Página com iluminura da obra de Ovídio: Heroides versão em francês
Biblioteca Nacional da França
No livro O leitor comum de Virgínia Woolf, no primeiro ensaio, Os Pastons e Chaucer, somos apresentados a um detalhado e simpático retrato de uma senhora: Margaret Paston(c. 1420-1484). Virginia Woolf traz aos nossos olhos, a personalidade que detectou através das cartas para membros da família Primeiro me lembrei do marcante diário e memórias, The memoirs of Glückel of Hameln, (1646- 1724) [não encontrei em português] que, começado em 1690, foram escritas trezentos anos depois das cartas de Margaret Paston. Surpreende o quão pouco mudou naqueles séculos todos o papel da mulher, suas preocupações em manter a família e os bens da família protegidos. Esse era de fato um dos papeis da mulher, esposa de comerciante ou da pequena nobreza ou dos senhores de terras.
Apesar de leitora assídua sobre idade média, sempre me assombro com o que aprendo sobre a vida dessas mulheres no passado. Letradas, se comunicavam com membros da família regularmente, por cartas, nos dando assim uma maneira de imaginarmos suas vidas com maior precisão. Mas mais delicioso ainda é ver como Virgínia Woolf constrói um retrato tridimensional dessa mulher que conheceu só através de suas cartas. Para escritores de ficção não só a descrição de Margaret Paston assim como a do Castelo Caistor em Norfolk. Além, é claro, de nos ensinar como observar a obra de Chaucer. Aqui fica um pedacinho do ensaio de Woolf, para servir de acepipe literário.
“As longuíssimas cartas que escreveu tão laboriosamente, com sua letra clara e apertada, para o marido, que estava (como sempre) ausente, não mencionavam a si mesma. Os carneiros tinham destruído o feno. Os homens de Heyden e Tuddenham estavam ausente. Um dique se rompera e um boi foi roubado. Precisavam com urgência de melaço, e ela necessitava muito de tecidos para um vestido.
Mas a Sra. Paston jamais falava de si mesma.
Portanto os pequenos Pastons viam a mãe redigir ou ditar cartas longuíssimas, uma página após a outra, uma hora após a outra; porém interromper um pai ou mãe que escreve tão laboriosamente sobre questões de tamanha importância devia ser um pecado. A tagarelice dos filhos, a sabedoria do quarto de dormir das crianças, ou do seu quarto de estudos não tinham lugar naquelas comunicações elaboradas. Em sua maioria, suas cartas são as cartas de um meirinho honesto para seu chefe, explicando , pedindo conselhos, dando notícias, fazendo relatos. Houvera roubos e carnificina; dificuldades em conseguir o pagamento dos aluguéis; Richard Calle mal conseguira amealhar um dinheiro de nada; e, entre uma coisa e outra, Margaret não tivera tempo de realizar, como deveria, o inventário dos bens que seu marido solicitara. . A velha Agnes, inspecionando à distância um tanto duramente, os afazeres do filho, deve muito bem tê-lo aconselhado a planejar esse inventário, para que tenhais menos o que fazer no mundo,; vosso pai já disse: Onde há poucos afazeres, há muito descanso. O mundo não passa de uma estrada, cheia de infortúnio; e, ao partirmos dela, nada levaremos conosco a não ser nossas boas ações e malfeitos.“
Essa passagem ressalta mais uma vez, como a concepção generalizada de que as mulheres na idade média não tinham responsabilidades é errônea. Eram elas as responsáveis pela manutenção, pela adição e preservação dos bens familiares, pelo bem-estar dos filhos e do todos aqueles que se encontravam sob sua guarda, nas terras, nas mansões, nos castelos.
Citação: O leitor comum, Virgínia Woolf, tradução de Marcelo Pen e Ana Carolina Mesquita, Tordesilhas: 2023, p. 34-35
Nota: Cartas de Paston [The Paston Letters] é um do maiores arquivos de correspondência na Inglaterra do século XV. Volume composto de correspondência particular, (por volta de mil cartas) e documentos tais como petições, contratos de aluguel, testamentos, que cobrem três gerações sobre a vida pessoa de uma família na época. Na Biblioteca Britânica em Londres.
