Há montanhas azuladas E campinas verdejantes Um rio murmurante De águas sempre a rolar
Há coqueiros, altaneiros Sapatinhos e ipês Há prédios altos, vistosos Há choupanas de sapé
Há uma cruz no alto do morro Com capelas pra rezar Lembram passos dolorosos De Jesus a se imolar
Há no lindo azul do céu Brancas nuvens a passar Estrelas brilham, cintilam Nas noites claras de luar
Há estradas, automóveis Trens, bondes e oficinas Há sirenes e buzinas Há coisas intermináveis
Há carrilhões, afinados Tocando ao meio dia Rezando as Ave Marias Chorando para os finados
Não é brilhante nem ouro Mas vale mais que tesouro É a imagem milagrosa Da nossa padroeira A Senhora Aparecida Do Brasil tão querida Das Graças a medianeira
Há carrilhões, afinados Tocando ao meio dia Rezando as Ave Marias
“Termine cada dia e o dê por encerrado. Você fez o que podia. Sem dúvida, alguns erros e absurdos se infiltraram; esqueça-os assim que puder. Amanhã é um novo dia. Você deve começá-lo serenamente e com um espírito elevado demais para se deixar sobrecarregar com suas velhas bobagens.”
A ovelha, um dia, muito triste por não ter forças para lutar com os cães que a mordiam, ou armas de defesa contra a ferocidade dos lobos, dirigiu-se a Júpiter e expôs-lhe suas queixas:
– Pai, todos os animais que vivem sobre a terra, desde o inseto ao paquiderme, têm meios de defender-se contra os ataques; e coragem para provocar as lutas. Eu, porém, sou tímida e indefesa: tudo me causa medo. Queria, pois, que me desseis uma arma qualquer. Júpiter, tocado de piedade, perguntou-lhe:
– Queres um veneno oculto nos dentes, para dar morte aos que te fizerem mal?
– Oh! Não! Respondeu a ovelha. Os animais venenosos são nojentos e causam medo a todos.
– Queres ter na boca duas fileiras de dentes afiados, como os leões e os lobos?
– Oh! não! Os animais carnívoros são tão odiosos e antipáticos!
– Queres saber arremeter, como os touros, com duas pontas na cabeça?
– Oh! não! Eu causaria terror aos outros animais, e não seria acariciada pelos pastores.
– Que queres, pois? Gritou Júpiter, impaciente.
– Nada, senhor, nada quero. Prefiro viver assim, tímida e fraca, porém estimada e afagada por todos.
Em: O livro da infância, Francisca Júlia da Silva, 1899.
Uma história fascinante sobre coragem e emancipação feminina, e sobre dois irmãos inseparáveis destinados a amar a mesma mulher. Anna Allavena, a carteira: a história extraordinária de uma mulher aparentemente comum que se muda do norte da Itália para o sul e se torna a primeira carteira em uma pequena cidade na região de Salento.
Em junho de 1934, Carlo e Anna descem do ônibus na praça principal de Lizzanello, em Salento. Ele está feliz por voltar para casa, no sul, mas ela, uma mulher do norte, tão bela quanto uma estátua grega, sente-se preocupada com o futuro nessa terra desconhecida.
Para os moradores, Anna nunca deixa de ser “a forasteira” – não frequenta a igreja, evita a pequena cidade e não participa das fofocas. Orgulhosa e determinada, desafia as tradições locais e, após ser aprovada em um concurso público, torna-se a primeira carteira do local – ou melhor, a primeira “carteira”, como prefere ser chamada.
A Carteira, uma história de romance e liberdade feminina.
SINOPSE
Inspirando-se na prodigiosa vida do maior filósofo português, José Rodrigues dos Santos nos mostra como Bento de Espinosa pôs fim à idade das trevas e inventou o mundo moderno.
Há perguntas cujas respostas têm um preço elevado a pagar.
Amsterdã, 1640. Um judeu é excomungado na Sinagoga Portuguesa por questionar as Sagradas Escrituras. Uma criança assiste a tudo. O pequeno Bento de Espinosa é considerado o maior prodígio da comunidade portuguesa de Amsterdã, mas o episódio planta nele a semente da dúvida: E se a Bíblia estiver mesmo errada?
