A grande contribuição da internet …

5 05 2010

Pateta lendo, ilustração Walt Disney.

No sábado passado, dia 1º de maio, o jornal O Globo publicou no caderno Prosa e Verso  um pequeno artigo de Guilherme Freitas, intitulado O livro muda para continuar sendo o mesmo, em que o autor apresenta para o público o novo lançamento da Editora Record, Não contem com o fim dos livros, do jornalista francês Jean Philippe.  Este é um livro que reúne diálogos entre o escritor italiano Umberto Eco e o escritor francês Jean-Claude Carrière.    Entre outros assuntos mencionados no livro, Guilherme Freitas ressalta a posição de Jean-Claude Carrière quando este comenta sobre a memória coletiva:

Fascinado pelos critérios subjetivos que regem a transmissão dos saberes ao longo da História,  Carrière diz que o acesso maciço a informações possibilitado pela internet muda nossa relação com o conhecimento.

— O que vemos agora é uma nova forma de erudição.  Não se trata mais apenas de uma questão de saber, mas de ser capaz de discernir aquilo que devemos reter nessa grande massa de informação na qual vivemos.  Isso desperta inúmeras questões.  Cada indivíduo constrói seus próprios filtros?  Ou existem fatores sociais e coletivos que influem nisso?  É um tema fascinante.

Esse é um assunto que me é particularmente caro, principalmente depois que voltei a estabelecer residência no Brasil.  Peço permissão para passar um pouquinho da  minha história pessoal.

 Tio Patinhas foi à biblioteca, ilustração Walt Disney.

Nos primeiros meses que tive contato com uma universidade americana, uma das coisas que mais me surpreendeu, muito antes da internet existir, foi a facilidade de acesso à informação que cada aluno tinha em solo americano.  Não só alunos, mas todos.  Tanto as universidades particulares (conheci de perto a Universidade Johns Hopkins) quanto as do governo (estudei na Universidade de Maryland, governo estadual), — e mais tarde pude verificar o mesmo em outras universidades que entraram para o meu dia a dia, tais como Universidade Duke (privada), North Carolina State University e University of North Carolina at Chapel  Hill (as duas do governo estadual) tinham excelentes bibliotecas abertas ao público em geral,  quer universitários ou não.  Qualquer pessoa podia consultar seus acervos.  Era só uma questão de estar interessado o suficiente para fazê-lo.   Essa democratização do conhecimento na época estava bastante distante da realidade brasileira, assim como ainda está.  Mas foi um aspecto importantíssimo para que eu viesse a entender a sociedade americana de uma maneira diferente do mero visitante, diferente da pessoa que vai fazer um pequeno curso de especialização.  Porque só esse convívio diário com “os templos do saber”  em cidades e estados diferentes conseguem dar a idéia de quão abrangente o acesso ao conhecimento pode ser. 

Parece então muito natural que o maior ímpeto para a democratização do conhecimento, para a democratização de textos, do saber – digamos assim – tenha vindo através de ferramentas eletrônicas – internet, Google, livros digitais e muito mais – criadas por indivíduos estabelecidos  nos Estado Unidos, americanos ou não.

Numa das primeiras visitas minhas ao Brasil depois de estar estudando nos EUA,  marquei um encontro com antigos professores e colegas de turma das duas faculdades que cursei —  uma no Rio de Janeiro e outra em Niterói.  Fiquei  desapontada, na época, com o preconceito que demonstraram ao me dizerem que o ensino nos EUA não poderia se comparar ao europeu.  Na época não quis rebater.  Achei que talvez se tratasse de um pouco de ciúmes, de um pouco de desconhecimento.  Mas, confesso, não voltei a procurá-los.  Hoje, entendo melhor, porque vejo claramente que ainda temos muitas raízes no preconceito que estipula que “conhecimento é para uns poucos iluminados”.  Este preconceito fertilizado e cuidado é perpetuado por uma sociedade que se divide em classes sociais rígidas e em que uma delas se encontra os “intelectuais”—estes que por suas próprias cornetas alardeiam a importância de seus conhecimentos, de suas habilidades de discernimento.  

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Ilustração francesa, autor desconhecido.

