Esmerado: verso de espelho em marfim, c. 1330-1360

25 10 2016

 

 

f8cc283805552693be56a3db00e5dd2bVerso de espelho com grupo de falcoaria, 1330-1360

Marfim

Artesania francesa, 9,5 x 9,5 x 1 cm

Metropolitan Museum, Nova York

 

 

Muitos espelhos na época eram emoldurados em marfim esculpido por escultores denominados “pigniers” que também se especializavam em pentes.  Entre os produtos mais populares  dos eborários góticos, estavam os espelhos, em geral feitos aos pares para serem guardados virados um para o outro para proteger a superfície de metal polido, comumente vendidos em estojos de couro.  O tema neste caso é uma atividade nobre, falcoaria, e indica que o espelho foi feito para um cliente aristocrático. Inventários medievais confirmam que esses objetos frequentemente pertenciam a famílias nobres.

Metropolitan Museum

 

Nota: eborário é a pessoa que trabalha esculpindo o marfim.

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23 de abril, São Jorge!

23 04 2016

 

a831dc195427175908d78da62d0fba43São Jorge matando o dragão

Iluminura em manuscrito

Biblioteca Britânica

 

 

Historiadores da arte, como a Peregrina, não importa a especialização, passam muito tempo estudando a vida dos santos, a história ocidental, histórias folclóricas, o surgimento de mitos, tudo o que foi ou que poderia ter sido motivo de representação nas artes.  Por isso temos depois de muitos anos de dedicação, uma visão mais ou menos geral da história da cultura ocidental, com um viés para o que foi importante para ser representado.

Ao longo da vida profissional é natural que independente das crenças de cada um dos estudiosos, haja contos, lendas, histórias que nos sejam preferidas, porque nos encantam.

Não sou uma medievalista (pessoa dedicada ao estudo da Idade Média).  Minha especialização é arte moderna europeia.  Mas as pessoas mudam, vão encontrando outros amores e outros caminhos. Passados 30 anos de formada, não me arrependo dos meus estudos.  Mas talvez, hoje, minha segunda especialização seria arte medieval, no lugar de século XVII na Holanda.

A razão é simples: as lendas, as histórias, religiosas ou não, que eram representadas tão detalhadamente nas páginas de pergaminho.  Entre elas tenho duas preferidas: a história da Virgem Maria, como representada por Giotto, na Capela degli Scrovegni em Pádua, e a história de São Jorge.

Deleite é o que sinto ao ver a representação do dragão, às vezes tão engraçado, a representação da Virgem salva por São Jorge. Um dos pontos altos para mim na exposição de Kandinsky, que esteve aqui no Rio de Janeiro, foi justamente as diversas representações de São Jorge.

Por isso mesmo, não posso deixar de comemorar o dia de São Jorge com uma bela pintura de manuscrito medieval, que se encontra na Biblioteca Britânica.

Um bom feriado a todos os cariocas.  Aqui, no Rio de Janeiro, São Jorge é feriado!





Em três dimensões: Arnolfo di Cambio

29 10 2015

 

 

3madonnMadona dos olhos de vidro, 1296

DETALHE

Arnolfo di Cambio (Florença, 1240-1310)

Mármore

Museo dell’Opera del Duomo, Florença

 

 

2madonna





Esmerado: Código Áureo de São Emeram

10 06 2014

 

 

462px-Codex_Aureus_Sankt_Emmeram

 

Capa do famoso Evangelho Carolíngeo, Codex Aureus de S. Emeram, datando de circa 870 no Palácio do Sacro Imperador Romano Carlos,o Calvo que o doou a Arnulfo de Caríntia que por sua vez o doou à abadia de S. Emmeram. Ouro, pérolas e pedras preciosas incrustadas compõem a capa desse evangelho iluminado, produto dos artesãos da oficina “Escola do Palácio”. Hoje na Biblioteca Estadual da Baviera em Munique.

