdade, esta região é o conhecido caminho, há muitos e muitos séculos  por onde pastores italianos levavam seus cordeirinhos para os pastos verdes do vale Ventertal na Áustria.  Foi aqui neste local que Ötzi o Homem da Neve, foi encontrado em 1991, seu corpo muito bem preservado  na montanha Similaun no coração da glacier  Val Senales.  

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REUTERS/Alessandro Bianchi

 

 

 

Uma série de concertos é programada.  Cada concerto está  programado para ter um estilo diferente e há também um concerto especial para crianças.  Em 2009 todos os concertos são realizados às 11:00 e às 15 horas.  Mas há alguns poucos concertos às 17 horas.   O festival também tem um show de luzes e um de fogo.  E no final há uma descida de esqui à luz de tochas.   A entrada para todos os eventos é gratuita.  

 

Por mim, eu passo a descida de esqui à luz de tochas, mas ficaria feliz de ver os esquiadores.  Todo o resto me parece perfeito!!!!!!!!!

 





Lan houses refletem familiaridade com a internet?

26 02 2009

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Opção: cartum de Máucio,  Livro: Edição de risco, 2006, Porto Alegre

 

 

 

Ando atrasada nas minhas leituras semanais e mais ainda nas notas para este blog.  Mas durante o longo fim de semana do Carnaval, voltei a dar uma limpeza na papelada que junto para futura referência e encontrei um artigo O novo astro pode ser você, que foi publicado originalmente na revista New Scientist, e traduzido e publicado no Brasil pela revista Época de 9 de janeiro de 2009.  

 

Eu o havia separado, não só porque é um artigo sobre um assunto interessantíssimo: Centros de pesquisa estão transformando os enigmas científicos, como a identificação de galáxias, em games viciantes.  Qualquer um pode ajudar a desvendá-los.   Como mostra o artigo, mas principalmente porque a fotografia de um jovem chinês em uma Lan house em Pequim simplesmente me deixou de cabelo em pé!

 

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Lan house em Pequim. Foto: Teh Eng Koon,  AFP

 

 

 

Há alguns meses que venho sentindo que andamos nos enganando no Brasil ao repetirmos que o acesso à internet está cada vez mais difundido.  Talvez eu tenha me enganado ao interpretar as notícias vindas pelos porta-vozes do governo.  Há exatamente dois anos, em março de 2007, a Agência Brasil do governo brasileiro declarava que o Brasil ocupava a 62ª posição mundial em relação ao uso da internet quando consideramos o número de internautas em relação à população do país.  Não era um dado para nos orgulharmos, afinal estar entre as 20 maiores economias do mundo e estar nessa colocação em uso da internet é um pouco encabulante… Mas, simultaneamente a mesma agência divulgava que 32,1 milhões de brasileiros, cerca de 21,9% da população acima dos 10 anos de idade, utilizaram a rede mundial de computadores, a internet, no país. Isso nos colocava com aparente orgulho nacionalista: o Brasil como o primeiro país da América Latina e o quinto no mundo no uso da internet.

 

Ora, talvez eu tenha através do ano e meio seguinte continuado a acreditar — como o nosso governo gostaria que o fizéssemos — que tudo estava muito bem sob um céu azul de bolinhas brancas.  Mas nos últimos seis meses, prestando maior atenção às notícias mundiais comecei a ter esta sensação esquisita, de que as coisas andavam mudando muito rapidamente e que, a não ser em revistas e portais especializados,  a não ser entre os aficionados, não se fala no progresso fora do Brasil. 

 

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Lan House em Copacabana

Eis que me deparo com este artigo na revista Época.  Não necessariamente o artigo que por si só já dava para levantar os cabelinhos da nuca quando pensamos em números: quantos brasileiros, adolescentes ou adultos, passam horas com jogos na internet que possam ajudar a resolver grandes enigmas da ciência?  Não quero nem pensar.  Tenho certeza de que a percentagem será mínima.  Mas o que me chamou a atenção foi um detalhe muito mais prosaico, foi a foto da Lan house ilustrando o artigo.

 

Ora, ora, moro no Rio de Janeiro, que apesar de não ser a capital das finanças brasileiras, ainda é uma senhora cidade com muita força econômica.  Moro também no bairro de Copacabana um dos bairros mais populosos da cidade, um bairro da zona sul do Rio de Janeiro, onde há muitas, muitas Lan houses.  Mas das que conheço – umas 8,  numa área de um raio de 4 quarteirões em volta da minha residência – não há Lan houses com o equipamento mostrado na fotografia da Lan house de Pequim.  Não há Lan houses com monitores modernos, com a quantidade de computadores vistos nesta foto.  E olha que o pessoal por aqui capricha por que tem que dar cobertura aos turistas.