A suspeita irá lançar Bento em sua maior busca intelectual. Quem realmente escreveu os textos sagrados? Qual é a verdade sobre Deus? O que é, afinal, a natureza?
Mas essa é uma busca proibida, e depressa o jovem judeu português descobre que terá de pagar um preço terrível pelas suas perguntas. Os rabinos judeus e os pregadores cristãos o perseguem e o acusam do pior dos crimes: a heresia.
SINOPSE
Quando o Ritz se torna o local favorito dos nazistas, um barman judeu não tem escolha senão continuar trabalhando. O que ninguém sabe é que, além de fazer coquetéis, ele também ajuda famílias judias a fugir. Baseado em uma história real e best-seller na França, O barman do Ritz de Paris, de Philippe Collin, é o grande romance sobre a Ocupação alemã.
Paris, 1940. Apesar da Ocupação nazista, o ilustre hotel Ritz consegue permanecer aberto. O bar do hotel logo passa a ser frequentado pela alta patente militar alemã, que busca experimentar ali o famoso refinamento francês. Frank Meier, o barman mais célebre do Ritz, precisa então se adaptar à nova clientela e manter em segredo algo que ninguém jamais pode descobrir: ele é judeu.
Frank se sente mais sufocado a cada palavra e sorriso que oferece. Ainda assim, o barman de origem austríaca, que lutou pela França na Primeira Guerra, se recusa a fugir. Frank ouve e age discretamente, fornecendo documentos falsos a outros judeus e contribuindo — inclusive de forma involuntária — para atividades conspiratórias. Afinal, quem desconfiaria de um barman?
Traições, mentiras e incertezas tornam a posição de Frank mais arriscada, mas ele está sempre um passo à frente do destino.
Com uma narrativa fascinante, O barman do Ritz de Paris traz uma perspectiva inusitada da Ocupação nazista na França, expondo os privilégios da alta sociedade francesa, além de nos colocar o dilema de Frank Meier: qual seria a dose perfeita entre a resignação, que o mantém vivo, e a coragem, que lhe dá motivo para viver?
Reunião do último encontro de 2025 do Papalivros, na Mercearia da Praça, em Ipanema. Infelizmente com algumas ausências.
O que o grupo leu em 2025:
1 – Eu vou, tu vais, ele vai, Jenny Erpenbeck
2 – O segredo de Espinosa, José Rodrigues dos Santos
3 — O barman do Ritz de Paris, Philippe Collin
4 — O colibri, Sandro Veronesi
5 — A carteira, Francesca Giannone
6 — Línguas, Domenico Starnone
7 — Claraboia, José Saramago
8 — A sangue frio, Truman Capote
9 – O que resta de nós, Virginie Grimaldi
10 — Tia Júlia e o escrevinhador, Mario Vargas Llosa
“Meus pais não me davam bastante dinheiro para comprar coisas caras. Pensei num vaso chinês antigo que me dera a tia Léonie; mamãe pressagiava todos os dias que Françoise ia dizer-lhe: “Caiu…”, e que o vaso deixaria de existir. De modo que o mais prudente era vendê-lo, vendê-lo para poder obsequiar a Gilberte como eu quisera. Imaginava que arranjaria no mínimo uns mil francos. Mandei que embrulhassem o vaso, em que na verdade, por força do hábito, nunca havia reparado; de modo que o separar-me dele teve pelo menos uma vantagem, a de me dar a conhecê-lo. Eu mesmo o carreguei antes de ir à casa de Gilberte, e dei ao cocheiro a direção dos Swann, mas recomendando-lhe que fosse pelos Campos Elísios; ali estava a loja de um comerciante de antiguidades chinesas conhecido de meu pai. Com grande surpresa minha ofereceu-me imediatamente dez mil francos, e não mil como eu esperava. Apanhei as notas arrebatado de prazer; durante um ano poderia cumular Gilberte de rosas e lilases.”
Em: À sombra das raparigas em flor, Marcel Proust, tradução de Mário Quintana