Paisagem com igreja, 1935
Paulo Gagarin (Rússia-Brasil, 1885-1980)
óleo sobre tela, 74 x 92 cm
Paisagem com Igreja
Carlos Gomes (Brasil, 1934-1990)
óleo sobre tela, 60 x 73 cm
Paisagem com igreja, 1935
Paulo Gagarin (Rússia-Brasil, 1885-1980)
óleo sobre tela, 74 x 92 cm
Paisagem com Igreja
Carlos Gomes (Brasil, 1934-1990)
óleo sobre tela, 60 x 73 cm
Casario e Igreja do Rosário dos Pretos, no Pelourinho
Jayme Hora (Brasil, 1911-1977)
óleo sobre tela, 73 x 54 cm
–
–
Igreja da Matriz, Cambuquira, 1963
José Maria de Almeida (Portugal, 1906- Brasil, 1995)
óleo sobre tela, 38 x 55 cm
–
–
Igreja de Nossa Senhora do Bom Parto, Olinda, 1957
George Wambach (Bélgica 1901- Brasil, 1965)
óleo sobre tela, 47 x 42cm
–
Matilda da Toscana–
Michelangelo Buonarroti acreditava ser descendente da heroína medieval Condessa de Canossa. Essa era uma tradição oral da família do escultor renascentista que nunca conseguiu ser provada. Não importa. Não faz diferença quando julgamos o valor do legado deixado pelo artista. Mas foi importante para ele e para sua família acreditar que seriam descendentes dessa mulher, uma das poucas que se distinguiram na Idade Média e passar para a história com nome, sobrenome e até retratos. No século XI, época em que viveu, a distinção de identidade individualizada era rara até mesmo para rainhas. Mulheres nessa época se autoapagavam, submetendo qualquer ato de individualismo ao anonimato social, trabalhando na maior parte das vezes como eminências pardas na política local.
Mas Matilda de Canossa foi diferente. Conhecida também como Matilda da Toscana por causa das terras que herdou aos 8 anos de idade. Filha de Bonifácio III, duque de Toscana, assassinado em 1052, que até então havia sido o mais poderoso príncipe de sua época, natural da Lombardia e Conde de Brescia, Canossa, Ferrara, Florença, Luca, Mântua, Modena, Pisa, Pistóia, Parma, Reggio, e Verona a partir de 1007 e nomeado Marquês da Toscana de 1027 até sua morte. Seu poder se enraizava principalmente na província região de Emília, nordeste da Itália de hoje. A mãe de Matilda de Canossa foi Beatrix de Lorraine, filha de Frederico II Duque da Alta Lorraine. O castelo residência da família era o Castelo de Canossa, uma verdadeira fortificação, não só pela construção mas sobretudo por sua localização, no topo de um penhasco.
–
Henrique IV pede a Matilde e a Hugo de Cluny intercessão junto do Papa.–
Matilda é lembrada até hoje por sua coragem e firmeza no poder. Também é considerada por sua habilidade de estrategista militar que colocou à disposição dos Papa Gregório VII. Uma rara habilidade administrativa ajudou-a a manter-se no poder até a morte aos 69 anos. Seu maior inimigo foi o rei germânico Henrique IV e a luta entre eles é o tema principal da peça de Luigi Pirandello chamada Henrique IV. Matilda de Canossa também foi a personagem principal do livro The Book of Love de Katheleen McGowan publicado nos Estados Unidos em 2009.
Matilda de Canossa foi uma das três mulheres enterradas na Basílica de São Pedro no Vaticano, onde há uma bela escultura de Bernini representando a heroína medieval.
–
–
Moshe Maimon (Rússia, 1860-1924)
–
Abro espaço nas minhas estantes e estou feliz por arranjar uma casa “do bem” para o livro de Geraldo Pieroni, “Banidos: a inquisição e a lista dos cristãos-novos condenados a viver no Brasil”. Não é um romance. Conta com um ótimo ensaio de apresentação do autor, historiador e com uma pesquisa impressionante revelando uma lista detalhada das pessoas que sofreram durante a Inquisição em Portugal e foram condenadas a viver no Brasil.
Uma grande ironia: a primeira vez que ouvi falar de Inquisição no Brasil foi em uma visita ao Peru, no Museu da Inquisição em Lima. Foi lá que soube que nós também tínhamos nos dedicado à prática, não só no século XVI, mas nos seguintes até o início do século XIX. Por que eu não me lembrava de ter estudado essa questão na escola, muito antes de entrar para a faculdade? Daí por diante, me interessei, quase como um passatempo, pelo assunto de judeus e cristãos judeizantes no Brasil.
