Ano-Bom
Olavo Bilac
Ano-Bom. De madrugada,
Bebê desperta, e, assustada,
Avista um vulto na cama.
Que será? Que medo! E, tonta,
Eis que Bebê se amedronta,
Chora, grita, chama, chama…
Mas, quando se abre a cortina,
Quando o quarto se ilumina,
Bebê, de pasmo ferida
Vê que o medo não é justo:
Pois a causa de seu susto
É uma boneca vestida.
Que linda! é gorda e corada,
Tem cabeleira dourada
E olhos cor do firmamento…
Põe-na no colo a criança,
E de olhá-la não se cansa,
Beijando-a a todo o momento.
Nisto a mamãe aparece.
Como Bebê lhe agradece,
Com beijos, risos e abraços!
— Porém, logo, de repente,
Diz à mamãe, tristemente,
Prendendo-a muito nos braços:
“Mamãe! como sou ingrata!
“Com tantos mimos me trata,
“Tão boa, tão dedicada!
“Dá-me vestidos e fitas,
“Dá-me bonecas bonitas,
“E eu, mamãe, não lhe dou nada!…
“Tolinha! (a mãe diz, num beijo)
“As festas que eu mais desejo,
“Ó minha filha, são estas:
“A tua meiga bondade
“E a tua felicidade…
“Não quero melhores festas!”
Em: Poesias infantis, Olavo Bilac, Rio de Janeiro, Francisco Alves: 1949, pp 98-100
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