Bolo de comemoração dos Quinze Anos do Grupo de Leitura Papalivros
Da Graça Pâtisserie, em Copacabana
Em março de 2003, três meses após o meu retorno ao Brasil, pensei abrir caminho para novas amizades e atiçar fogo nos velhos relacionamentos depois de décadas fora do país. Resolvi fazer no Rio de Janeiro um grupo de leitura nos moldes que conhecera no estrangeiro.
Nos Estados Unidos, nos meus primeiros anos, tive o apoio da Secretaria de Estudantes Estrangeiros da Universidade Johns Hopkins. Através deles fui apresentada a maneiras de complementar renda e também, modos de me integrar à vida do país, o que incluiu pertencer a grupos que se encontravam não mais do que uma vez por mês.
Participei de grupos de culinária, onde a cada mês uma pessoa mostrava em sua cozinha, como fazer uma especialidade de seu país de origem. Participei de grupo de estudos (leituras) de história da Europa. E antes mesmo de completar seis meses no país, entrei para um grupo de leitura. Grupos de leitura são comuns nos EUA. Morei por muitos anos no país, em três diferentes estados e no Distrito de Columbia e em todos os locais fui membro de um grupo de leitura.
É um meio de se conhecer pessoas, de descobrir afinidades, aprofundar o conhecimento geral. Ainda me lembro com prazer de algumas leituras dos dois anos em que pertenci ao primeiro grupo, na cidade de Baltimore: John Steinbeck, Of mice and men; John Fowles, The Magus; The once and future king, T. H. White, All creatures great and small, James Herriot, Watership Down, Richard Adams, Breakfast of Champions, Kurt Vonegut, Burr, Gore Vidal. Desses tornei-me fã de Vidal, de Vonegut, e Fowles. E apaixonada pela história do Rei Artur. Em outros grupos de leitura, conheci dezenas de autores americanos e estrangeiros que me roubaram o coração e a atenção. E mais, fiz grandes amizades nesses grupos. Pessoas com afinidades. E aprendi, sobretudo, a respeitar os gostos de cada um, a ouvir as opiniões dos outros sem interferir e a aceitar que cada um de nós tem gosto único e que ele pode mudar através dos anos.
Minha intenção de abrir um grupo de leitura aqui no Rio de Janeiro, cidade de festa, sol, samba e extroversão, foi recebida com surpresa e descrença. Mas à maneira americana, fui pragmática. Segui em frente até ver no que dava. E deu samba. Muito além das minhas expectativas. Neste mês de abril o Grupo de Leitura Papalivros (nome escolhido por votação logo no primeiro encontro) completa 15 anos de existência. Começamos com seis pessoas. Minhas primas, minha cunhada, uma amiga de mamãe. Quinze anos depois, ainda temos sete membros que entraram no primeiro ano, dos familiares só minhas primas. Somos 22 pessoas, todas mulheres, mas já foi um grupo misto. Somos leitoras. E amigas. Nossas idades variam dos 34 anos aos 90. E continuamos muito amigas, a cada ano, mais amigas.
15 anos, 180 livros, 180 encontros, sem nenhuma falha. É para nos orgulharmos de nós mesmas, do nosso comprometimento, que melhor acontece quando a verdadeira amizade brota e é cuidada. Que venham mais 15 ou 30. É um prazer pertencer a esse grupo.