Descobertas mini esculturas na Turquia

11 09 2025
Mini esculturas, importante descoberta em Tas Tepe, na Turquia.

 

Parece incrível, não é?  A descoberta, na Turquia, de três mini imagens de bichos – abutre, raposa e javali – são capazes de redirecionar algumas de nossas ideias sobre os primeiros povoados do período neolítico. Arqueólogos concluíram as pequenas esculturas encontradas  e cuidadosamente colocadas dentro de um pequena cuia, por sua vez protegida dentro da grande tigela, que vemos na foto acima, são mais um sinal de que as populações locais, do período neolítico, já estavam organizadas em povoados há 11.500 anos atrás.  Esses animais esculpidos, cuidadosamente preservados pelos próprios habitantes dos local, faziam parte da cultura oral, da história, das lendas, da contação de histórias, fábulas, rituais para sobrevivência. São as esculturas de animais mitológicos mais antigas que se conhece, o que empurra para um período  ainda mais longínquo, o surgimento das primeiras aldeias humanas do neolítico. 

 

Posição em que os objetos foram descobertos dentro dessa grande tigela.

Descoberto no sítio de Karahantepe o grupo de animais, de aproximadamente 3,5 cm de altura, foi encontrado num pequeno recipiente coberto com uma tampa de pedra, dentro de recipiente bem maior, Cada uma dos animais tinha a cabeça colocada dentro de um anel de pedra calcária.  Essa composição, intencionalmente organizada, leva a crer na existência de rituais exercidos pela memória coletiva, onde os anéis de calcário teriam significado específico.  É importante lembrar que até então só imagens em duas dimensões, portanto imóveis, como desenhos em relevo nas pedras, haviam sido encontradas como expressões culturais para grupos humanos vivendo a 11.500 anos.  





Volubilis, estive perto e não vi…

4 11 2024
Volubilis, cidade romana, no Marrocos.

 

 

 

Dividi uma casa e mais tarde um apartamento com uma colega de pós-graduação em história da arte, cujos verões eram passados em sítios arqueológicos em Israel, já que sua especialidade era arte do período romano tardio e bizantina. Nós duas, diferente dos amigos cientistas de The Big Bang Theory, apesar de muitas similaridades na nossa maneira de viver, sempre gostávamos de conversar sobre nossas respectivas áreas de estudo.

Eu achava muito romântico vê-la partir com pouquíssima bagagem, no início do verão, e voltar muitas semanas depois, com um deslumbrante tom acobreado na pele, graças ao sol do oriente médio, que ressaltava seus olhos azuis enormes. Chegava cheia de histórias de aventuras e novas descobertas nos pisos de sinagogas que escavava. Tornamo-nos muito amigas com alguns anos de convivência, só para deixarmos nosso convívio diário quando ela estava próxima a se casar com um promotor público em Washington DC.  Fui, junto a outras amigas, sua “dame of honor“.  Através desses anos de vida em comum aprendi muita coisa sobre mosaicos, variações de épocas em que foram feitos, o que observar neles, etc.

 

 

 

Piso de antiga habitação romana em Volubilis.

 

 

Por causa desse convívio acabei tendo persistente curiosidade sobre mosaicos antigos. E sempre que possível, se houvesse um local com ruínas da antiguidade grega ou romana, próximo ao local onde me encontrava viajando, fiz questão de visitá-lo, quer eu estivesse em Portugal ou na Grécia.  Quando morei em Oran, na Argélia, um dos passeios mais deslumbrantes que fiz foi às ruinas de Tipasa, conhecidas  na literatura pelo romance de Albert Camus, Bodas em Tipasa. Nesse mesmo período viajamos mais de uma vez pelo Marrocos, mas eu nunca soube de Volubilis.  Portanto, quando por acaso, como acontece na internet, caí numa série de artigos com profusão de fotografias sobre esse sítio.  Passo algumas fotos aqui porque achei os mosaicos de excelente qualidade.

 

 

 

Hércules e o leão, piso de uma residência em Volubilis.

 

 

Estive no Marrocos algumas vezes, porque moramos por um ano, mais ou menos próximo – três horas de carro – da fronteira com a Argélia, em Oran.  Marrocos era um local de maior liberdade social.  Por exemplo, um lugar onde eu e meu marido podíamos entrar em qualquer restaurante para uma refeição, juntos, enquanto em Oran, havia um único lugar onde homens e mulheres podiam se sentar para uma refeição, um restaurante chamado Mon Village, onde também encontrávamos quase todos os estrangeiros da cidade. Era um local de clientela duvidosa, onde jovens mulheres que faziam programas noturnos, podiam se encontrar com seus parceiros.  Não sei se a Argélia continua assim. mas nos anos 80 era um lugar com vida muito circunscrita para mulheres. Portanto, para nosso conforto, Oujda a cidade mais próxima da fronteira com a Argélia, foi um lugar favorito para nós, estrangeiros, naquela parte do mundo.

