Wim Zurne (Holanda, 1953)
Gravura, 50 x 65 cm
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Beryl Cook (Inglaterra, 1926-2008)
silkscreen, 61 x 56cm
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Armindo Rodrigues
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Esta gente que vai e vem,
de cá para lá,
de lá para cá,
que se cruza comigo,
que esbarra comigo,
que tem com certeza
os seus dramas iguais aos meus,
as suas esperanças iguais à minhas,
não sabe nada da minha vida,
nem eu sei dos seus segredos.
Cada um segue absorto em si
como se fosse de olhos fechados
e não tivesse as mãos para dar
a outras mãos desamparadas.
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Em: Voz arremessada no caminho; poemas, Armindo Rodrigues, Lisboa: 1943, p. 52
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Isabel Pons (Brasil, 1912-2002)
Gravura, 35 x 22cm
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Luiz Guimarães
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Disse a vaidosa estrela quando viu
De um lago azul a débil transparência:
— Por que te deu a sábia providência
Um corpo tão monótono e sombrio?
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Comigo teve Deus maior clemência
E do esplendor eterno me vestia!
Que vales, pois, ó lago humilde e frio,
Perto da minha deslumbrante essência?
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Nos céus eu moro! O meu destino zomba
De ignota força que reparte as mágoas!
Tenho a ventura de desconhecê-la.
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— Mas quando a noite vagarosa tomba
É no seio fiel das minhas águas
Que vens dormir, ó luminosa estrela!
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Em: Poetas cariocas em quatrocentos anos, Frederico Trotta, Rio de Janeiro, Vecchi:1965, pp. 230-231.
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Josephine de Beauharnais, 1812
Firmin Massot (França, 1766-1849)
óleo sobre tela, 32 x 28 cm
Coleção Particular
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Josefina de Beauharnais teve só dez anos para deixar uma bela herança cultural para as gerações futuras. Durante os seis anos em que foi Imperatriz da França adquiriu, renovou e cuidou do Castelo de Malmaison, no meio de um imenso parque em Paris. Lá plantou uma grande variedade de plantas exóticas, que o marido mandava dos lugares que conquistava. Josefina continuou residindo em Malmaison e cuidando dos jardins, mesmo depois do divórcio. Conseguiu manter o parque com todas as plantas exóticas até sua morte quatro anos mais tarde. De todas as plantas que cultivava a ex-esposa de Napoleão Bonaparte preferia as rosas. E não só se dedicava a cultivá-las como a desenvolver novos exemplares.
Em 1798 Josefina de Beauharnais se tornou patrocinadora do pintor Pierre-Joseph Redouté, que havia sido pintor da corte de Maria Antonieta. Redouté era não só um excelente aquarelista mas também um botânico. Foram sua competência e arte as qualidades que o levaram a sobreviver o período de turbulência na França durante a Revolução Francesa e também ao Reino do Terror, para então, ser reconhecido também pela imperatriz Josefina.
Rosa gallica purpuro violacea magna
Redouté, nascido na Bélgica, havia aprendido a arte da pintura em casa: seu pai e avô haviam sido pintores também. Uma vez em Paris, começou a trabalhar com o irmão na decoração de interiores, mas a carreira como ilustrador botânico acabou o seduzindo quando, em 1786, foi orientado pelo botânico Charles Louis L’Héritier de Brutelle e René Desfontaines, encantados com suas aquarelas, a se dedicar a este ramo emergente que combinava a arte com a ciência.
Rosa noisettiana
Foi durante o patrocínio da imperatriz Josefina que Redouté pintou algumas das mais belas aquarelas de plantas e flores exóticas. E depois da morte de sua patrocinadora, Redouté publicou diversos livros de gravuras baseados em suas aquarelas. A precisão dos detalhes que retratava na pintura, a delicadeza e quase transparência das pétalas desenhadas com cuidado, o colorido muitas vezes em degradé na mesma pétala, tudo contribuiu para que suas gravuras fossem apreciadas até os dias de hoje. Elas são também preciosos documentos de algumas plantas que hoje se tornaram raras. Redouté morreu em 1840. Juntos Josefina de Beauharnais e Redouté deixaram uma grande contribuição para as gerações futuras. Ela, por ter-se dedicado ao desenvolvimento e plantio de plantas exóticas. Ele por tê-las documentado com suas aquarelas e distribuído seu conhecimento com suas gravuras. Hoje Malmaison é a sede do Senado francês e seus jardins são uma pequena percentagem daqueles tratados por Josefina.
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Ilustração inspirada no trabalho de Marcus Gheeraerts, o velho (Bélgica, c. 1520- c. 1590)–
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Monteiro Lobato
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Simão, o macaco, e Bichano, o gato, moram juntos na mesma casa. E pintam o sete. Um furta coisas, remexe gavetas, esconde tesourinhas, atormenta o papagaio; outra arranha os tapetes, esfiapa as almofadas e bebe o leite das crianças.
Mas, apesar de amigos e sócios, o macaco sabe agir com tal maromba que é quem sai ganhando sempre.
Foi assim no caso das castanhas.
A cozinheira pusera a assar nas brasas umas castanhas e fora à horta colher temperos. Vendo a cozinha vazia, os dois malandros se aproximaram. Disse o macaco:
— Amigo Bichano, você que tem uma pata jeitosa, tire as castanhas do fogo.
