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Ilustração, autoria desconhecida.
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O dia em que eu ficar homem,
Como o Papai quero ser:
Trabalhador e honesto,
Cumpridor do meu dever.
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(Walter Nieble de Freitas)
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Ilustração, autoria desconhecida.–
O dia em que eu ficar homem,
Como o Papai quero ser:
Trabalhador e honesto,
Cumpridor do meu dever.
–
(Walter Nieble de Freitas)
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Vicente de Paula Reis
–
De meu pai, como herança que bendigo,
Recebi, neste vale de amargura,
Um tesouro do qual não me desligo
E o guardo avaramente, com ternura.
–
Escudando-me nele é que consigo,
Tornando a minha vida menos dura,
Impávido, vencer qualquer perigo,
Sobrepondo-me à própria desventura.
–
Essa herança, meu pai, que me legaste,
Tem suavizado muito a minha vida,
Dos espinhos do mundo mal ferida!
–
E essa prenda moral, que me deixaste,
É toda essa riqueza de ser pobre!
É toda essa grandeza de ser nobre!
–
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Vicente de Paula Reis ( Rio de Janeiro 1895-?) Professor de português do Colégio Pedro II e jornalista com colunas em diversos periódicos do Rio de Janeiro.
Obra:
Esparsos, poesia, s/d
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Pai – nome bem pequenino
Que encerra tanto valor:
Traduz confiança, carinho,
Força, bondade e amor.
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(Walter Nieble de Freitas)
Capa de revista, 1939
EM CAMINHO
Zalina Rolim
SOU filha de lavradores;
Moro longe da cidade;
Amo os pássaros e as flores
E tenho oito anos de idade.
Quereis seguir-me à campina?
A tarde convida e chama,
O calor do sol declina,
E o horizonte é um panorama.
Neste samburá de vime
Levo coisa apetitosa;
mas, ai! que ninguém se anime
A meter-lhe a mão curiosa.
É o jantar do papaizinho;
Manjares de fino gosto;
Carne, legumes, toucinho,
Tudo fresco e bem disposto.
Papai trabalha na roça;
O dia inteiro labuta;
Tem a pele rija e grossa
E a alma afeita à luta.
Mas leal, franco, modesto
Como ele, não há no mundo:
Vive de trabalho honesto,
Cavando o solo fecundo.
Acorda ao nascer da aurora,
Abre a janela de manso,
E o campo e os ares explora
Da vista aguda num lanço.
Depois, nos ombros a enxada,
Abraça a Mamãe, sorrindo,
Beija-me a face rosada
E vai-se ao labor infindo.
Em casa também se lida
Daqui, dali, todo o instante,
Que o trabalho é lei da vida
E nada tem de humilhante.
Depois do trabalho, estudo;
Abro os meus livros e leio;
Eles me falam de tudo
O que eu desejo e receio.
Contam-me histórias bonitas,
Falam da terra e dos ares,
De vastidões infinitas,
De rios, campos e mares.
Mamãe diz que são modelos
De amigos leais e finos;
Que a gente deve atendê-los
Como aos maternais ensinos.
E agora, adeus, até breve.
Eis-me de novo a caminho:
Não esfrie o vento leve
O jantar do papaizinho.
Maria Zalina Rolim Xavier de Toledo — nasceu em Botucatu (SP), em 20 de julho de 1869.
Professora alfabetizadora transferiu-se com a família para São Paulo em 1893.
Educadora, entre 1896 e 1897, exerceu o cargo de vice-inspetora, do Jardim da Infância anexo à Escola Normal Caetano de Campos, em São Paulo.
Escreveu para diversas revistas femininas e jornais como A Mensageira, O Itapetininga, Correio Paulistano e A Província de São Paulo.
Faleceu em São Paulo, em 24 de junho de 1961.
Obras:
1893 – O coração
1897 – Livro das Crianças
1903 – Livro da saudade (organizado nesta data para publicação póstuma)
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Henriqueta Lisboa
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Coraçãozinho que bate
tic-tic
Reloginho de Papai
tic-tac
Vamos fazer uma troca
tic-tic-tic-tac
Relógio fica comigo
tic-tic
dou coração a Papai
tic-tic-tac.
Henriqueta Lisboa (MG 1901- MG 1985), poeta mineira. Escritora, ensaísta, tradutora professora de literatura, Com Enternecimento (1929), recebeu o Prêmio Olavo Bilac de Poesia da Academia Brasileira de Letras. Em 1984, recebeu o Prêmio Machado de Assis da Academia Brasileira de Letras pelo conjunto de sua obra.
Obras:
Fogo-fátuo (1925)
Enternecimento (1929)
Velário (1936)
Prisioneira da noite (1941)
O menino poeta (1943)
A face lívida (1945) — à memória de Mário de Andrade, falecido nesse ano
Flor da morte (1949)
Madrinha Lua (1952)
Azul profundo (1955);
Lírica (1958)
Montanha viva (1959)
Além da imagem (1963)
Nova Lírica ((1971)
Belo Horizonte bem querer (1972)
O alvo humano (1973)
Reverberações (1976)
Miradouro e outros poemas (1976)
Celebração dos elementos: água, ar, fogo, terra (1977)
Pousada do ser (1982)
Poesia Geral (1985), reunião de poemas selecionados pela autora do conjunto de toda a obra, publicada uma semana após o seu falecimento
–
Giuseppe Artidoro Ghiaroni
–
Meu pai está tão velhinho,
tem a mão branca e comprida,
parecendo a sua vida,
longa vida que se esvai.
–
E eu o lembro quando moço
de uma atlética altivez.
Ah! Tinha força por três!