Museo d’Arte Moderna e Contemporanea di Trento e Rovereto
A carteira, de Francesca Giannone, traduzido para o português por Roberta Sartori [Editora LVM: 2024] , é o primeiro romance da autora, chamada por alguns como uma “segunda Elena Ferrante“. Esse livro foi vencedor do Prêmio Bancarella de 2023. A comparação com Ferrante talvez seja uma das razões de seu grande sucesso – mais de 625.000 livros vendidos em 2023. Só a localização italiana, acompanhando a narrativa sobre uma mulher e sua família, amigos e parentes, no entanto, não é suficiente para transformá-la em uma segunda autora com potencial de ser universalmente aclamada. Falta-lhe a riqueza nos detalhes relevantes, e o desenvolvimento psicológico dos personagens esboçados para que a comparação se justifique.
Uma história com ingredientes interessantes que se perde, nas quatrocentas e mais páginas: detalhes desimportantes, com laudas facilmente subtraíveis, sobretudo no último terço, sobre a construção da Casa da Mulher. A sinopse parecia boa: uma mulher do norte da Itália se casa com um italiano do sul e vai morar com ele na Puglia, onde ele se encarrega de desenvolver uma vinícola, nas terras que herdou. Anna o acompanha. Dona de um espírito independente, culta, leitora, acaba trabalhando como carteira da cidade, após concurso, quando quebra as expectativas de todos, familiares e habitantes locais, por trabalhar numa posição até então ocupada por homens. Considerada uma estranha no ninho, por seus hábitos e linguagem de outra região, ela teria a oportunidade de conhecer e interagir com os habitantes de Lizanello, [Lecce] entregando cartas e telegramas para toda a população.
No entanto, essa troca entre habitantes e Anna não é explorada pela autora, ainda que seja sugerida na sinopse. O livro se arrasta cobrindo algumas décadas da vida da carteira, enquanto a trama se perde no núcleo familiar de Anna, seu marido Carlo e filho Roberto; na atração que Antonio, irmão de Carlo, tem por Ana, no passado de Carlo, familiares, filhos legítimos ou não, e um ou outro personagem como Giovanna vítima de um relacionamento abusivo com um padre. Mas se espremermos o conteúdo temos uma novela televisiva, em que intrigas e amores proibidos são alimento para um longo volume que merecia bom editor, para cortar cenas inúteis, diálogos que não levam a nada e enchem o leitor de informação espúria para a trama.
Terminei o livro com a sensação de tempo perdido. É superficial. É adolescente. Não é livro para leitor maduro. Francesca Giannone poderia e deveria entregar mais. Percebi nela algumas características que costumo ver nos escritores de primeira viagem. Sua obra poderia ser melhorada com a assistência de um bom editor. Pergunto-me : para que um prólogo? Em que ele ajudou nessa narrativa? Outros detalhes de primeiros romances: muitos personagens nomeados que aparecem uma única vez e não participam mais do resto da trama. Uma das primeiras regras de uma boa edição: personagens com nomes devem ser sempre aqueles que o leitor precisa gravar para entender o enredo. Enfim, há espaço para melhorias na escrita. Mas é preciso que a autora e que seus editores queiram que isso aconteça, e que não se deitem no sucesso da primeira obra, porque pode ser que não se sustente. Francesca Giannone toca em assuntos queridos na atualidade: emancipação feminina, mulheres trabalhando, votando, mulheres em profissões fora do esperado, mudança em preconceitos sociais. Mas não se aprofunda em nenhum desses aspectos. Tudo não passa de conversa fiada, de um aceno ao espírito da época.
Francesca Giannone
Uma palavra sobre a edição brasileira: deveria ter tido mais rigor na revisão. Aponto aqui alguns problemas que saltaram aos olhos: duas maneiras de escrever o nome Agata ou Agatha. Ambos aparecem no texto. Há frases inteiras que não fazem sentido, mostro algumas mas há mais. Imagino serem resultado de uma revisão final pela inteligência artificial que não distingue homônimos ou que deixa passar a palavra correta na ordem errada. 1) “Ela havia ficara em recuperação.” [169]; “ele cresceu de forma surpreendentemente” [228]; “No final, ele dará há algo para ele também” [350] “A dela mãe a expulsou de casa” [433].
