
Mulheres de Argel, 1834
Eugène Delacroix ( França, 1798-1863)
Óleo sobre tela, 180 x 229 cm
Museu do Louvre, Paris
Há tempos não acompanho novelas televisivas. “O Clone” foi a última novela que acompanhei, vendo os capítulos sentada lado a lado com minha mãe, que corajosamente resistia a uma doença terminal. Naquela época, fiquei impressionada com a facilidade com que alguns personagens transitavam do Norte da África para o Brasil, encontrando-se aqui ou lá como que por acaso. Sei que o mesmo fenômeno ocorreu em outra novela passada em Miami e Rio de Janeiro assim como está acontecendo nos dias de hoje com a novela Caminho das Índias.
Hoje, tive o meu momento Glória Perez. E também um momento em que testemunhei por mim mesma, o poder da internet: como ainda não estou cozinhando na minha nova residência, saímos, eu e meu marido, para tomar café no bar/restaurante mais próximo, que oferece uma generosa média quentinha. Sentamos nas mesas da calçada, como bons cariocas, mesmo que a chuvinha de inverno insistisse em molhar a rua. Debaixo do toldo apreciávamos a manhã tranqüila. Depois de uns dez minutos, quando já contemplávamos uma segunda xícara, passa uma senhora simpática. Anda adiante e depois volta. Se aproxima. De repente fala comigo:
— Você não é Ladyce?
— Sim.
— Ah, que bom que a reconheci….
— ?!!???
Em outras palavras: ela era um “conhecimento” da internet, uma pessoa que eu nunca havia visto, nem em fotografias, já que meu contato com ela havia sido através de seu filho. E ela me reconheceu. Por foto! Foto que viu num site, diferente do site de relacionamentos no qual eu e seu filho havíamos trocado algumas palavras a respeito de nomes de famílias em Mato Grosso. Mas o mais interessante. Ela não mora no Rio de Janeiro. Está aqui por dois dias. Chegou ontem, vai embora amanhã. E num desses dias, numa manhã chuvosa, no Rio de Janeiro, uma cidade de 7 milhões de pessoas, ela passou por uma calçada de Copacabana, viu uma pessoa que reconheceu de uma foto na internet e se conectou. As possibilidades disso acontecer são muito remotas. E se aparecesse em novela, eu iria reclamar dizendo que falta credibilidade no texto. Pois, engulo minhas palavras, engulo a minha desconfiança, o meu ceticismo. Glória Perez está certa!