Você se lembra, papai?
–
Menino, ouvia dizer
que você era um gigante.
Eu ficava radiante
e também me agigantava.
–
Porque toda madrugada,
eu quentinho do agasalho,
ao sair para o trabalho
o gigante me beijava.
–
Sua grande mão de ferro
parecia leve, leve
naquela carícia breve
que da memória não sai.
–
Depois… um beijo em mamãe
e o meu gigante partia.
E a casa toda tremia
com os passos de papai.
–
Mas agora o seu retrato
muito moço, muito antigo,
se parece mais comigo
do que mesmo com você.
–
Você já lembra vovô
e, à medida que envelhece,
papai, você se parece
com mamãe, não sei por quê.
–
Você se lembra, papai?
Quando mamãe, de repente,
caiu de cama, doente,
era o pai quem cozinhava.
–
Tão grande e desajeitado
a varrer… Quando eu o via
de avental, papai, eu ria;
eu ria e mamãe chorava.
–
Eu quis deixar o ginásio
para ganhar ordenado,
ajudar meu pai cansado,
mas tal não aconteceu.
–
Papai disse estas palavras:
Sou um operário obscuro,
mas você terá futuro,
será melhor do que eu.
–
Eu? Melhor que este velhinho
a quem devo o pão e o estudo?
Que é pobre porque deu tudo
à Família, à Pátria, à Fé?
–
Meu pai, com todo o diploma,
com toda a universidade,
quisera eu ser a metade
daquilo que você é.
–
E quero que você saiba
que, entre amigos, conversando,
meu assunto vai girando
e no seu nome recai.
–
Da sua força, coragem,
bondade eu conto uma história.
Todos vêem que a minha glória
é ser filho de meu pai.
–
“Um dia eu fui tomar banho
no rio que estava cheio.
Quando a correnteza veio,
vi a morte aparecer.
–
Papai saltou dentro d’água
nadando mais do que um peixe,
salvou-me e disse:_ Não deixe!
Não deixe mamãe saber!”.
–
Assim foi meu pai, o forte
que respeitava a fraqueza.
Nunca humilhou a pobreza,
nunca a riqueza o humilhou.
–
Estava bem com os homens
e com Deus estava bem.
Nunca fez mal a ninguém
e o que sofreu perdoou.
–
Perdoa então se lhe falo
Daquilo que não se esquece.
E a minha voz estremece
e há uma lágrima que cai.
–
Hoje sou eu o gigante
e você é pequenino.
Hoje sou eu que me inclino.
Papai… a bênção, papai.
–
–
Giuseppe Artidoro Ghiaroni – Nasceu em Paraíba Do Sul, (RJ), no dia 22 de fevereiro de 1919. Jornalista, poeta, redator e tradutor; Depois de ter sido ferreiro, “office-boy” e caixeiro, passou a redator do “Suplemento juvenil ” iniciando-se assim no jornalismo de onde passou para o Rádio distinguindo-se como cronista e novelista. Faleceu em 2008 aos 89 anos.
Obras:
O Dia da Existência, 1941
A Graça de Deus, 1945
Canção do Vagabundo, 1948
A Máquina de Escrever, 1997
Ilustração de Paul Hesse. Anúncio para pneus FISK.
Vocês
Gentil Camargo
É ele sim: conheço o seu passinho;
E o suave cheiro que ele tem, conheço;
Mas fecho os olhos, finjo que adormeço:
Quero sentir melhor o seu carinho.
O livro em que da vida inglória esqueço,
Retira-me das mãos, tão de mansinho,
— “Papai…” me chama; e dá-me o seu beijinho,
Compensação de tudo o que padeço.
Depois se afasta. Deixa-me pensando
Em quando ele for grande; e mesmo quando
Todos forem crescidos de uma vez,
Continuarei a vê-los bem pequenos,
Buscando até, em coisas de somenos,
A maior alegria de vocês.
———
Gentil Eugênio de Camargo Leite (Taubaté, SP 1900- SP1983) , professor e jornalista, folclorista colaborou para jornais e revistas de São Paulo, do Rio de Janeiro e do interior do estado de São Paulo: “O Norte”, “Correio de Taubaté”, “O Momento”. Recebeu por sua valiosa participação jornalística, o Diploma de Honra da A.P.I. (Associação Paulista de Imprensa) concedido em 01.05.1958. Um dos fundadores da “Sociedade de História e Folclore de Taubaté. Compôs várias músicas, entre elas “Taubaté tem visgo” e “Hino a Santa Terezinha”.
Porque domingo é o Dia dos Pais.
Dia do Papai
Meu coração bate tanto
que alegria nele vai!
Estou feliz, pulo, canto:
— Hoje é o dia do papai.
O papai essa criatura
a quem amo com ardor,
que faz minha ventura
e me trata com amor.
O papai que minha vida
torna feliz, sem par,
— Ó mamãezinha querida;
Vamos o papai beijar!
Recolhi este poema do meu livro de poemas de escola. Não tenho o autor. Naquela época não me importava com isso. Eu estava na segunda série primária, de uma escola pública no Rio de Janeiro, quando comecei, graças à minha professora D. Yolanda, um caderno de poesias. Nele colocava pequenas poesias, em geral dadas pela professora. Aos poucos ela nos incentivou a copiarmos poesias de que gostássemos. Minha avó, espertamente, me deu um belo livro de capa dura com a palavra POESIAS em letras douradas,com páginas em branco, que tenho até hoje. Este era o único lugar em que eu podia escrever a tinta. Lá estão os meus garranchos a bico de pena… Foi daí que veio não só a apreciação pela poesia, mas o hábito de ler poesias sempre.