O Jardim Botânico do Rio de Janeiro em fim de tarde

17 02 2011
Tartarugas se esquentam ao sol de fim de tarde, no Jardim Botânico do Rio de Janeiro,  Foto: Ladyce West.

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Moro no Rio de Janeiro e como qualquer um de seus habitantes tenho aquele instinto de sair de casa no verão e respirar o ar fresco, me inspirar nos verdes das montanhas, no gosto de sal da maresia matutina.  Cariocas estão em constante contato com a natureza e não sou diferente.  Mas confesso que neste verão, as coisas andam muito difíceis para essa carioca: o calor reina supremo.  Minha caminhada pelas manhãs de verão ou é feita de seis da manhã às oito ou não pode ser feita.  Recentemente sai de casa às oito e meia da manhã e não consegui caminhar mais do que 2 km.   Voltei rapidinho para casa, sentindo que o calor naquele dia seria um inimigo letal.  A máxima naquele dia chegou a 39º Celsius.   Por isso mesmo, tenho tentado caminhar no Jardim Botânico esse meu velho conhecido…  Mas ali, tenho outro problema: distraio-me.  As mesmas paisagens são tão diferentes que, sem querer, os meus passos se desaceleram para observar um lagarto ao sol, o voo de uma arara, ou me sento para ouvir o regato borbulhante num fim de tarde.   Recentemente tirei algumas fotos desse paraíso urbano.  Era tardinha e já havia muita sombra, mas acredito que vocês talvez possam gozar desse passeio comigo através dessas fotos.

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Chafariz Central do Jardim Botânico do Rio de Janeiro, Foto: Ladyce West.

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A aléa principal chama-se Barbosa Rodrigues, honrando João Barbosa Rodrigues, antigo diretor  do Jardim Botânico (1890-1909) e tem aproximadamente 128 palmeiras reais ladeando sua extensão.  Mais ou menos a meio caminho, vemos este belo chafariz, de ferro, de origem inglesa.  Seu autor foi o inglês  Herbert W. Hogg.  Este chafariz, que passou por restauração em 2005, já esteve no Largo da Lapa no Rio de Janeiro por 10 anos 1895-1905 e depois foi trazido para o Jardim Botânico.  O chafariz é conhecido como Chafariz das Musas, porque além diversas alegorias, tem quatro figuras, as musas:  Música,  Arte, Poesia e Ciência.   

Lago da Vitória Régia, Jardim Botânico do Rio de Janeiro, Foto: Ladyce West.

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O Lago da Vitória Régia tem na verdade um outro nome, pelo qual não é conhecido: Lago Frei Leandro do Sacramento, homenageando o primeiro diretor do Jardim Botânico, nomeado por D. João VI, e quem construiu este lago.  No entanto, por causa do grande número de vitórias régias em suas águas, passou a ser conhecido como o Lago da Vitória Régia.  É um dos meus locais favoritos no jardim.  Na foto, à direita, vemos a estátua da nereida Tétis, a mais conhecida das nereidas e a amada de Adamastor.  É uma estátua  em ferro fundido,  de 1862, obra do escultor francês Louis Sauvageau (1822- ?, depois de 1874).   

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Córrego no Jardim Botânico do Rio de Janeiro,  Foto: Ladyce West.

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A área do Jardim Botânico — 1.370.000 m² — é entrecortada por inúmeros córregos, regatos, regueiros, feitos para manutenção da flora, vindos das duas  principais fontes de água fresca que atravessam o terreno:  o Rio dos Macacos e o Riacho Iglésias.  Esses canaletos de água, borburinham constantemente causando imenso prazer a quem por eles passa.  Com frequência suas margens são desenhadas de tal maneira que,  por entre a vegetação, há clareiras com bancos convidadivos ao devaneio.

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Rendado de folhas de encontro ao céu, Jardim Botânicio do Rio de Janeiro, Foto: Ladyce West.

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Este é um lugar a que sempre volto com prazer.  Quando criança vínhamos com frequência ao Jardim Botânico.  Morávamos próximo e era um excelente passeio em qualquer época do ano.  Continua sendo.





A volta do Chafariz da Praça Paris no Rio de Janeiro

10 10 2010
Praça Paris, Rio de Janeirro.  Foto:  Ladyce West

 

Ontem de manhã resolvemos fazer um passeio pela Praça Paris aqui no Rio de Janeiro para ver seu belíssimo chafariz que foi re-inaugurado pela prefeitura da cidade, depois de sete anos sem funcionar.   Chegamos à praça e em vinte minutos o tempo passou de parcialmente encoberto para chuva forte de primavera.  O céu azul por entre nuvens claras foi se encobrindo rapidamente.  Mas mesmo assim valeu a pena o passeio.

