Ellen van Deelen, Rato ao piano.
Num dia de poucas notícias, algumas coisas diferentes aparecem nos portais dos grandes jornais. Este foi o caso da BBC Brasil que hoje trouxe aos olhos do leitor brasileiro o trabalho da fotógrafa holandesa Ellen van Deelen, em que ratos com pequenos instrumentos musicais são fotografados como se estivessem de fato fazendo solo numa pequena orquestra.
Ellen van Deelen, Rato fautista.
O trabalho de Ellen van Deelen, que mora em Roosendaal na Holanda, já é bastante conhecido aqui e fora do Brasil, como atestam as dezenas de fotografias, de sua autoria, encontradas na web. Reconheço que há algo interessante e por uma fração de segundo, talvez até menos, a mente do observador possa se interessar.
Ellen van Deelen, Rato saxofonista.
No entanto, esses animais retratados não passam de pequenos roedores. Ratos propriamente ditos que não podem nem se classificar como camundongos porque são grandes demais. E eu me pergunto: onde estão os defensores dos direitos dos animais quando alguma coisa como essa é engendrada?
Ellen van Deelen, Ratos com acordeão.
Quando por muitos anos tive um antiquário nos Estados Unidos, minha companhia era uma das companhias contribuintes para a SPCA, [sociedade de proteção de animais]. Minha loja tinha um cachorro dentro da loja, (lá é permitido) todos os dias. Eles eram cachorros dos funcionários, que faziam o rodízio de segunda a sábado de comum acordo com a administração. Meu antiquário era conhecido por seus membros caninos: Garth, um fox-terrier, por Max, um sheltie, e por Pebbles, um spaniel King Charles. Outros membros da companhia tinham gatos, mas esses não faziam rodízio, já que não eram treinados para ficarem quietinhos. Dou esta relação toda de antemão, para dizer que gosto de animais. No entanto, acho a personalização de animais de estimação: o vestir, as botinhas, as sainhas, os laçarotes, uma anomalia do comportamento de um dono de animal de estimação. Como o conhecido Cesar Milan, do programa de televisão O Encantador de Cães, não se cansa de dizer, cães, cachorrinhos de estimação, não são bonecos com os quais brincamos de vestir e fantasiar.
Cesar Milan, O Encantador de Cães, e alguns de seus cachorros.
Daí, aparece Ellen van Deelen, que é uma excelente fotógrafa. Basta ver suas fotos de insetos, pessoas, pássaros para perceber. Mas que explora este tênue caminho entre o fotógrafo que como ela mesma diz testemunha a natureza e a obra divina: “Como sou cristã, espero que minhas fotos mostrem um pouco da linda criação de Deus“.
Ellen Van Deelen, Joaninha.
Há um apelo muito grande para o marketing nessa carreira profissional de fotógrafa que me desagrada profundamente, porque extrapola o mundo natural e cria à custa de um treinamento à base de premiação com comida, animais que mudam o seu comportamento para que agradem às nossas fantasias. Animais que não tem nada a ver com um saxofone ou um carrinho de bebê, ou qualquer outra característica humana, são obrigados a se comportarem de uma maneira esdrúxula ao seu mister. Para isso, existem os ilustradores, que, esses sim, sem abusar da relação homo sapiens e animal, podem dar largas à imaginação e colocar um coelho com um relógio na história de Alice ou pato vestido de marinheiro como Donald.
Quatro gatinhos felizes, ilustração de Elizabeth Webbe, 1956.
Isso tudo me parece mais um desrespeito à obra da Natureza, do que uma reverência. E antes que me perguntem: não, não acho esses ratos engraçadinhos.
FONTE: Portal Terra, BBC Brasil


