–
Foi assim que cheguei ao livro acima. Comprei-o na época da publicação, em 2003. Depois, mudando de residência, quando me desfiz de uma boa parte dos livros que acumulara, não consegui me desligar de Banidos. É simples, a lista das pessoas condenadas e banidas é extensa. E a cada leitura de uns poucos nomes, imagino as vidas que esses condenados levaram depois de chegados ao Brasil. Sou tomada de grande respeito por essas vítimas. A imaginação rola e o coração se comprime percebendo a inutilidade de tanto sacrifício. Exemplos:
–
Nome: Brites Gomes
Inquisição e número do processo: Coimbra — 422
Naturalidade: Vila Real (arcebispado Braga)
Idade: 28
Filiação: Diogo Gomes e Maria Lopes
Moradia: Vila Real
Estado civil: Solteira
Profissão: o pai era mercador
Crime/Acusação: judaísmo
Prisão: 21-04-1642
Sentença: confisco dos bens, cárcere e hábito penitencial perpétuo sem remissão, degredo de cinco anos no Brasil, penas espirituais.
Auto-da-fé: 15-11-1643
[p.149]
—————————————————————-
Nome: Luísa Fernandes
Inquisição e número do processo: Coimbra — 6.066
Naturalidade: Trancoso (bispado Miranda)
Idade: 70
Filiação: Luís Fernandes e Isabel Fernandes
Moradia: Trancoso
Estado civil: viúva de João Rodrigues
Profissão: o pai era sapateiro, e o marido, oficial de chocalhos.
Crime/Acusação: judaísmo (¼ cristã nova)
Prisão: 21-02-1667
Sentença: confisco dos bens, cárcere e hábito penitencial perpétuo, degredo de três anos no Brasil
Auto-da-fé: 26-05-1669
[p.141]
————————————————————-
–
Interior da sinagoga portuguesa em Amsterdã, c.1680
Emanuel de Witte (1617-1692)
óleo sobre tela, 110 x 99 cm
Rijksmuseum, Amsterdã
–
Pergunto-me qual o futuro que uma jovem de 28 anos, solteira, teria depois de passar mais de um ano na cadeia [veja as datas da prisão e do auto-da-fé] e desembarcar no Brasil, após uma viagem de navio que muitas vezes deixava seus passageiros doentes? Que faria Brites Gomes aqui depois de ser entregue como um pacote valioso às autoridades locais? Dinheiro não tinha, seus bens já haviam sido confiscados. Entregue a quem? Bonita? Pior ainda… e fica aquela sensação de dor por alguém que não conheci, mas que sei imaginar. E não é belo, nem justo, o que se desenrola na minha imaginação.
A mesma pergunta faço sobre Luisa Fernandes de 70 anos. 70 anos! No século XVII era muito mais difícil chegar-se a essa idade. Hoje temos mais recursos. Que mal poderia esta mulher fazer no futuro que já não houvesse feito na sua vida inteira em Portugal? Terá chegado ao Brasil viva? Teria se transformado em pedinte? Teria morrido de fome? O que uma mulher aos 70 anos poderia fazer para ganhar o seu sustento? Sim, sei que a história está cheia de injustiças como essas, mas a maioria das vezes elas não têm nome, sobrenome, profissão, estado civil, cidade de nascimento, de moradia, nem nome dos pais. Aqui, por esses detalhes, passamos a entender um indivíduo em três dimensões. É fácil, então, tomar suas dores, imaginar os seus sorrisos, as mãos, os calos do trabalho árduo, o cheiro das comidas que preparavam.
É por causa dessa imaginação que me tornei ciumenta do livro. Como se as vidas ali citadas, poucas em relação ao número de aportados ao Brasil nos séculos de colônia, me dissessem “não me esqueça… faço parte da sua história”.
–
Sefardins, judeus portugueses na Holanda em uma sukkah. Gravura de Bernard Picart, 1723.
–
Mas os perseguidos pela Inquisição não eram só aqueles habitantes de Portugal que acabavam em alguns casos degredados para o Brasil. Aqui também a Inquisição perseguiu habitantes da colônia por práticas judeizantes, mandando-os para Angola. E muitas vezes família inteiras se viram prejudicadas, despedaçadas.