 

 

O acrobata, piso residencial em mosaico, Volubilis.

 

 

Fui outras vezes para o interior do país, visitei muitas cidades.  Mas não sabia de Volubilis.  Sei que há outros grandes centros arqueológicos com mosaicos na Líbia, todos datando do período de domínio romano do Norte da África. Mas naquela época, e me parece que isso continua até hoje, a Líbia era lugar perigoso de visitar e portanto esses locais repletos de belíssimos resquícios da antiga civilização romana era difícil de se visitar. Estou passando informações que acabo de encontrar na internet, ainda com os olhos de espanto de ver esses mosaicos tão bonitos e tão bem preservados, que se encontram em Volubilis no Marrocos.

 

 

 

Piso em mosaico, Volubilis.

 

 

 

Volubilis esteve sob domínio romano por 250 anos. Caiu nas mãos de tribos locais por volta do ano 285 da nossa era.  Hoje é tombada pela Unesco.  É um dois mais preservados sítios romanos das fronteiras mais distantes do império.

Acho que vou fazer uma viagem ao local. Dizem que dezembro é uma boa época para ir.  Não será em 2024.  Mas quem sabe, no ano que vem?





Descoberta curiosa na Alemanha: peças de xadrez de mais de 1.000 anos!

13 06 2024
Detalhe de uma das peças de xadrez: Cavalo (4cm de altura) encontradas na Alemanha. Foto: Victor Brigola / Universität Tübingen

 

 

O jogo de xadrez data aproximadamente dos séculos VI ou VII DC, vindo do desenvolvimento de um jogo chamado chaturanga, jogado em algumas partes da Índia.   Depois da invasão árabe da Pérsia, o jogo de xadrez foi adotado pelo mundo muçulmano e eventualmente introduzido na Europa por portos na Espanha e na Itália, por volta do ano 1.000 DC.

O xadrez foi logo visto como excelente treino para estratégia e, portanto, tornou-se parte obrigatória da preparação dos cavaleiros feudais.  Talvez seja interessante lembrar quem eram os cavaleiros feudais.  Eram guerreiros montados. Lutavam em batalhas e guerras, ou porque estavam submissos a  um senhor feudal ou eram guerreiros de aluguel, como mercenários nos dias de hoje, para o senhorio que lhes pagasse melhor.  Há na história da Europa medieval diversos nomes de cavaleiros de aluguel que se tornaram famosos e ricos.  Muitos deles imortalizados em pinturas e esculturas como é o caso de Sir John Hawkwood, um mercenário inglês (1320-1394) cujas batalhas aconteceram, na maioria, entre diversas cidades-estado da Itália.  Uma curiosidade a respeito de mercenários é a própria guarda suíça papal, que originalmente foi formada por mercenários.

 

 

 

 

Pintura da estátua equestre de Sir John Hawkwood, 1436

(moldura pintada mais tarde, em 1524)

Paolo Uccello, (Florença, 1397-1475)

Afresco, 820 x 515 cm

Santa Maria del Fiore, Florença

 

 

 

Apesar do jogo de xadrez ser considerado uma das sete habilidades que um bom cavaleiro deveria desenvolver, é raro encontrar peças deste jogo ou de qualquer outro jogo da época, em bom estado, principalmente peças que tenham sido usadas antes do século XIII.  Mas faz sentido que estas peças tenham sido encontradas nas ruínas de um castelo no sul da Alemanha, no distrito de Reutlingen, em um castelo até então desconhecido. As peças foram encontradas sob os destroços de um muro onde poderiam ter sido perdidos ou escondidos. 

 

 

 

 

Cavalo, peão e um dado encontrados nos destroços de um muro em um castelo no sul da Alemanha.

 

 

 

As peças estão em excelente condição e quando examinadas sob microscópio pode ser visto o brilho, causado pela oleosidade, consequência de terem sido manuseadas durante partidas.  Quatro peças em formato de flor, a que se atribui o papel de peões, foram encontradas, algumas com traços de coloração vermelha, que pode indicar que um dos grupos do jogo de xadrez tenha sido originalmente feito de peças vermelhas.  Um dado com números nos seis lados, exatamente igual aos dados de hoje, também foi encontrado no grupo de peças.  Todas ela foram esculpidas em chifres. 





