Garrafas e romãs, 1961
Arminio Pascual (Brasil, 1920-2006)
óleo sobre chapa de madeira industrializada – 46 x 39 cm.
Natureza morta, garrafas e mangas, 1997
Evilásio Lopes (Brasil, 1917 – 2013)
óleo sobre tela, 37 x 45 cm.
Garrafas e romãs, 1961
Arminio Pascual (Brasil, 1920-2006)
óleo sobre chapa de madeira industrializada – 46 x 39 cm.
Natureza morta, garrafas e mangas, 1997
Evilásio Lopes (Brasil, 1917 – 2013)
óleo sobre tela, 37 x 45 cm.
Inverno em Petrópolis
Armínio Pascual (Brasil, 1920-2006)
óleo sobre placa, 27 x 16cm
Paisagem colonial, 1998
Armínio Pascual (Brasil, 1920 – 2006)
óleo sobre eucatex, 30 x 40 cm
Adélia Prado
Ao entardecer no mato, a casa entre
bananeiras, pés de manjericão e cravo-santo,
aparece dourada. Dentro dela, agachados,
na porta da rua, sentados no fogão, ou aí mesmo,
rápidos como se fossem ao Êxodo, comem
feijão com arroz, taioba, ora-pro-nobis,
muitas vezes abóbora.
Depois, café na canequinha e pito.
O que um homem precisa pra falar,
entre enxada e sono: Louvado seja Deus!
Veleiro e Corcovado
Armínio Pascual (Brasil, 1920 – 2006)
óleo sobre eucatex, 30 x 40 cm
Sede dos Correios em Niterói, 1970
Armínio Pascual (Brasil, 1920-2006)
óleo sobre tela, 90 x 80cm
Armínio Pascual (Brasil, 1920-2006)
óleo sobre tela, 30 x 40 cm
Menotti del Picchia
Jantei outro dia com Vila-Lobos. Recordamos muita coisa da luta comum. Lembramos do chinelo que lhe ornava o pé esquerdo, quando dentro de uma impecável casaca. O grande Vila regia a orquestra do Municipal, numa das famosas noitadas da Semana de Arte Moderna de 1922.
— Eles pensaram que casaca de chinelo era parte da indumentária futurista. Acharam original. O que eu tinha era uma unha encravada…
Rimos. Lembramos da então tão jovem e tão linda Yvonne Daumerie no palco vestida de libélula, asas enristadas nas espáduas, chorando, apavorada, fugindo das vaias com que uma plateia ululante e desesperada coroara nosso heroísmo afrontando-a com a impertinência de um programa polêmico e agressivo feito, então, do que se consideravam “as loucuras de Mário de Andrade, Oswald, Ronald, Graça Aranha” e dos demais revolucionários.
— Vá dançar, Yvonne.
A graciosa bailarina dançou, uma dança clássica. Foi ovacionada. A ojeriza da platéia era conosco, não com Yvonne, Guiomar Novais, nem com o próprio Vila-Lobos. O formidável criador das Bacchianas bebia seu vinho e comia com apetite. As memórias vinham em fila: casa de D. Olívia, as viagens de concertos culturais, as primeiras concentrações corais. Os companheiros mortos e vivos: Mário, Oswald, Ronald, Brecheret…
— Você sabe que não foi a Semana de Arte Moderna que me lançou. Eu já era revolucionário na música muito antes.
Vila Lobos faz questão de fixar bem que ele não é resultante do movimento. Ele começou sozinho a sua revolução musical. Vila Lobos, porém, ignora, que nós todos, os autores da “Semana”, não fomos feitos por ela. Nós é que a fizemos. Anos antes já sonhávamos com a nossa revolução. Que eram o Moisés, o Juca Mulato senão rebeldias e discordâncias do ritmo mental dominante? Moisés é de 1917. Em 1921, com Osvaldo, dirigíamos a revista Papel e Tinta, onde exaltávamos a pioneira Malfatti, o rebelde criador de Paulicéia Desvairada. A “Semana” foi apenas uma data como 7 de setembro a eclosão de um movimento de independência nacional que vinha de longe. A “Semana” foi um encontro de valores e não um ponto de partida. Foi a oficialização da rebeldia criando uma data histórica. Vila Lobos pode ficar tranquilo; a “Semana” não disputará sua originalidade pioneira, apenas a registrará com o seu comparecimento tão pitoresco na ribalta do nosso Municipal, cabeleira agitada, chinelo no pé, marcadamente modernista.
Fomos, depois, ouvir, as últimas criações do mestre. Seu apartamento é um museu fotográfico dos maiores vultos contemporâneo, todos eles depondo, em dedicatórias consagradoras, sobre o gênio do maior compositor patrício.
— Isto que é, Vila?
Homenagens. Homenagens de governos, de corporações artísticas, de sociedades de concertos. Nem sei o que o Vila poderá fazer de tanta glória. O mundo inteiro é hoje sua plateia. Lá está a saudação de Stravinsky. Lá está o abraço de Stokowski. Lá está o agradecimento de Casals.
— Você lembra quando compôs o Trenzinho do caipira?
Passa pelos olhos de Vila Lobos uma rajada de melancolia. Há quantos anos? Mocidade, divina mocidade, única coisa boa da vida! Foi em São Paulo, dentro de um trem da Paulista, numa excursão artística pelo Interior na qual o compositor genial tocava violoncelo, D. Antonieta Rudge, o piano.
Nessa hora, porém, a vitrola sonorizava uma das Bacchianas que eu não conhecia, recentemente gravada nos Estados Unidos. Era o Vila Lobos romântico – romântico mas moderníssimo – o melhor Vila Lobos. E eu entrei em êxtase. Por vários minutos fiquei, pairando no Paraíso.
Em: Entardecer, Menotti del Picchia, São Paulo, MPM propaganda: 1978, p. 107.