 

Esta postagem vai em especial para o pessoal de Música & Fantasia





Muito além do coração: uma joia musical

8 03 2014

open_bookChansonnier de Jean de Montchenu, década de 1470

Também conhecido como Chansonnier Cordiforme (em formato de coração)

[Paris, Biblioteca Nacional, Ms. Rothchild, 2973]

Há mais ou menos um mês, através de uma aluna, descobri alguns manuscritos em forma de coração.  Foram novidade para mim, mas diga-se não sou medievalista.  Tudo indica que não são muitos. Dentre eles, talvez o mais divulgado seja o Chansonnier  de Jean de Montchenu (Cancioneiro de Jean de Montchenu) que recebeu recentemente uma edição maravilhosa em fac-símile.  Esse manuscrito foi encomendado na França, em  Savoy [Saboia] entre 1460 e 1477.  Encomenda feita por Jean, cânone de Montchenu — daí sua designação — que  mais tarde, em 1477,  se tornou Bispo de Agen e Bispo de Vivier (1478-1497).  O cancioneiro é composto por 43 músicas.  Entre elas há obras de Guillaume Dufay (Du Fay, Du Fayt) nascido em 5 de agosto, acredita-se que de  1397 e falecido a 27 de novembro de 1474.

DufayBinchoisDufay, retratado aqui à esquerda e Gilles de Binchois à direita no manuscrito em Martin le Franc, “Champion des Dames”, Arras 1451.

Dufay foi um dos compositores dos Países Baixos mais conhecidos na época do Renascimento, figura central na Escola da Borgonha, onde desempenhou o papel mais famoso e influente na Europa em meados do século XV.  Sua música foi copiada, distribuída e cantada em todos os lugares que a polifonia tinha criado raízes. Quase todos os compositores das gerações seguintes absorveram alguns elementos do seu estilo. A ampla distribuição de sua música é ainda mais impressionante, considerando que morreu décadas antes a disponibilidade de impressão de música. Ou seja, suas músicas tinham que ser copiadas à mão. 

gc178-4Chansonnier de Jean de Montchenu, década de 1470

Há também algumas cantigas de Gilles de Binche, contemporâneo de Dufay, nascido por volta do ano 1400, tendo falecido em 1460 e que foi também um compositor muito influente. Suas músicas apareceram em cópias décadas após sua morte, e muitas vezes foram usados ​​como fontes para a composição de Missas  por compositores posteriores. Sua música é simples e clara.  Empregado pelo Duque de Borgonha, Binchois  (como era também chamado) escreveu todo tipo de música: as canções seculares de amor além das músicas sacras que atenderam as expectativas e satisfizeram o gosto de seu patrão.  Outros compositores como Ockeghem , Busnoys também têm composições incluídas nesse manuscrito único.

montchen_m_1Chansonnier de Jean de Montchenu, década de 1470

O livro fechado tem a forma de um coração, aberto parece uma borboleta formada por dois corações. Os românticos veem nisso dois corações amantes. As canções são em francês e italiano e escritas para diferentes vozes.  Quando a palavra coração aparece no texto ela é representada por um imagem de um coração delicado.

montchenu4Página do Manuscrito de Montchenu, em que a palavra coeur [coração] aparece substituída pela imagem de um coração.

Duas ilustrações de página inteira aparecem no códice. Na primeira, um Cupido atira flechas contra uma jovem, enquanto ao seu lado Fortuna gira sua roda. No outro, dois amantes se aproximam um do outro com amor.  em todo o manuscrito, os pentagramas, música e poemas de amor são cercados por bordas de animais, pássaros, cães, gatos e todos os tipos de flores e plantas em ouro abundante e desenhos delicados. A encadernação é  em veludo cor vermelho, como apropriado  à  forma.

montchenu2Detalhe da página do manuscrito de Montchenu ilustrada na primeira fotografia desta postagem.

James de Rothschild recebeu este manuscrito junto a uma enorme coleção de seu pai Henri de Rothschild, e doou-o para a Biblioteca Nacional da França.

746299c15092a4867af370b608eac528Detalhe de uma das bordas do manuscrito de Montchenu.