Esses belos frascos têm 2.000 anos de idade!

8 05 2024
Frascos e garrafas encontrados na França, em Nîmes, do primeiro século da nossa era.

 

 

Uma escavação para a construção de um bairro residencial em um subúrbio da cidade de Nîmes na França descobriu esses belíssimos exemplos de frascos e garrafas de vidro romano datando do século I, DC.  Eles estavam no local das piras funerárias para cremação de corpos em um cemitério romano da antiga capital regional, Nemausus, que deu o nome a Nîmes atual.  Com população estimada em 60.000 pessoas essa cidade antes de ser dominada pelos romanos no século I AC, era habitada pela tribo Gaulesa Volcar Arecomici, desde a Idade do Ferro. 

Nîmes tem uma longa história romana e por isso é conhecida como a mais romana cidade fora da Itália ou a Roma Francesa.  Os romanos dominaram  a região desde o século I AC ao século V DC. Na época em que esses artefatos foram criados a vida na cidade girava em torno da praça principal e do templo chamado Maison Carrée.

 

 

 

 

Maison Carrée, Nîmes, antigo templo, construído entre 16 e 19 AC, durante o reino do imperados romano Augusto. 

 

 





Novos murais descobertos em Pompeia

15 04 2024
Mural de sala de jantar escavado em Pompeia. Foto: Parque Arqueológico de Pompeia.

Nova escavação revela um salão de banquetes com murais inspirados na Guerra de Troia.  A casa encontra-se na quadra 10 do Regio IX no sítio arqueológico de Pompeia.  Essas pinturas murais vieram a público no último dia 11 de abril.

 

 

 

Leda e o cisne. Mural de sala de jantar escavado em Pompeia. Foto: Parque Arqueológico de Pompeia.

 

 

Os murais são do Terceiro Estilo, cuja característica é o uso de fundos de uma só cor, pinturas populares durante o primeiro século AD.  Tudo indica que o tema dominante nestes pinturas murais é o heroísmo, conclusão que justifica os pares de heróis e deuses representados.

A pintura mural nos salões de banquetes em geral era programada com temas que viessem a dar aos convidados assuntos de interesse para a troca de ideias conversas, e com isso já estabelecer a priori as preferências dos donos da casa. Acredita-se também que a luz trazida para as salas de banquete era inconsistente e com isso havia o efeito das imagens nas paredes parecerem ter movimento, principalmente depois de algumas taças de vinho campaniano, como mencionado em Virgílio.

 

 

 
Foto: Parque Arqueológico de Pompeia.

 

 

A Guerra de Troia é um daqueles eventos que levam ao debate por aqueles que estudam o passado, porque não há provas concretas de que o conflito aconteceu verdadeiramente.  A Ilíada de Homero  menciona que o conflito começou com Paris, o filho do Rei de Troia em uma decisão sobre a beleza entre as deusas Hera, Atena e Afrodite. Paris escolheu Afrodite como a mais bela.  Como prêmio por sua decisão, a ele foi dado o amor de Helena, que já estava casada com o rei de Esparta.  A guerra portanto começou quando o rei Menelau quis sua esposa de volta.





Um carpete? Um tapete? Não! É o super mosaico!

27 01 2024
Mosaico de aproximadamente 900 m², o maior mosaico conhecido da Antiguidade está na Turquia.

 

 

Em 2019 o maior mosaico conhecido, da Antiguidade foi aberto ao público.  Não o conheço.  Mas lembrei-me dele porque hoje recebi notícias de amigos que visitam a Turquia.  Não vão ver esse mosaico.  Talvez o interesse em mosaicos da antiguidade não seja tão popular quanto imaginei.   Claro que me lembrei desse belíssimo exemplar.  Ele cobre aproximadamente 900 m² contínuos e estava localizado na cidade de Antióquia, capital do Império Selêucida, que compreendia vasta região dominada anteriormente por Alexandre o Grande. 

Lembro, para os que não trabalham com história que Alexandre, o Grande, morreu sem deixar um sucessor para as terras por ele conquistadas.  Assim, a grande extensão de seu domínio se subdividiu e os generais de seu exército dividiram o colossal domínio, em numerosos territórios, criando fronteiras, abocanhando terras férteis ou de influência geográfica estratégica.  É impressionante como a humanidade é a mesma, apesar de milênios os separarem. 

