A ovelha
Francisca Júlia da Silva
A ovelha, um dia, muito triste por não ter forças para lutar com os cães que a mordiam, ou armas de defesa contra a ferocidade dos lobos, dirigiu-se a Júpiter e expôs-lhe suas queixas:
– Pai, todos os animais que vivem sobre a terra, desde o inseto ao paquiderme, têm meios de defender-se contra os ataques; e coragem para provocar as lutas. Eu, porém, sou tímida e indefesa: tudo me causa medo. Queria, pois, que me desseis uma arma qualquer. Júpiter, tocado de piedade, perguntou-lhe:
– Queres um veneno oculto nos dentes, para dar morte aos que te fizerem mal?
– Oh! Não! Respondeu a ovelha. Os animais venenosos são nojentos e causam medo a todos.
– Queres ter na boca duas fileiras de dentes afiados, como os leões e os lobos?
– Oh! não! Os animais carnívoros são tão odiosos e antipáticos!
– Queres saber arremeter, como os touros, com duas pontas na cabeça?
– Oh! não! Eu causaria terror aos outros animais, e não seria acariciada pelos pastores.
– Que queres, pois? Gritou Júpiter, impaciente.
– Nada, senhor, nada quero. Prefiro viver assim, tímida e fraca, porém estimada e afagada por todos.
Em: O livro da infância, Francisca Júlia da Silva, 1899.