Não recomendo. Preferiria dar uma estrela negativa, mas não posso. Fica uma estrela pelo esforço da escritora, pela tradução e alguns pontos a menos pela revisão editorial. Não conheço essa editora. Não começamos com o pé direito. Espero que melhorem no futuro. Não pretendo colocar o Prêmio Bancarella entre aqueles cujos vencedores farão parte da minha lista de futuras leituras. Ver que esse prêmio existe há setenta e dois anos e que teve como vencedores Ernest Hemingway (1953), Boris Pasternak (1958), Oriana Fallacci (1970); Umberto Eco (1989) entre outros conhecidos nomes da literatura mundial é surpreendente. Não sei o que houve em 2023.
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Acabo de ler O colibri do escritor italiano Sandro Veronesi, tradução de Karina Jannini [Editora Autêntica Contemporânea: 2024] obra que recebeu o Prêmio Strega (Itália), em 2020. O autor já havia recebido o Strega em 2006 pelo livro Caos calmo publicado no Brasil em 2007. Trata-se da história de vida de Marco Carrera: seus sucessos, atribulações, amigos, amores, filha, neta, uma narrativa que cobre o período de vida adulta do protagonista. Costumo gostar de ficção que se metamorfoseia em biografia de um personagem fictício, gente comum. Duas obras que considero excelentes nesse gênero são: Os diários de pedra, da escritora canadense Carol Shields, que recebeu os prêmios Pulitzer e National Book Critics Circle, 1995 e As aventuras de um coração humano, do escritor britânico William Boyd. Dois livros que me emocionaram quando seus protagonistas chegaram ao final da vida. Essas narrativas demonstram algo que o próprio Sandro Veronesi diz desejar retratar: “o heroísmo da vida comum”. O propósito é que o leitor consiga se ver ali, como pessoa comum, como sua própria vida também é repleta de aventuras, obstáculos que parecem intransponíveis, requerendo decisões hercúleas. Demonstrar como a vida não é linear, mas tecida de vai vens, de erros e acertos. Veronesi consegue transmitir isso, consegue mostrar como a vida de Marco Carrera também é heroica. No entanto, por mais que eu simpatizasse com seus enfoques, problemas, empecilhos e me surpreendesse com as reviravoltas daquela vida, esse médico oftalmologista, não me emocionou nem durante, nem ao fim de sua jornada. Vamos então ao que me foi problemático. Tudo se resume a uma questão de estilo.
A maior restrição que tive a essa obra, e não é a única, foi o exagero de informação transmitida ao leitor. A verbosidade de Veronesi [rara de encontrar na literatura atual] faz a prosa pesada, tediosa. Um bom editor teria aconselhado o escritor a cortar vários excessos. Vejamos: um email entre irmãos sobre os móveis herdados dos pais, mostra um interminável rol de poltronas e sofás que jamais terão importância no texto.
