Curiosidade literária

20 12 2021

A leitura

Jean d’Esparbès (França, 1898-1968)

óleo sobre tela

 

 

 

Stendhal é um dos poucos escritores que poderia se orgulhar de dar nome a uma doença.   Em 1817,  viajou pelo sul da Europa, parando em Florença.  Lá, na Catedral de Santa Croce, emocionado, sentiu-se mal.  Mais tarde descreveu o que havia acontecido como “sensações celestiais” após se render à beleza sublime das belas obras de arte que o rodeavam.  Na saída da igreja, foi acometido por taquicardia, sentindo que a vida se esvaía de seu corpo, enquanto caminhava com dificuldade, acreditando poder cair a qualquer momento.

Esta foi a primeira descrição de um fenômeno que recebeu o nome de síndrome de Stendhal, uma doença psicossomática que pode provocar reações várias, que vão de problemas de percepção aos sentimentos de angústia, levando às vezes ao pânico.

 





Curiosidade literária

5 10 2021

O ateliê, 1913

Harold Knight (GB, 1874–1961)

óleo sobre tela

 

O escritor Henri Beyle escreveu a maioria de suas obras sob o pseudônimo de STENDHAL.  Mas através de sua carreira literária utilizou alguns outros pseudônimos, entre eles: Cornichon e William Crocodile.





O escritor no museu: Stendhal

20 12 2019

 

 

695px-StendhalMarie-Henri Beyle, conhecido como Stendhal, 1840

Olof Johan Södermark (Suécia, 1790 — 1848)

óleo sobre tela, 62 x 50 cmv

Museu de Versailles





Palavras para lembrar — Stendhal

10 07 2016

 

 

Isaac Grünewald (Suécia, 1889 - 1946) LendoLendo

Isaac Grünewald (Suécia, 1889 – 1946)

óleo sobre tela

 

 

“Um romance é como um arco, a caixa do violino que lhe dá os sons é a alma do leitor.”

 

 

Stendhal

Salvar





Descobrindo o outro: por fotos ou livros, texto de Antoine Laurain

6 06 2016

 

 

Edouard John Mentha Late 19th-early 20th centuryMaid Reading in a LibraryArrumadeira lendo na biblioteca

Edouard John Mentha (Suíça, 1858-1915)

óleo sobre tela

 

 

 

“…Uma parede inteira era coberta por uma grande estante, em que várias prateleiras eram dedicadas a livros de arte — alguns recentes, outros muito antigos, que Laure deveria ter obtido ao longo dos anos.  Arquitetura, pintura — douração, claro — , mas  também catálogos de leilões. Uma prateleira terminava em vários livros de Sophie Calle, entre os quais uma de suas obras-primas poéticas: Suite vénitienne. Em 1980, Sophie havia decidido, numa pura iniciativa artística, seguir homens — ao acaso, na rua, e sem que eles soubessem. À maneira de um detetive particular, desses longos passeios trazia fotos em preto e branco de homens, de costas, em diferentes lugares. Desconhecidos que ela havia seguido durante tardes inteiras. Certo dia em que ela havia notado uma nova presa, esta lhe escapou e desapareceu na multidão. À noite, o homem lhe foi apresentado durante um jantar mundano. Ele lhe disse que dentro em pouco partiria para Veneza. Secretamente Sophie Calle decidiu recomeçar — segui-lo incógnita até as ruelas e os canais de Veneza. Dessa expedição, trouxe um diário de bordo de setenta e nove páginas e cento e cinco fotos em preto e branco, posfaciados por Jean Baudrillard. A investigação havia terminado quando o homem a reconhecera e lhe dirigira a palavra. O melhor, não totalmente, já que ela conseguiu voltar à Gare de Paris alguns minutos antes dele e fazer uma última foto. No entanto, a tensão da busca e a  magia tinham se evaporado no momento do encontro. O retorno à realidade havia anunciado o fim da história.