 

 

 

Antioquia, hoje conhecida como Antaquia na Turquia, era a capital do Império, fundada nos finais do século IV a.C. por Seleuco I Nicátor.  Foi conquistada pelos romanos no ano 63 AC.  Logo se tornou a terceira maior cidade do Império Romano depois de Roma e Alexandria. Estima-se que tenha tido próximo a meio milhão de habitantes.  Para os romanos ela era a porta para o Oriente.

Este grande mosaico foi descoberto em 2010, durante a construção de um hotel. O desenho decorativo é geométrico em círculos decorados em rítmicos desenhos sem repetições.  Foi provavelmente colocado no pavimento térreo de uma construção para uso público. Surpreendente foi a extensão desse pavimento assim como a complexidade dos desenhos abstratos que o compunham.

 

 

 

O mosaico deve ter sido construído em meados do século V, no período romano tardio.  Sofreu ajustes no terreno e destruição em alguns lugares com os terremotos dos anos 526 e 528 DC.  O hotel que estava sendo construído, trocou seus planos arquitetônicos para incluir o mosaico, como ponto turístico.  Hoje o mosaico pode ser visto no Antakya Museum Hotel [Hotel Museu Antakya].





Oportunidade rara

3 06 2023

Busto de Marco Aurélio, imperador romano, ano 161-180

Ouro

33 x 29 cm

Musée romains d’Avenches e Musée cantonal d’archéologie et d’histoire, Etat de Vaud

Suíça

O museu americano Getty, localizado na Califórnia, abriu no dia 31 de maio deste ano exposição de arte romana cuja peça central é o busto de Marco Aurélio descoberto na Suíça na antiga cidade romana de Aventicum que foi construída nas ruínas de um acampamento celta. A exposição ficará aberta até dia 29 de janeiro de 2024, portanto dá tempo de você se programar para essa bela experiência.

Achar este busto de Marco Aurélio foi uma das mais espetaculares descobertas do século XX. Se anteriormente poderíamos duvidar do poder e da riqueza do Império Romano no norte da Europa, esta descoberta junto com outros objetos complementaram com sucesso o conhecimento que temos do poder dos romanos no segundo século da era comum.

O busto pesa um quilo e seiscentos gramas de ouro. Foi feito de uma única folha de ouro, martelada. É oca. Foi descoberto em 1939, no sítio arqueológico de Aventicum, na Suíça, onde se explorava uma construção de uso religioso. O busto foi encontrado intacto, em excelente condição, tendo sido escondido no sistema de esgoto do local, provavelmente para evitar roubo pelas frequentes invasões de tribos germânicas.

A exposição tem também outros objetos encontrados no local, mas o centro da exposição é o busto do imperador romano.

Marco Aurélio, além de imperador, foi um filósofo estoico, cuja obra Meditações, se encontra até hoje entre as leituras necessárias para um boa educação. Além disso, foi general de grande sucesso que lutou contra as tribos germânicas nas fronteiras do norte do território romano.

As peças que compõem a exposição fazem parte de museus suíços e estão em empréstimo ao museu Getty Villa Museum.





A mais antiga sentença completa escrita em um pente!

18 04 2023
Pente encontrado em 2016 na antiga cidade cananita de Lachish

 

 

Arqueólogos de Israel trouxeram a público uma descoberta que leva para o passado mais longínquo a escrita cananita.  Trata-se de um pente, com alguns dentes quebrados.  Ele é de osso e data de 3.700 anos atrás. Diversos artefatos cananitas já foram encontrados com inscrições parciais, desenhos de letras, mas neste caso, apesar dos entalhes estarem desgastados pelo tempo, conseguiram identificar nos últimos seis anos a primeira sentença completa a inscrição, a primeira frase toda em caracteres cananitas: “Que esta presa consiga livrar cabelo e barba de piolhos.”

Este é o primeiro uso do alfabeto cananita, inventado cerca de 1800 aEC, em uma frase completa.  O alfabeto canaanita foi  a semente de todos os outros alfabetos  como o hebreu, árabe, grego, latino e cirílico.

Cananitas falavam um língua semita muito antiga relacionada ou hebreu moderno, ao árabe e aramaico.  Tudo indica que eles foram o povo que desenvolveu o primeiro sistema descrita usando um alfabeto.   Um frase inteira como esta recém descoberta mostra que o uso da escrita já estava bastante desenvolvido.  Mostra que não só sentenças e pensamentos inteiros podiam ser expressados pela escrita, mas que seu uso era padronizado bastante para que muitos entendessem a complexidade do que estava assinalado.

