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Filipe Arruda, (Brasil, contemporâneo)
óleo sobre eucatex, 50 x 60 cm
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Moema
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Raquel Naveira
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Anhangá,
Espírito do mal,
Avisou Moema:
Caramuru partiria com Paraguaçu
Para um reino distante
Do lado de lá.
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Moema corre para a praia,
Vê a nau coroada de flores,
As quilhas untadas,
As velas chamando o vento,
Na proa, o amado e a traidora.
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O dia começa a ficar triste,
Desde a sombra da tarde,
A inhuma,
Ave noturna,
Voa sobre a cabeça de Moema,
Mulher que não é amada
E que ama.
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Ferida,
Tomada de delírio,
Pressentindo a morte próxima,
Atira-se na água
A bela Moema.
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Coberta de âmbar e espuma,
Grita a amante:
“– Eu te salvei do naufrágio,
Te dei meu corpo virgem,
Te fui doce
E, agora, me dás em troca
O abandono, a traição?
Hão de ser castigados, miseráveis,
Antes que Jaci brilhe no céu,
Encontrarão desgraça no meio dos escolhos”.
Flutua nas ondas da ira,
Amarga como a folha da jurema,
Afunda trêmula
A pobre Moema.
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Caramuru abraça a favorita,
Solta as amarras,
A coragem o incita,
A compaixão lhe sugere uma prece,
Um poema.
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Em: Stella Maia e outros poemas, Campo Grande, MS; Editora UCDB:2001
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Raquel Naveira (Campo Grande, MS 1957) Poetisa, ensaísta, graduada em Letras e Direito, professora no Curso de Letras da Universidade Católica Dom Bosco de Campo Grande (MS), mestranda em Comunicação e Letras, na Universidade Presbiteriana Mackienzie (SP), e empresária de turismo (Pousada Dom Aquino, em Campo Grande – MS), Raquel Naveira destaca-se por seu talento e engajamento nas atividades culturais do centro-oeste brasileiro. A escritora tem recebido reconhecimento nacional através de inúmeras premiações e várias indicações para prêmios. Em sua obra, são constantes a religiosidade, o misticismo e os temas épicos.
Obra:
Via Sacra, poesia, 1989
Fonte luminosa, poesia, 1990
Nunca Te-vi, poesia, 1991
Fiandeira, ensaios, 1992
Guerra entre irmãos, poesia, 1993
Canção dos mistérios, poesia, 1994
Sob os cedros do Senhor, poesia, 1994
Abadia, poesia, 1995
Mulher Samaritana, 1996
Maria Madalena, prosa poética, 1996
Caraguatá, poesia, 1996
Pele de jambo, infanto-juvenil, 1996
O arado e a estrela, poesia, 1997
Intimidades transvistas, 1997
Rute e a sogra Noemi, prosa poética, 1998
A casa da Tecla, poesia, 1998
Senhora, poesia, 1999
Stella Maia e outros poemas, 2001
Casa e castelo, poesia, 2002
Maria Egipcíaca, poesia, 2002
Tecelã de tramas: ensaios sobre interdisciplinaridade, ensaios, 2004
Portão de ferro, poesia, 2006
Literatura e Drogas e outros ensaios, crítica literária, 2007