A memória cultural, a memória coletiva de um povo, só pode identificá-lo, quando o acesso ao conhecimento vai além da propriedade de uns poucos para ser generalizado.  Alguns dirão que o processo democrático não deveria influenciar o que “realmente vale a pena reter” porque as massas não saberão entender o que lhes será de maior valia.  Mas nunca foi assim.  Como  Carrière mesmo reflete no diálogo acima, a retenção do saber sempre passou por critérios completamente subjetivos.  Se olharmos a história da transmissão de pensamentos e idéias, das barreiras impostas por traduções ou falta delas do grego ou do árabe sabemos que mais frequentemente do que gostamos de imaginar, o conhecimento de alguma nova equação, de algum conhecimento científico, dependeu lá atrás, há muitos e muitos séculos, da habilidade de algum monge de traduzir um texto do grego, do orgulho de algum rei ou califa de construir uma biblioteca repleta de preciosos manuscritos de outros povos, por vezes povos conquistados, para abrilhantar o seu reino ou o seu ego.  E muito do que foi passado de geração em geração, principalmente nas culturas orais – como é o caso da nossa —  dependeu, mais do que se admite da memória singular de uma avó, de uma tia, de um antepassado que cantava o seu conhecimento.

Graças à internet e à democratização de tudo que se conhece e do que se pensa ou pensou, não viveremos mais sob a ditadura do conceito de que o acesso a qualquer informação é só para os iniciados.  Graças à internet e ao fácil acesso a informação conseguiremos mudar a cara do Brasil, saber quem realmente somos e decidir sobre aquilo que devemos reter nessa grande massa de informação na qual vivemos.





Segurança na internet

5 08 2009

ladrao

Ilustração Walt Disney.

Aqui estão algumas dicas para transformar suas senhas em senhas mais seguras e com isso aumentar a sua tranqüilidade quando usar a internet.

1 — Comece com uma frase de que você sempre se lembrará.   Por exemplo, vamos usar um ditado: cão que ladra não morde.  Deve ser uma frase que signifique alguma coisa para você, para que você possa se lembrar dela a qualquer momento.  Por causa disso você não precisará escrevê-la em lugar nenhum.  Isso diminui as chances de alguém descobrir por acaso as suas senhas.  

2 —  Torne a sua frase num código. Por exemplo, peque as iniciais das palavras: CQLNM.  Faça uma pequena troca, por exemplo: CKLNM

3 —  Para que a sua senha tenha algum símbolo que não seja o alfabeto,  substitua ou adicione um outro símbolo.  No nosso caso, adicionaremos a palavra não da seguinte forma: N@O.  Então temos a senha:  CKLN@OM.   

4 – Para melhorar ainda mais a sua segurança seria bom diferenciar entre letras maiúsculas e minúsculas.  Para que a gente se lembre é melhor fazer com que a substituição faça sentido:  Vou colocar então uma letra minúscula para CÃO porque ele pequenino e aí mesmo é que ele não morde.  E já que ele não MORDE, esta palavra também vai para uma letra minúscula.  Então a nossa senha ficou:

cKLN@Om

Agora poderemos talvez entrar com algum número.  Que tal adiconarmos o número da casa da vovó? 671.  Ou talvez da única pessoa que gostaríamos que ele mordesse?  4001

cKLN@Om4001

cKLN@Om671

Um exemplo no artigo da revista Slate em que me baseei para esta postagem, sugere que você tenha senhas cujas frases sejam relacionadas ao propósito do site em questão e o autor Farhad Manjoo, deu  uma idéia maravilhosa.  Usou como exemplo uma senha para o seu Gmail. 

Pensou na seguinte frase:

Faz 20 graus em fevereiro, então uso o meu Gmail.

F20geFeuomG

Essa senha é perfeita para se trocar de senha todos os meses.  Porque o 20 não é uma temperatura normal.  E o número do mês multiplicado por 10.  Assim:

Março: F30geMeuomG

Abril: F40geAeuomG

E assim por diante.

É importante mudar suas senhas.  É importante também ter senhas diferentes.  Senhas fortes devem ser usadas sempre.  Mas principalmente em portais como bancos e contas de investimento.

Para mais detalhes em formação de senhas e como substituir letras o por símbolos, leia o artigo na revista Slate.





Um momento Glória Perez

25 07 2009

Eugène Delacroix, WomenofAlgiers

Mulheres de Argel, 1834

Eugène Delacroix ( França, 1798-1863)

Óleo sobre tela,  180 x 229 cm

Museu do Louvre, Paris

 

Há tempos não acompanho novelas televisivas.  “O Clone” foi a última novela que acompanhei, vendo os capítulos sentada lado a lado com minha mãe, que corajosamente resistia a uma doença terminal.  Naquela época, fiquei impressionada com a facilidade com que alguns personagens transitavam do Norte da África para o Brasil, encontrando-se aqui ou lá como que por acaso.  Sei que o mesmo fenômeno ocorreu em outra novela passada em Miami e Rio de Janeiro assim como está acontecendo nos dias de hoje com a novela Caminho das Índias.   