Praça Paris, RJ, ao fundo a estátua do Marechal Deodoro da Fonseca.  Foto: Ladyce West.

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Completamente reformado nas suas entranhas: o espelho d’água de 1600 metros quadrados foi totalmente esvaziado e o fundo limpo.  Antigas rachaduras e infiltrações no revestimento interno do lago foram consertadas, assim como um novo quadro de comando foi instalado, paralelamente às novas bombas submersas.   Outras quatro bombas submersas foram restauradas.  Além disso, uma nova tubulação de jorro, que havia sido furtada, foi instalada.  O jorro central voltou a atingir os 15 metros de altura como no passado.

Praça Paris, RJ, ao fundo à direita a igrejinha do Outeiro da Glória.  Foto: Ladyce West.

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O espelho d’água da Praça Paris,  que é uma das maiores praças públicas da cidade, é uma das atrações deste projeto da década de 20 do século passado, aqui no Rio de Janeiro.  Inaugurada em 1929, esta praça foi urbanizada sobre um aterro, com terra vinda do antigo Morro do Castelo no centro da cidade.   Terras do Morro do Castelo foram usadas desde 1921 para saneamento de diversos logradouros na cidade, pelo então prefeito Carlos Sampaio (1861-1930) — prefeito do Rio de Janeiro (Distrito Federal) de 1920  a 1922.  Com a remoção do Morro do Castelo abriu-se espaço para a Exposição Comemorativa do Centenário da Independência do Brasil.  E o aterro — uma nesga da Baía de Guanabara —  criou a área que mais tarde permitiu o projeto da Praça Paris.  Uma outra extensão ao longo das margens da Lagoa Rodrigo de Freitas levou à construção da atual avenida Epitácio Pessoa.  Suas terras também foram usadas para aterrar parte dos bairros da Urca e do Jardim Botânico.

Praça Paris, RJ, linhas clássicas do jardim francês.  Foto: Ladyce West.

A Praça Paris é considerada uma verdadeira jóia do urbanismo carioca.  Foi construída durante o governo do Presidente Washington Luís, quando era prefeito  do Rio de Janeiro (Distrito Federal) – 1926 a 1930 — o engenheiro Antônio Prado Júnior( 1880- 1955).  O plano seguiu as regras do urbanista francês  Donat-Alfred Agache (1875 – 1959),  diplomado pela École des Beaux-Arts de Paris em 1905.   Alfred Agache foi contratado em junho de 1927 mas só se estabeleceu na cidade no início de 1928, quando o aterro do Morro do Castelo na baía de Guanabara já estava praticamente completo.    

Praça Paris, RJ rodeada de amendoeiras.  Foto:  Ladyce West.

A praça tem muitos dos elementos do plano de Agache.  Os caminhos são de terra, areia e cascalho finíssimo à moda francesa; há um grande número de esculturas no jardim e arbustos são mantidos com cortes formais como nos melhores topiários dos clássicos jardins franceses.  O paisagismo também foi cuidadosamente elaborado, com uma carreira tripla ao redor de toda a praça de frondosas amendoeiras [Terminalia cattapa L.] que apesar de não serem originárias do Brasil – são originárias da Malásia– se adaptaram tão bem ao país nos últimos 400 a 500 anos que parecem nativas.  Essas árvores, cujas sementes devem ter aportado às nossas costas nos cascos de navios portugueses, têm a característica de perderem suas folhas no inverno, depois delas se tornarem vermelho-acobreadas no outono, como acontece com muitas árvores de florestas decíduas das regiões temperadas do planeta.  O resultado é uma forte associação ao outono francês, principalmente porque o mesmo ocorre com o Plátano Orientalis L. que é uma árvore comum no paisagismo europeu.  

Praça Paris, RJ, os golfinhos do lago.  Foto: Ladyce West.

 

Mantendo a afinidade com o urbanismo francês, quatro golfinhos fazem parte do complexo do chafariz central.  Eles são cópias de golfinhos de chafarizes em Versalhes, na França, construídos  sob a direção de André Le Nôtre ( França, 1613-1700).   O trabalho de revitalização da Praça Paris inclui também a manutenção da iluminação e a limpeza do terreno.  Vale a pena a visita.