Caixas de concha

17 11 2024
Caixa da época vitoriana [Século XIX], em madeira, decorada com conchas variadas.  Origem provavelmente inglesa.

 

 

Conchas foram sempre de grande fascinação para o ser humano.  Elas eram facilmente encontradas em praias.  Aqui mesmo no Rio de Janeiro, na minha infância e adolescência as praias da Zona Sul tinham muitas conchas dos mais diversos moluscos, que machucavam nossos pés se as pisássemos, mas que ao mesmo tempo nos fascinavam.  Não era fora do comum trazermos para casa uma concha mais bonita, com um formato diferente ou aquela que tinha listrinhas coloridas de diversos tons de ocre, amarelo, bege e pérola, numa verdadeira comunhão com a natureza admirando aqueles desenhos perfeitos.

No século XIX, caixas como a mostrada acima, foram populares.  Mas elas caem, para mim, naquela área do gosto estranho, duvidoso, da era vitoriana, que abusava dos excessos e acabava com objetos como essa caixa, que não sei porque me lembra mais de rito funerário do que de um lugar aprazível para colocar um joia ou preciosidade.

Em 2022, uma rara coleção de caixas de concha foi à venda na loja de leilões Christie’s em Londres. As caixas, não muitas, pertenciam à coleção particular de Anthony e Marietta Coleridge. Seria de se esperar, que suas caixas de concha fossem verdadeiras joias, já que Anthony Coleridge foi CEO e mais tarde presidente da casa de leilão Christie’s em South Kensington.

Essas são duas caixas de conchas, com montagem em ouro. A caixa à direita conhecida como Caixa de Turritella foi transformada por volta de 1765.  Turritella é o nome latino para um caracol marinho, em forma de cone alongado com diversas rotações.  Turritella em latim e em italiano significa pequena torre,  Esta concha tem cerca de 10 cm de comprimento.  Os adornos de acabamento e dobradiça de ouro mostram desenho rococó com volutas e flores e há uma faixa em esmalte branco com os dizeres ‘NUL PLAISIR SANS VOUS VOIR’ [não há prazer sem lhe ver, que bela mensagem de alguém enamorado!]. A concha cancerallia, que acompanha nesta foto a Turritella,tem a tampa forrada por dentro em ouro, cinzelado para simular a textura natural da concha e mede 9 cm no comprimento.

Outras quatro caixas, todas para rapé, da mesma coleção, variam em forma. Uma é do período de George III, claramente assinada pelo ourives William Scott, de Dundee, datando de 1780. Duas outras,  uma tem acabamento em prata e outra espessurada à prata [também conhecido com banho de prata] datam respectivamente do final do século XVII e início do XIX.  Medem: 9,2 cm; 9 cm e 10,2 cm;

 

A caixa russa com tampa parcialmente em concha e montagem espessurada à prata, mostra assinatura na montagem.  Tem cobertura gravada com pássaros sobre flores; uma com cobertura espessurada a ouro  com relevos e gravações de dois pássaros rodeados por volutas com dois passarinhos rodeados por flores.

Quando vemos esses exemplos extraordinários de pequenas caixas de conchas, deixamos de lado a ideia das não tão elegantes caixas com adornos de conchas populares na era vitoriana.  Um dos meus professores de história da arte, na Universidade de Maryland, que era também um dos curadores da National Gallery em Washington DC repetia para nós alunos, sempre que podia.  Olhe e observe sempre o melhor que há na arte, Vá aos museus.  Examine coleções.  Aos poucos de tanto ver, mas de tanto ver coisas boas e coisas não tão boas, seu olhar vai saber em fração de segundos se algo merece ou não sua atenção.  Ele queria que apurássemos os olhos.

Muitos anos mais tarde, lendo o livro Blink, de Malcolm Gladwell percebi que esse professor estava certo.  É a teoria das 10.000 horas de trabalho.  De tanto ver, observar, examinar objetos da sua época de interesse, ou melhor da sua área de especialização, mais precisa é a avaliação sobre o que você vê.





Em casa: Eva Gonzales

17 11 2024

À beira-mar, em Honfleur, 1881

Eva Gonzales (França, 1841-1883)

pastel sobre tela, 46 x 37 cm





Flores para um sábado perfeito!

16 11 2024

Vaso com Flores, cravos de duas cores

Edgard Oehlmeyer (Brasil, 1909-1967)

óleo sobre tela, 59 x 72 cm

 

 

 

Vaso com cravos, década de 1950

C. Attilio (Itália-Brasil, 1901-1973)

óleo sobre tela, 64 x 90 cm





Falta um mês para o Natal!

