Clarabela ensina Horácio a pintar, ilustração Walt Disney.
Ama a tua arte. Por ela
faze o bem: ama e perdoa.
A bondade é sempre bela,
a beleza é sempre boa.
(Bastos Tigre)
Clarabela ensina Horácio a pintar, ilustração Walt Disney.
Ama a tua arte. Por ela
faze o bem: ama e perdoa.
A bondade é sempre bela,
a beleza é sempre boa.
(Bastos Tigre)
Morena de olhos castanhos,
teu encanto é a minha pena;
quem dera que olhos estranhos
te achassem feia, morena!
(Bastos Tigre)
“O cão que ladra não morde”.
Permitam que nesta quadra
eu do provérbio discorde:
sim, não morde… enquanto ladra.
(Bastos Tigre)
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Pequeno encanto
Donald Zolan (EUA, contemporâneo)
óleo sobre tela
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Bastos Tigre
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Por sobre as ramas da árvore coleia
A lagarta. E a colear, viscosa e lenta,
O seu aspecto as vistas afugenta
E de tocá-la a gente se arreceia.
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Verde-negra, amarela, azul, cinzenta,
Quando o sol as folhagens incendeia,
Sobe a aquecer-se, e à luz solar, aumenta
O asco de vê-la repulsiva e feia.
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Mas eis que a encerra do casulo a tumba;
Não penseis que, de todo, ela sucumba
No seu sepulcro eternamente presa.
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Qual, do corpo, alma livre, desprendida,
É borboleta: evola-se a outra vida,
Voando feliz, na glória da beleza.
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Em: Antologia Poética, Bastos Tigre, volume I, Rio de Janeiro, Ed. Francisco Alves:1982
Natividade, 1947
Fúlvio Penacchi (Brasil 1905-1992)
óleo sobre cartão 19 x 23 cm
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Bastos Tigre
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Natal! Vocábulo sonoro,
Com ressonâncias de cristal!
Amo o Natal; amo e adoro
O doce nome de “Natal”.
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Ouvi-lo é ter no ouvido, ecoando
A voz dos sinos, no arraial,
Alegremente repicando
A excelsitude do Natal!
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Missa do galo. Espouca e brilha
O foguetório, a salva real…
Fulge o painel. Que maravilha!
Jesus nasceu: — Natal! Natal!
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Ding-din! Ding-don! — repicam os sinos!
Vozes elevam-se em coral,
Desafinando ingênuos hinos
Em honra a Cristo e ao seu Natal.
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Dança, presépios, pastorinhas
No pastoril de João de tal —
E, entre vizinhos e vizinhas,
Os namoricos de Natal.
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Castanhas, nozes, rabanadas,
Do velho tom tradicional,
De fino açúcar polvilhadas
Tendo a doçura do Natal.
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E da família o quadro lindo
Da vasta mesa patriarcal
E a avó velhinha, repartindo
O imenso bolo de Natal.
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Mudou o Natal. Que há que não mude
Neste vaivém universal?
Foi-se a simpleza ingênua e rude
Das idas festas de Natal.
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Hoje, entre as luzes da cidade
Cosmopolita e colossal
A luz da Light a noite invade
E nem se vê vir o Natal.
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Há o reveillon, francês em nome,
Yankee no fundo comercial;
Faga-se quanto se consome
A preços próprios do Natal.
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Em vez da viola e da sanfona,
Em tom menor, sentimental,
Uma “ortofônica” ortofona
Um feroz fox infernal.
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Há nos hotéis e clubs chics
Festas de um tom convencional
Sem foguetório e sem repiques —
Que nem são festas de Natal!
—
Corre champagne, em vez do verde,
Do carrascão de Portugal.
(Sem o verdasco o que há de ser de
Ti, ó consoada de Natal).
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E até há gaitas, serpentinas,
Como se fora um carnaval!
Vocês, rapazes e meninas,
Não têm idéia do Natal!
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Chego a pensar que o próprio Cristo,
O de Belém, o do curral,
Lá do alto, olhando para isto,
Não reconhece o seu Natal.
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E, então, fechando a azul esfera,
Se esconde além do último “astral”
E, por castigo, delibera
Não nascer mais pelo Natal.
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Em: Antologia poética de Bastos Tigre, vol 2, Rio de Janeiro, Francisco Alves: 1982.
OS DENTES
Devemos os nossos dentes
Zelar com o maior rigor.
Ser, com eles, negligentes,
Causa sempre dissabor.
Deles tudo se remova
Que os possa prejudicar,
Limpando-os com água e escova
Pela manhã e ao deitar.
E toda atenção é pouca
No cuidá-los muito bem.
Se entra a vida pela boca,
Entra a moléstia também.
A cárie apenas começa?
Não se dê parte de fraco:
Vá-se ao dentista depressa
Que sempre a cárie é um “buraco”.
Dos dentes mantendo o asseio
Podemos ficar contentes,
Pois quase não há receio
De chorar com dor de dentes.
Bastos Tigre
Manuel Bastos Tigre (PE 1882 – RJ 1957) — foi um bibliotecário, jornalista, poeta, compositor, humorista e destacado publicitário brasileiro.
Obras publicadas:
Saguão da Posteridade, 1902.
Versos Perversos, 1905.
O Maxixe, 1906.
Moinhos de Vento, 1913.
O Rapadura, 1915.
Grão de Bico, 1915.
Bolhas de Sabão, 1919.
Arlequim, 1922.
Fonte da Carioca, 1922.
Ver e Amar, 1922.
Penso, logo… eis isto, 1923.
A Ceia dos Coronéis, 1924.
Meu bebê, 1924.
Poemas da Primeira Infância, 1925.
Brinquedos de Natal, 1925.
Chantez Clair, 1926.
Zig-Zag, 1926.
Carnaval: poemas em louvor ao Momo, 1932.
Poesias Humorísticas, 1933.
Entardecer, 1935.
As Parábolas de Cristo, 1937.
Getúlio Vargas, 1937.
Uma Coisa e Outra, 1937.
Li-Vi-Ouvi, 1938.
Senhorita Vitamina, 1942.
Recitália, 1943.
Martins Fontes, 1943.
Aconteceu ou Podia ter Acontecido, 1944.
Cancionário, 1946.
Conceitos e Preceitos, 1946.
Musa Gaiata, 1949.
Sol de Inverno, 1955.
Do livro:
Criança Brasileira: segundo livro de leitura, Theobaldo Miranda Santos, Agir: 1950, Rio de Janeiro.