O gato não se fez insistir e com muita arte começou a tirar as castanhas.
— Pronto, uma…
— Agora aquela lá… Isso. Agora aquela gorducha… Isso. E mais a da esquerda, que estalou…
O gato as tirava, mas quem as comia, gulosamente, piscando o olho, era o macaco…
De repente, eis que surge a cozinheira, furiosa, de vara na mão.
— Espere aí, diabada!…
Os dois gatunos sumiram-se aos pinotes.
— Boa peça, hem? — disse o macaco lá longe.
O gato suspirou:
— Para você, que comeu as castanhas. Para mim foi péssima, pois arrisquei o pelo e fiquei em jejum, sem saber que gosto tem uma castanha assada…
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Em: Fábulas, Monteiro Lobato, São Paulo, Ed. Brasiliense:1966, 20ª edição, pp 97-98.
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José Bento Monteiro Lobato, (Taubaté, SP, 1882 – 1948). Escritor, contista; dedicou-se à literatura infantil. Foi um dos fundadores da Companhia Editora Nacional. Chamava-se José Renato Monteiro Lobato e alterou o nome posteriormente para José Bento.
Obras:
A Barca de Gleyre, 1944
A Caçada da Onça, 1924
A ceia dos acusados, 1936
A Chave do Tamanho, 1942
A Correspondência entre Monteiro Lobato e Lima Barreto, 1955
A Epopéia Americana, 1940
A Menina do Narizinho Arrebitado, 1924
Alice no País do Espelho, 1933
América, 1932
Aritmética da Emília, 1935
As caçadas de Pedrinho, 1933
Aventuras de Hans Staden, 1927
Caçada da Onça, 1925
Cidades Mortas, 1919
Contos Leves, 1935
Contos Pesados, 1940
Conversa entre Amigos, 1986
D. Quixote das crianças, 1936
Emília no País da Gramática, 1934
Escândalo do Petróleo, 1936
Fábulas, 1922
Fábulas de Narizinho, 1923
Ferro, 1931
Filosofia da vida, 1937
Formação da mentalidade, 1940
Geografia de Dona Benta, 1935
História da civilização, 1946
História da filosofia, 1935
História da literatura mundial, 1941
História das Invenções, 1935
História do Mundo para crianças, 1933
Histórias de Tia Nastácia, 1937
How Henry Ford is Regarded in Brazil, 1926
Idéias de Jeca Tatu, 1919
Jeca-Tatuzinho, 1925
Lucia, ou a Menina de Narizinho Arrebitado, 1921
Memórias de Emília, 1936
Mister Slang e o Brasil, 1927
Mundo da Lua, 1923
Na Antevéspera, 1933
Narizinho Arrebitado, 1923
Negrinha, 1920
Novas Reinações de Narizinho, 1933
O Choque das Raças ou O Presidente Negro, 1926
O Garimpeiro do Rio das Garças, 1930
O livro da jangal, 1941
O Macaco que Se Fez Homem, 1923
O Marquês de Rabicó, 1922
O Minotauro, 1939
O pequeno César, 1935
O Picapau Amarelo, 1939
O pó de pirlimpimpim, 1931
O Poço do Visconde, 1937
O presidente negro, 1926
O Saci, 1918
Onda Verde, 1923
Os Doze Trabalhos de Hércules, 1944
Os grandes pensadores, 1939
Os Negros, 1924
Prefácios e Entrevistas, 1946
Problema Vital, 1918
Reforma da Natureza, 1941
Reinações de Narizinho, 1931
Serões de Dona Benta, 1937
Urupês, 1918
Viagem ao Céu, 1932
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Esta fábula de Monteiro Lobato é uma das centenas de variações feitas através dos séculos da fábulas de Esopo, escritor grego, que viveu no século VI AC. Suas fábulas foram reunidas e atribuídas a ele, por Demétrius em 325 AC. Desde então tornaram-se clássicos da cultura ocidental e muitos escritores como Monteiro Lobato, re-escreveram e ficaram famosos por recriarem estas histórias, o que mostra a universalidade dos textos, das emoções descritas e da moral neles exemplificada. Entre os mais famosos escritores que recriaram as Fábulas de Esopo estão Fedro e La Fontaine.
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Era uma vez, s/d
Chantal Poulin (Canadá, contemporânea)
gravura, 50 x 65 cm
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Mãe e filho
Adam Buck ( Irlanda, 1759-1833)
gravura
Victoria & Albert Museum, Londres
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Adam Buck nasceu em Cork, na Irlanda, em 1759. Foi um pintor miniaturista trabalhando entre 1780 e 1790, enquanto ainda morava na Irlanda. Mudou-se para Londres em 1795. Exerceu grande influência na cultura da época da Regência fazendo gravuras de trajes contemporâneos, bem como retratos de famílias, no gênero de cenas clássicas e ilustrações para Laurence Sterne ‘s Sentimental Journey. Foi professor de pintura, e fez inúmeras exposições de miniaturas e pequenos retratos de corpo inteiro na Academia Real entre 1795 e 1833. Morreu em Londres em 1833.
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Sem título
Frederick Hendrik Kaemmerer ( Holanda, 1839-1902)
Gravura baseada em pintura do artista
18 x 27 cm
Wellcome Library, Londres
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Franklin Delano Roosevelt
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Debaixo da terra
Valerie Ganz (País de Gales, 1936)
gravura
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Ray Bradbury