“2 sofás dois lugares Le Bambole, metal, couro cinza, poliuretano, Mario Bellini para B&B, 1972 (20.000 €) 4 poltronas Amanta,* fibra de vidro e couro preto, Mario Bellini para B&B, 1966 (4.400 €) 1 poltrona Zelda, madeira tingida em tom jacarandá e couro em cor natural, Sergio Asti, Sergio Favre para Poltronova, 1962 (2.200 €) 1 poltrona Soriana, aço e couro anilina marrom, Tobia e Afra Scarpa para Cassina, 1970 (4.000 €) 1 poltrona Sacco,* poliestireno e couro marrom, Gatti, Paolini e Teodoro para Zanotta, 1969 (450 €) 1 poltrona Woodline, madeira curvada a quente e couro preto, Marco Zanuso para Arflex, 1965 (1.000 €) 1 mesinha de café Amanta, fibra de vidro preta, Mario Bellini para B&B, 1966 (450 €) 1 mesinha baixa 748, teca marrom, Ico Parisi para Cassina, 1961 (1.100 €) 1 mesinha baixa Demetrio 70, plástico laranja, Vico Magistretti para Artemide, 1966 (150 €) 1 mesa La Rotonda, cerejeira natural e cristal, Mario Bellini para Cassina, 1976 (4.000 €) 1 estante modular Dodona 300, plástico preto, Ernesto Gismondi para Artemide, 1970 (4.500 €) 2 estantes modulares Sergesto, plástico branco, Sergio Mazza para Artemide, 1973 (1.500 €)“
Informação que não leva a lugar nenhum. Não leva a NADA! É prosa auto condescendente, discurso empolado, que se repete adiante na lista de livros de ficção científica também da mesma herança. Teria o objetivo de encantar o leitor com a raridade dos livros encontrados? Se foi essa a intenção, não funcionou. Seria o caso de o autor precisar mostrar conhecimento nesse campo, para quê? E para quem? Ocorre, então, a ideia do intelectual demonstrando pesquisa sobre uma era. Necessidade de mostrar conhecimento. Mas o romance não é uma tese de mestrado ou documento de pós graduação. Para quem ele está exibindo esse conhecimento?
Outro aspecto da verbosidade é o detalhismo com que descreve locais. Concordo que a Itália tem alguns dos mais deliciosos e sedutores espaços, praças, recantos de todo mundo; mas a proposta dessas descrições não parece ser só a caracterização do carinho que Marco Carrera tem pelos locais por onde perambula.
“De fato, um dos lugares mais bonitos do mundo, isto é, o chamado Granarone2 do Palazzo Caffarelli (bonito não pelas intrínsecas qualidades arquitetônicas, que não tem, mas por sua posição, que domina todo o lado sudoeste da colina do Campidoglio até o rio Tibre, ou seja, a área em que se encontram as ruínas dos templos de Jano, de Juno Sóspita, da Esperança, de Apolo Sosiano, de Santo Homobono e do Pórtico Republicano no Fórum Holitório, além da basílica de São Nicolau em Cárcere e da Rocha Tarpeia em sua totalidade e de três quartos do Teatro de Marcelo; na Idade das Trevas, tornara-se pasto para cabras, e por isso foi rebatizada de “Monte Caprino”; no final do século XVI, foi requalificada pela construção, justamente em seu ponto mais alto, do Palazzo Caffarelli no Campidoglio, por parte da antiga e homônima família da nobreza municipal romana; em meados do século XIX, foi adquirida, com palácio e tudo, pelos prussianos, e por eles enriquecida com outros edifícios mais simples, entre os quais o mencionado Granarone, para onde foi transferido o Instituto Germânico de Arqueologia; depois, em 1918, após a derrota do Império Prussiano, inteiramente readquirida pela municipalidade de Roma), além de servir como sede da Advocacia Capitolina, naqueles anos abrigava o departamento da Casa Comunal,onde os atos judiciários são conservados e notificados aos interessados. Em outras palavras, as pessoas que eram objeto de alguma queixa, denúncia ou de ações judiciárias tinham de retirá-las ali, no Granarone.“
Essas observações todas nos são dadas ainda nas primeiras cinquenta páginas do livro. É um problema que quase pede uma leitura dinâmica. Mas não é só. A narrativa se torna tão conturbada quanto a vida de Marco, pela forma não linear da exposição. Saltitamos do passado recente ao presente ao passado longínquo. E todos os possíveis meios de comunicação são utilizados, de e-mails a mensagens nos celulares e depoimentos. É um leque imenso que se abre de diferentes estilos de prosa. De novo, fica a sensação do autor querer demonstrar suas habilidades. O que não deveria ser necessário, não é marinheiro de primeira viagem. Já é altamente reconhecido.