Laure possuía a edição original — dificílima de encontrar e também caríssima. Em outra prateleira exibiam-se os romances. Laurent encontrou ali muitos Modianos, tanto de bolso quanto brochura,  só para verificar tirou vários, e constatou que nenhum tinha dedicatória.  Havia também livros policiais, ingleses, suecos, irlandeses. Romances de Amélie Nothomb, vários Stendhal, dois Houellebecq, três Echenoz, dois Chardonne, quatro Marcel Aymé, Apollinaire inteiro, Nadja, de Breton, em edição antiga. O príncipe, de Maquiavel, em livro de bolso, e ainda uns Le Clézio, uns dez Simenon, três Murakami, mangás Jiro Taniguchi. A ordem era totalmente aleatória, Poésies de Jean Cocteau era vizinho de Saga, de Tonino Benacquista, que, por sua vez se encontrava junto de O banheiro, de Jean-Phillipe Toussaint, cuja capa ladeava um grosso volume em couro marron lavrado a ouro. Laurent tirou este último da prateleira.”

 

 

Em: A caderneta vermelha, Antoine Laurain, tradução de Joana Angélica D’Avila Melo, Rio de Janeiro, Alfaguara:2016, p. 85-6.





O amor de Rafael: La Fornarina, ou Margarita Luti

30 03 2016

 

La_donna_velata_v2Jovem com véu [Margarita Luti], 1516

Rafael Sanzio (Itália, 1483-1520)

óleo sobre madeira, 82 x 61 cm

Palazzo Pitti, Florença

 

 

Há dois meses postei uma nota de Stendhal sobre um quadro de Rafael Sanzio, pintor da Renascença italiana. Era o retrato de  uma jovem mulher, provavelmente de sua amante, conhecida como La Fornarina [a padeira, ou a filha do padeiro]. A paixão de Rafael por Margarita Luti, a jovem retratada foi amplamente conhecida. Vasari — autor da primeira compilação das vidas dos artistas italianos — não a menciona mas se referiu a Rafael como um homem que gostava muito da companhia de mulheres, um sedutor. Mais tarde, depois da morte de Rafael, em publicações posteriores o nome de Margarita Luti foi ligado ao de Rafael.  Nunca houve identificação clara de que essa modelo era de fato Margarita.  O artista pintou diversos retratos em que essa jovem aparece, mas não há até agora prova concreta de identificação.

Jovem com véu de 1516, mostra Rafael no seu melhor estilo.  Grande delicadeza na pintura dos tons de pele, nas cores, prestimoso retratar dos tecidos. Um cuidado muito acima dos já espetaculares retratos anteriores.

 

FornarinaLa Fornarina, ou Retrato de uma jovem mulher, 1519

Rafael Sanzio (Itália, 1483-1520)

óleo sobre madeira, 85 x 60 cm

Galleria Nazionale d’Arte Antiga, Palazzo Barberini, Roma

 

No retrato do Palácio Barberini em Roma, posterior ao encontrado  no Palazzo Pitti, vemos um Rafael mais enfatuado com sua modelo?  Sem qualquer joia exceto a pérola no cabelo,que já aparecia no retrato anterior, acima, e a fita azul amarrada no braço, local que Rafael escolheu para assinar a obra; com um belo turbante oriental, última moda na época, a jovem seminua parece fazer um pequeno esforço para cobrir os seios. É uma pose  associada às esculturas de Vênus, cujas cópias romanas dos originais gregos estavam à disposição do pintor. Vênus a deusa do amor é assim associada ao retrato da jovem mulher.

Mais tarde, depois da morte de Rafael, foi descoberta na Vila Hadriana em Tívoli, uma escultura em mármore, de origem grega, provável cópia de Praxíteles, cuja pose muito se assemelha à pintura de Rafael.

