A onça e o bode, fábula brasileira, texto de Luís da Câmara Cascudo

3 02 2012

Ilustração M&V Editores

A onça e o bode

O Bode foi ao mato procurar lugar para fazer uma casa.  Achou um sítio bom.  Roçou-o e foi-se embora.  A Onça que tivera a mesma ideia, chegando ao mato e encontrando o lugar já limpo, ficou radiante.  Cortou as madeiras e deixou-as no ponto.  O Bode, deparando a madeira já pronta, aproveitou-se, erguendo a casinha.  A Onça voltou e tapou-a de taipa.  Foi buscar seus móveis e quando regressou encontrou o Bode instalado.  Verificando que o trabalho tinha sido de ambos, decidiram morar juntos.

Viviam desconfiados, um do outro.  Cada um teria sua semana para caçar.  Foi a Onça e trouxe um cabrito, enchendo o Bode de pavor.  Quando chegou a vez deste, viu uma onça abatida por uns caçadores e a carregou até a casa, deixando-a no terreiro.  A Onça vendo a companheira morta, ficou espantada:

— Amigo Bode, como foi que você matou essa onça?

— Ora, ora… Matando!… Respondeu o Bode cheio de empáfia.  Porém, insistindo sempre a Onça em perguntar-lhe como havia matado a companheira, disse o Bode:

— Eu enfiei este anel de contas no dedo, apontei-lhe o dedo e ela caiu morta.

A Onça ficou toda arrepiada, olhando o Bode pelo canto do olho.  Depois de algum tempo, disse o Bode:

— Amiga Onça, eu lhe aponto o dedo…

A Onça pulou para o meio da sala gritando:

— Amigo Bode, deixe de brinquedo…

Tornou o Bode a dizer que lhe apontava o dedo, pulando a Onça para o meio do terreiro.  Repetiu o Bode a ameaça e a onça desembandeirou pelo mato a dentro, numa carreira danada, enquanto ouviu a voz do Bode:

— Amiga Onça, eu lhe aponto o dedo…

Nunca mais a Onça voltou.  O Bode ficou, então, sozinho na sua casa, vivendo de papo para o ar, bem descansado.

Em: Contos tradicionais do Brasil (folclore), Luís da Câmara Cascudo, Rio de Janeiro, Edições de Ouro: 1967

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Este conto foi arrebanhado por Câmara Cascudo do volume de J da Silva Campos, Contos e fábulas populares da Bahia, em Folk-Lore no Brasil, Ed. Basílio de Magalhães, Rio de Janeiro, 1928.

Câmara Cascudo lembra que esta variante do conto, [popular no Brasil inteiro, com versões também de origem indígena], “tem reminescência africana, resquício religioso dos negros do Congo Zambese“, da região Bantu.


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31 responses

27 08 2012
Avatar de maria beatriz maria beatriz

eu gosto muito de ler livro de luis camara cascudo

27 08 2012
Avatar de peregrinacultural peregrinacultural

Fico muito feliz que você gostoy da fábula da Onça e do Bode… Você tem bom gosto!

2 10 2013
Avatar de rafael rafael

eu adoro ler fabulas

2 10 2013
Avatar de peregrinacultural peregrinacultural

Rafael, eu também. Gostei muito dessa fábula. De qual você mais gosta?

2 10 2013
Avatar de jessica jessica

eu gosto de ler muitas fabulas

2 10 2013
Avatar de jessica jessica

eu gosto de ler todas as fabulas principalmente a da onça e o bode beijos da jessica linda

2 10 2013
Avatar de peregrinacultural peregrinacultural

Essa também é uma das minhas favoritas!

2 10 2013
Avatar de peregrinacultural peregrinacultural

Que bom, Jessica, há muitas fábulas aqui… volte sempre.

2 10 2013
Avatar de jessica jessica

as fabulas sao muito legais e boas

2 10 2013
Avatar de peregrinacultural peregrinacultural

Elas são boas e ensinam muita coisa…

2 10 2013
Avatar de jessica jessica

eu gostei demais das fabulas

2 10 2013
Avatar de peregrinacultural peregrinacultural

Que bom, Jéssica, volte sempre, 😉

23 12 2014
Avatar de altair altair

preciso desta história otiginal

7 07 2015
Avatar de talita talita

Oi, desculpe a ignorância kkkkk mas não sei qual a moral desta história! Eu preciso saber pra uma pesquisa pro meu irmãozinho. Obrigada abraço

9 11 2015
Avatar de milena milena

contos como esse de artimanha nao tem moral so fabulas que tem moral

21 07 2021
Avatar de Aldenice Cruz Aldenice Cruz

Mas no título da postagem está bem explícito: “Fábula brasileira”. Afinal devemos classificar como fábula ou conto?

9 11 2015
Avatar de milena milena

gosto muito de contos de artimanha e de fabulas tambem

20 06 2017
Avatar de Gra do youtube Gra do youtube

Ameii jkkk

23 06 2017
Avatar de peregrinacultural peregrinacultural

Que bom! Obrigada pelo retorno! 🙂

16 09 2017
Avatar de Suely Marques Suely Marques

Muito gostoso relembrar leitura feitas a anos…

16 09 2017
Avatar de peregrinacultural peregrinacultural

Boas memórias!

25 09 2017
Avatar de Vinícius Caixeta Vinícius Caixeta

Adorei a fabula. peregrinacultural me responda! Sempre acompanhos seu blog

26 09 2017
Avatar de peregrinacultural peregrinacultural

Que bom que gostou!

9 05 2018
Avatar de Luzia Luzia

Lembrei da minh infancia!

28 07 2020
Avatar de cristina cristina

Eu amo essa fábula!! Ouço desde de criança!!

28 07 2020
Avatar de peregrinacultural peregrinacultural

Que bom, Cristina! É muito boa mesmo!

24 06 2021
Avatar de Ana clara Miranda Trindade Ana clara Miranda Trindade

Esse conto é contado a quanto tempo ?

28 08 2021
Avatar de Elias Elias

Minha netinha está com seis anos e lê desde os cinco, porém, percebo q ela não gosta tanto assim de ler. Comprei ainda agora três volumes dos livros as mais belas histórias na esperança de desperta _ la para a leitura.
Hoje o grande desafio é fazer a criança GOSTAR de ler.

16 02 2022
Avatar de Emiliane Emiliane

Kkkkk é muito legal essa história..meu filhos amaram parabéns por ter colocado aqui pra todos poder ver obrigada!

22 06 2022
Avatar de Maria de Fátima Vilela Santiago Maria de Fátima Vilela Santiago

Li este conto quando tinha 8 anos. Hj com 68, minha netinha me pede pra contar uma história de quando eu era criança. Toda noite ela faz isso comigo. Fala que minhas histórias fazem ela adormecer tranquila. Já acabando meu repertório, lembrei da Onça e o Bode. Ela achou muito interessante e quando eu perguntei se tinha gostado, ela já havia adormecido. Mas ouviu toda a história. São contos que me levam de volta ao passado e abraçadeiras, adormecemos.

22 06 2022
Avatar de peregrinacultural peregrinacultural

Maria de Fátima, muito obrigada por ter me permitido participar desse momento delicioso entre vovó e netinha. Fico muito feliz com sua descrição. Aqui tento resgatar um tanto do que já foi tão importante na cultura brasileira. Sua netinha deve gostar muito de você e com razão. Um beijinho nas duas.

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