“O encarceramento de um único membro da família era suficiente para destruir todo o clã, como foi o caso dos Lucenas e Paredes, famílias tradicionais de cristãos-novos, proprietários de engenhos de açúcar no Rio de Janeiro. Em Lisboa, no auto-da-fé do dia 27 de março de 1727, foram condenadas oito pessoas, entre as quais vários Lucenas/Paredes: Sebastião de Lucena, 19 anos, solteiro; Maria da Silva, Diogo da Silva e Esperança de Azevedo, todos filhos de Bento Lucena. Os quatro filhos de Manuel de Paredes, também ele senhor-de-engenho de Jacarepaguá, distrito do Rio de Janeiro, foram condenados nesse mesmo dia; Manuel, 23 anos; Ignês, 24 anos; Maria, 27 anos; Luís, 28 anos. Todos foram condenados a cinco anos de degredo em Angola”. [pp. 95-96]
Como explica Geraldo Pieroni este é um assunto incômodo tanto para portugueses quanto para brasileiros. Mas a história é feita desses momentos e conhecê-los certamente nos ajuda a não repetir tamanha idiotice. Precisamos de muito maior divulgação desses fatos que acontecem por mais de 300 anos da nossa história.
Sim, achei uma boa residência para o livro que agora irá iluminar e fertilizar outras e quem sabe mais atuantes imaginações do que a minha.

Nossa Senhora da Palma
Veríssimo de Souza Freitas
Igreja de Nossa Sra da Palma
São Salvador, Bahia
Poema de Natal
Jorge de Lima
Ó Meu Jesus, quando você
ficar assim maiorzinho
venha para darmos um passeio
que eu também gosto de crianças.
Iremos ver as feras mansas
que há no jardim zoológico.
E em qualquer dia feriado
iremos, então, por exemplo,
ver Cristo Rei do Corcovado.
E quem passar
vendo o menino
há de dizer: ali vai o filho
de Nossa Senhora da Conceição!
— Aquele menino que vai ali
(diversos homens logo dirão)
sabe mais coisas que todos nós!
— Bom dia, Jesus! — dirá uma voz.
E outras vozes cochicharão:
— É o belo menino que está no livro
da minha primeira comunhão!
— Como está forte! — Nada mudou!
— Que boa saúde! Que boas cores!
(Dirão adiante outros senhores.)
Mas outra gente de aspecto vário
há de dizer ao ver você:
— É o menino do carpinteiro!
E vendo esses modos de operário
que sai aos domingos para passear,
nos convidarão para irmos juntos
os camaradas visitar.
E quando voltarmos
pra casa, à noite,
e forem para o vício os pecadores,
eles sem dúvida me convidarão.
Eu hei de inventar pretextos sutis
pra você me deixar sozinho ir.
Menino Jesus, miserere nobis,
segure com força a minha mão.
Em:
Poesias Completas, volume I, Jorge de Lima, José Aguilar: 1974, Rio de Janeiro.
Jorge Mateus de Lima (União dos Palmares, AL, 23 de abril de 1893 — Rio de Janeiro, 15 de novembro de 1953) foi político, médico, poeta, romancista, biógrafo, ensaísta, tradutor e pintor brasileiro.
Obras:
Poesia:
XIV Alexandrinos (1914)
O Mundo do Menino Impossível (1925)
Poemas (1927)
Novos Poemas (1929)
O acendedor de lampiões (1932)
Tempo e Eternidade (1935)
A Túnica Inconsútil (1938)
Anunciação e encontro de Mira-Celi (1943)
Poemas Negros (1947)
Livro de Sonetos (1949)
Obra Poética (1950)
Invenção de Orfeu (1952)
Romance:
O anjo (1934)
Calunga (1935)
A mulher obscura (1939)
Guerra dentro do beco (1950)
Igreja de Nossa Senhora da Palma — igreja e convento foram construídos sobre o “Monte das Palmas”, uma das primeiras áreas de expansão da cidade. Sua edificação, em 1630, deve-se a um ex-voto feito por Bernardino da Cruz Arraes, que estivera enfermo. O convento, desenvolvido em torno de um pátio retangular, ladeado pela igreja, é iniciado em 1670, posterior a igreja que, nesta época, é ampliada. Pertence à Ordem dos Agostinhos Descalços, é transferida à Irmandade do Senhor da Cruz, em 1822, com o retorno daqueles a Portugal. Acredita-se que a igreja atual, da 2ª metade do século XVIII, obedece basicamente o partido primitivo, com algumas alterações. Com planta em “T”, a igreja é formada por nave, sacristia subdividida e acrescidos corredores laterais e tribunas. A fachada tem elementos em estilo rococó, encimada por frontão com volutas e nicho, flanqueada por torre com terminação piramidal. Seu interior é uma transição do rococó e neoclássico, e o teto da nave possui pintura ilusionista barroca, atribuída a Veríssimo de Souza Freitas.
http://www.sumo.tv/watch.php?video=2774793
Veríssimo de Souza Freitas é mais um artista negro sem registro de nascimento e morte, mas deixou uma obra imortalizada ‘São João Nepomuceno’, óleo sobre tela do final do século 18. Muitas igrejas de Salvador –BA, são de sua autoria os afrescos.
————-
Você encontra um outro poema de Jorge de Lima em: Minha Sombra.