 

Mediceische Venus / griech.Plastik - Medicean Venus / Greek Sculpt./ C1st BC - Venus dite de Medicis / Statue grecque Vênus, dita Vênus de Médici, século I a.E.C.
Cleomenes , d’après Praxíteles
Mármore, 153 cm de altura
Encontrada em 1680 na Vila Hadriana, Tívoli
Galleria degli Uffizi, Florença





Stendhal visita o palácio Barberini em Roma, II

15 02 2016

 

 

cenci

Beatrice Cenci *, 1662

Ginevra Cantofoli (Itália, 1618-1672)

Anteriormente atribuído a Guido Reni (Itália, 1575 -1642)

óleo sobre tela, 65 x 49 cm

Galleria Nazionale d’Arte Antiga, Palazzo Barberini, Roma

 

* Hoje esse quadro é chamado de Sibil  e atribuição dada à pintora italiana do Barroco, Ginevra Cantofoli.

 

 

“O segundo retrato precioso da Galeria Barberini é obra de Guido: é o retrato de Beatrice Cenci de que se vê tantas gravuras imperfeitas. Esse grande pintor colocou no pescoço de Beatrice um insignificante pedaço de pano e cobriu-a com um turbante; temeu que a verdade chegasse ao horrível se reproduzisse exatamente as vestes que ela mandara fazer para aparecer na execução e os cabelos em desordem de uma pobre jovem de dezesseis anos que se abandona ao desespero. A cabeça é bela e suave, o olhar muito doce e os olhos muito grandes: têm o aspecto aturdido de alguém que é surpreendido no momento em que verte lágrimas ardentes. Os cabelos são louros e muito belos. Essa cabeça nada tem do orgulho romano e desta consciência de suas próprias forças que se surpreende às vezes no olhar confiante de uma filha do Tibre, di una figlia del Tevere, como elas dizem de si mesmas com altivez. Infelizmente as meias tintas se transformaram em rouge de brique durante esse longo intervalo de duzentos e trinta e oito anos que nos separam da catástrofe cujo relato se vai ler.”

 

 

Em: Crônicas italianas, Stendhal, tradução de Sebastião Uchoa Leite, São Paulo, Editora Max Limonad: 1981, p. 101





Stendhal visita o palácio Barberini em Roma, I

7 02 2016

 

 

FornarinaLa Fornarina, ou Retrato de uma jovem mulher, 1519

Rafael Sanzio (Itália, 1483-1520)

óleo sobre madeira, 85 x 60 cm

Galleria Nazionale d’Arte Antiga, Palazzo Barberini, Roma

 

 

“A galeria deste palácio está agora reduzida a sete ou oito quadros; mas quatro deles são obras-primas: de início o retrato da célebre Fornarina, amante de Rafael, de autoria do próprio Rafael. Esse retrato cuja autenticidade não pode ser posta em dúvida, pois existem cópias da mesma época, é totalmente diferente da figura que, na galeria de Florença, é dada como o retrato da amante de Rafael, e que foi gravado, com essa indicação, por Morghen. O retrato de Florença não é de Rafael. Em homenagem ao prestígio desse grande nome poderia o leitor perdoar essa pequena digressão?”

 

 

Em: Crônicas italianas, Stendhal, tradução de Sebastião Uchoa Leite, São Paulo, Editora Max Limonad: 1981, p. 101

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O retrato a que Stendhal se refere é o seguinte:

port_womLa Fornarina ou Retrato de uma jovem mulher, 1512

Sebastiano del Piombo (Itália, 1485-1547)

óleo sobre madeira, 68 x 55 cm

Galleria degli Uffizi, Florença

 





Minutos de sabedoria — Stendhal

30 10 2014

 

 

32ladywSenhora escrevendo carta e sua empregada, 1670

Johannes Vermeer (Holanda, 1632-1675)

óleo sobre tela, 72 x 59 cm

National Gallery, Dublin, Irlanda

 

 

“Não é de forma alguma um pequeno número de fortunas colossais que faz a riqueza de um país, mas a multiplicidade de fortunas medíocres.”

 

 

Stendhal-consul-bigStendhal