Sandro Veronesi consegue, ao final, seu objetivo: reconhecermos que a vida de uma pessoa comum, pode ser heroica; e provavelmente é. A vida de qualquer um de nós pode ser essa vida heroica. Só a partir do meio do livro, a leitura parece mais amigável. Os olhos correm com maior facilidade sobre o texto. Mas no final, antes de fechar o livro, voltei a ter essa sensação de que o autor precisava demonstrar o subtexto da obra, as origens do que o levara a escrever, no capítulo chamado Dívidas: um capítulo inteiro de notas e explicações, de onde veio essa ideia, que conto o autor leu que o inspirou para qual capítulo e o máximo da auto condescendência, quando cita a si mesmo! Como é mesmo que ele faz? Vejam:
“No capítulo “Urania”, a escrita a lápis no frontispício do romance de ficção científica é algo verdadeiro, referente a mim mesmo, e foi adaptado para a obra. Na realidade, foi meu pai, enquanto eu nascia não me lembro mais em qual hospital, em Florença, que escreveu estas palavras no frontispício do romance da coleção Urania que estava lendo…“
Não gostei. Estou surpresa que tenha recebido o maior prêmio de literatura da Itália. Das cinco estrelas, máximo de pontos que dou aos livros neste blog, dei duas. Conheço leitores que deram quatro estrelas e alguns que gostariam de ter subtraído uma ou duas estrelas abaixo de zero. Esse não é um livro para um leitor iniciante. Estou surpresa de ver tantas resenhas enaltecendo O colibri. Não recomendo.
NOTA: este blog não está associado a qualquer editora ou livraria, não recebe livros nem incentivos para a promoção de livros.
“Junto à mesa, onde ardia o candelabro, Lúcio estava muito aplicado em levantar castelos de cartas para entreter Adélia.
Feliz idade em que a imaginação entre risos de prazer edifica palácios com essas figuras coloridas! Mais tarde, em vez de castelos de carta, são os castelos de vento, edificados com as ilusões e as esperanças de nossa alma. Vem um sopro de criança e arrasa o suntuoso palácio. O menino reúne as cartas e levanta novo castelo. O homem debalde tenta coligir as ilusões que tombaram: não encontra nem o pó; desfizeram-se em fumo.”
José de Alencar, O tronco do Ipê
Publicado pela primeira vez em 1871, foi o segundo romance regionalista de Alencar. Foi também o primeiro romance “de gente grande”, como minha mãe anunciou, quando me deu para ler nas férias de julho depois de eu completar dez anos no mês anterior. Nem sei quantas vezes o reli. Muitas. Já soube algumas partes de cor. Ainda sei nomear todos os personagens. Aliás foi o início de um bom relacionamento meu com o autor. A história se passa numa fazenda em Teresópolis, cidade com que eu estava familiarizada por passar férias lá. Há menções do rio Paquequer, assim como também acontece em O Guarani. Depois de O tronco do ipê, ainda jovem adolescente, cheia de histórias românticas na cabeça, li todos os outros “perfis de mulher’ dele, ou os chamados romances urbanos: Cinco minutos, A viuvinha, Lucíola (de que não gostei muito), A pata da gazela, Til. Mais tarde, não sei exatamente quando, provavelmente quando tinha quatorze anos, li Senhora, que se tornou um de meus livros favoritos de toda a minha juventude. Qual não foi minha boa surpresa saber, muitos anos depois, que Senhora havia sido traduzido para o inglês e fazia parte de muitos currículos de literatura sobre empoderamento feminino, em universidades nos Estados Unidos. Li também, algumas vezes, Iracema, de que gosto mais do que O Guarani, mas não cheguei a ler, Minas de Prata, nem O Gaúcho. Tínhamos a coleção toda lá em casa, mas esses, nunca chegaram a me interessar. Talvez seja a hora de voltar a Alencar, quem sabe?
Parti direto dos romances urbanos de Alencar para A mão e a luva e Helena de Machado de Assis. Essa foi a minha apresentação, pelas mãos de minha mãe a Machado. Funcionou porque apesar de ler Don Casmurro, depois aos quinze-dezesseis anos, ele não me interessou tanto quanto Memórias Póstumas de Brás Cubaslido em seguida, que foi por um bom tempo meu livro de cabeceira.
DETALHE de O castelo de cartas de Théodore Gérard, mostrado acima.