 

Hoje, tive o meu momento Glória Perez.  E também um momento em que testemunhei por mim mesma, o poder da internet:  como ainda não estou cozinhando na minha nova residência, saímos, eu e meu marido, para tomar café no bar/restaurante mais próximo, que oferece uma generosa média quentinha.  Sentamos nas mesas da calçada, como bons cariocas, mesmo que a chuvinha de inverno insistisse em molhar a rua.  Debaixo do toldo apreciávamos a manhã tranqüila.  Depois de uns dez minutos, quando já contemplávamos  uma segunda xícara, passa uma senhora simpática. Anda adiante e depois volta.  Se aproxima.  De repente fala comigo: 

 

— Você não é Ladyce?

— Sim.

— Ah, que bom que a reconheci….

— ?!!???

 

Em outras palavras: ela era um “conhecimento” da internet, uma pessoa que eu nunca havia visto, nem em fotografias, já que meu contato com ela havia sido através de seu filho.  E ela me reconheceu.  Por foto!   Foto que viu num site, diferente do site de relacionamentos no qual eu e seu filho havíamos trocado algumas palavras a respeito de nomes de famílias em Mato Grosso.   Mas o mais interessante.  Ela não mora no Rio de Janeiro.  Está aqui por dois dias.  Chegou ontem, vai embora amanhã.  E num desses dias, numa manhã chuvosa, no Rio de Janeiro, uma cidade de 7 milhões de pessoas, ela passou por uma calçada de Copacabana, viu uma pessoa que reconheceu de uma foto na internet e se conectou.  As possibilidades disso acontecer são muito remotas. E se aparecesse em novela, eu iria reclamar dizendo que  falta credibilidade no texto.  Pois, engulo minhas palavras, engulo a minha desconfiança, o meu ceticismo.   Glória Perez está certa!





Papel, Kindle, Audio ou Iphone, qual melhor?

12 06 2009

LittleDorrit_pkg

Da mesma maneira que discos de cera, de plástico, longplays e cassetes desapareceram em função dos CDs e MP3, estamos no processo de dizer adeus aos meios tradicionais de conhecermos um romance ou autor.  Ann Kirschner é a autora de um interessante artigo, Lendo Dickens de 4 maneiras diferentes [Reading Dickens Four Ways: how ‘Little Dorrit’ fares in multiple text formats] na revista americana The Chronicle of Higher Education.  Nele ela compara quatro diferentes maneiras de acessar livros.   Quatro meios com os quais podemos nos familiarizar com os textos encontrados nas páginas de um romance.  Usando como teste o livro de Charles Dickens,  A Pequena Dorrit, lido pelos quatro processos — livro de capa mole, Kindle, livro em áudio e iPhone — mas revezando de um método para o outro, ao longo do texto, ela faz interessantes observações sobre a viabilidade e portabilidade dos métodos e chega a uma conclusão inesperada.  Se você está pensando que a revolução a caminho foi criada pelo Kindle…  Engana-se.  Ela se surpreendeu e também nos surpreendeu com a descoberta de que a grande competição para o livro texto, com páginas entre duas capas espessas, a competição para o livro de papel, para a leitura como a entendemos hoje, vem do iPhone.  Para Ann Kirschner a portabilidade, facilidade de gerenciamento do texto e de leitura e principalmente porque ela podia estar junto do texto a qualquer momento, sem precisar de nenhum aparato ou peso maior do que carregava todos os dias, falaram mais alto do que qualquer outra característica.  Apesar de no Brasil algumas destas formas de leitura ainda não estarem bem divulgadas,  a opinião de quem experimentou deve nos alertar e evitar que gastemos dinheiro extra em geringonças eletrônicas que talvez provem não ser tão maravilhosas quanto o antecipado.

 

Fonte:  The Chronicle of Higher Education





Unesco lança biblioteca mundial na internet

23 04 2009

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Biblioteca de Humboldt, detalhe, 1856

Eduard Hildebrandt (Alemanha, 1818-1869)

Aquarela

 

 

 

 

 

Um acervo raro, espalhado por 32 bibliotecas de 19 países, está agora na internet. A Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura (Unesco) lançou ontem, em Paris, a Biblioteca Digital Mundial (World Digital Library, WDL), um acervo literário e artístico online disponível em português e em outras seis línguas. A WDL é, na realidade, uma midiateca e tem até agora 1,4 mil objetos digitalizados, entre livros raros, manuscritos, cartas, filmes, gravações sonoras, ilustrações e fotos.