 

 

 

 

De modo que fica a pergunta: o que estamos REALMENTE fazendo para acertarmos o passo com o resto do mundo?

 

 





Música para os ouvidos?

24 02 2009

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Você sabia que aquele cantar horripilante da fêmea do mosquito, aquele barulho semelhante a um violino desafinado, que não nos deixa dormir, é um verdadeiro poema de amor para os mosquitos machos que os ouvem? É um sinal de preparação para uma grande noite de amor!  Mas nem tudo está perdido em termos de música para os nossos ouvidos!

 

A esperança vem com os cientistas da Universidade de Cornell, nos EUA, que descobriram que, contrário ao que se pensava, os mosquitos Aedes Aegypti têm uma outra música, distinta, só deles.  E acreditam que é que isso venha a trazer os meios para que possam desenvolver cientificamente novas idéias de combate à reprodução desses mosquitos.  Na verdade, procuram também um novo estilo de combate à reprodução dos mosquitos Anopheles gambiae que transmitem a malária. 

 

 O que eles descobriram é que a fase do namoro, a chamada para a reprodução dos mosquitos que transmitem dengue é feita numa frequência de 1200 hertz que é um múltiplo simultâneo de 400 hertz – a freqüência das fêmeas e de 600 hertz a freqüência dos machos.   Este conhecimento talvez venha a servir de inspiração para novas maneiras de se controlar a população de mosquitos.   Tradicionalmente os mosquitos que transmitem a malária e a dengue são combatidos, sem grande sucesso, com inseticidas.

 

Nota baseada em notícia da BBC.





Romances celulares, você leria?

22 02 2009

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Há dois meses, no final de 2008 li uma reportagem de Dana Goodyear na revista The New Yorker que me deixou ao mesmo tempo feliz e preocupada.  O artigo chamado Carta do Japão: eu romances, considera que em 2007 quatro dos cinco romances mais vendidos no Japão haviam sido escritos em telefones celulares.  

 

Dana Goodyear centralizou seu artigo na experiência de Mone uma jovem de 21 anos que em março de 2006, achando-se casada, sem muito o que fazer, começou a escrever um romance, em grande parte baseado nos seus próprios diários de adolescente.  Na casa de sua mãe, à espera do marido completar um curso em Tóquio,  Mone se acomodou em sua antiga cama e começou a escrever seu romance no telefone celular.  Neste mesmo dia ela começou a postar o que escrevia num portal japonês chamado Maho i-Land ( A Ilha Mágica), sem nunca dar uma segunda olhadela no que havia escrito nem pensando num roteiro.  No terceiro dia de postagem Mone começou a ter contato com leitores de sua prosa que já se encontravam intrigados com as aventuras de Saki, personagem que narra o romance em questão.  O Sonho Eterno, nome que dera aos seus escritos, havia conquistado leitores que lhe pediam mais capítulos.

 

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Em meados de abril Mone havia terminado seu primeiro romance, dezenove dias depois de ter iniciado o trabalho.  Nesta altura, seu marido também acabara o curso e ela voltou a Tóquio.   Eis que de repente ela se vê procurado por uma casa editorial que queria publicar seu romance como um livro comum.  Em dezembro de 2006, o livro,  O Sonho Eterno, com aproximadamente 300 páginas foi lançado e distribuído pela Tohan, transformando-se imediatamente num dos dez mais vendidos livros do Japão em 2007.  No final daquele ano, romances escritos em telefones celulares haviam tomado 4 dos 5 primeiros lugares de mais vendidos em ficção.  O romance Linha vermelha de Mei, vendeu 1.800.000 exemplares, e ficou em segundo lugar para o romance Céu de Amor, de autoria de Mike, conseguiu o primeiro lugar em vendas.  

 

Estes escritores hoje em dia chamados de escritores de celulares conseguiram depois deste sucesso serem completamente reconhecidos como parte de um movimento cultural.  Inicialmente houve um grande rebuliço nas letras japonesas.  Muitos temiam que esta literatura, em grande parte direcionada a adolescentes viesse a acabar com a tradicional arte da escrita japonesa.  Mas logo descobriram que este não é o caso. 

 

Para jovens japoneses, e especialmente para meninas, os celulares são sofisticados, baratos e há mais de dez anos facilmente conectáveis com a internet.  Na verdade, 82% dos japoneses entre 10 e 21 anos de idade usam telefone celular.  Há uma geração inteira crescendo acostumada ao uso do celular como um mundo deles portátil, por onde eles compram, usam a internet, jogam videogames, vêem televisão em portais na web explicitamente dedicados aos celulares. 

