O presépio
Joaquim Serra
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Na palhoça iluminada,
Que fica junto da ermida,
Des que a missa foi cantada
Se congrega a multidão;
Toldo de mirta florida,
Flores de mágico aroma
Ornam o presépio, que toma
Na sala grande extensão.
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Quão lindo está! Não lhe falta
Nem o astro milagroso
Que de repente brilhou;
Nem o galo, que o repouso
Deixara por noite alta
E que inspirado cantou!
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Tudo o que a lenda memora
E consagra a tradição,
Vê-se ali, grosseiro embora,
Despido de perfeição.
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Céu de estrelinhas douradas,
Estrelas de papelão;
Brancas nuvens fabricadas
Da plumagem do algodão!
Anjos soltos pelos ares,
Peixes saindo dos mares,
Feras chegando do além.
Marcha tudo, e vêm na frente
Os Reis Magos do Oriente
Em demanda de Belém.
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É esta a lapa; o Menino
Nas palhas está deitado,
Com um sorriso de alegria
Todo doçura e amor!
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Contempla o quadro divino
São José ajoelhado,
E a Santíssima Maria
De Jericó meiga flor!
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Trajando risonhas cores
Com muitos laços de fitas,
Rapazes, moças bonitas
Formam grupos de pastores.
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Que curiosos bailados,
Com maracás e pandeiros!
E o ruído dos cajados
Desses risonhos romeiros!
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Essa quadrilha dançante,
Cantando versos festivos,
Aos pés do celeste infante
Vai depor seus donativos:
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Frutas, doces, sazonadas,
Ramilhetes de açucenas,
Cera, peles delicadas,
Pombinhos de brancas penas.
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São as joias que os pastores
Dão ao Deus onipotente!
E o povo aplaude os cantores
E o espetáculo inocente.
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Eis o presepe singelo
Da devoção popular;
Oratório alegre e belo
Sagrado risonho altar!
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Em: Poesia Brasileira para a Infância, de Cassiano Nunes e Mário da Silva Brito, São Paulo, Saraiva: 1969.
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Joaquim Serra
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Joaquim Maria Serra Sobrinho ( MA 1838 — RJ 1888) jornalista, professor, político e teatrólogo. Pseudônimos: Amigo Ausente, Ignotus, Max Sedlitz, Pietro de Castellamare, Tragaldabas. Foi um intelectual muito ativo na segunda metade do século XIX. Abolicionista, trabalhou lado a lado com Joaquim Nabuco, Quintino Bocaiuva e José do Patrocínio para o fim da escrevidão.
Obras:
A capangada, sem data, séc. XIX
A pomba sem fel, sem data, séc. XIX
As Cousas da moda, sem data, séc. XIX
Epicedio à morte de Manuel Odorico Mendes, sem data, séc. XIX
O jogo das libras, sem data, séc. XIX
O remorso vivo, sem data, séc. XIX
Quem tem boca vai a Roma
Rei morto, rei posto
Biografia do ator brasileiro Germano Francisco de Oliveira, 1862
A coalisão, 1862
Julieta e Cecília, contos, 1863
Mosaico, poesia traduzida, 1865
O salto de Leucade, 1866
A casca da caneleira, romance de autoria coletiva, cabendo a J.S. a coordenação, 1866
Um coração de mulher, poema-romance, 1867
Versos de Pietro de Castellamare, 1868
Semanário maranhense, 1867
Quadros, poesias, 1873
Almanaque Humorístico Ilustrado, 1876
Diário oficial do império do Brasil, 1878
O abolicionista, 1880
Sessenta anos de jornalismo, a imprensa no Maranhão, 1820-80, por Ignotus, 1883
O coroado, 1887
Poesias e poemas, 1888
Os melros brancos, 1890