 

 

 

O acervo foi reunido com contribuições de bibliotecas nacionais e instituições culturais de países como Brasil, EUA, Uganda, Iraque, China, França e Rússia. No acervo estão antigas escrituras chinesas, manuscritos científicos árabes e exemplares raros, como Bíblia do Diabo, do século 13. O Brasil contribuiu por meio da Biblioteca Nacional. Além de obter informações gerais sobre o objeto, o pesquisador pode acessar links com informações completas, fazer download das peças e convertê-las em PDF.

 

 

 

A WDL, mais tarde, absorverá parte do conteúdo da Europeana, que dispõe de 4,6 milhões de livros, mapas e fotografias, e da Google Book Search, que já conta com 7 milhões de obras digitalizadas. Segundo James H. Billington, diretor da Biblioteca do Congresso dos Estados Unidos e idealizador do site, ele vai ampliar a diversidade do material cultural disponível na web. Além disso, permitirá acesso a obras antes restritas a bibliotecas inacessíveis ao grande público. As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.

 

 





EUA: economia fraca, bibliotecas públicas em alta.

2 09 2008

 

Hoje o Jornal O GLOBO, publicou na sua coluna Negócios e Cia, editado por Flávia Oliveira,

Biblioteca Municipal, Ilustração Walt Disney.

Biblioteca Municipal, Ilustração Walt Disney.

que as bibliotecas nos EUA estão com grande movimento desde que a economia do país

começou a enfraquecer.   Na verdade, desde o início de 2008 que o uso de bibliotecas públicas nos EUA tem aumentado sistematicamente.  Em Massachusetts, não são só as bibliotecas apresentam maior movimentação.  Há também um maior número de pessoas freqüentando museus.  Programas para crianças em museus e bibliotecas tem tido participação contínua e o uso da internet — que nas bibliotecas públicas americanas é gratuito e de acesso rápido, sendo cada pessoa limitada de 30 minutos a 60 minutos, dependendo do local – está batendo recordes.   

 

 

 

De acordo com Terry Date, jornalista do Eagle Tribune  que entrevistou Eleanor Strang,  diretora da Kelley Library da cidade de Salem, uma cidade com 42.000 pessoas, disse que um dos primeiros sinais de que a economia está fazendo as pessoas cortarem gastos em geral é visto no maior movimento nas bibliotecas públicas.   Até mesmo quem está à procura de trabalho vai à biblioteca para procurar pela internet e colocar seu currículo nas mãos de possíveis empregadores.  Isto porque em geral, desemprego significa corte no serviço rápido da internet.  Assim todos procuram fazer uso do mesmo serviço nas bibliotecas públicas.    Na Kelley Library em Salem, há nove computadores permanentemente ligados com acesso rápido.  O número de usuários subiu mais de 10% no ano.  De 6.341 para 7.041 usuários.  Ou seja, quase 15% da população urbana.

 

O empréstimo de livros e de CDs aumentou 11% em 2007 de 9.618 para 10.642.  Enquanto que o empréstimo de livros através de outras bibliotecas [inter-library loan] subiu mais de 24%.   Crianças visitando a biblioteca para ouvirem contadores de histórias aumentou em 15% e os passes para museus aumentaram em 2% em 2007.

Com o aumento de usuários,  as bibliotecas municipais nos EUA já movimentam seus pedidos aos diretores para aumento também nos gastos com acervo e computadores.   Em Derry, New Hampshire, população: 22.500 pessoas, já houve um aumentou significativo na sua freqüência na bibliboteca municipal e seu Diretor Assistente, Jack Robillard,  providenciou pedido ao comitê municipal da diretoria que aumentassem a capacidade de computadores, para ajudar a quem procura por emprego.  

A história de aumento do uso das bibliotecas públicas americanas atravessa cidades grandes e pequenas e tem aumentado o numero de empregos para bibliotecários, através do país.   A biblioteca pública de Mobile, Alabama, ao sul dos EUA, está agora com uma circulação de 1.800.000 (isso mesmo um milhão e oitocentos mil ) livros, deixando para trás seus tradicionais, 1.200.000 livros emprestados ao ano.  

Na Califórnia, a biblioteca Central de Pasadena, (população 150.000) que em geral tem uma visita mensal de 55.000 pessoas,  só este ano já registrou mais de 60.000 consultas por mês.

 

NOTA

Aqui fica o exemplo e o desafio aos nossos governos municipais.  Principalmente agora, há meses das eleições.  Qual é o plano que o seu vereador, que o seu prefeito, que o seu governador tem para a leitura e o uso das bibliotecas públicas.  Não vote em quem não faz.