 

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Este fenômeno daqui a pouco deixará de ser só japonês.  Com os novos IPhone e com serviços de entrega de textos como Twitter, os hábitos americanos estão no momento se desenvolvendo paralelamente aos japoneses.  Há nos EUA dois portais Quillpill e Textnovel, ambos ainda em beta, que oferecem modelos para a escrita e a leitura de ficção em celulares.  

 

A indústria editorial japonesa que havia encolhido por mais de 20% nos últimos 11 anos, abraçou o fenômeno da ficção celular com gosto.  Editoras já começam a contratar escritores para este tipo de ficção, e a distribuir capítulos dessas histórias por uma pequena taxa.  É a volta dos seriados, tal qual muito livros do século XIX foram escritos, com a diferença de terem sido publicados nos jornais.  Em 2007, 98 romances originalmente produzidos em celulares foram publicados em forma de livro.   Mais uma vez a internet mostra também como o a rede de conhecimentos de uma pessoa pode servir de base para o apoio inicial e para o sucesso mais tarde de um membro da sociedade.  Como Yoshida – um executivo em tecnologia – descreve, é um esforço coletivo.  Seus fãs lhe dão apoio e o encorajam a continuar no seu processo criador,  — eles ajudam na criação.   Depois eles compram o livro para re-afirmar aquela conexão, aquela “amizade” que têm com o autor.  

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Sozinhas estas jovens adolescentes escritoras e leitoras de ficção no celular estão mudando os costumes tradicionais.  Agora, para esta geração o sinal da tribo, é gostar de ler.  

 

Com tanto sucesso em ficção,  por que eu fiquei ao mesmo tempo feliz e preocupada?  Feliz, porque acho que qualquer incentivo à leitura é positivo. A leitura expande os conhecimentos, a imaginação.  Ela fertiliza o cérebro, ela nos mantem flexíveis nos modos de pensar, de ver e de calcular.   Preocupada, bem, fiquei mais com a escala da diferença tecnológica brasileira.  Por mais que tenhamos grandes cérebros trabalhando no Brasil em tecnologia, tenho a sensação de que o abismo entre as sociedades mais desenvolvidas tecnologicamente e nós se aprofunda.  Contrariando muitas projeções de desenvolvimento e de capacitação.  Isso é preocupante.   E muito.

 





Nós e a comida cozida

22 02 2009

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Neste último número da revista The Economist, há um artigo muito interessante sobre a evolução do ser humano.  Nele o professor da Universidade de Harvard, Richard Wrangham considera a probabilidade dos seres humanos terem se desenvolvido em humanos principalmente pelo descobrimento e manutenção do hábito de se comer alimentos cozidos.  Ou seja, depois que aprendemos a cozinhar os alimentos encontrados na natureza, depois que aprendemos a assar a carne dos animais que caçávamos, o desenvolvimento do ser humano  se modificou  muito e facilitou o crescimento dos nossos cérebros da maneira que conhecemos.

 

 

Cozinhar é universal para todos os seres humanos.  Não há uma única cultura, um único grupo humano que não dependa da preparação da comida no fogo.    E há ainda um outro detalhe de grande importância de acordo com a pesquisa de Wrangham:  o consumo de uma refeição em que o alimento é cozido no início da noite, em grupo, com família e amigos, é padrão, é o normal em todas as sociedades conhecidas.  E que sem cozinhar seu alimento o cérebro humano – que consome de 20 a 25% da energia do corpo – não poderia trabalhar o tempo todo.  Ele ainda advoga que a humanidade e a comida cozida nasceram simultaneamente.

 

Com o cozimento dos alimentos há 3 grandes mudanças que favoreceram o desenvolvimento de seres humanos como os conhecemos: 1)  moléculas nos alimentos são quebradas em fragmentos de mais fácil digestão.  2)  As moléculas de proteína quando quebradas revelam cadeias de aminoácidos em que as enzimas digestivas  podem ser mais facilmente processadas.  3) O calor amacia os alimentos.  Isto os faz mais fáceis de digerir.  Assim o corpo usa menos calorias para ingerir e digerir o alimento cozido do que o faz com o alimento cru.

 

Para a defesa de sua tese, Dr. Wrangham, usou de pesquisas em diversos outros campos. Para maior detalhamento do que ele fez, por favor, clique aqui:  THE ECONOMIST.   É importante, no entanto, lembrar que a contribuição que ele faz ao estudo da evolução do ser humano é a ligação entre a comida cozida e a humanidade.





Brasil que lê: foto tirada em lugar público

16 02 2009

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Um porteiro de um edifício na Avenida Atlântica, Copacabana.