Esse tópico da vida cotidiana da região de Tel Lachish,  ao sul de Israel, é dado significante.  O pente de marfim, encontrado dentro do palácio da cidade, no distrito do templo, pode indicar que só os homens abastados eram capazes de ler e escrever.  Além disso percebemos que piolhos existiam e eram de difícil controle.  Os arqueólogos  encontraram também evidências microscópicas de piolhos neste pente.

Especialistas dataram essa frase em 1700 aEC, quando a compararam com o alfabeto cananita arcaico, encontrado anteriormente no deserto Sinai no Egito datado de1900a 1700 aEC.  Mas o pente de Tel Lachish foi encontrado num período mais recente, e infelizmente não se conseguiu data mais precisa com método do carbono.





Medalha de ouro da Dinamarca mostra início da mitologia nórdica

2 04 2023

Há muito tempo não coloco no blog nenhuma notícia de arqueologia.  Meu interesse nunca se extinguiu.  Fiquei sem tempo.  Mas duas semanas atrás  anunciada a nova data para o culto a Odin, pela leitura da medalha fotografada acima, me trouxe de volta às postagens arqueológicas que tanto agradam os leitores. 

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Arqueólogos descobriram que uma medalha de ouro, que deveria ser usada como pingente, encontrada na Dinamarca em 2020, é o registro mais antigo que se tem de Odin, principal deus nórdico. O objeto é uma medalha ornamental com inscrições rúnicas. Uma das 22 peças descobertas ao acaso por Ole Ginnerup Schytz, um arqueólogo amador usando um detector de metais que acabara de comprar.

Entre as peças desta  coleção de medalhões e joias, que pesavam  mais de um quilo de ouro, uma foi estudada por especialistas na língua rúnica por todo esse tempo.  Mas a forma arcaica das inscrições retardaram a verdadeira novidade deste achado na Jutlândia, arquipélago que conta com territórios da Dinamarca e  Alemanha.  A cidade de Jelling , local da descoberta é  conhecida como o berço dos grandes reis vikings que reinaram em grande parte do norte da Europa do século X ao XII. Mas relativamente pouco se sabe sobre o período anterior a eles.

 

A peça cujo significado em rúnico foi desvendado é  uma medalha de ouro, que deveria ser usada como um pingente e que estima-se ter sido  cunhada no Século V, cerca de 150 anos antes do registro mais antigo conhecido do deus nórdico Odin.  Desde encontrado, esse objeto vem sendo examinado — e, agora, finalmente os pesquisadores conseguiram decifrar as inscrições rúnicas contidas no disco de ouro. Na peça, está escrito: “Ele é o homem de Odin” junto com a imagem de algum governante desconhecido, que era chamado de Jaga ou Jagaz.

 A inscrição foi a mais difícil de interpretar em todos os anos em que trabalho no Museu Nacional da Dinamarca. É uma descoberta  absolutamente incrível;  a primeira evidência sólida do culto a Odin no século V.  “Este tipo de inscrição também é raro, ainda não encontrado anteriormente. Podemos ter sorte em encontrar um a cada 50 anos” disse  Lisbeth Imer, especialista em escrita rúnica.

Alfabeto runo gravado em pequenas peças de cerâmica.

Odin era um dos pricipais deuses da mitologia nórdica, frequentemente associado à guerra e à poesia. Possuía habilidades de vidência, segundo as tradições. Com o poder de enxergar passado e futuro podia mudar o destino da humanidade.  Por isso mesmo recebia muitos pedidos e oferendas. Acredita-se que o tesouro onde a medalha foi encontrada possa ter sido enterrado em honra aos deuses.

Os povos nórdicos eram politeístas.  Descobriu-se mais sobre os deuses dessa religião pagã, central para a sociedade viking à medida artefatos históricos foram encontrados.  Deste modo arqueólogos aprenderam  mais sobre adoração, características e atributos de cada divindade.

Até agora, o registro mais antigo de Odin era um broche datado da segunda metade do século VI. (550-600 EC), encontrado em Nordendorf, região no sul da Alemanha.

A medalha é uma espécie de moeda de ouro usada como ornamento na Europa Setentrional, na Idade do Ferro germânica (400-800 E.C.), especialmente durante as migrações bárbaras.  E faz parte da coleção de medalhões  decorados com símbolos mágicos e runas, uma das primeiras formas de escrita. As mulheres os teriam usado para proteção, já que as pessoas na época acreditavam que o ouro vinha do sol, segundo os especialistas.

