O Pavão, texto de Rubem Braga

18 01 2013

A figueira e o pavão, Walter Crane, 1895

A figueira e o pavão, 1895, ilustração de Walter Crane.

O Pavão

Rubem Braga

Eu considerei a glória de um pavão, ostentando o esplendor, de suas cores; é um luxo imperial. Mas andei lendo livros,e descobri que aquelas cores todas não existem na pena do pavão. Não há pigmentos. O que há são minúsculas bolhas d’água em que a luz se fragmenta como em um prisma. O pavão é um arco-íris de plumas.

Eu considerei que este é o luxo do grande artista, atingir o máximo de matizes com o mínimo de elementos. De água e luz ele faz seu esplendor; seu grande mistério é a simplicidade.

Considerei, por fim, que assim é o amor, oh! minha amada; de tudo que ele suscita e esplende e estremece e delira em mim existem apenas meus olhos recebendo a luz de teu olhar. Ele me cobre de glórias e me faz magnífico.

Em: Ai de Ti Copacabana! Rubem Braga, Rio de Janeiro, Sabiá: 1969, 5ª edição


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4 responses

18 01 2013
Avatar de Mf Moraes Rodrigues Mf Moraes Rodrigues

Incrível! A descoberta para mim, e Rubem Braga, conduziu muito bem, maravilhoso.Abs. amiga.

19 01 2013
Avatar de peregrinacultural peregrinacultural

Tão pequena e tão linda! Estou feliz que você gostou. Temos muitas jóias na nossa literatura que passam despercebidas. É um prazer selecionar passagens literárias, mas é um prazer ainda maior quando os leitores do blog parecem gostar da seleção também. Obrigada, minha amiga, 🙂

18 01 2013
Avatar de RAA RAA

Que prosa!…

19 01 2013
Avatar de peregrinacultural peregrinacultural

Estamos comemorando este ano os 100 anos de nascimento de Rubem Braga. Nâo só era um excelente cronista e escritor, mas tornou-se também uma quase figura folclórica no Rio de Janeiro, onde morou no último andar de um condomínio em Ipanema e transformou o espaço — que nem todo era seu — num sítiozinho — acho que o termo por aí, Ricardo, seria uma quinta — com árvores frutíferas, bancos, redes, grama! Um espírito empreendedor, que não se conformava de ter que viver longe da terra natal. Gosto muito de Rubem Braga. Obrigada pelo incentivo! 😉

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