16 11 2024
Livro na Amazon em dois formatos: papel e eletrônico

 

Dá tempo de comprar e surpreender quem receber este presente!





Minuto de sabedoria: Blaise Pascal

15 11 2024

Homem lendo

Joseph Lorusso (EUA, 1964)

óleo sobre placa, 29 x 29 cm

 

O presente inexistente

 

Nunca nos detemos no momento presente. Antecipamos o futuro que nos tarda, como para lhe apressar o curso; ou evocamos o passado que nos foge, como para o deter: tão imprudentes, que andamos errando nos tempos que não são nossos, e não pensamos no único que nos pertence; e tão vãos, que pensamos naqueles que não são nada, e deixamos escapar sem reflexão o único que subsiste. É que o presente, em geral, fere-nos. Escondemo-lo à nossa vista porque nos aflige; e se nos é agradável, lamentamos vê-lo fugir. Tentamos segurá-lo pelo futuro, e pensamos em dispor as coisas que não estão na nossa mão, para um tempo a que não temos garantia alguma de chegar.
Examine cada um os seus pensamentos, e há-de encontrá-los todos ocupados no passado ou no futuro. Quase não pensamos no presente; e, se pensamos, é apenas para à luz dele dispormos o futuro. Nunca o presente é o nosso fim: o passado e o presente são meios, o fim é o futuro. Assim, nunca vivemos, mas esperamos viver; e, preparando-nos sempre para ser felizes, é inevitável que nunca o sejamos.



Blaise Pascal, in “Pensamentos”

 

(Blaise Pascal, 1623-1662)





Esmerado: Taça com tampa, final do século XVI

15 11 2024

Taça com tampa, final do século XVI

Pierre Reymond (França, 1513-1584)

Esmalte sobre cobre, 25 x 18 cm

Minneapolis Institute of Art

 

 

Essa taça com tampa é decorada com cenas esmaltadas sobre cobre, contando a Vida de José [Gênesis 41:44 —  “o faraó diz a José: “Eu sou o faraó, mas ninguém levantará a mão ou o pé em toda a terra do Egito sem a sua permissão”.]

Pierre Reymond adaptou as composições figurativas das xilogravuras de Bernard Salomon que ilustraram a Bíblia de Claude Paradin próxima ao verso do livro de Gênesis.  Essa Bíblia foi publicada na França na década de 1550.  O que ajuda na datação da taça. 

 





Todo mundo lê!

15 11 2024
Ilustração Vernon Grant.





Trova da arte

14 11 2024
Ilustração Walt Disney

 

Um sorriso em um semblante,

um quarto, uma ceia, um grito…

Arte é o que faz de um instante

um resumo… do infinito.

 

(Sérgio Ferreira da Silva)





A leitora, texto de Fernando Paixão

14 11 2024

A estola, 2018

Laurence Bost (França, 1975)

óleo sobre tela, 92 x 73 cm

 

 

A leitora

 

Fernando Paixão

 

É possível vê-la apenas de costas, cabelos e pescoço bem curtos, alongando-se na altura dos ombros para um corpo que excede o encosto da cadeira. Encontra-se bem acomodada, convicta de que é a sua hora de esquecer os outros compromissos, para afinal entregar-se a uma escapada sentenciosa. Enfim está com o livro aberto nas mãos, suspenso perto dos olhos.
Uma das pernas apoia-se furtivamente na cadeira ao lado, mantendo-a numa posição oblíqua o suficiente para dar repouso a todo o corpo. É no interior dessa moldura que
se opera uma atenção voluntariamente levada a outro lugar, conduzida pela trama do texto.
Há ainda o copo de vinho que por vezes a mão leva aos lábios ocultos. Repete devagar o gesto, ao intervalo de duas ou três páginas, maneira furtiva de interromper o fluxo das palavras por um gosto equivalente a lhe correr na boca. Vista de costas, mantém-se como um enigma mascarado, e isso torna mais evidente o quanto esquece de si para seguir o caminho imaginoso.

 

Em: Rosa dos Tempos, Fernando Paixão, São Paulo. Edições Pau Brasil: 1980. 





Palavras para lembrar: Italo Calvino

13 11 2024

Leitura

James MacKeown (Inglaterra, 1961)

óleo sobre tela

 

 

“Um clássico é um livro que nunca terminou de dizer aquilo que tinha para dizer.”

 

Ítalo Calvino