O grande medalhão mostra o deus Odin, que parece ter sido inspirado em joias romanas semelhantes celebrando  imperadores como deuses.  Há também outra medalha com a efígie  do imperador romano Constantino, do século IV, famoso por disseminar o cristianismo. Os especialistas acreditam que o tesouro tenha sido enterrado há 1.500 anos.


Ladyce West é historiadora da arte e escritora. Seu primeiro livro de poesias À meia voz, foi publicado em  novembro de 2020, pela Autografia. Encontra-se à venda em todas as livrarias e em ebook na Amazon.

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Em 2018, novas descobertas em Pompeia!

28 04 2019

 

 

 

pompeia 6aAfresco com pintura de cobras e pavão.

 

 

Um antigo oratório de mais de 2.000 anos foi descoberto nas ruínas da cidade romana de Pompeia,  preservado em meio às cinzas vulcânicas após a devastadora erupção do Monte Vesúvio em 79 EC que destruiu a cidade e matou 16.000 pessoas. Paredes vermelho-sangue e pinturas de touros, bem como cenas encantadoras de pássaros delicados, árvores e cobras apareceram à medida que arqueólogos foram limpando as paredes vizinhas ao altar.   O altar, que se denominava lararium, está muito bem preservado.

 

 

pompeia 12aOratório, larário.

 

O altar, que se denominava lararium, está muito bem preservado.  Na Roma Antiga, os larários eram espaços para um oratório na entrada das casas das famílias, onde oferendas e orações eram feitas aos espíritos daquela casa, chamados lares. [Mesma origem da nossa palavra LAR, em português (ETIM lat. Lar,Lăris ‘deus protetor da casa, domicílio, lareira’)]. Além deste belo santuário, na sala onde ele ficava, havia uma piscina elevada e um jardim, características que sugerem este local ter pertencido a uma família muito afluente. No momento, arqueólogos tentam descobrir a quem esta casa pertencia.

 

pompeia 5aLimpando as cinzas

 

Massimo Osanna, chefe do sítio arqueológico de Pompeia, descreveu a descoberta como “uma sala maravilhosa e enigmática que agora precisa ser estudada em profundidade“. A sala, que ainda não foi totalmente escavada, está embutida na parede de uma pequena casa e apresenta pinturas dos principais deuses romanos nos rituais domésticos.

Pinturas de animais em uma cena de jardim encantado são típicas do estilo romano ilusionista, com um pavão desenhado ao longo do fundo de uma parede para dar a aparência de que ele estava andando no jardim.

 

pompeia 3aMassimo Osanna mostra detalhes da pintura.

 

Outra parede desta sala está pintada de vermelho sangue e decorada com uma grande cena de caça, com cães caçando um javali e um cervo. Outra pintura retrata um homem com a cabeça de um cão, que os especialistas sugerem que poderia ser uma versão romanizada do deus egípcio Anúbis. Os santuários eram comuns às famílias romanas. Cada casa tinha um lararium de algum tipo, mas apenas as pessoas mais ricas poderiam ter um lararium dentro de uma câmara especial com uma piscina elevada e decorações sumptuosas, como essas, lembrou a professora Ingrid Rowland, historiadora da Universidade de Notre Dame.

 

 

pompeia 8aParede vermelho-sangue com cena de caça.

 

Abaixo do nicho do santuário há uma prateleira-altar coberta com traços de oferendas queimadas no local há quase dois mil anos.  O altar é decorado com pinturas de ovos – um símbolo romano de fertilidade – e é possível que os restos queimados fossem oferendas de comida que também representavam fertilidade, como figos, nozes ou mais ovos.

 

 

pompeia 9aDetalhe da cabeça de um cavalo.

 

As pinturas espalhadas pelo local foram preservadas em cinza vulcânica após a erupção do Monte Vesúvio em 79 EC.  Camadas grossas de rocha e cinzas expelidas durante os dois dias de erupção impediram que a luz solar e a água alcancem esses artefatos por quase dois milênios.  Essas mesmas nuvens de cinzas que cobriram Pompeia preservaram as cores e as pinturas murais neste local que agora foi descoberto repleto de imagens de pássaros, plantas e animais diversos.

 

 

pompeia 7aParedes da sala

 

 

Revista History, Outubro 12, 2018.